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Mark Strand – Versos na tarde – 17/09/2015

Manual da nova poesia Mark Strand¹ 1    Se um homem compreende um poema terá problemas. 2    Se um homem vive com um poema morrerá sozinho. 3    Se um homem vive com dois poemas será infiel a alguém. 4     Se um homem concebe um poema terá menos um filho. 5    Se um homem concebe dois poemas terá dois filhos a menos. 6    Se um homem tem uma coroa na cabeça quando escreve será descoberto. 7    Se um homem não usar uma coroa na cabeça enquanto escreve não enganará ninguém a não ser ele mesmo. 8    Se um homem fica furioso num poema será desprezado pelos homens. 9    Se um homem continuar furioso num poema será desprezado pelas mulheres. 10   Se um homem denunciar publicamente a poesia os seus sapatos ficarão cheios de urina. 11   Se um homem desiste da poesia a favor do poder terá muito poder. 12   Se um homem se envaidecer por causa dos seus poemas será amado pelos tolos. 13   Se um homem se envaidecer por causa dos seus poemas e amar os tolos não escreverá mais. 14   Se um homem pede atenção por causa dos seus poemas será como um burro ao luar. 15   Se um homem escreve um poema e elogia o poema de um companheiro terá uma amante esplendorosa. 16   Se um homem escreve um poema e elogia exageradamente um poema de um companheiro afugentará a sua amante. 17   Se um homem reivindica o poema de outro o seu coração ficará com o dobro do tamanho. 18   Se um homem deixar os seus poemas ficarem nus terá medo da morte. 19   Se um homem tem medo da morte será salvo pelos seus poemas. 20   Se um homem não tem medo da morte poderá, ou não, ser salvo pelos seus poemas. 21   Se um homem termina um poema banhar-se-á na esteira vazia da sua paixão e será beijado pela página em branco. ¹ Mark Strand * Summerside, Canadá – 11 de abril de 1934 d.C + Nova Iorque, EUA – 29 de novembro de 2014 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Os limites da garimpagem de dados na internet

