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Pobre e negra: de faxineira a juíza

De faxineira a juíza, a história de uma mulher pobre e negra no Brasil Adriana Queiroz pagou parte dos seus estudos como limpadora de um hospital e escreveu um livro. A luz do quarto de Adriana Queiroz estava sempre acessa nas madrugadas. Ela trabalhava durante o dia, estudava às noites e rezava para que quem apenas a via como uma mulher negra, pobre e filha de analfabetos não quebrasse seu sonho. Adriana não queria ser o que os outros esperavam dela, ela queria ser juíza em um país onde a taxa de analfabetismo das mulheres negras (14%) mais que duplica a das brancas (5,8%), segundo o IBGE.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Adriana, com 38 anos, é hoje titular da 1ª Vara Cível e da Vara de Infância e da Juventude de Quirinópolis, em Goiás. Tem cinco pós-graduações, estuda Letras nas horas vagas, mas já foi faxineira. Ela teve que se esforçar muito mais que a maioria dos seus colegas de aula para vestir a toga. E conseguiu. Hoje conta suas conquistas em um livro que acabou de lançar, Dez passos para alcançar seus sonhos – A história real da ex-faxineira que se tornou juíza de direito. Os pais de Adriana eram trabalhadores rurais no sertão da Bahia e se mudaram para Tupã, um município de 63.000 habitantes no interior de São Paulo, em busca de uma vida melhor. O orçamento familiar aumentou, o pai virou motorista de ônibus e a mãe vendedora ambulante, mas pagar uma faculdade era ainda um sonho de outra classe social. “A vida deles sempre foi muita dura. Meus pais sofreram muito, eles queriam me dar o que eles não alcançaram, mas não tinham condições. Ninguém na minha família tinha condições de me ajudar”, lembra a juíza em uma conversa por Skype. A magistrada, que sempre estudou em escola pública, foi a terceira classificada no vestibular para cursar direito, mas a única faculdade de sua cidade era privada. Não tinha como pagar, muito menos como cogitar uma universidade pública em outra cidade. “Eu soube do resultado da prova numa sexta e, na segunda, já tinha que fazer a matricula ou perdia a vaga. Tive três dias para decidir o que fazer, ver se teria que abandonar”. Ela resolveu, em seguida, pedir conselho e emprego a um professor da cidade. Ele, que trabalhava no corpo administrativo da Santa Casa, conseguiu uma vaga para ela na instituição. De faxineira. Adriana se orgulha daqueles seis meses que limpou o hospital, mas o salário mínimo que recebia não era suficiente para pagar a mensalidade da universidade e ainda ouvia chacota dos colegas. “Força nos braços, advogadinha!”, lhe gritavam. “Esse episódio é muito marcante para mim, justamente por esse preconceito de que alguém que exerce um cargo como eu exercia não possa sonhar alto”. Faltavam horas para o prazo da matrícula expirar quando Adriana plantou-se na frente do diretor da faculdade. Compartilhou seu sonho de estudar. “Ele se sensibilizou e me concedeu uma bolsa de 50% e diluiu o valor da matrícula nas mensalidades. Assim, durante o dia trabalhava na limpeza e à noite ia estudar”. Para espanto dos seus conhecidos e familiares, durante a faculdade, Adriana resolveu ser juíza. “Quando anunciei isso as pessoas ficaram espantadas. Não era comum no meu contexto almejar um cargo tão alto. É como se fosse algo inacreditável, faziam questão de frisar que eu era pobre e negra, como se não tivesse nenhuma chance”, lamenta. Decidida, em 2002, terminou os estudos, pediu demissão na Santa Casa, onde já tinha sido promovida ao corpo administrativo e guardou suas coisas em duas sacolas plásticas. Partia para a capital para se preparar. “Eu não tinha nem mala”, relata. Após alugar um quartinho no bairro da Liberdade e se matricular no curso preparatório para o concurso da magistratura o dinheiro da conta dava para, no