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À beira do racionamento, procura-se plano de emergência em São Paulo

Enquanto o presidente da Sabesp Jerson Kelman assume que pode interromper o fornecimento total de água durante horas ou impor quotas individuais de consumo, é difícil achar alguém com um plano B para garantir o abastecimento. Baldes captam água da chuva em São Paulo. / M. S. (AFP) Tão difícil que cerca de 95% dos hospitais, empresas, industrias e hotéis de São Paulo não têm um plano de contingência para enfrentar um possível desabastecimento, segundo um levantamento do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Educação Continuada (CPDEC) realizado entre outubro e novembro de 2014. Os poços artesianos e os caminhões-pipa são considerados medidas emergenciais, mas há silêncio quando questionados sobre se esses recursos falharem. “Os resultados, baseados nas respostas de 137 entrevistados, revela que qualquer desabastecimento vai ter um impacto direto na produção ou nos serviços, porque hoje a situação é mais grave de quando enviamos os questionários, quando ainda existia a esperança de meses de muita chuva”, afirma o professor e coordenador do estudo Rodnei Domingues. Hoje, imersos na temporada menos chuvas desde 1969, 68% dos paulistanos relata falta de água, segundo a última pesquisa do Ibope. A equipe de Domingues, em parceria com o Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia da Unicamp, contatou 17 hospitais e conclui que todos eram abastecidos exclusivamente pela companhia regional de abastecimento (Sabesp, Sanasa, de Campinas, e outros). “100% dos entrevistados afirma que o plano de contingência envolve apenas recorrer ao abastecimento por caminhão-pipa ou pelos bombeiros. Nenhum deles conta com sistema de reuso de água”, afirma o estudo.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”]“100% dos entrevistados afirmam que o plano de contingência envolve apenas recorrer ao abastecimento por caminhão-pipa ou pelos bombeiros”, afirma a pesquisa Dos cinco grandes hospitais da cidade, contatados por este jornal, apenas três responderam sobre seu planejamento diante a crise hídrica. O Hospital São Luiz, que conta com quatro unidades e cerca de 1.000 leitos, não reconhece que não tem um plano de contingência, mas afirma que está elaborando um. OHospital Edmundo Vasconcelos, com 157 leitos, informou que 65% do seu consumo provem de um poço artesiano, mas se ele falhar o último recurso é a Sabesp: “Um acordo prevê a disponibilização de recursos hídricos extras, ofertados por meio de caminhão-pipa para suprir a demanda do Hospital”, explica em um comunicado onde afirma que desde 2008 desenvolve, sim, um processo de reuso da água que representa uma economia do 30%. O Sírio-Libanês, com 431 leitos, afirma que conta com fontes alternativas à Sabesp –poços e caminhões-pipa – e que abastece os sistemas de climatização graças a um tratamento de esgoto. Uma estação de tratamento de água está sendo construída no hospital.MAIS INFORMAÇÕES A indústria faz um alerta sobre o impacto econômico da crise hídrica em São Paulo Crise da água se agrava e afeta os três principais estados brasileiros Seca e consumo recorde pressionam sistema e mantêm risco de apagão Será que a paciência dos brasileiros tem limite? Governo de São Paulo raciona uso de água e anuncia mais restrições Após meses na periferia, seca já chega a bairros nobres de São Paulo “Quando eles dizem que têm um plano de contingência não significa que tenham uma solução real para a falta de água. Não existem nem caminhões suficientes para abastecer toda a potencial demanda. Não podemos contar com os caminhões, como também não podemos contar com poços artesianos, pois já identificamos uma quantidade significativa deles que secaram”, lamenta o professor Domingues. Nas empresas o cenário é ainda mais precário. Segundo a pesquisa, das 49 companhias, de médio e grande porte, todos reconheceram não ter um plano de contingência. NoCentro Empresarial de São Paulo, por exemplo, um complexo construído na “vanguarda tecnológica” que acolhe 60 grandes empresas e um shopping, 75% do consumo provêm dos seus poços. No caso de eles secarem ou registrarem falhas, a alternativa é conhecida: o caminhão-pipa. “Um plano de contingencia seria a instalação de um sistema de reuso”, esclarece o professor. “O reuso é um investimento viável, que pode ser instalado em seis meses, ou em um ano, se for mais complexo. Tem que considerar que, sem desabastecimento, em três anos a empresa pode recuperar o investimento, mas se faltar água, um impedimento na produção vai gerar um prejuízo muito significativo”, afirma Domingues. Dos 137 entrevistados para elaborar a pesquisa, apenas 12,4% reutiliza água como recomenda o professor.Cerca de 15% dos poços artesianos das indústrias secaram nos últimos meses, segundo o estudo O estudo detectou também que a dependência dos poços não garante o abastecimento. Na indústria paulista, onde 61,8% das empresas contam com pelo menos um poço artesiano, quase 15% deles se secaram nos últimos meses. Nenhum dos 55 representantes das indústrias entrevistados, segundo a pesquisa, possui um plano de emergência se as torneiras secarem. Nos hotéis, o plano de contingência parece um termo mais familiar pois 56,25% dos 16 entrevistados afirma ter um: recorrer ao abastecimento do caminhão-pipa. María Martin/El País

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Celulares e biometria acabarão com o dinheiro físico?

