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Sylvia Plath – Versos na tarde

As Pedras Sylvia Plath ¹ Esta é a cidade onde se remendam os homens. Eu deito sobre uma grande bigorna. A achatada abóbada azul Voou feito o chapéu duma boneca Quando eu caí fora da luz. Ingressei No estômago da indiferença, armário sem fala. A mãe dos pilões me reduziu. Tornei-me um grânulo tranquilo. As pedras da barriga eram pacíficas, A pedra-chefe quieta, nada a chacoalhava. Somente a boca-buraco flauteava, Grilo impertinente Numa pedreira de silêncios. O povo da cidade ouviu. Caçaram as pedras, taciturnas e apartadas, A boca-barriga gritando aonde estavam. Ébria como um feto Eu sugo as papinhas da escuridão. Tubos de alimento me envolvem. Esponjas lambem-me os liquens. O mestre-joalheiro impele seu cinzel para Extrair um olho da pedra. Este é o pós-inferno: eu vejo a luz. Um vento destampa a câmara Do ouvido, velho preocupador. A água amolece o lábio da pederneira, E a luz do dia dispõe sua mesmice na parede. Os enxertadores são alegres, Esquentando as torqueses, içando os delicados martelos. Uma corrente agita os fios Volt sobre volt. Categute sutura minhas fissuras. Um operário passa carregando um torso cor-de-rosa. Os almoxarifados estão cheios de corações. Esta é a cidade das peças sobressalentes. Meus membros enfaixados tem cheiro doce feito borracha. Aqui operam cabeças, ou quaisquer pedaços. Às sextas-feiras as criancinhas vêm Para trocar os ganchos por mãos. Mortos deixam os olhos para os outros. Amor é o uniforme da minha enfermeira careca. Amor é tendão e osso da minha praga. O vaso, reconstruído, abriga A rosa elusiva. Dez dedos moldam um bojo às sombras. Meus remendos coçam. Não há nada a fazer. Ficarei nova em folha outra vez. ¹ Sylvia Plath * Massachusetts, USA – 27 de Outubro de 1932 + Primrose Hill, Londres, Inglaterra – 11 de Fevereiro de 1963 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Deputado é condenado por ‘esterilização de mulheres’

Por 8 votos contra 1, o STF condenou o deputado federal Asdrúbal Bentes (PMDB-PA) pela prática do crime de esterilização ilegal de mulheres. A pena foi fixada em multa de 14 salários mínimos mais prisão de três anos, um mês e 10 dias de prisão. Prisão em regime aberto. Vale o que está previsto no parágrafo 1o do artigo 36 do Código Penal: “O condenado deverá, fora do estabelecimento [prisional] e sem vigilância, trabalhar… …Frequentar curso ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido [em casa] durante o período noturno e nos dias de folga.” Significa dizer que, no caso de Asdrúbal (na foto), feliz detentor de um mandato de deputado federal, a pena será cumprida nas dependências da Câmara. O crime que levou à condenação do deputado foi praticado em 2004. Era ano de eleição municipal. Asdrúbal concorria à prefeitura de Marabá (PA). Entre janeiro e março daquele ano, auxiliado pela companheira e pela enteada, Asdrúbal levou eleitoras a uma entidade fundada pore le, o “PMDB Mulher”. Em troca de votos, ofereceu cirurgias de laqueadura tubária. Seduzidas pela perspectiva da esterilização gratuita, as eleitoras foram encaminhadas ao hospital. Chama-se Hospital Santa Terezinha. O estabelecimento não dispunha de autorização para realizar laqueaduras pelo SUS. Falsificaram-se as guias de internação hospitalar, anotando nelas tipos de cirurgia que o SUS reembolsava. Dito de outro modo: Asdrúbal comprou votos com verbas provenientes das arcas da saúde pública. Denunciadas pelo Ministério Público Federal, as acusações foram encampadas pelo procurador-geal da República Roberto Gurgel.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] “As provas que instruem os autos não deixam dúvidas de que o denunciado é o mentor da cooptação de votos”, disse Gurgel. Asdrúbal foi acusado de quatro crimes: corrupção eleitoral, estelionato, formação de quadrilha e esterilização irregular de mulheres. Em relação aos três primeiros crimes, o Supremo declarou a “prescrição da pretensão punitiva do Estado.” Por quê? O deputado tem mais de 70 anos. Assim, a condenção restringiu-se ao crime de esterilização. Essa madalidade de cirurgia é regulada pela lei 9.263, de 1996. Prevê um prazo de 60 dias entre a manifestação do desejo da mulher de interromper a própria fertilidade e a realização da cirurgia. Nesse intervalo, a candidata à operação deve ser acompanhada por “equipe multidisciplinar”, incumbida de desaconselhar a esterilização precoce. Nada disso foi observado no caso de Marabá. Em depoimentos ao Ministério Público, duas das mulheres que trocaram votos por cirurgias declararam-se arrependidas. Em sua defesa, Asdrúbal alegou que, na época em que as esterilizações foram feitas, sua candidatura a prefeito não havia sido homologada pelo partido. O advogado do deputado, João Mendonça de Amorim Filho, sustentou que a denúncia baseou-se em “inquérito policial caricato”, sem o necessário contraditório. Disse, de resto, que seu cliente não poderia ser responsabilizado por delitos praticados pelo hospital onde foram feitas as laqueaduras. Relator do processo, o ministro Dias Tofolli deu de ombros para a argumentação da defesa. Mas tentou servir um refresco a Asdrúbal. Em seu voto, Tofolli sugeriu que a pena de prisão em regime aberto fosse substituída por outra: restrição dos direitos políticos de Asdrúbal. Relator-revisor do caso, Luiz Fux discordou. Para ele, o deputado value-se de “artifício extremamente danoso.” Algo que, “exemplarmente, deve merecer a reprimenda da Corte porque ultrapassou os limites imaginários do ser humano nessa forma de corrupção eleitoral.” Acompanharam Fux os ministros Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Ayres Britto, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Cezar Peluso. Apenas Marco Aurélio Mello votou pela absolvição. Ao votar, Cezar Peluzo, presidente do STF, esclareceu que a condenação não implica a perda automática do mandato parlamentar de Asdrúbal. Disse que remeterá a decisão à direção da Câmara, a quem cabe decidir se Asdrúbal deve ou não continuar circulando pelo Legislativo. Considerando-se a tese invocada na absolvição de Jaqueline Roriz (PMN-DF) –crime praticado antes do mandato não resulta em cassação— Asdrúbal está condenado a cumprir a “pena” de continuar recebendo do contribuinte R$ 26 mil por mês. blog Josias de Souza

