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Com técnica 3D, pesquisadora diz ter encontrado local exato onde Da Vinci pintou Mona Lisa

Especialista afirma ainda que modelo do quadro é Bianca Giovanna Sforza, esposa de comandante do Exército e morador de Bobbio. Há cinco anos, a pesquisadora Carla Glori afirmou que o quadro mais famoso do mundo, a “Mona Lisa”, de Leonardo Da Vinci, foi pintado com a cidade de Bobbio ao fundo, após identificar a velha ponte da cidade em uma das partes do quadro. Nesta quarta-feira ela afirmou que conseguiu comprovar a sua tese graças a uma verificação técnica feita pelo Studio Architetti Bellocchi, de Piacenza, que criou uma pesquisa baseada em modelos 3D. A tese da estudiosa coloca o fundo da “Mona Lisa”, por ela identificada como Bianca Sforza, na pequena comuna de Bobbio, cidade com origem romana que fica na província de Piacenza, na Emília-Romana. Segundo a especialista, a localização foi possível graças ao “ponto de vista” do pintor de uma janela do castelo Malaspina-Dal Verme. Quadro, exposto no Museu do Louvre, em Paris, atrai milhares de visitantes A verificação em campo, agora, comprova a compatibilidade e conformidade dos elementos da “paisagem real” com aqueles pintados nas costas da modelo. Os dez pontos de referência – entre os quais a ponte velha – individualizados na paisagem real de Bobbio, e correspondente aos elementos do quadro, foram submetidos a exames e controles técnicos “são de fato bem coincidentes”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Quadro é um dos mais enigmáticos da história da arte Para verificar a localização do ponto de vista de Leonardo, os arquitetos Angelo e Davide Bellocchi fizeram uma reconstrução sobre bases históricas da estrutura do castelo ao fim do século 15, colocando-as na paisagem real, tudo reconstruído de maneira tridimensional. Os arquitetos fizeram uma mínima compressão da paisagem, calculada com base nos critérios indicados pelo próprio artista em alguns pontos do “Tratado sobre Pintura”. Glori acredita que Leonardo desenhou, inicialmente, um arco visível na refletografia e depois pintou por cima para dar cor. O arco “escondido”, explica a estudiosa, tem a mesma posição da ponte de Gobbo observada da janela e com um melhor alinhamento atrás da pintura para “fins artísticos”. As semelhanças encontradas pela pesquisadora ainda contam com o fluxo das águas que, coincidentemente, seguem pela grande curva do rio Trebbia e segue à direita das montanhas de Val Tidone, Pietra Parcellara e a área natural de erosão no local.A verificação técnica, explica Glori, foi conduzida para comprovar também a identidade da modelo, que com base na reconstrução histórica feita por ela, resulta no nome de Bianca Giovanna Sforza. A mulher era filha de Ludovico Il Moro, duque de Milão, e em 1496 casou-se com Gian Galeazzo Sanseverino, comandante do Exército regional e morador de Bobbio. OperaMundi

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Quando os refugiados da Europa construíram o mundo