máximo, mais dois meses. “Foi um momento muito crítico, o dinheiro estava acabando e eu não tinha conseguido trabalho”, conta Adriana. “Eu me vi de novo nesse dilema de ter ou não que abandonar”. Não precisou. O diretor do curso, o procurador Damásio de Jesus, viu nela uma “pessoa incomum”. “Logo à primeira vista, olhando nos olhos daquela jovem advogada de 24 anos, tive certeza de que estava diante uma lutadora, uma pessoa incomum, de alguém que, sem dúvida, estava fadada a um grande futuro”, destaca o jurista no prefácio do livro. Damásio ofereceu para ela uma bolsa de 100% do curso durante dois anos e a empregou na biblioteca da instituição. “Fiquei sete anos estudando, sábados, domingos e feriados. Quando as pessoas iam viajar, eu ficava na biblioteca. Depois de inúmeras reprovações, eu consegui. Em janeiro de 2011 passei o concurso e me tornei juíza em Goiânia”. Caçula de seis irmãos, a única deles que tem ensino superior, Adriana quer motivar agora com o livro a todas as pessoas que, assim como ela, “sonham, mas estão desacreditadas”. “É possível romper os paradigmas sociais”, encoraja. “Eu, particularmente, não sofro racismo hoje. Mas sim vivencio a grande surpresa das pessoas quando me veem. Porque quando o advogado vai procurar o juiz, ele não espera encontrar alguém como eu. Eu não me importo. Eu fico feliz de ter quebrado esse paradigma”.  

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Canudos de plástico sugam a natureza

Começa segunda guerra de canudos Canudos de plástico recolhidos em praia da Austrália Campanhas defendem fim do uso do utensílio, que representa 4% do lixo plástico mundial Talvez você não tenha parado para pensar nisso, mas há um elemento-chave que diferencia tomar uma bebida em um bar de fazer isso em casa. Não é a música, a companhia ou o ambiente.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] É que quando você bebe em um bar te dão um canudinho, que você não costuma usar quando prepara bebidas para os seus amigos na sala de casa. Esse canudinho também vem no suco e nas vitaminas das crianças na hora do recreio. Esse canudinho de plástico, que não costuma ser biodegradável e tem apenas alguns minutos de vida útil para nós, significa centenas de anos de resíduos para o meio ambiente. As redes sociais começaram a se conscientizar dos danos causados por um produto que na realidade é totalmente dispensável, exceto para pessoas doentes com dificuldade para beber. Por isso apareceram campanhas como #RefusePlasticStraws ou #PlasticPollutes, que lembram que somente nos Estados Unidos são utilizados mais de 500 milhões de canudos de plástico por dia. Pessoas públicas como a designer Vivienne Westwood começaram a fazer campanha em suas contas para conscientizar o mundo de que talvez seja o momento de deixar de usá-las. Contribuindo com mais dados, Enrique Estrela, especialista em marketing e meio ambiente na Verdes Digitales, insiste em que “os dados nos indicam que os canudos são um resíduo generalizado em nível mundial, já que representam 4% do lixo plástico e levam até mil anos para se decompor”. Além disso, “muitos desses canudos vão para o mar e estima-se que 90% das espécies marinhas tenham ingerido produtos de plástico em algum momento, como se pode ver neste vídeo”. Com todos esses dados, Estrela acredita que “a viralidade das campanhas contra o uso dos canudos pode ser vinculada a seu uso cotidiano. Certamente muitas pessoas antes não se haviam dado conta de que estavam consumindo um futuro resíduo plástico porque seu consumo é muito amplo em lugares de comida rápida, supermercados e salas de cinema. Além disso, a mensagem é muito atraente: por que usar algo que normalmente você não usa?”