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Eu, o TRE, e Jaqueline Roriz que se cuide

Brasil: da série “só doi quando eu rio!” Prestação de contas Na mesma semana em que Jaqueline Roriz passou ilesa pelo processo de cassação, um oficial de Justiça bateu na casa de Fabrício Rocha, videocolunista da TV Câmara. Foi notificá-lo porque ele, que concorreu a deputado distrital pelo PSOL no DF, não prestou contas de uma doação no valor de… R$ 100 reais. Fabrício fez até um vídeo sobre o fato-piada pronta. Assista abaixo. [ad#Retangulos – Normal]

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Economia: A Suíça vai à guerra

Livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social a partir do momento em que os regimes ortodoxos de esquerda ruíram. A democracia capitalista entende a democracia clássica somente como uma ferramenta para produzir processos de acumulação de capital, e nos rastro de especulação. Quando necessário, o capitalismo apátrida, reduz a democracia à irrelevância e, se encontrar outro instrumento mais eficiente, dispensa-a, o que está acontecendo agora na China. Guetos capitalistas no país dos mandarins ofuscam a percepção de que o “império amarelo” continua uma ditadura cruel e sanguinária, havendo apenas a troca de mandarins por uma “nomenklatura” encastelada no poder. O Editor O Banco Nacional da Suíça (banco central) vai agora enfrentar o poderio de fogo de um mercado global de moeda que movimenta, por dia, nada menos que US$ 4 trilhões. As autoridades suíças não mostram complexo de inferioridade. Avisaram que estão em condições de comprar volumes ilimitados de moeda estrangeira que se meta a testar sua disposição de manter uma situação inegavelmente artificial. Antes de continuar, vamos aos fatos. A pequenina Suíça vinha sendo uma das maiores vítimas daquilo que, em setembro do ano passado, o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, denunciara como guerra cambial. Os bancos centrais das duas maiores moedas do mundo, o dólar e o euro, estão empenhados em derrubar o valor de suas moedas para garantir mais exportações e aumento do emprego. Além de manter os juros a níveis próximos de zero por cento – os mais baixos da história -, vêm emitindo moeda com objetivo de recomprar títulos emitidos pelos tesouros nacionais. A sobra enorme de recursos vai sendo empurrada para cima de três economias: Japão, Suíça e Brasil, seguindo motivações distintas. O iene japonês e o franco suíço estão sendo procurados como porto seguro (reserva de valor), na condição de defesa contra a desvalorização das outras moedas fortes. O real do Brasil está sendo procurado como fonte de renda, na medida em que os juros por aqui seguem entre os mais altos do mundo. Somente neste ano, o franco suíço se valorizou 17% diante do euro. A principal consequência foi o encarecimento (nas outras moedas) de todo produto ou serviço produzido na Suíça. Com isso, a indústria, a rede de hotelaria e os bancos vinham sangrando nos seus resultados. A decisão tomada terça-feira foi colocar o piso de 1,20 franco suíço por euro na troca de moedas no seu câmbio. O novo compromisso prático do banco central suíço é comprar toda a moeda estrangeira cuja oferta no câmbio suíço provoque cotação mais baixa do que essa aí, de 1,20 franco por euro. Na prática, o Banco Nacional da Suíça estará emitindo francos para enfrentar a farta entrada de capitais em seu mercado de câmbio. As compras de moeda estrangeira implicam crescimento das reservas que hoje são de US$ 151,2 bilhões. Em situações normais, a defesa de um câmbio fixo por um banco central é quase sempre batalha perdida a longo prazo. Em 1992, por exemplo, um único grande especulador global, o húngaro George Soros, investiu US$ 10 bilhões na desvalorização da libra esterlina e levou o Banco da Inglaterra (banco central) à capitulação. Aparentemente, as autoridades monetárias da Suíça estão levando em conta que os francos suíços comprados pelo resto do mundo não ficarão circulando no mercado, mas permanecerão entesourados, na medida em que são procurados como reserva de valor. Por isso, apostam em que não produzirão inflação. Duas consequências imediatas parecem inevitáveis: (1) se a operação suíça for bem-sucedida, é provável que o Japão e os países nórdicos também tentem fixar o valor de suas moedas; e (2) se Suíça, Japão e outros países forem bem-sucedidos nesse regime de câmbio fixo, mais moeda estrangeira tomará o rumo do Brasil. Celso Ming/O Estado de S.Paulo

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Gerard Jessel – Frase do dia

“O cérebro humano começa a trabalhar no momento em que o sujeito nasce e não pára até o momento em que ele sobe num palanque para fazer um comício.” Gerard Jessel

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