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Louise Labé – Poesia – 22/05/24

Boa noite Soneto Louise Labé Traducão de Sergio Duarte Nem heróis como Ulisses e outros mais Por mais sagazes e por mais divinos Cheios de graça e louros peregrinos Desafios provaram aos meus iguais. Brilho desses olhos tão sensuais Tanto inflamou meus sonhos femininos Que para meus ardores repentinos Não há remédio, se vós não m’o dais. Ó dura sorte, que me faz igual A quem pede socorro ao escorpião Contra o veneno do mesmo animal. Só peço que não me venha a fenecer Esse desejo no meu coração Porque, sem ele, é bem melhor morrer. Três mulheres apaixonadas,Companhia das Letras, 1999 -SP, Brasil ¹ Louïze Charly Labé * Lyon, França – 1526 d.C + Parcieux-en-Dombes, França – 15 de Fevereiro de 1566 d.C

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Shakespeare – Poesia – 29/10/23

Boa noite Soneto LXXV Shakespeare ¹ És, para mim, como o alimento para a vida, Ou a chuva amena para o solo no tórrido verão; E, para teu bem-estar, me esforço Entre a miséria e a riqueza: Orgulhoso com o desfrute, e logo Duvidando que a idade roube seu tesouro; Agora espero estar apenas contigo, Então, melhor para que o mundo me veja bem; Por vezes, comemorando à nossa vista, E aos poucos ansiando por um olhar; Possuindo ou perseguindo qualquer prazer, Exceto aquilo que se tem ou seja tirado de ti. Assim, jejuo e sobrevivo a cada dia, Ou a tudo devoro, o tempo todo. ¹ William Shakespeare * Stratford-upon-Avon, Inglaterra – 23 de abril de 1564 + Stratford-upon-Avon, Inglaterra – 23 de abril de 1616

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Augusto dos Anjos – Poesia – 04/10/23

Boa noite Vandalismo Augusto dos Anjos Meu coração tem catedrais imensas, Templos de priscas e longínquas datas, Onde um nume de amor, em serenatas, Canta a aleluia virginal das crenças. Na ogiva fúlgida e nas colunatas Vertem lustrais irradiações intensas Cintilações de lâmpadas suspensas E as ametistas e os florões e as pratas. Como os velhos Templários medievais Entrei um dia nessas catedrais E nesses templos claros e risonhos … E erguendo os gládios e brandindo as hastas, No desespero dos iconoclastas Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!

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Shakespeare – Poesia – 01/10/23

Boa noite Soneto LXX William Shakespeare¹ Se te censuram, não é teu defeito, Porque a injúria os mais belos pretende; Da graça o ornamento é vão, suspeito, Corvo a sujar o céu que mais esplende. Enquanto fores bom, a injúria prova Que tens valor, que o tempo te venera, Pois o Verme na flor gozo renova, E em ti irrompe a mais pura primavera. Da infância os maus tempos pular soubeste, Vencendo o assalto ou do assalto distante; Mas não penses achar vantagem neste Fado, que a inveja alarga, é incessante. Se a ti nada demanda de suspeita, És reino a que o coração se sujeita. ¹ William Shakespeare * Stratford-Avon, Inglaterra – 23 de Abril de 1564 + Londres, Inglaterra – 23 de Abril de 1616

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Shakespeare – Poesia – 09/09/23

Boa noite Soneto II Shakespeare ¹ Passados quarenta invernos sobre a tua fronte, Após cavarem fundos sulcos nos vergéis de tua beleza, O vigor de tua orgulhosa juventude, hoje tão admirada, Será um esmaecido ramo sem nenhum valor. Então, ao te perguntarem onde está o teu encanto, Onde está a riqueza de teus luxuriosos dias, Respondes, com olhos fundos, Que não passaram de vergonha e descabidos elogios. Que louvores mereciam o uso de teus dotes, Se pudesses responder: “Este belo filho meu Me vingará, e justificará todos os meus atos”, E provará ter herdado de ti toda a formosura. Isto farás de novo quando fores mais velha, E o sangue te aquecer quando te sentires fria. ¹William Shakespeare * Stratford-upon-Avon, Reino Unido, 1564 + Stratford-upon-Avon, Reino Unido, 23 de abril de 1616