Brick Lane é uma rua do leste de Londres, famosa por seus restaurantes bengalis, que pouco a pouco vai sendo tomada peloshipsters. No número 59 está amesquita Jamme Masjid. Esse edifício de ladrilhos vermelhos resume a complexa, dura e rica história dos movimentos de refugiados da Europa. <<= Mesquita de Brick Lane, em Londres. / HEMIS.FR  Esse mesmo lugar foi fundado em 1743 como templo protestante por huguenotes, calvinistas franceses, que fugiam da perseguição de Luís XIV. Em 1898, transformou-se na grande sinagoga de Spitafields: os judeus escapavam dos pogroms na Rússia e Polônia e chegavam à Inglaterra em um ritmo de quase seis barcos por dia. Brick Lane, perto do porto de Londres, era o lugar indicado para encontrar um trabalho duro e mal pago, mas um trabalho, afinal. Quando os judeus prosperaram, chegaram os bengalis que fugiam da violência étnica. Compraram o edifício e o transformaram em mesquita em 1975. Agora domina o aroma de curry e os tours que seguem os rastros de Jack, o Estripador, que agia nesses sórdidos rincões de Londres. Os pesquisadores Ian Goldin, Geoffrey Cameron e Meera Balarajan descrevem em Exceptional people. How migration shaped our world and will define our future (Pessoas excepcionais. Como a imigração moldou nosso mundo e definirá nosso futuro, em tradução livre), publicado em 2011 pela Universidade de Princeton, a origem desta migração —“o anti-semitismo crescente no Leste da Europa”— e também a contribuição dos refugiados para a história do Reino Unido. “Ainda que em princípio muitos tenham sofrido discriminações e punições, entre os indivíduos que fugiram havia pessoas que se tornaram ícones do establishment britânico, como Michael Marks (o fundador da Marks and Spencer) e o banqueiro Samuel Montague”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Quando a Europa se vê diante da maior onda de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, em meio a demonstrações de solidariedade emocionante e de egoísmo indignante, é interessante lembrar o gigantesco papel que os refugiados desempenharam na construção de nosso mundo. “As populações se movem constantemente, devido à guerra, aos desastres, à fome, à pobreza; alguns são refugiados políticos, outros viajam de uma parte do país para outra, como aconteceu nos EUA, do sul para o norte”, afirma Herbert J. Gans, professor da Universidade de Colúmbia e autor nos anos sessenta de um estudo sobre ítalo-americanos que se tornou um clássico, The Urban Villagers. O próprio Gans nasceu na Alemanha no seio de uma família judaica que teve de fugir para os EUA em 1938.  MAIS INFORMAÇÕES Milhares de refugiados entram na Croácia após bloqueio húngaro Viver dos refugiados Hungria usa gás lacrimogêneo para barrar os refugiados Treinadores espanhóis recebem o sírio agredido por jornalista Facebook, o grande mercado dos traficantes de seres humanos EDITORIAL | ‘Egoísmos nacionais’ Hungria fecha fronteira e criminaliza entrada ilegal de refugiados Alemanha ameaça os países que se opõem às cotas de refugiados Os exemplos são infinitos: centenas de milhares de húngaros fugiram de seu país em 1956 durante a invasão soviética, entre 2 e 3 milhões de pessoas saíram da Rússia depois da Revolução de Outubro. Os pesquisadores de Princeton estimam em 60 milhões o número de europeus que viajaram para a América entre 1820 e 1920. Desastres como a Grande Fome da Batata na Irlanda do século XIX ou os conflitos do séculos XX colocaram milhões de pessoas na estrada: aguerra civil espanhola, os enormes movimentos populacionais depois do fim da Segunda Guerra Mundial, os 3 milhões de vietnamitas e cambojanos que escaparam no genocídio nos anos sessenta, os 1,2 milhões de bósnios… A pesquisadora francesa Catherine Wihtol de Wenden, autora do Atlas das migrações, explica que apenas o retorno dos alemães étnicos a partir de 1945 movimentou 12 milhões de seres humanos. “A diferença do que acontece agora é que na época ninguém acreditava que voltaria, porque ninguém pensava na desaparição do bloco comunista. Agora a maioria tem a intenção de voltar, de voltar a sua vida quando aguerra na Síria acabar”, explica a professora de Ciências Políticas. O argentino José Emilio Burucúa, historiador do Renascimento, escreveu um maravilhoso livro sobre pessoas que atravessam mundos em uma longa fuga, Enciclopedia B-S, o relato da história de sua própria família e da de sua mulher. “É inimaginável a sociedade argentina sem as imigrações do final do século XIX e início do XX”, explica, de Buenos Aires. “Enquanto italianos e espanhóis fugiam das más condições econômicas, os judeus da Polônia, Rússia ou Bessarábia e os sírio-libaneses chegavam a nosso país fugidos dos pogroms, das guerras coloniais e dos conflitos suscitados pelo fim do Império otomano. As contribuições demográficas e culturais dessas pessoas foram um fator decisivo para que a Argentina se transformasse em uma nação moderna”. Na fachada da mesquita de Brick Lane ainda se mantém um relógio de sol de seus primeiros construtores com uma citação de uma ode de Horácio, “Umbra Sumus”. O verso completo diz “Somos sombras e pó”. Certamente os calvinistas que procuraram refúgio perto do Tâmisa não sabiam que aquele edifício e aquelas palavras se tornariam a metáfora da interminável fuga do ser humano que nos transformou no que somos. El País

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