Vicente de Carvalho – Versos na tarde
Sugestões do crepúsculo I Vicente de Carvalho ¹ Ao pôr do sol, pela tristeza Da meia-luz crepuscular, Tem a toada de uma reza A voz do mar. Aumenta, alastra e desce pelas Rampas dos morros, pouco a pouco, O ermo de sombra, vago e oco, Do céu sem sol e sem estrelas. Tudo amortece; a tudo invade Uma fadiga, um desconforto… Como a infeliz serenidade Do embaciado olhar de um morto. Domada então por um instante Da singular melancolia De em torno- apenas balbucia A voz piedosa do gigante. Toda se abranda a vaga hirsuta, Toda se humilha, a murmurar… Que pede ao céu que não a escuta A voz do mar? ¹ Vicente Augusto de Carvalho * Santos, SP. – 05 de Abril de 1866 d.C + Santos, SP. – 22 de Abril 1924 d.C Além de poeta, foi contista, jornalista, advogado e deputado. Ligado ao parnasianismo, seus livros mais conhecidos são: Ardentia (1885), Relicário (1888), Rosa, rosa de amor (1902), Poemas e Canções (1908) e Versos da Mocidade (1909). Foi membro da Academia Brasileira de Letras. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]