A canoa das alianças de Dona Dilma

Em meio a “Jâniana” vassourada promovida por D. Dilma, a direção nacional do PT resolveu ficar de olho, e grande, nas alianças para as eleições municipais do ano que vem.

Petistas avermelhados de vergonha procuram avaliar a conveniência de coligações não só com partidos de oposição ao governo, mas de aliados.

O PR serve de referência para essa tomada de atitude.

Um dirigente petista, sempre em off, revela a necessidade de “examinar” possíveis “circunstâncias negativas” nas alianças locais com partidos que integram a tal abstrata base de sustentação do governo, na realidade um desavergonhado balcão de negociatas.
O Editor


Foi a solidez da aliança da presidente Dilma Rousseff com o PMDB que derrubou Wagner Rossi da Agricultura e não o inverso. A carta do ex-ministro é cristalina. Vai no sentido oposto ao discurso com que o ex-ministro Alfredo Nascimento reassumiu sua cadeira no Senado. Enquanto o senador pelo PR acusou a presidente de abandoná-lo, Rossi isenta Dilma, a quem chama de “querida presidente”, de qualquer responsabilidade sobre sua saída, e faz votos por seu sucesso.

Ao atribuir o desgaste aos interesses prejudicados pelas perspectivas eleitorais do PMDB em São Paulo o ex-ministro dá a exata medida da importância que o partido confere à aliança federal. A onda de denúncias contra si teria partido de quem não mais poderá “colocar o PMDB a reboque de seus desígnios” nas eleições paulistas. Mais do que as digitais insinuadas por Rossi, o que importa em sua declaração é a disposição do PMDB em manter uma aliança a salvo do assédio oposicionista.

Desde que Orestes Quércia (1938-2010) candidatou-se pela última vez ao governo paulista em 1998, o PMDB tem sido sigla auxiliar dos tucanos no Estado como seu principal fornecedor de vices em eleições majoritárias.

Com a morte de Quércia e a assunção de Temer ao comando do PMDB local, o partido resolveu ensaiar carreira solo com a candidatura do deputado federal Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo.

Leiloada por petistas, Dilma é paparicada no Bandeirantes

Como se trata de uma candidatura pemedebista, não poderia deixar de ter duas âncoras – o PT, com quem o partido já fez acordo de apoio mútuo no segundo turno, e a banda Geraldo Alckmin do PSDB, a quem Chalita deve sua ascensão na política paulista e com quem mantém relações estreitas.[ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Se Chalita enfrentar o ex-governador José Serra em 2012 na capital paulistana levará Alckmin a ter um amigo e um correligionário em campos opostos – situação ainda mais confortável do que a de Serra em 2008 quando, na condição de governador, assistiu Gilberto Kassab e Alckmin se confrontarem pela prefeitura paulistana.

A desenvoltura do PMDB no Estado não está restrita à capital. Em entrevista a Vandson Lima, do Valor, o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Barros Munhoz (PSDB), apostou que o PMDB é a legenda que mais vai crescer no Estado em 2012.

No partido que rebocou o PMDB paulista até aqui quem menos tem a ganhar com a desenvoltura dos aliados de Temer é Serra – o que não é suficiente para assegurar veracidade às insinuações feitas por Rossi. Ao sugerir que Serra é o pauteiro de sua demissão, o ex-ministro, além de ignorar seus próprios malfeitos, talvez tenha superdimensionado a capacidade de o ex-governador encontrar ressonância depois de uma campanha em que destroçou seu capital político.

Tão ou mais eloquente que a sinuca eleitoral montada pelo PMDB paulista para os não alckmistas do PSDB é o feitio que vem adquirindo a gestão do governador em São Paulo.

Poucos aliados da presidente no PT têm aderido de maneira tão incondicional aos programas federais quanto Alckmin.

A acolhida que deu ontem a Dilma, com direito a abraço do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à entrada do Palácio dos Bandeirantes, foi apenas a parte mais visível dessa aproximação.

Já no primeiro mês de governo Alckmin anunciou sua adesão às metas para acabar com a miséria. Depois promoveu a unificação dos programas sociais do Estado, tal como ocorreu no governo petista. Os programas de transferência de renda que haviam sido desidratados na gestão José Serra ganharam nova musculatura.

Na educação, além de voltar atrás na política de bonificação dos professores por meta de desempenho, severamente criticada pelos petistas do setor, Alckmin também criou um programa de bolsa para universitários inspirado no Prouni. De uma só tacada aproximou-se de Dilma e afastou-se de Serra. A contrapartida da bolsa é a participação do estudante em atividades de fim de semana nas escolas públicas. O programa que as mantinha abertas sete dias por semana havia sido descontinuado por seu antecessor.

Na habitação, Alckmin também enviou um projeto à Assembleia Legislativa que concede benefícios fiscais às construtoras contratadas pela estatal paulista do setor, a CDHU, a exemplo do que já faz o Minha Casa Minha Vida.

No plano plurianual que acaba de apresentar, Alckmin resolveu incorporar o Índice de Responsabilidade Social. Criado pela Assembleia há 11 anos para mensurar os avanços alcançados pelo poder público na promoção do bem estar social, o índice atravessou dois governos de Alckmin sem que a gestão estadual lhe prestasse atenção. Foi a rota de aproximação com Dilma que levou o governador a resgatá-lo.

O PPA também mantém a agressiva política de investimentos anunciada por Alckmin no início de seu governo. Justiça lhe seja feita, foi Serra quem ousou na expansão dos investimentos com o acordo, selado com Lula, que permitiu ampliar a margem de endividamento do Estado. Alckmin vai se beneficiar do acordo feito por seu antecessor para continuar a expandir o transporte metropolitano, marca do governo Serra, e aderir a bandeiras dilmistas, como o investimento no estádio do Corinthians e o trem bala.

A acolhida calorosa que Dilma teve no Bandeirantes somada ao enfático apoio do PSD de Kassab contrasta com as manifestações petistas da semana. O ministro Paulo Bernardo, que tem 100% de seu orçamento familiar na folha de pagamentos do primeiro escalão federal, disse ao repórter Fernando Rodrigues (”Folha de São Paulo”) que a presidente, “se estiver bem”, é candidata natural à reeleição, mas terá que discutir com Lula a sucessão de 2014. Como os petistas não contestaram o juízo do ministro sobre as circunstâncias em que a sucessão da presidente deve se dar, autorizam a versão de que devem concordar com ele.

No leilão que o PT tão precocemente faz de Dilma tampouco passou desapercebido o lançamento do Instituto Lula. Custa a crer que acabar com a fome na Somália tenha sido a motivação dos sete ex-ministros – de Walfrido dos Mares Guia a Miguel Jorge – lá reunidos.

Está claro que Temer, Alckmin e Kassab têm planos para 2014 que não necessariamente passam por Dilma. Ao contrário dos petistas, no entanto, não demonstram que pretendem prescindir dela. E ainda lhe oferecem uma canoa para atravessar as marolas que o PT vem armando em seu caminho.

Maria Cristina Fernandes – VALOR
Maria Cristina Fernandes é editora de Política
E-mail mcristina.fernandes@valor.com.br

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