Unicamente
Otacílio Colares¹
Amor, desperta… Há um luar, lá fora,
por tal forma tranqüilo e derramado
que é crime adormecer assim, agora,
podendo estar-se, a dois, inda acordado.
Pensando bem, o sono me apavora
pelo que tem da morte assemelhado.
Vamos fluir da vida a cada hora
– olhar no olhar, silentes, lado a lado.
A lua é irmã, a lua é casta e pura.
Façamos dela a doce confidente
deste amor que é doença e não tem cura.
Quando o sol sobreviver, inconseqüente,
fechemos a janela e a alcova escura
será só de nós dois, unicamente…
¹Otacílio Colares
Fortaleza, CE. – 1918
Fortaleza, CE. – 1988
Bacharelou-se em Direito, excercendo, porém, a atividade jornalística. Sua obra poética esta em grande parte esparsa, pois publicou apenas Poesias (1947) e O Jogral Impenitente (1965). Foi, também, ensaísta. Membro do Grupo Clã e da Academia Cearense de Letras.
Pintura de Inos Corradin