. A ideia dessas campanhas e páginas na Internet passa pela conscientização da população para que diga “não aos canudos de plástico”, com um gesto tão simples como dizer “sem canudinho, por favor” quando lhe servirem algum refrigerante ou outra bebida, e incentivar os seus acompanhantes a fazer o mesmo. É o que destaca também The last plastic Straw, que informa as pessoas sobre como incentivar uma mudança no protocolo e nas práticas das empresas para que possam mudar o uso indiscriminado dos canudos de plástico. Um passo a mais seria chegar aos restaurantes e bares e lhes propor que os canudos não sejam entregues como algo rotineiro, só quando o cliente pedir, ou então defender o uso de produtos similares, que em vez de serem fabricados com plástico são de papel, vidro ou aço inoxidável. Outra ideia é optar por comprar sucos e vitaminas que adotem outro sistema para serem consumidos, sem o uso do tradicional canudo de plástico. Enrique Estrela observa que realmente “o consumidor tem um grande poder sobre este e outros produtos. Já há alguns anos a importância do consumidor tem aumentado até se situar acima das marcas”. Por isso, “se realmente for feita uma forte campanha sobre os canudos, com apoio da sociedade, é muito provável que as empresas mudem sua concepção de uso do produto e tendam a criar canudos biodegradáveis ou que não produzam resíduos”. Não se deve esquecer que, como afirma Estrela, “para as empresas deve ser fundamental ser socialmente responsável e apostar na inovação. E a redução do uso dos canudos e a melhora de seus processos produtivos será algo a se levar muito em conta se a pressão social tornar isso evidente”. Um problema também na Espanha? Embora estas campanhas tenham ganhado força principalmente nos Estados Unidos, onde o problema dos canudos de plástico é maior, cabe perguntar se fazem sentido no contexto espanhol. Não existem dados tão específicos sobre o uso de canudos na Espanha, mas Beatriz Meunie, diretora de comunicação da PlasticsEurope, diz que “certamente o uso dos canudos de plástico é menos comum em nosso país do que nos EUA”. A especialista também enfatiza que, além da questão dos canudos descartáveis, o mais importante é que sejam reutilizáveis: “O problema também reside no comportamento sem civilidade das pessoas que os jogam no chão depois de os usar. É necessário continuar avançando para uma maior conscientização e evitar que qualquer resíduo, não só os canudos, sejam jogados fora de modo indiscriminado”. CAMPAÑA DE ONE GREEN PLANET.  Da perspectiva da PlasticsEurope, a iniciativa de cidadãos contra o excesso de resíduos pode passar também pela conscientização sobre o reuso. “Temos de continuar trabalhando para um consumo mais responsável de todos os nossos recursos, tanto durante sua fase de uso como com uma gestão adequada quando já tiverem cumprido sua função. Costumamos dizer que os resíduos de hoje são os recursos de amanhã e que para poder recuperar todo o seu valor é necessária sua correta gestão”. As propostas passam pela reutilização dos canudos em materiais de decoração, trabalhos manuais infantis ou até como forro para diferentes superfícies. “Na PlasticsEurope lançamos há vários anos a iniciativa ‘Zero Plástico no Aterro’ para que não se permita a entrada em aterros de nenhum tipo de resíduo reciclável ou valorizável: os plásticos são valiosos demais para serem desperdiçados nos aterros”. Mesmo que cada pessoa contribua para a reutilização, o plástico com seu grãozinho de areia, com criatividade e civismo, talvez a chave não esteja somente em melhorar seu uso, mas em reduzir a fabricação. Por isso, embora obviamente tudo ajude, Enrique Estrela pondera que a verdadeira mudança passa por “conscientizar e sensibilizar a população mundial sobre seu uso, dando-lhe o poder de mudar o rumo desses negócios que usam produtos daninhos, por meio da tomada

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A lista Fachin: por que não descobriram antes?