Celular e biometria devem substituir cédulas e moedas, dizem especialistas. Um quarto da população do Quênia já usa celular como ‘minibanco’. Uso da impressão digital incluiria analfabetos no sistema financeiro. Homem envia dinheiro usando o serviço M-Pesa, em Nairóbi, no Quênia. (Foto: Tony Karumba/AFP) O brasileiro compra cada vez mais com cartão de crédito ou débito, faz transações bancárias e compras na internet e anda com menos dinheiro no bolso. Especialistas dizem acreditar que, com a evolução da tecnologia e a expansão dos pagamentos para o celular e até a biometria, o “dinheiro vivo”, em papel ou moeda, pode estar com os dias contados. A população já se acostumou a andar com pouco dinheiro na carteira, segundo o Banco Central. Em 2007, 61% dos brasileiros diziam andar com até R$ 20 no bolso em notas, número idêntico ao verificado em 2005, quando o BC fez a mesma pesquisa. O uso de cartões de débito e crédito, porém, disparou no país. De 2003 a 2014, a quantidade de transações com cartões de débito cresceu 217%, enquanto as com cartão de crédito subiram 129%, mostram dados do BC. Já as transações bancárias pela internet subiram 42% entre 2006 e 2014, enquanto as transações nos caixas eletrônicos subiram 11%. Nas agências, o movimento subiu 3%. Biometria e celular [ad name=”Retangulo – Anuncios – Esquerda”]Especialistas dizem que tecnologias como o celular e a biometria podem fazer com que seja possível fazer pagamentos eletrônicos em todos os lugares, tornando o dinheiro vivo cada vez menos importante. E isso pode ocorrer mesmo em países pobres, que podem “pular” a fase dos cartões de crédito, por exemplo. Dave Birch, diretor da consultoria britânica Hyperion, prevê a expansão do uso do celular para pagamentos. “Para não precisarmos mais de dinheiro ou cartões, precisamos que os pagamentos eletrônicos estejam disponíveis em todo lugar, e não só nas lojas”, diz. A Hyperion é especializada em estudar meios eletrônicos de pagamento e organiza anualmente o Digital Money Forum (Fórum do Dinheiro Digital), no Reino Unido. “Os celulares significam que ninguém precisa de dinheiro vivo. Os telefones vão se tornar um terminal pessoal de pagamentos, com o qual todos podem pagar e receber pagamentos de todos”, diz Birch. Homem fala ao celular em loja do serviço M-Pesa em Nairóbi, no Quênia Foto: Tony Karumba/AFP Sucesso no Quênia Para demonstrar que a ideia pode dar certo, o especialista cita o caso do Quênia, nação africana onde existe o sistema M-Pesa. Quem tem celular da operadora Safaricom pode abrir uma “conta” M-Pesa, fazendo depósitos em dinheiro em um dos 12 mil agentes autorizados do sistema, como lojas da operadora, postos de combustível e supermercados. Depois, o dinheiro pode ser sacado nesses mesmos locais, transferido a outros usuários de celular ou usado para pagar contas e comprar produtos. Não é preciso ter conta no banco nem ter o crédito aprovado; para se cadastrar é só apresentar um documento de identidade. Todas as transações são feitas no menu do aparelho celular ou por SMS. Segundo a Safaricom, o M-Pesa tem 7,5 milhões de usuários (em um país de cerca de 31 milhões de pessoas) e já foram transferidos 230 bilhões de shillings quenianos (R$ 5,3 bilhões) pelo sistema desde seu lançamento, em 2007. Recentemente, o serviço se expandiu para permitir envio de dinheiro de imigrantes quenianos do Reino Unido para parentes que ficaram na África. Com o sucesso, o M-Pesa “migrou” para a vizinha Tanzânia em 2008, onde já contabiliza 1 milhão de usuários. Experiência no Brasil No Brasil, o pagamento por celular também já existe: várias operadoras já têm programas para pagamento de compras usando o próprio aparelho, que só precisa ser aproximado de um terminal para completar a transação. O aparelho pode ser associado a um cartão de crédito, débito ou cartão pré-pago. “Apostamos que haverá uma nova geração que vai preferir fazer compras por meio do celular, assim como há uma geração que prefere comprar pela internet”, diz Percival Jatobá, diretor-executivo de produtos da Visa. Outro exemplo do uso do celular como meio de pagamento é o serviço Paggo, da operadora Oi. Trata-se de um sistema que permite compras em lojas físicas e pela internet com confirmação por SMS. Inclusão Martinho Isnard Ribeiro de Almeida, professor da FEA-USP (Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da Universidade de São Paulo), acha que a solução para expandir os pagamentos eletrônicos é criar contas bancárias mais simples. “Os maiores custos para os bancos são a manipulação do dinheiro e o crédito. Portanto, para reduzir o custo, os bancos poderiam oferecer contas com um cartão com chip só com função de débito, sem saque ou crédito”, diz ele. E para incluir até mesmo os analfabetos, a verificação, hoje feita normalmente por senha, poderia usar a biometria, como a leitura da palma da mão, por exemplo, diz o professor da FEA-USP. Birch diz que a inclusão dos mais pobres é muito importante, já que o dinheiro vivo “discrimina contra os pobres”, segundo ele. “Os ricos podem pesquisar na internet para comprar coisas mais baratas e pagar suas contas eletronicamente. Já os pobres têm que pegar um ônibus para ir pagar suas contas”, diz o especialista. Mesmo para valores pequenos, os especialistas dizem que é vantajoso economicamente eliminar as cédulas e moedas. No Brasil, o Banco Central já gastou R$ 762 milhões em 2009 para produzir cédulas e moedas. No início de novembro, havia R$ 112,12 bilhões em circulação em cédulas e moedas no país. Paulo Leite/G1

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