Sophia Andresen – Poesia – 09/03/24
Boa noite Retrato de uma princesa desconhecida Sophia Andresen ¹ Para que ela tivesse um pescoço tão fino Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos Para que a sua espinha fosse tão direita E ela usasse a cabeça tão erguida Com uma tão simples claridade sobre a testa Foram necessárias sucessivas gerações de escravos De corpo dobrado e grossas mãos pacientes Servindo sucessivas gerações de príncipes Ainda um pouco toscos e grosseiros Ávidos cruéis e fraudulentos Foi um imenso desperdiçar de gente Para que ela fosse aquela perfeição Solitária exilada sem destino ¹ Sophia de Mello Breyner Andresen * Porto, Portugal – 6 de Novembro de 1919 + Lisboa, Portugal – 2 de Julho de 2004