Aécio Neves: de Tancredo Neves à Lava Jato, e descendo pelor ralo
Um dia antes de o Senado aprovar o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) subiu na tribuna do plenário para atacar sua principal adversária na campanha presidencial de 2014. “Se apoderaram do Estado Nacional com a sensação da impunidade, de estarem acima da lei. Pois bem, o tempo passou e a resposta está aí”, disse no dia 30 de agosto, num discurso que durou 11 minutos. Após delação da JBS, Aécio foi afastado do cargo de senador por determinação do STF – Direito de imagem AGÊNCIA BRASIL De herdeiro de Tancredo e quase presidente a denunciado na Lava Jato: a história de Aécio.Menos de um ano depois, as palavras proferidas pelo tucano parecem ter se voltado contra ele próprio.Aécio Neves se vê hoje afastado do cargo por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), teve prisão pedida pela Procuradoria-Geral da República e, nesta sexta-feira, foi denunciado por Rodrigo Janot sob a suspeita de corrupção passiva e obstrução de justiça. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Naquele que é o ponto baixo de sua vida pública até agora, é suspeito de tentar frear a operação Lava Jato, que veio à público em março de 2014 e, desde então, já transformou mais de uma centena de políticos em alvos de investigação. Em depoimento de sua delação premiada homologada pelo STF, Joesley Batista, dono da JBS, disse que pagou R$ 2 milhões em propina ao senador tucano no começo deste ano. O dinheiro teria sido entregue a um primo de Aécio, Frederico Pacheco de Medeiros, preso no último dia 18. A operação também deteve Andrea Neves, irmã do senador – ela também é suspeita de ter participado da negociação do que a PGR afirma ser propina. A entrega do dinheiro foi registrada em vídeo pela Polícia Federal, que rastreou o caminho do dinheiro e descobriu que parte do montante foi depositado na conta de uma empresa do senador Zezé Perrella (PMDB-MG). Aécio nega as acusações e afirma jamais ter recebido propina. Diz que pediu um empréstimo, ser vítima de calúnia e lamenta ter visto a irmã detida “sem que nada justificasse tamanha arbitrariedade”. O nome do senador já havia sido citado em delações de empreiteiras, entre elas a Odebrecht, o que lhe fez virar alvo de inquéritos. Mas foram as acusações da JBS que o deixam agora sob o risco de virar réu – o que ocorrerá caso o ministro Marco Aurélio Mello, relator de seu caso no STF, aceite a denúncia apresentada por Janot. Essa decisão não tem data para ocorrer. Irmã do senador, Andrea Neves é suspeita de ter participado de negociação de propina – Direito de imagem EPA Herança e futebol Desde que a denúncia da JBS veio à público, Aécio tem sido chamado nos bastidores de “cadáver político”. Aliados mais próximos, entre eles tucanos mineiros, classificam sob a condição de anonimato como “graves demais” as suspeitas que pesam contra o amigo e companheiro de partido. Ainda assim, em Brasília poucos verbalizam a necessidade de uma punição para o senador. Apenas a Rede e PSOL defendem abertamente a cassação do mandato dele. Ninguém arrisca dizer, contudo, se esse é o fim de uma carreira herdada do pai Aécio Cunha, que foi deputado federal e estadual, e dos dois avôs, Tancredo Neves, ex-governador de Minas e eleito presidente do Brasil (morreu antes da posse), e Tristão da Cunha, que passou pelo Congresso e participou do governo de Juscelino Kubitschek nos anos 1950. Com tantos homens públicos na família, ele e as duas irmãs respiram política desde cedo. Tinham o costume de brincar com santinhos dos parentes confeccionados para eleições quando criança. Aécio da Cunha Neves nasceu em 10 de março de 1960, em Belo Horizonte. Viveu na capital mineira até os 12 anos, quando a família se mudou para o Rio de Janeiro. O jornalista Maurício Cannone foi colega de sala do tucano na oitava série, em meados dos anos 1970, num colégio que não existe mais no Leblon, bairro nobre da zona sul da cidades. “Não era dos mais brilhantes, mas não era mau aluno. Se dava bem com todo mundo”, recorda Cannone, que costumava trombar com Aécio no Maracanã. Aécio viveu em Minas até os 12 anos, quando família se mudou para o Rio – Direito de imagem REPRODUÇÃO FLICKR Cannone conta que o senador, torcedor declarado do Cruzeiro e do Botafogo, sempre foi fã de futebol. “O pai dele era diretor do Cruzeiro em Belo Horizonte, e me lembro dele contando que foi ao enterro do Roberto Batata, o ponta direita”, diz o jornalista. Aécio não era bom de bola, mas, quando jogava futebol, usava uma camisa do zagueiro cruzeirense Darci Menezes. Naquela época, Política não era assunto recorrente. “Era 1975, ditadura militar. Política não era estimulada. Eu nem sabia que ele era neto de Tancredo Neves”, lembra Cannone. Aécio, o hoje jornalista e muitos outros alunos do Magdalena Campos foram continuar os estudos em outros colégios. Os dois nunca mais estiveram na mesma sala, e acabaram perdendo o contato. “Uma vez encontrei ele na rua, olhei e ele não me reconheceu. Deixei pra lá”, conta. De ajudante do avô a deputado federal Aécio foi estudar economia na PUC-Rio, mas nunca foi militante estudantil. Além de futebol, gostava mesmo era de surfar, de corridas de motocross e de viajar. Morava num apartamento na badalada avenida Vieira Souto, na zona sul, e a praia de Ipanema era como a extensão de sua casa. Desde então, ganhou a fama de “bon vivant”, namorador e amante da noite carioca. O jornalista mineiro Lucas Figueiredo conta em seu blog que, enquanto Aécio ainda pegava ondas e não demonstrava muito interesse pela política, a irmã dele, pouco mais de um ano mais velha, vivia o oposto. Andrea militava pela esquerda e havia, por exemplo, ajudado a fundar o PT no Rio. Mas foi Aécio, e não Andrea, quem Tancredo Neves escolheu para acompanhá-lo a partir de 1981. Ele foi chamado a conhecer sua terra natal como secretário particular do avô em Belo Horizonte. Transferiu-se para