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Shakespeare – Poesia – 22/08/23

Boa noite Soneto II Shakespeare ¹ Passados quarenta invernos sobre a tua fronte, Após cavarem fundos sulcos nos vergéis de tua beleza, O vigor de tua orgulhosa juventude, hoje tão admirada, Será um esmaecido ramo sem nenhum valor.   Então, ao te perguntarem onde está o teu encanto, Onde está a riqueza de teus luxuriosos dias, Respondes, com olhos fundos, Que não passaram de vergonha e descabidos elogios.   Que louvores mereciam o uso de teus dotes, Se pudesses responder: “Este belo filho meu Me vingará, e justificará todos os meus atos”,   E provará ter herdado de ti toda a formosura. Isto farás de novo quando fores mais velha, E o sangue te aquecer quando te sentires fria.   ¹William Shakespeare * Stratford-upon-Avon, Reino Unido, 1564 + Stratford-upon-Avon, Reino Unido, 23 de abril de 1616

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Carlos Pena Filho – Versos na tarde – 07/03/2016

Testamento de um Homem Sensato Carlos pena Filho¹ Quando eu morrer, não faças disparates nem fiques a pensar: “Ele era assim…” Mas senta-te num banco de jardim, calmamente comendo chocolates. Aceita o que te deixo, o quase nada destas palavras que te digo aqui: Foi mais que longa a vida que eu vivi, para ser em lembranças prolongada. Porém, se um dia, só, na tarde em queda, surgir uma lembrança desgarrada, ave que nasce e em vôo se arremeda, deixa-a pousar em teu silêncio, leve como se apenas fosse imaginada, como uma luz, mais que distante, breve. ¹ Carlos Souto Pena Filho * Recife, PE – 1929 d.C + Recife, PE – 1960 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Vinicius de Moraes – Pro dia nascer melhor – 30/11/2015

Soneto do Amor Total Vinicius de Moraes ¹ Amo-te tanto, meu amor … não cante O humano coração com mais verdade … Amo-te como amigo e como amante Numa sempre diversa realidade. Amo-te afim, de um calmo amor prestante E te amo além, presente na saudade. Amo-te, enfim, com grande liberdade Dentro da eternidade e a cada instante. Amo-te como um bicho, simplesmente De um amor sem mistério e sem virtude Com um desejo maciço e permanente. E de te amar assim, muito e amiúde É que um dia em teu corpo de repente Hei de morrer de amar mais do que pude. ¹ Marcus Vinicius de Moraes * Rio de Janeiro,RJ. – 19 de outubro de 1913 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 9 de julho de 1980 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Fagundes Varela – Versos na tarde – 03/07/2015

Soneto Fagundes Varela ¹ Desponta a estrela d’alva, a noite morre. Pulam no mato alígeros cantores, E doce a brisa no arraial das flores Lânguidas queixas murmurando corre. Volúvel tribo a solidão percorre Das borboletas de brilhantes cores; Soluça o arroio; diz a rola amores Nas verdes balsas donde o orvalho escorre. Tudo é luz e esplendor; tudo se esfuma Às carícias da aurora, ao céu risonho, Ao flóreo bafo que o sertão perfuma! Porém minh’alma triste e sem um sonho Repete olhando o prado, o rio, a espuma: – Oh! mundo encantador, tu és medonho! ¹ Luiz Nicolau Fagundes Varella * Rio Claro, RJ. – 1841 d.C + Niterói, RJ. – 1875 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Florbela Espanca – Versos na tarde – 14/09/2014

Lágrimas Ocultas Florbela espanca ¹ Se me ponho a cismar em outras eras Em que ri e cantei, em que era q’rida, Parece-me que foi noutras esferas, Parece-me que foi numa outra vida. E a minha triste boca dolorida Que dantes tinha o rir das Primaveras, Esbate as linhas graves e severas E cai num abandono de esquerda! E fico, pensativa, olhando o vago… Toma a brandura plácida dum lago O meu rosto de monja de marfim E as lágrimas que choro, branca e calma, Ninguém as vê brotar dentro da alma! Ninguém as vê cair dentro de mim! ¹ Florbela De Alma Conceição Espanca * Vila Viçosa, Portugal – 1894 d.C + Matosinhos, Portugal – 1930 d.C [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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