A imagem aí abaixo, do twitter do recém-expurgado Xico Sá, que antes de cronista foi repórter de política da Folha, é só um dos inúmeros testemunhos sobre a carreira de Eduardo Cunha, o homem que promete “colocar na gaveta” qualquer projeto de regulação econômica da mídia. Sá sabe de quem está falando. E é por isso que, se quer seguir em frente em seu ambicioso plano de presidir um dos poderes da República, Cunha precisa que a grande imprensa sofra um processo de amnésia, que durará tanto quanto durar sua disposição de inviabilizar o governo eleito pela população. Depois, se quiserem, devolvem-no ao lugar com um piparote. Quem quiser conhecer o rosário de processos em que ele está envolvido, pode ler aqui a matéria do Luís Nassif, muito bem lembrada pelo Conversa Afiada. Como hoje é sábado, opto pela mais proseada narrativa de uma reportagem do IG sobre os “60 mais poderosos” do Brasil,à qual acrescento um título ao estilo do texto. O X-Man da maracutaia Para os telespectadores, aquela foi apenas mais uma edição do RJ TV. Mas os colegas de Cláudia Cruz presentes na redação em 10 de abril de 2000 testemunharam o constrangimento e a contrariedade da jornalista. Naquela noite de segunda-feira, por dever de ofício, a então apresentadora da Rede Globo enfrentou o momento mais embaraçoso de sua carreira: teve de noticiar a demissão de seu próprio marido da presidência da Companhia Estadual de Habitação (Cehab) do Rio de Janeiro por denúncias de fraudes em contratos assinados em sua gestão. Mas, não haveria de ser nada, tanto para um quanto para outro. Mais de uma década depois, Cláudia permanece submersa em conveniente, ainda que não necessariamente voluntário, anonimato em que mergulhou em 2002, quando abandonou a TV. Seu marido, por sua vez, percorreu o caminho contrário e se tornou protagonista de uma das mais impressionantes biografias da história recente da política brasileira. Em meio a sucessivos escândalos, virou, para muitos, o mais poderoso e influente parlamentar do Brasil. A trajetória de Eduardo Cunha merece muito mais do que um RJ TV.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Em um estranho metabolismo, Eduardo Cunha é capaz de transformar cada nova denúncia em nutriente político, cada ataque em massa muscular. Cunha parece ter couraça de vibranium e esqueleto de adamantium, como se saído de um quadrinho da Marvel. Sua história, no entanto, não está nos gibis, mas, sim, nas centenas de páginas de jornais, revistas e sites recheadas de escândalos envolvendo seu nome. Fosse Brasília a Veneza dos Doges e haveria por toda a cidade Bochi delle Denuntie apinhadas de delações contra ele – os homens públicos denunciados e posteriormente condenados por corrupção eram afogados em lagos do Vêneto, prática que ficou nas enciclopédias, para alívio dos amantes do Paranoá. Pouco antes de dirigir a Cehab, Eduardo Cunha ocupou, em 1999, a subsecretaria de Habitação do Rio de Janeiro. No início da década, mais precisamente entre os anos de 1991 e 1993, presidiu a Telerj – os cariocas mais atentos e saudosos certamente hão de lembrar que, nessa época, a maviosa voz feminina gravada no serviço 102 pertencia a Claudia Cruz, mas isso é apenas um detalhe. Eduardo Cunha entrou oficialmente na política em 1994, quando se filiou ao então PPB. No período entre sua saída da Telerj e a indicação para a subsecretaria de Estado, o economista, com passagens pela Xerox e pela Arthur Andersen, atravessou boa parte da década batendo ponto em um escritório no número 68 da Rua Buenos Aires, no centro do Rio, em um edifício sugestivamente chamado Big. Em sua sala, costumava acompanhar compulsivamente uma tela com gráficos e cotações da Bolsa, muitas vezes ignorando o interlocutor sentado à sua frente. Sua ascensão política se deu pelas mãos de Anthony Garotinho, de quem foi aliado fiel e hoje é inimigo figadal. Em 2001, elegeu-se deputado estadual. Ano seguinte, era escolhido para o seu primeiro mandato na Câmara dos Deputados. Uniu-se ao ex-empresário e líder evangélico Francisco Silva, filho ilustre da cidade de Cunha, em São Paulo – coincidência que virou piada surrada na boca de assessores e bajuladores de plantão. Sagrada parceria. A aproximação com comunidades pentecostais tornou Eduardo Cunha conhecido em bairros da periferia do Rio e em cidades do interior do Estado nos quais, provavelmente, ele jamais havia pisado. Desde então, a fé tem lhe garantido de 100 mil a 150 mil votos por eleição. Os próprios adversários – alguns preferem ser chamados de inimigos mesmo – de Eduardo Cunha dão a mão à palmatória. Existem poucos parlamentares com tamanho conhecimento das avenidas e vielas do Congresso e das retas e gincanas do regimento da Casa. Cunha sabe como adiantar ou atrasar os ponteiros de uma votação de acordo com seus interesses, que, às vezes, até coincidem com os do PMDB. Líder de um partido da base aliada, parece estar no posto apenas para lembrar que, na política, o maior rival está sempre dentro de casa; só depois é que vêm os adversários. A cada estocada, Cunha mostra que conhece exatamente onde está cada terminação nervosa do governo, e, consequentemente, como impor ao Planalto torturantes mialgias políticas. Assim foi na MP dos Portos, quando ergueu mil e um obstáculos para a votação do projeto – o que lhe rendeu acusações de trabalhar a favor dos interesses de operadores portuários. Eduardo Cunha está sempre muito bem posicionado, embora se tenha muito pouca clareza onde ele realmente está posicionado. Seu poder se ramifica por diversas instâncias e setores da República. Tem notória influência sobre determinados fundos de pensão e estatais, como Furnas e sua respectiva entidade de previdência privada, o Real Grandeza. Em 2007, impôs à então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, o nome do ex-prefeito do Rio Luiz Paulo Conde à presidência da subsidiária da Eletrobras. Como relator do projeto para a prorrogação da CPMF, Cunha só deu seu parecer depois de o governo confirmar a nomeação de Conde. Quatro anos depois, foi investigado pela Controladoria-Geral da União (CGU). O órgão apontou