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Carlos Drummond de Andrade – Poesia – 01/02/24

Boa noite. Os ombros suportam o mundo Carlos Drummond de Andrade Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco. Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. És todo certeza, já não sabes sofrer. E nada esperas de teus amigos. Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo, prefeririam (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação. Carlos Drummond de Andrade, no livro “Sentimento do Mundo”. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1940 | em “Nova Reunião”. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1985.

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Giuseppe Ungaretti – Poesia – 10/02/24

Boa noite. Aniquilamento Giuseppe Ungaretti¹ Meu coração esbanjou vaga-lumes se acendeu e apagou de verde em verde fui contando Com minhas mãos plasmo o solo difuso de grilos modulo-me com igual submisso coração Bem-me-quer mal-me-quer esmaltei-me de margaridas enraizei-me na terra apodrecida cresci como um cardo sobre o caule torto colhi-me no tufo do espinhal Hoje como o Isonzo de asfalto azul me fixo ¹Giuseppe Ungaretti * Alexandria, Egito – 1888

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Japão – Educação

Hoje o Japão formaliza seu NOVO SISTEMA EDUCACIONAL. O antigo sistema educacional japonês já era muito bom, mas este é tão revolucionário que treina as crianças como “Cidadãos do Mundo”, não como japoneses. Um esquema piloto revolucionário chamado “Brave Change” (Futoji no henko), baseado nos programas educacionais Erasmus, Grundtvig, Monnet, Ashoka e Comenius, está sendo testado no Japão. Trata-se de uma mudança conceitual. Eles entenderão e aceitarão culturas diferentes e seus horizontes serão globais, não nacionais, e o programa de 12 anos é baseado nesses conceitos: – Zero matérias de preenchimento. – Zero lição de casa. – E tem apenas 5 matérias, que são: 1. Aritmética comercial. As operações básicas e o uso de calculadoras financeiras.   2. Leitura. Começam com o livro de escolha de cada criança e terminam com a leitura de um livro por semana.   3. Educação cívica. Isso é entendido como respeito total à lei, valores civis, ética, respeito às regras de convivência e tolerância, altruísmo e respeito à ecologia e ao meio ambiente. 4. Conhecimento de informática. Escritório, Internet, redes sociais e negócios on-line. 5. Idiomas. 4 ou 5 alfabetos, culturas e religiões, incluindo japonês, latim, inglês, alemão, chinês e árabe; com visitas de intercâmbio social às famílias de cada país durante o verão. Qual será o resultado desse programa? Jovens que, aos 18 anos, falam 4 idiomas, conhecem 4 culturas e 4 alfabetos. – São especialistas em usar seus computadores e telefones celulares como ferramentas de trabalho. – Eles leem 52 livros por ano. – Respeitam a lei, a ecologia e a convivência. – Conhecem a aritmética comercial e as finanças por dentro e por fora. Nossos filhos competirão com eles! E quem são nossos filhos? – Crianças que sabem mais do que as fofocas do show business da moda, que sabem e conhecem os nomes e as vidas de artistas famosos, mas nada sobre história, literatura ou matemática, entre outros? – Crianças que só falam mais ou menos português, que têm uma ortografia terrível, que odeiam ler livros, que não sabem fazer contas, que são especialistas em “trapacear” durante as provas e que desrespeitam as regras aos olhos dos pais e educadores. – Crianças que passam mais tempo assistindo e aprendendo as besteiras da Internet, da televisão ou dos jogos e ídolos do “futebol” do que estudando ou lendo, quase sem entender o que leem e, portanto, acreditam que um jogador de futebol é superior a um cientista. – Crianças que são os chamados homo-videos, porque não são socializadas adequadamente, mas são estupidificadas, zumbis. São estupidificados, zumbis do iPhone e Android, tablets, skate, facebook, Instagram, chats; onde só falam das mesmas estupidezes que listamos antes ou com jogos de computador, em um claro isolamento que conhecemos como autismo cibernético e que atenta contra a liberdade, a educação, contra sua autoestima, autonomia, contra o respeito aos pais ou aos outros, contra o meio ambiente, a solidariedade, a cultura, e promove um egoísmo alarmante deixando uma sociedade cega. Acho que temos muito trabalho a fazer.

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Edgar Morin

O erro deve ser aceito e não punido? Edgar Morin: “Todo erro deve ser analisado, entendido: é uma oportunidade extraordinária de progredir. A escola ensina muitas certezas, mas ninguém explica às crianças que a vida é feita sobretudo de incertezas: saúde, economia, guerras. Já no ensino fundamental as crianças devem ser educadas para a incerteza, que faz parte da existência, e devem ser capazes de reconhecer erros e ilusões. A melhor forma de fazer isso é ter uma abordagem multidisciplinar do conhecimento.”

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