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Flávia Irene Pinto – Solidão – 01/04/24

Boa noite. Solidão Fátima Irene Pinto Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo… Isto é carência! Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar… Isto é saudade! Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes para realinhar os pensamentos… Isto é equilíbrio! Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente… Isto é um princípio da natureza! Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado… Isto e circunstância! Solidão é muito mais do que isto… Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.

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Quando a solidão vira rotina

Solidão em tempos modernos Aplicativos de namoro como o Tinder são cada vez mais populares Pular de encontro para encontro com ajuda de um app, optar pela vida “single”, casar consigo mesmo. A solidão faz parte da vida moderna e, se for passageira, pode até fazer bem. O problema começa quando ela vira rotina.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Verena* está se arrumando para mais um encontro. Após 19 primeiros encontros, ela parte para o 20º candidato. A advogada, que vive em São Paulo, tem 34 anos e está solteira há seis. Ela marcou o encontro num parque da cidade e saiu do escritório a tempo de ver o pôr do sol com seu match. Sim, ela o conheceu num aplicativo de namoro. Sugeriu o parque porque os outros 19 encontros aconteceram em barzinhos ou em restaurantes. Queria algo diferente. “Quem sabe ajuda?”, pensou. A advogada tem um bom círculo de amigos, eventualmente sai para dançar, vê a família regularmente nos almoços de domingo, mas, no fundo, está triste. Uma tia já perguntou se ela é lésbica. “Qual o seu problema, menina?”, questionou. Ela mesma se pergunta se é feia, se é muito exigente, o que pode fazer para melhorar. Ela tem medo de morrer sozinha, de ficar “para titia”. Psicólogos da Universidade de Chicago estudaram o que acontece com pessoas que se sentem sozinhas de forma permanente. John Cacciopo, professor do Centro de Neurociências Cognitivas e Sociais, e mais dois colegas examinaram 230 pessoas ao longo de onze anos. No início do estudo, essas pessoas tinham entre 50 e 68 anos de idade e, ao fim, entre 61 e 79 anos. No estudo, publicado na revista especializada Personality and Social Psychology Bulletin, ficou comprovado que as pessoas se tornaram egocêntricas por permanecerem sozinhas durante tantos anos. Quem se sente solitário e tem poucos relacionamentos gratificantes acaba por se concentrar em si mesmo. Os psicólogos também descobriram que, ao contrário, aqueles que já no início do estudo eram mais egocêntricos do que os outros, se sentiam frequentemente ainda mais sozinhos anos depois. “Quem se concentra muito em si corre o risco de ficar preso no sentimento de solidão no longo prazo. E o solitário tende a girar mais e mais em torno de si com o passar do tempo. É um círculo vicioso”, concluíram os pesquisadores. Os psicólogos deixaram claro que, em princípio, a solidão não é algo negativo, desde que não dure muito tempo. Do ponto de vista evolutivo é até bom se sentir sozinho. Assim como a dor física sinaliza que a pessoa deve cuidar do seu corpo, o sentimento de solidão alerta que a pessoa precisa