Nesta minha estada no Rio tenho podido testemunhar o fenômeno de que tanto se fala nos jornais. A elevação acentuada de preços.
<= Eleanor Warnick – Estudante da Universidade de Oxford
Mesmo esperando preços mais altos por conta destes eventos, confesso que me surpreendi quando cheguei. E acho que não sou a única a me assustar.
O custo da moradia não para de subir e já não há muita diferença para os preços de acomodação na Europa.
Isso tem feito muita gente da chamada classe média deixar o asfalto, como se diz por aqui, e procurar casa ou apartamento em comunidades pacificadas nos morros do Rio.
Um bom exemplo disso é o morro do Vidigal, na zona Sul, vizinho do bairro do Leblon, onde mora boa parte da elite carioca.
A instalação de uma UPP no Vidigal levou mais segurança à comunidade, e, juntamente com a localização privilegiada, tornou o morro uma boa opção para quem foge dos aluguéis elevados.
O Vidigal virou moda. E com a moda, vieram os preços mais altos.
A vista desde o topo do Vidigal de onde se avista as praias de Ipanema e Leblon
Toda vez que subo o morro vejo novas construções, novos hotéis, bares e restaurantes. Um hotel boutique recém-inaugurado no alto do Vidigal cobra diárias em torno de 600 reais.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita]
Os restaurantes locais estão sendo transformados, alguns têm menus internacionais e cobram preços incompatíveis com o padrão local. Hoje existe um sushi bar logo na entrada do morro e, lá no alto, uma discoteca cobra entrada de até 50 reais.
Fico pensando, será que os moradores tradicionais do Vidigal se beneficiam dessa modernidade súbita? Será que frequentam estes lugares? Será que gostam do que está acontecendo?
Conversei com Lenidafia Soares, moradora do Vidigal. Ela me disse que o morro está sendo dividido, entre “os ‘estrangeiros’ que vêm do ‘asfalto’ e a comunidade local que atualmente ficou com poucas opções de lazer”. “Até os bailes funk a polícia proibiu.”
Outros moradores me disseram que detestam as excursões de turistas levados ao morro para ver como vivem os favelados.
André Luiz Abreu Souza, do movimento “A Favela Não se Cala”, diz que não quer se sentir “como um animal num zoológico”. “Queremos ser respeitados por quem tira uma foto de nós”, diz ele.
Mas noto também que a chegada dos turistas ao morro também criou empregos e oportunidades que antes não existiam. Alguns moradores alugam quartos em suas casas para acomodar estrangeiros interessados em curtir uma experiência diferente e aproveitar a linda vista que o Vidigal proporciona.
Elliot Rosenburg, um americano de 23 anos, criou uma empresa que consegue acomodação para turistas e dá 70% do valor para os proprietários das casas. Segundo Rosenburg, o esquema promove integração entre turistas e moradores locais.
Mas um dos moradores do Vidigal, André Luiz Abreu Silva, acredita que “a favela está pagando um preço caro por causa da Copa”. Ele diz que “a renovação branca já chegou e não há sinal de que isso vá mudar.”
Parece que a comunidade do Vidigal, que tanto celebrou as melhorias feitas no morro, incluindo a instalação de uma Unidade Pacificadora da Polícia, hoje já começa a ter saudade de um passado em que, apesar da pouca segurança, poucos pensavam em deixar o local.
Será então que, no final, a UPP chegou para beneficiar os “estrangeiros que vêm do asfalto”?
BBC