Os nomes vazados do processo de Fachin Os nomes divulgados pelo jornal O Estado de S. Paulo não podem ser verdade. Se for verdade, não deveria ter sido dito. Em sendo verdade e já tendo sido dito, os que disseram podem proclamar uma convulsão social. E se tudo o que está sendo dito for verdade, por que demorou tanto tempo para ser dito? [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Como pode um país com quase 30 milhões de desempregados ter esperado tanto para ver que uma das razões fundamentais de sua miséria e desemprego com certeza foram por causa desses homens que detêm o poder público e os corruptores da iniciativa privada que roubaram tanto. Se for verdade, tudo o que está sendo dito pode conflagrar um povo com fome, sem saúde pública para assisti-los, sem escolas para seus filhos estudarem, sem segurança pública para garantir o ir e vir. Sendo verdade, os que disseram parecem não querer a paz. Então o que querem esses homens? Por que vazar as informações dos corruptos e não prendê-los, sequestrando seus bens, os colocando em disponibilidade até termos certeza de que são eles mesmos os ladrões, para que posteriormente possamos levá-los às mesmas condições que vivem os desempregados e à margem da sobrevivência? Os miseráveis da Revolução Francesa eram um povo em número infinitamente menor do que os 200 milhões de brasileiros, e se o Brasil tem por volta de 30 milhões de desempregados, e esses desempregados tem pelo menos dois ou três dependentes, são por volta de 120 milhões na miséria ou que vivem quase no limite da sobrevivência. Os franceses tinham seus miseráveis que fizeram a revolução. Mas sendo a França o berço de cultura, até os miseráveis tinham cultura. Aqui, temos um país com apenas 500 anos, pobre, sem cultura, onde este povo marginalizado não tem conhecimento do certo e do errado. É um povo sem instrução e pouca cultura para fazer a definição social da forma violenta necessária para reagir contra esses que são os responsáveis pelas condições de vida do atual momento do Brasil. Que definição ou que expectativa podem dar os sociólogos sobre tal fenômeno? Não se fala mais do anormal ex-governador do Rio de Janeiro. Não pode haver qualquer dúvida de que é um doente que conviveu produzindo outros doentes da corrupção. Há uma definição de que o louco pode fazer outros loucos. Com certeza esse é o caso. O louco, que não conhecia os limites da dignidade, não merece esse povo que não participou das bandalheiras, que não tem o direito de sofrer sem ter o mínimo de reação. Os que estão reagindo pelo povo, com o maior respeito às leis, parecem estar reagindo com um pouco de hipocrisia. A reação a essa gente não pode ser simplesmente a tornozeleira eletrônica. O nível de assalto ao poder público requer uma bola de ferro presa aos pés dos assaltantes do Estado. A reação a essa gente não pode ser o presídio, mas os campos de concentração, vivendo à sorte, com sol e chuva e com todo tipo de intempéries. Se alimentando do que eles mesmos produzem nos campos de concentração. É o mínimo que o povo sofrido pode aguentar sem reagir. > > ‘The New York Times’: Políticos mais poderosos do Brasil na mira da justiça > > ‘El País’: Justiça do Brasil ordena investigação a oito ministros de Temer > > ‘Financial Times’: No Brasil, Justiça ordena investigação a políticos mais poderosos

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Internet: Uma conexão 100 vezes mais rápida do que o wi-fi

A tecnologia li-fi, que utiliza a luz direta para transmitir dados, oferece umas conexões mais eficientes e seguras Um frigorífico que avisa a data de validade dos alimentos e uma escova de dentes que alerta sobre qualquer pequena cárie e marca automaticamente uma consulta ao dentista. Em 2023, calcula-se que existirão 22 milhões de dispositivos conectados à rede que revolucionarão a relação entre os objetos e as pessoas.