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Murilo Mendes – Poesia – 07/12/23

Boa noite O fósforo Murilo Mendes ¹ Acendendo um fósforo acendeu Prometeu, o futuro, a liquidação dos falsos deuses, o trabalho do homem. O fósforo: tão radioso quanto secreto. Furioso, deli- cado. Encolhe-se no seu casulo marrom; mas quando chamado e provocado, polêmico estoura, esclarecendo tudo. O século é polêmico. O gás não funciona hoje. Temos greve dos gasistas. A Itália tornou-se a Grevelândia. Mas preferimos essa semi-anarquia à “ordem” fascista. O fósforo, hoje em férias, espera paciente no seu casulo o dia de amanhã desprovido de greves. O dia racional, o dia do entendimento universal, o dia do mundo sem classes, o dia de Prometeu totalizado. O fósforo é o portador mais antigo da tradição viva. Eu sou pela tradição viva, capaz de acompanhar a correnteza da modernidade. Que riquezas poderosas extraio dela! Subscrevo a grande palavra de Jaures: “De l’autel des ancêtres on doit garder non les cendres mais le feu.” ¹ Murilo Monteiro Mendes * Juiz de Fora, MG – 13 de maio de 1901 + Lisboa, Portugal – 13 de agosto de 1975 Poeta brasileiro, expoente do modernismo brasileiro.

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Bernardo Atxaga – Poesia – 08/12/23

Boa noite. A vida é a vida Bernardo Atxaga¹ A vida é a vida, não as suas consequências. Não a casa sólida construída no topo de uma montanha, ou as taças e as medalhas banhadas a ouro amontoadas nas suas prateleiras. A vida não é isso. A vida é a vida. Não as viagens até cidades longínquas ou as crianças, homens e mulheres nelas mal ou esplendidamente fotografadas. A vida não é isso. A vida é a vida. Não a chuva no telhado, ou o granizo nas janelas, ou a neve, ou a lua silenciosa, ou a luz, tão magnífica, dourada no Verão e prateada no Inverno. A vida não é isso. A vida é a vida. Não a mulher ou o homem que te sussurram ao ouvido, não os nossos pais, ou filhos, não os nossos irmãos A vida não é nada disso. A vida é a vida. ¹ Joseba Irazu Garmendia * Asteasu, Espanha – 27 de julho de 1951

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