Aposentadoria permite reinvenção, dizem artistas e executivos a Ronaldo Parada forçada ou precoce pode abrir caminho para sucesso em nova área. Planejar saída com antecedência evita maiores sofrimentos no futuro. Não são apenas jogadores de futebol como Ronaldo que se veem obrigados a sair de cena e “pendurar a chuteira” antes do pretendido. A aposentadoria precoce ou forçada atinge também outros profissionais que acabam sendo forçados a buscar novos rumos para suas carreiras. E são vários os casos de sucesso e de reinvenção. Problemas de saúde que prejudicaram os movimentos de suas mãos fizeram com que o maestro João Carlos Martins abandonasse a carreira de pianista clássico sete anos atrás. O amor à música, porém, fez com que ele continuasse trabalhando com melodias, mas na posição de maestro. Atualmente, aos 70 anos, é regente da Filarmônica Bachiana Sesi/SP e vai ser o homenageado do desfile da escola de samba de São Paulo Vai-Vai no Carnaval 2011.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] saiba mais ‘Perdi para o meu corpo’, diz Ronaldo Aos 34 anos, Ronaldo abandona a carreira Entenda o que é hipotireoidismo “Quando você tem barreiras que o destino lhe impõe, tem que ter humildade para reconhecer que não dá mais”, afirma Martins. Para o maestro, Ronaldo conseguirá encontrar um novo caminho além do futebol. Martins revelou que vai convidar Ronaldo para também desfilar pela Vai-Vai. A despedida forçada, entretanto, nunca é fácil. Para Ana Paula Oliveira, de 35 anos, falar sobre o assunto ainda é difícil. Bailarina profissional desde os 14 e integrante do Grupo Corpo, de Belo Horizonte, ela foi forçada a se separar da dança em 2010, após 20 anos de dedicação exclusiva. O motivo foi o rompimento de um ligamento entre o fêmur e a bacia na perna esquerda. No início, não imaginou que seria algo sério, tanto que cumpriu toda a temporada da companhia de dança. Ana Paula passou por cirurgia, sessões de fisioterapia, tentou um retorno, mas percebeu que o corpo não aguentava mais a carga exigida de uma bailarina. “Fui me mexer na cama e não consegui. Senti uma dor de contratura muscular. Era um sinal do meu organismo dizendo ‘para’”, lembra. Hoje, cerca de um ano e meio depois, Ana Paula tenta encontrar na arte novas inspirações. Não se afastou do grupo e hoje se propõe a um novo trabalho, na área de comunicação da companhia. “Fiquei de luto. São coisas da vida que acontecem sem razão nem para quê. O que me conforta é saber que fiz o que mais amei na vida”, afirma. Osmar Santos descobriu nova paixão na pintura Oscar Ulisses, irmão de Osmar Santos, lembra que o locutor esportivo ficou revoltado e entrou em depressão após ter a carreira interrompida. Um grave acidente de carro, em 1994, afetou a fala e parte das funções motoras de uma das vozes mais famosas do Brasil. “Uma vez ele me falou: ‘Olha, tive um acidente sério, perdi muito do que tinha, mas muito do que tinha também ficou. Agora tenho dois caminhos. Ou reclamo ou vivo o que sobrou. Vou viver o que sobrou’”, lembra o irmão. Para superar as adversidades, Osmar Santos, hoje aos 61 anos, trocou o microfone pelo pincel e agora se dedica à pintura. “Nunca havia pintado na vida. Ele se dedica muito a essa atividade, tem aulas com caras bons de pintura. Algo que era uma terapia virou quase uma profissão”, diz o irmão, que também é locutor. Tinha receio de sair e ficar burro, parar de exercitar, ter contato com um público diferente.” Fábio Chiappetta, empresário Mas nem sempre a aposentadoria precoce é por motivo de lesão ou saúde. Em 2006, Fábio Chiappetta de Azevedo, então com 34 anos, decidiu deixar o alto cargo que tinha em um banco de investimento para comandar franquias de restaurantes e também lojas próprias no ramo gastronômico, no Rio de Janeiro. “Foi difícil porque eu gostava do trabalho. Apesar de ser estressante, estudei para aquilo”, afirma o empresário, formado em economia e com duas pós-graduações na área. No caso dele, a decisão foi baseada em qualidade de vida. “Tinha receio de sair e ficar burro, parar de exercitar, ter contato com um público diferente. Os profissionais do banco eram pessoas formadas, graduadas, na loja são pessoas sem formação, é mais difícil de lidar”, explicou Fábio, pai de duas filhas, uma de 4 anos e outra de 6 meses. Para matar a saudade do mercado financeiro, ele se encontra pelo menos a cada dois meses com os amigos economistas. O empresário elogiou a decisão de Ronaldo.“Acho que estava na hora mesmo de parar, porque é uma pessoa que já esteve super lá em cima, foi super ídolo, um fenômeno, mas não tinha mais o mesmo desempenho”, disse. Desapego Eu fui ver se as pessoas investiriam em mim ou no meu sobrenome corporativo e recebi muito apoio.” Carlos Miranda, empresário O empresário Carlos Miranda também saiu no auge de sua carreira de 21 anos na consultoria Ernst & Young, onde chegou a ser sócio, para tocar um negócio próprio. Em 2010, ele era responsável no Brasil e na América do Sul pela área de mercados em crescimento da empresa e decidiu criar um fundo de investimentos para empresas que desejavam crescer. “Podia me acomodar e continuar lá até a aposentadoria, tinha um salário superbom, mas sempre tive esse espírito mais empreendedor”, afirma. Miranda diz que a palavra de ordem para ele foi desapego. “Muita gente tem medo de perder prestígio, o glamour daquela empresa, daquele cargo. Eu fui ver se as pessoas investiriam em mim ou no meu sobrenome corporativo e recebi muito apoio.” Corintiano, ele pensa que Ronaldo ainda insistiu muito em brigar com o corpo. Para Armando Barcellos, 45 anos, ex-triatleta que representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de Sydney e abandonou o esporte no auge da carreira, em 2001, o lado psicológico também deve ter pesado na decisão de Ronaldo. “Trinta e quatro anos ainda está muito novo. Eu entrei em forma no melhor da minha vida aos