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) o chamou de “internet das coisas”. Seu desenvolvimento, entretanto, se choca com a saturação do espectro de radiofrequência das redes wi-fi. A popularização do uso de dispositivos permanentemente conectados obrigou a busca de novas soluções. Uma conexão 100 vezes mais rápida do que o wi-fi O cientista da Universidade de Edimburgo, Harold Haas, descobriu em 2011 que a luz de um só LED (diodo emissor de luz) era capaz de transmitir mais dados do que uma antena de telefonia. Os testes no laboratório conseguiram uma transferência de arquivos de até 224 gigabits por segundo. Isso significa baixar 18 filmes em um instante. Em 2019 estima-se que o tráfego mundial de dados aumentará até os 24,3 exabytes por mês (24,3 bilhões de gigabytes). O desenvolvimento de conexões por luz direta (também conhecida como li-fi) é somente o começo de uma revolução muito próxima. Resolvida a saturação A principal diferença com o wi-fi é que sendo os dois ondas eletromagnéticas para transportar os dados, o li-fi o faz através da luz visível e não por micro-ondas. Dessa maneira é resolvido o problema da saturação do espectro de radiofrequência que reduz a velocidade das conexões atuais. O obstáculo para a implantação das cidades inteligente já não existiria. Ainda não é comercializado, mas já existem empresas que pretendem colocar no mercado soluções baseadas nessa tecnologia. Arturo Campos Fentanes, diretor da Sisoft, no México, conta por e-mail que já estão na fase de miniaturização de seus protótipos. Essa empresa tem três patentes de modelos de transmissão e comunicação através de diodos LED. “O problema está no hardware dos aparelhos, porque os processadores ainda não são tão rápidos para captar todos os pacotes de dados enviados pela luz visível”, explica. O custo é outra de suas vantagens porque não requer grandes instalações. O preço ficará entre 215 e 3.445 reais, dependendo do tipo de LED e chip. Funciona como um código Morse avançado. Com a instalação de um modulador, qualquer LED seria capaz não só de fornecer luz, como também transmitir dados. Esses moduladores fazem com que a luz acenda e apague milhões de vezes por segundo criando os zeros e uns binários que cifram os dados. A oscilação é imperceptível ao olho humano, mas não para fotodiodos colocados nos celulares e computadores que se encarregarão de captar as mudanças de luz e interpretá-las para transformá-las em informação. Dessa forma, toda a rede de iluminação de uma casa se transformaria assim em um grande roteador com múltiplos pontos de conexão dos gadgets. Isso não significa, porém, o fim do wi-fi. O projeto prevê, em princípio, somente o recebimento de informação (unidirecional), mas os cientistas afirmam que conseguir não só, por exemplo, receber um e-mail como também enviá-lo, seria tão simples como colocar um emissor de luz no dispositivo (bidirecional). A ideia é que os dois sistemas coexistam para conseguir conexões mais eficientes e seguras. E a transmissão de dados por luz direta limita seu raio de ação ao local em que o emissor e o receptor se encontram. Nenhuma pessoa pode interferir no sinal, como é possível fazer através das micro-ondas. Essa ausência de interferências favorece a instalação nos hospitais – na Coreia do Sul existe um projeto para eliminar todo o cabeamento de determinadas máquinas – e nos aviões. As utilidades são tantas quanto a mente possa imaginar. Teste piloto O desenvolvimento desta tecnologia tinha sido paralisado pela impossibilidade de se conseguir, em ambientes reais, uma velocidade de transmissão de dados tão superior à do wi-fi. Nestes últimos meses, no entanto, conseguiu-se implantar com sucesso, de forma piloto, em um escritório. Isso representa um salto qualitativo ao se obter velocidades de um gigabit por segundo. Ou seja, 100 vezes superior à velocidade média oferecida pelo wi-fi. “É um passo muito importante, porque o principal problema que encontramos em ambientes reais são as interferências, como, por exemplo, a luz natural”, comenta Ana García Armada, catedrática de Teoria do Sinal e Comunicações da Universidade Carlos III de Madri. A implantação comercial exige um redesenho de muitos dos equipamentos emissores e receptores existentes, apesar de os cientistas trabalharem para que, por exemplo, a câmera de qualquer smartphone possa servir para decifrar o sinal da luz. As empresas de telecomunicações, como a Vodafone, admitem estar acompanhando com atenção seu progresso para avaliar as vantagens