cuidar de suas relações sociais. O problema começa quando a solidão se estabelece na vida da pessoa. Em seus estudos em diferentes países, Cacciopo descobriu que, em média, cerca de 30% a 40% das pessoas se sentem sozinhas. A população de solteiros nos Estados Unidos é hoje 30% maior do que em 1980. No Brasil, o número de pessoas morando sozinhas não é tão alto, mas também cresceu. Segundo dados do IBGE, em 2005 cerca de 10% dos lares brasileiros abrigavam pessoas vivendo sozinhas. Em 2015, esse número saltou para 14,6%. A região metropolitana com maior proporção de pessoas morando sozinhas em 2015 era Porto Alegre, com 19,3% dos lares. Em seguida, vinha a região metropolitana do Rio de Janeiro, com 19%. São Paulo aparece com 14,9%. Subir ao altar sozinha Em meio a esse contexto, vem ganhando força a chamada sologamia, o casamento consigo mesmo. O número de mulheres que vêm dizendo “sim” a si mesmas está aumentando consideravelmente nos EUA e no Japão. Nos Estados Unidos, a moda de jurar amor eterno por si mesmo já existe há alguns anos, mas vem se intensificando. No país asiático, mulheres solteiras ainda não são consideradas membros plenos da sociedade. Até por isso, muitas pagam o equivalente a 7 mil reais para casar consigo mesmas. Em geral, mulheres que se dedicaram aos estudos e à profissão, mas que sonhavam em um dia se casar, se vestem de branco, sobem ao altar de braço dado com o pai e, finalmente, colocam uma aliança na mão esquerda. Mas, em tempos de inflação de dates pelo Tinder, não há um noivo ao lado delas. O solo wedding ainda não é reconhecido nem pela igreja nem pelo cartório, mas, para mulheres que vivem com o estigma de não terem sido “escolhidas”, esta é uma maneira de lutar contra o patriarcado e as convenções sociais. “As pessoas estão medrosas e cansadas” O filósofo Luiz Felipe Pondé afirma que a sociedade sempre inventa uma moda para dar um título a um comportamento. “À dificuldade de partilhar a vida com uma pessoa, agora se dá o nome de single. Não é mais solteiro ou sozinho, é single”, aponta. “Para viver com alguém, você tem de fazer concessões, precisa ser corajoso, tem de investir na pessoa com todos os riscos que o ‘investimento’ traz. E as pessoas estão medrosas e cansadas.” Quanto ao casamento consigo mesmo, Pondé é taxativo: “Chegamos ao cúmulo da entropia afetiva da humanidade.” O filósofo vê nessa ritualística algo muito pior do que alguém exigir o direito de casar com seu cachorro. “Porque pelo menos o cachorro é outro ser vivo. Casar consigo mesmo é mais ou menos o direito de me declarar klingon, raça de alienígenas da série Star Trek”, critica. “Hoje, as pessoas querem dizer que escolhem o sexo, a raça, assim como escolhem o desodorante. Tem gente que diz que é de outro planeta. Eles estão em missão na Terra e querem ser reconhecidos como tal. É o transgênero, o transracial e o transplanetário. Agora existe a pessoa que exige o direito de casar consigo mesmo”,diz. Verena ainda não pensa no autocasamento. Ela ficou animada após seu mais recente encontro amoroso. A conversa fluiu, os dois riram bastante. Ele era bonito, eles se beijaram, e o beijo foi bom. Mas ele não escreveu depois. Ela, então, mandou um whatsapp: “Gostei muito de te conhecer.” E ele respondeu um dia depois: “Eu também, muito obrigada pela tarde

