Ada Negri – Versos na tarde – 22/01/2016

Aquele Que Passa
Ada Negri¹

O desconhecido que passa
e te acha ainda digna de uma fugidia palavra de desejo,
Talvez porque na sombra da noite tão doce de Maio
Ainda resplendem teus olhos,
ainda tem vinte anos a ligeira figura deslizante,
Não sabe que foste amada, por aquele que amaste amada,
em plena e soberba delícia de amor,
E em ti não há membro nem ponta de carne ou átomo de alma
que não tenha uma marca de amor.

Que tu viveste apenas para amar aquele que te amava,
E nem que quisesses
podias arrancar de ti essa veste que o amor teceu.
Ele, ignaro,
em ti já não bela, em ti já não jovem,
saúda a graça do deus:
Respira, passando,
em ti já não bela, em ti já não jovem,
o aroma precioso do deus:

Só porque o levas contigo,
doce relíquia à sombra de um sacrário.

¹Ada Negri
* Lodi, Milão, Itália – 3 de Fevereiro de 1870 a.C
+ Milão, Itália – 11 de Janeiro de 1945 d.C


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Ada Negri é natural de Lodi, na Lombardia, filha de camponeses e veio a ser professora primária. Os seus primeiros livros refletiam uma consciência social que se opunha às tendências simbolistas e esteticistas dominantes no fim do século.

Mais tarde, a sua poesia evoluiu para incluir uma imensa afirmação de sexualidade feminina, muito diversa da tradicional poesia de amor em que as mulheres se confinavam (Il Libro di Mara, 1919). A sua expressão (derivada das liberdades e experiências métricas de Carducci e D’Annunzio) deixou por décadas de interessar à crítica italiana, largamente dominada pelo prestígio do “hermetismos” (uma poesia sábia e intimista que se desenvolveu durante a época fascista, como um refúgio contra as orientações oficiais, se bem que muitos dos “herméticos” tenham sido eles mesmos fascistas) que ainda comanda muito do gosto poético italiano. Ada Negri veio a falecer em 1945.

De família humilde, era filha da porteira de um “palazzo” mas conseguiu, através de muitas dificuldades, o diploma de professora primária e formar-se em Letras.

Em 1940, foi escolhida membro da “Accademia d’Italia”, o que gerou muitos comentários, já que foi a primeira mulher escolhida para fazer parte de tão ilustre casa, na conturbada era de Mussolini.

Os seus primeiros livros refletiam uma consciência social. Mais tarde, a sua poesia evoluiu para incluir uma imensa afirmação de sexualidade feminina – chamava às outras mulheres as suas “sorelle” (irmãs)- muito diversa da tradicional poesia de amor. Ada Negri foi profundamente admirada por Florbela Espanca. Hoje, está praticamente esquecida, mesmo em Itália.

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