Web scraping é uma técnica usada para extrair dados e informações contidas em websites.  Também é uma ótima ferramenta para repórteres que saibam usá-la porque é cada vez maior o número de instituições que publicam dados relevantes em suas páginas na web. Com a técnica dos web scrapers, também conhecidos como bots, é possível coletar grandes quantidades de dados para matérias jornalísticas. Eu, por exemplo, criei um bot para comparar os preços do álcool de Québec com os de Ontario [duas das principais cidades canadenses]. Meu colega Florent Daudens, que também trabalha para a Radio-Canada, usou um web scraper para comparar os preços de aluguel de vários bairros de Montreal com os de anúncios de Kijiji. Mas quais são as normas de ética que os repórteres devem seguir quando utilizarem web scraping? Essas normas são particularmente importantes porque, para pessoas sem uma minima intimidade com a internet, web scraping pode parecer pirataria. Infelizmente, nem o Código de Ética da Federação Profissional dos Jornalistas, nem as orientações sobre ética da Associação Canadense de Jornalistas dão uma resposta clara a esta questão.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Portanto, fiz algumas perguntas a vários colegas que são repórteres de dados e procurei algumas respostas por minha própria conta. Dados públicos, ou não? Este é o primeiro consenso por parte dos repórteres de dados: se uma instituição publica dados em seu website, esses dados são automaticamente públicos. Cédric Sam trabalha para o South China Morning Post, em Hong Kong. Também já trabalhou no jornal La Presse e na Radio-Canada. “Eu uso web scraping quase todos os dias”, diz ele. Para ele, os bots são tão responsáveis pelas informações recolhidas quanto os humanos que os criaram. “Se é um humano que copia e cola as informações, ou se um humano codifica um computador para fazê-lo, dá na mesma. É como se você contratasse mil pessoas que trabalhariam para você. O resultado é o mesmo.” Entretanto, os computadores do governo também guardam informações pessoais sobre os cidadãos. “A maioria dessas informações é escondida porque de outra forma estaria violando as leis de privacidade”, diz William Wolfe-Wylie, um desenvolvedor de programas da Canadian Broadcasting Corporation – CBC e professor de Jornalismo na Universidade de Toronto. E aqui está um limite muito importante entre web scraping e pirataria: o respeito à legislação. Os repórteres não deveriam bisbilhotar informações que gozam de proteção. Se um usuário comum não as pode acessar, os jornalistas não deveriam tentar obtê-las. “É muito importante que os repórteres reconheçam essas barreiras legais, que são legítimas, e as respeitem”, diz William Wolfe-Wylie. Roberto Rocha, que até recentemente era repórter de dados para a Montreal Gazette, acrescenta que os jornalistas deveriam ler sempre os termos e condições de uso de cada página web para evitar problemas. Outro detalhe importante a ser verificado é o arquivo  robots.txt.file, que pode ser encontrado nas páginas website e informa o que é e o que não é permitido extrair ou fazer scraping. Por exemplo, este é o arquivo do Royal Bank of Canada com as restrições a bots externos (user-agents) : Você se identifica, ou não? Se você é um repórter e quer fazer algumas perguntas, a primeira coisa a fazer é apresentar-se e dizer qual a matéria que pretende fazer. Mas o que deveria acontecer quando você  usa um botpara pesquisar ou enviar perguntas a um provedor ou a um banco de dados? A norma deveria ser a mesma? Para Glen McGregor, repórter de assuntos nacionais do Ottawa Citizen, a resposta é positiva. “Quando se trata de matérias com cabeçalho http, ponho meu nome, o número de meu telefone e uma nota dizendo: ‘Sou um repórter e estou extraindo dados desta página. Se você tiver problemas ou preocupações com isso, ligue para mim.’ Portanto, se o gerenciador da internet perceber, de repente, um enorme volume de problemas em seu website, se assustar e pensar que está sendo atacado, ele pode verificar quem o está fazendo. Verá minha nota e meu número de telefone. Acho que é uma coisa ética importante que deve ser feita.” Jean-Hugues Roy, professor de Jornalismo na Universidade do Québec em Montréal, que também usa o web scraper, concorda. Mas nem todo mundo pensa assim. Philippe Gohier, editor-chefe da versão digital do jornal L’Actualité, faz o possível para não ser identificado. “Às vezes, eu uso pseudônimos”, diz ele. “Mudo meu endereço IP, assim como os cabeçalhos, para que pareça um ser humano, e não um bot. Tento respeitar as normas, mas também tento não ser detectado.” Quando você não se identifica ao extrair dados de um website, isso é comparável, de certa forma, a fazer entrevistas com uma câmera ou um microfone escondidos. O Código de Ética da Federação Profissional dos Jornalistas de Québec tem algumas normas a este respeito. Procedimentos clandestinos Em alguns casos, é justificável que os jornalistas obtenham a informação que procuram por meios clandestinos: nomes falsos, microfones e câmeras escondidos, informações imprecisas sobre os objetivos de suas reportagens, espionagem, infiltração… Esses métodos devem sempre ser a exceção à regra. E os jornalistas os usam quando: – A informação procurada é, definitivamente, de interesse público. Por exemplo, casos em que ações sociais condenáveis devem ser expostas; – A informação não pode ser obtida ou checada por outros meios, ou estes já foram utilizados sem sucesso; – O benefício do público é maior que qualquer inconveniência individual. – O público deve ser informado sobre os métodos utilizados. De uma maneira geral, a melhor prática consistiria em você se identificar, mesmo que seja um botque faz todo o trabalho. Entretanto, você deve ser mais discreto se a instituição à qual foi feita a pergunta ou consulta tiver a possibilidade de alterar as condições de acesso às informações contidas em sua página, caso ela descobrir que o interessado é um repórter. E quanto àqueles que têm medo de ser bloqueados se você se identificar como repórter, não se preocupe; é bastante fácil mudar seu endereço de IP. Para alguns repórteres, a melhor prática é perguntar sobre

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Bienal de Artes de Veneza volta a falar de política e injustiças sociais na exposição deste ano