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Psicologia: Solidão, uma nova epidemia

Uma em cada três pessoas sente-se sozinha na sociedade da hiperconexão e das redes sociais ‘Reflexo em uma janela de Altamira’ (Caracas), do fotógrafo Christopher Anderson. Magnum Qualquer um pode sofrer com solidão crônica: uma criança de 12 anos que muda de escola; um jovem que depois de crescer em uma pequena comunidade sente-se perdido em uma grande cidade; uma executiva que está ocupada demais com sua carreira para manter boas relações com seus familiares e amigos; um idoso que sobreviveu a sua parceira e cuja saúde fraca dificulta fazer visitas. A generalização do sentimento de solidão é surpreendente. Vários estudos internacionais indicam que mais de uma em cada três pessoas nos países ocidentais sente-se sozinha habitualmente ou com frequência. Um estudo de 10 anos que iniciamos em 2002 em uma grande área metropolitana indica que, na verdade, essa proporção aproxima-se mais de uma em cada quatro pessoas em alguns locais, uma taxa que segue sendo muito alta.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] MAIS INFORMAÇÕES O cupim do ressentimento O que queremos dizer quando falamos de felicidade? Saber escutar Felicidade express: truques para levantar o astral em 30 segundos Aos 95 anos, Twitter contra a solidão Por que as mentes mais brilhantes precisam de solidão A maioria dessas pessoas talvez não seja solitária por natureza, mas sente-se socialmente isolada, embora esteja rodeada de gente. O sentimento de solidão, no começo, faz com que a pessoa tente estabelecer relações com outras, mas, com o tempo, a solidão pode acabar em reclusão, porque parece uma alternativa melhor que a dor, a rejeição, a traição ou a vergonha. Quando a solidão se torna crônica, as pessoas tendem a se resignar. Podem ter família, amigos ou um grande círculo de seguidores nas redes sociais, mas não se sentem verdadeiramente em sintonia com ninguém. Uma pessoa que se sente sozinha geralmente está mais angustiada, deprimida e hostil, e tem menos probabilidades de realizar atividades físicas. Como as pessoas solitárias tendem a ter mais relações negativas com os outros, o sentimento pode ser contagioso. Os testes biológicos realizados mostram que a solidão tem várias consequências físicas: elevam-se os níveis de cortisol – o hormônio do estresse –, a resistência à circulação de sangue aumenta e certos aspectos da imunidade diminuem. E os efeitos prejudiciais da solidão não terminam quando se apaga a luz: a solidão é uma doença que não descansa, que aumenta a frequência dos pequenos despertares durante o sono, e faz com que a pessoa acorde esgotada. O motivo é que, quando o cérebro entende o seu entorno social como algo hostil e pouco seguro, permanece constantemente em alerta. E as respostas do cérebro solitário podem funcionar para a sobrevivência imediata. Mas, na sociedade contemporânea, em longo prazo, cobra um preço da saúde. Quando nossos motores estão constantemente acelerados, deixamos nosso corpo exausto, reduzimos nossa proteção contra os vírus e inflamações e aumentamos o risco e a gravidade de infecções virais e de muitas outras doenças crônicas. Quando uma pessoa está triste e irritada, talvez esteja pedindo que alguém a ajude Uma análise recente – de 70 estudos combinados, com mais de três milhões de participantes – demonstra que a solidão aumenta o risco de morte em 26%, aproximadamente o mesmo que a obesidade. O fato de que mais de uma em cada quatro pessoas em países industrializados pode estar vivendo na solidão, com consequências certamente devastadoras para a saúde, deveria nos preocupar. Em nossas investigações, também observamos que cada medida positiva para melhorar a qualidade das relações sociais melhora a pressão arterial, os níveis de hormônios do estresse, os padrões de sono, as funções cognitivas e o bem-estar geral. Com frequência, as pessoas solitárias não estão conscientes de muitas das coisas que estão acontecendo: não percebem. Por exemplo, a hipervigilância é aguçada de forma implícita em busca de ameaças sociais e a capacidade de controlar os impulsos é reduzida. Mas, assim como acontece com a dor física que nos informa de uma possível lesão em nosso corpo, o sentimento de solidão nos indica a necessidade de proteger ou consertar nosso corpo social. Josef Koudelka (Magnum)  Os familiares e amigos geralmente são os primeiros a detectarem os sintomas de solidão crônica. Quando uma pessoa está triste e irritável, talvez esteja pedindo, em silêncio, que alguém a ajude e se conecte com ela. A paciência, a empatia, o apoio de amigos e familiares, compartilhar bons momentos com eles, tudo isso pode fazer com que seja mais fácil recuperar a confiança e os vínculos e, por fim, reduzir a solidão crônica. Infelizmente, para muitos, falar com sinceridade sobre a solidão continua sendo difícil, porque é uma condição mal compreendida e estigmatizada. No entanto, dadas sua frequência e suas repercussões na saúde, teria que ser reconhecida como um problema de saúde pública. Deveria receber mais atenção nas escolas, nos sistemas de saúde, nas faculdades de medicina e em asilos para garantir que os professores, os profissionais de saúde, os trabalhadores de creches e de abrigos de terceira idade saibam identificá-la e abordá-la. As redes sociais podem abrir novas vias para conectar-se com os demais? Depende de como forem utilizadas. Quando as pessoas usam as redes para enriquecer as interações pessoais, isso pode ajudar a diminuir a solidão. Mas, quando servem de substitutas de uma autêntica relação humana, causam o resultado inverso. Imagine um carro. Se uma pessoa o conduz para compartilhar um passeio agradável com seus amigos, certamente se sentirá menos sozinha; se dirige sozinho para cumprimentá-los de longe e ver como os demais estão se divertindo, sua solidão certamente seguirá igual ou até mesmo pior. Falar com franqueza sobre a solidão continua sendo difícil, mas é um problema de saúde pública Infelizmente, muitas pessoas solitárias tendem a considerar as redes sociaiscomo um refúgio relativamente seguro para se relacionar com os outros. Como é difícil julgar se as outras pessoas são dignas de confiança no ciberespaço, a relação é superficial. Além disso, uma conexão pela internet não substitui uma real. Quando uma criança cai e machuca

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