Versos na tarde – Fernando Pessoa – 09/05/2013
Ah, perante esta única realidade Fernando Pessoa¹ Ah, perante esta única realidade, que é o mistério, Perante esta única realidade terrível – a de haver uma realidade. Perante este horrível ser que é haver ser. Perante este abismo de existir um abismo, Este abismo de a existência de tudo ser um abismo, Ser um abismo por simplesmente ser, Por poder ser, Por haver ser! – Perante isto tudo como tudo o que os homens fazem, Tudo o que os homens dizem, Tudo quanto constroem, desfazem ou se constrói ou desfaz através deles, Se empequena! Não, não se empequena… se transforma em outra coisa – Numa só coisa tremenda e negra e impossível. Uma coisa que está para além dos deuses, de Deus, do Destino – Aquilo que faz que haja deuses e Deus e Destino, Aquilo que faz que haja ser para que possa haver seres, Aquilo que subsiste através de todas as formas, De todas as vidas, abstratas ou concretas, Eternas ou contingentes, Verdadeiras ou falsas! Aquilo que, quando se abrangeu tudo, ainda ficou fora, Porque quando se abrangeu tudo não se abrangeu explicar por que é um tudo, Por que há qualquer coisa, por que há qualquer coisa, por que há qualquer coisa! ¹Fernando Antonio Nogueira Pessoa * Lisboa,Portugal – 13,Junho 1888 d.C + Lisboa, Portugal – 30,Novembro 1935 d.C. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]