Mariana Ianelli – Versos na tarde – 24/11/2016
O outro lado Mariana Ianelli¹ Aqui se fica para sempre, Tem-se os pés gelados. Dorme-se à vontade, As unhas crescem como garras. Deixa-se um rastro para trás, Mas a memória não supõe A estrada percorrida E o rastro se dissolve. Não se canta mais, já não se evoca. A poesia está muda, Nobremente sepultada no dilúvio Que purifica e destrói o brasão dos fatos. A felicidade brota do cansaço, Desmancha uma aliança íntima, Desbota cartas, retratos e viagens. O temporal lava a carne gasta. Nada se sabe a respeito do passado, Ninguém se lembra, Melhor não se lembrar, Não revolver os despojos. Abandona-se toda a bagagem. Nenhum espólio, nenhuma saudade. Abre-se uma vala estreita Onde antes se podia pisar. Acontece, enfim, Tira-se a máscara. E os olhos (cerrados) compreendem : Aqui é leve a eternidade. ¹Mariana Ianelli * São Paulo, SP – 1979 Jornalista e mestre em Literatura e Crítica Literária. Obras: Trajetória de antes (1999), Duas Chagas (2001), Passagens (2003), Fazer Silêncio (2005) e Almádena (2007). Como resenhista, colabora atualmente para os Jornais O Globo – Prosa&Verso (RJ) e Rascunho (PR). [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]