Evento acontece na cidade italiana até 22 de novembro; mostra All the world’s future, do curador nigeriano Okwui Enwezor, se inspira no livro “O Capital”. De grande impacto, pinturas do japonês Tetsuya Ishida criticam o conformismo atual As contestações e as denúncias sociais voltaram a ocupar os espaços da Bienal de Artes de Veneza, que acontece na cidade italiana até 22 de novembro. Na contramão da ausência do engajamento político-artístico que perdurava desde 1974 – quando a exposição foi dedicada ao golpe de Estado chileno – a mostra All the world’s future, do curador nigeriano Okwui Enwezor, se inspira no livro O Capital, de Karl Marx, e aponta o dedo para as desigualdades e os conflitos no mundo.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Morte, guerra, fuga, exploração são temas repetidos a exaustão nessa edição, que reservou muitos espaços para denunciar o drama em que vivem hoje milhares de refugiados. A exposição conta a participação de 89 países e de 136 artistas e se divide em duas etapas: a dos Jardins, mais conceitual, onde se encontram os pavilhões representativos dos países, e a do Arsenal, mais emocional. Chiharu Shiota preparou, para o pavilhão japonês, uma instalação poética: The Key in the Hand  Ao entrar no pavilhão central dos jardins, o visitante se depara com um sugestivo muro de quatro metros de altura feito com bolsas, sacos e malas de viagem chamado O Muro das Lamentações, do artista italiano Fabio Mauri, um dos exponentes da arte pobre. A instalação recorda a atual diáspora dos refugiados que, em suas viagens, enfrentam muros reais, como o que a Hungria esta construindo. Segundo Enwezor, “o capital é o grande problema da atualidade”. O nigeriano ousou e trouxe Marx para dentro da mostra. Durante todo o período da Bienal, dois atores leem diariamente, três vezes por dia, trechos de O Capital. Numa das paredes da sala que o curador chama de Oratório, o artista alemão Olaf Nicolai pendurou “mochilas autofalantes”, das quais é possível escutar a ópera Non consumiamo Marx, de Luigi Nono, inspirada na obra do filósofo alemão. Já o indiano Madhusudhanan apresentou uma coleção de 30 desenhos feitos em carvão vegetal da série Logic of Disappearance. A Marx Archive, onde, por meio de caricaturas como a de Lenin e a de Stalin, conta a história do mundo. Jardins Nos Jardins, pinhos marítimos robotizados criados por Celeste Bousier-Mougenot ganham vida no pavilhão francês. Eles se movem lentamente no salão central enquanto o público fica deitado nos espaços laterais. Já no pavilhão inglês, Sara Lucas apresenta uma pequena e provocante coleção de gessos decalcados em corpos femininos e cigarros em todos os orifícios. Se a sensação de liberdade reina nos pavilhões francês e inglês, no de Israel a coisa é completamente inversa. Uma palavra basta para descrever esse pavilhão: opressão. O artista israeliano Tsibi Geva apresentou sua Archeology of the Present, feita de pneus, grades, janelas e muros, objetos que dão a sensação de segurança, mas que limitam a liberdade: se separam em vez de unir. Leitura do livro “O Capital”, de Karl Marx; ela é feita três vezes ao dia No pavilhão da Venezuela, Argelia Bravo e o artista de rua Flix apresentam I Give you my word, vídeo-projeções nas quais personagens encapuzados, de seios de fora e com crianças no colo, dividem o espaço com manifestações políticas por meio das palavras. Por sua vez, Chiharu Shiota preparou, para o pavilhão japonês, uma instalação poética que tece os percalços da vida. The Key in the Hand foi criada com fios entrelaçados que solevam dois pequenos barcos e onde estão penduradas centenas de chaves. Intencionalmente ou não, a instalação remete à atualidade dos refugiados: o mar vermelho lembra o sangue derramado por centenas de vitimas que morreram e continuam a morrer nas águas geladas do Mediterrâneo. Facas e palavras no Arsenal Na primeira sala do Arsenal, um jardim de facões e espadas criado pelo artista argelino Adel Abdessemed (e ironicamente chamado de Nymphéas) divide o espaço com os tubos de neon de Bruce Neuman, que iluminam palavras como morte, amor, guerra. Logo em seguida, o espaço se abre para receber o trabalho do estadunidense Roberth Smithson: uma grande árvore seca, com ramos e raiz que deixam a entender o quanto difícil é a reprodução da vida. A sul-africana Marlene Dumas apresentou uma coleção de vinte pequenos quadros de corpos mortos e brutalizados intitulada Skull. Liisa Roberts, da França: imagens de um velho mundo que ficou esquecido Já a artista francesa Liisa Roberts levou à Bienal imagens de um velho mundo que ficou esquecido em qualquer ângulo de estrada, com enormes fotos de velhos russos com medalhas no peito e o vazio no olhar. Lavar Munroe, das Bahamas, apresentou imagens feitas com recortes de jornais, fitas adesivas e sacos plásticos que chamavam a atenção para a violência. O turco Kutlug Ataman preferiu fazer uma instalação usando minúsculas fotos retroiluminadas para falar sobre as diferenças. De grande impacto, as pinturas do japonês Tetsuya Ishida criticam o conformismo atual. Rostos inexpressivos fixam o vazio e passam uma sensação de isolamento e crise de identidade. O argentino Juan Carlos Distéfano levou à Bienal suas esculturas deformadas, para lembrar a violência da ditadura que governou o país de 1976 a 1983. Já Georg Baselitz – pintor alemão e herdeiro de Francis Bacon – instalou oito enormes telas representativas de uma figura humana, nua e de ponta cabeça: ele mesmo. As telas pareciam ter saído de um campo de guerra, com fundo preto e furadas por balas imaginárias de uma metralhadora. Obra “O Muro das Lamentações”, do artista italiano Fabio Mauri, está na entrada do pavilhão central dos Jardins A crítica à Rússia e a invasão na Ucrânia também não poderiam ficar de fora. A artista russa Gluklya colocou uma fila de paus de madeira altíssimos vestidos com roupas usadas por manifestantes anti-Putin. Enwezor realmente trouxe a política de volta à Bienal. Usando terminologias apocalípticas, quis mostrar quais possibilidades de futuros existe para o mundo. Futuros incertos ou certos de que precisamos realmente mudar?  “A minha bienal é política porque lida com

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