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Cecília Meireles – Prosa na tarde – 26/01/2014

A quinhentos metros Cecília Meireles¹ A quinhentos metros, os vossos belos olhos desaparecem; e essa claridade do vosso rosto; e a fascinação da vossa palavra. É uma pena (eu também acho que é uma pena!), mas, a quinhentos metros, tudo se torna muito reduzido: sois uma pequena figura sem pormenores; vossas amáveis singularidades fundem-se numa sombra neutra e vulgar. Ao longe, caminhais como qualquer pessoa – e até como certas aves: é o que resta de vós: esse ritmo, na imensa estrada que também se vai projetando, estreita e indistinta, sobre o horizonte. Bem sei que tendes muitas inquietações: há um mês de maio na vossa memória, e um campo em flor, e um arroio que cantava numas pedrinhas, e depois muitas, muitas cidades grandiosas e indiferentes, e teatros acesos, ramos de flores, ceias, risos, vozes, adereços de turquesa, – bem sei, bem sei. Bem sei que tudo isso ficou a mais de quinhentos metros, e ainda de longe continuais a sofrer. Mas, para quem vos olha a uma distância de quinhentos metros, essas dimensões que levais convosco deixam de existir. As canções que aprendestes e a dor que sabeis, nada se avista daqui. Sois uma sombra muito pequenina, prestes a perder mesmo o ritmo do passo, a parecer parada como o próprio chão. Podereis ir para um lado ou para o outro: daqui a pouco nem saberemos para onde fostes: e as vossas decisões estarão fora do nosso alcance, como vós estareis fora da nossa vista. É bem triste tudo isso, porque nós vos amamos, e gostaríamos de responder, se por acaso nos chamásseis: mas, a quinhentos metros, é bem difícil ouvirmos a vossa voz. Mandamos pelo ar nossos bons pensamentos: mas, que acontece aos pensamentos, mesmo aos melhores, desde que partem, desde que se desprendem de nós? Onde vão pousar os nossos bons pensamentos? E as pessoas a quem os dirigimos serão exatamente aquelas que os encontram? Tenho muita pena de tudo isso: mas a pena vai ficando também menor, cada vez menor, à medida que avançais para longe: o sofrimento acompanha seu dono; nós apenas o vemos, e algumas vezes o compreendemos, sem, no entanto, o podermos tomar para nós, desfazê-lo ou dar-lhe outra direção. E ele também vai ficando pequenino, diminuindo, com a distância, para nós que não o carregamos, que apenas ouvimos dizer que existe. É como, nos mapas, o desenho de um rio que jamais encontramos: é certo que passa por ali, mas não sabemos nada de suas histórias, reflexos e ecos. A quinhentos metros, na verdade, há muita ausência, vamos acabando muito depressa. Pensai que, geralmente, neste mundo, há sempre cerca de quinhentos metros de uma pessoa para outra! Somos só desaparecimento. E apenas quando conseguimos ficar, também, a quinhentos metros de nós mesmos, encontramos algum sossego. Porque, então, é a vez dos nossos tormentos mudarem de proporções e aspecto. De serem vistos só de longe, sem pormenores, sem voz, sem ritmo: nem mês de maio, nem flores, nem arroio. Talvez a memória serenada. Talvez nem a memória…- É assim em quinhentos metros! ¹Cecília Benevides de Carvalho Meireles * Rio de Janeiro, Brasil – 7 de Novembro de 1901 d.C + Rio de Janeiro, Brasil – 9 de Novembro de 1964 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Arte – Pintura corporal

O artista plástico holandês Levi van Veluw desenvolveu uma série de auto-retratos em que utiliza sua cabeça como ‘tela’ para suas próprias criações. Com luz, grama, galhos de árvore, madeira, carpete, pedras, cabelo e outros materiais do dia-a-dia, ele próprio faz ‘esculturas’ e desenhos sobre sua figura, e em seguida se fotografa. “Cada elemento é escolhido conscientemente”, diz o artista. “Minha cabeça é o veículo dessas transformações e combinações, mas o rosto inexpressivo – quase universal – permite ao espectador se projetar no trabalho.” Sua obra mereceu vários prêmios de arte, inclusive o de melhor fotógrafo de Belas Artes de 2007 no International Photo Awards, dos Estados Unidos. O holandês Levi van Veluw cria texturas e desenhos sobre seu rosto para depois fotografar a si mesmo, em uma espécie de auto-retrato. O uso de pedras faz parte da série ‘Materiais’. O trabalho não utiliza manipulação digital, e a série de auto-retratos foi toda concluída em 24 horas. Na série ‘Materiais’, o artista usou elementos do dia-a-dia, como o carpete. Van Veluw diz que o tema da repetição é bastante interessante, por permitir seu uso para vários fins. Com perucas, ele questiona o significado que as pessoas atribuem aos objetos a seu redor. Para a série ‘Luz’, o artista cobriu a cabeça com pedaços de alumínio capaz de gerar luminosidade. A foto foi realizada no escuro, ocultando as formas do rosto de Van Veluw. Com ‘Paisagens’, o artista tenta usar elementos como grama e galhos de árvore para dar uma ‘terceira dimensão’ ao que na pintura tradicional seria visto em duas dimensões. BBC [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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