Bárbara Lia – Poesia – 18/09/23
Boa noite Flor escandalosa Bárbara Lia ¹ Meu pai sonhava o deserto E viveu ao lado do amor Rimbaud sonhava as areias Também reinventar o amor Rimbaud viveu no deserto Meu pai morreu de amor Meu pai surfava o mar de estrelas Com um teodolito da cor da destemperança – verde oliva que tende ao amarelo – Quando eu dormia ele soprava Sementes de poesia Por cima das minhas cobertas Rimbaud passava noites inteiras Regando com um regador de nuvens Minha alma de fogo e a semente Nasceu esta flor escandalosa Misto de estrela e rosa Da cor dos olhos do amor E do deserto sonhado Por meu pai e Rimbaud Meu pai viveu em poesia Nunca escreveu um verso Rimbaud desistiu bem cedo Meu pai sabia; sabia Rimbaud O vento que atravessa a cortina Traz a voz de ambos, mixada: Ilumine o verbo! Incendeie a alma! Faça de corações desertos Cactos em flor Sangue em ebulição ¹ Bárbara Lia * Assai, PR.