potenciais. UMA GERAÇÃO DE CARROS INTELIGENTES A tecnologia li-fi revolucionará também a forma de circular. Um projeto espanhol está desenvolvendo um protótipo de modulador que dará acesso à internet sem fio por meio dos postes de iluminação pública. “Estamos em uma etapa inicial, mas esperamos que em alguns anos possa ser uma realidade comercial”, afirma a catedrática García Armada, que participa do projeto. A iluminação das rodovias se transformará em uma imensa rede de conexão. Os veículos inteligentes poderão se comunicar entre si por meio dos faróis de LED. Neste caso, ao ter ambos emissores de luz direta, pode-se estabelecer uma interação bidirecional. Entre as funcionalidades estão a de evitar acidentes ao detectar-se automaticamente uma brusca redução de velocidade do veículo que circula à frente. Carlos Santana/ElPaís

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Psicologia: Solidão, uma nova epidemia

Uma em cada três pessoas sente-se sozinha na sociedade da hiperconexão e das redes sociais ‘Reflexo em uma janela de Altamira’ (Caracas), do fotógrafo Christopher Anderson. Magnum Qualquer um pode sofrer com solidão crônica: uma criança de 12 anos que muda de escola; um jovem que depois de crescer em uma pequena comunidade sente-se perdido em uma grande cidade; uma executiva que está ocupada demais com sua carreira para manter boas relações com seus familiares e amigos; um idoso que sobreviveu a sua parceira e cuja saúde fraca dificulta fazer visitas. A generalização do sentimento de solidão é surpreendente. Vários estudos internacionais indicam que mais de uma em cada três pessoas nos países ocidentais sente-se sozinha habitualmente ou com frequência. Um estudo de 10 anos que iniciamos em 2002 em uma grande área metropolitana indica que, na verdade, essa proporção aproxima-se mais de uma em cada quatro pessoas em alguns locais, uma taxa que segue sendo muito alta.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] MAIS INFORMAÇÕES O cupim do ressentimento O que queremos dizer quando falamos de felicidade? Saber escutar Felicidade express: truques para levantar o astral em 30 segundos Aos 95 anos, Twitter contra a solidão Por que as mentes mais brilhantes precisam de solidão A maioria dessas pessoas talvez não seja solitária por natureza, mas sente-se socialmente isolada, embora esteja rodeada de gente. O sentimento de solidão, no começo, faz com que a pessoa tente estabelecer relações com outras, mas, com o tempo, a solidão pode acabar em reclusão, porque parece uma alternativa melhor que a dor, a rejeição, a traição ou a vergonha. Quando a solidão se torna crônica, as pessoas tendem a se resignar. Podem ter família, amigos ou um grande círculo de seguidores nas redes sociais, mas não se sentem verdadeiramente em sintonia com ninguém. Uma pessoa que se sente sozinha geralmente está mais angustiada, deprimida e hostil, e tem menos probabilidades de realizar atividades físicas. Como as pessoas solitárias tendem a ter mais relações negativas com os outros, o sentimento pode ser contagioso. Os testes biológicos realizados mostram que a solidão tem várias consequências físicas: elevam-se os níveis de cortisol – o hormônio do estresse –, a resistência à circulação de sangue aumenta e certos aspectos da imunidade diminuem. E os efeitos prejudiciais da solidão não terminam quando se apaga a luz: a solidão é uma doença que não descansa, que aumenta a frequência dos pequenos despertares durante o sono, e faz com que a pessoa acorde esgotada. O motivo é que, quando o cérebro entende o seu entorno social como algo hostil e pouco seguro, permanece constantemente em alerta. E as respostas do cérebro solitário podem funcionar para a sobrevivência imediata. Mas, na sociedade contemporânea, em longo prazo, cobra um preço da saúde. Quando nossos motores estão constantemente acelerados, deixamos nosso corpo exausto, reduzimos nossa proteção contra os vírus e inflamações e aumentamos o risco e a gravidade de infecções virais e de muitas outras doenças crônicas. Quando uma pessoa está triste e irritada, talvez esteja pedindo que alguém a ajude Uma análise recente – de 70 estudos combinados, com mais de três milhões de participantes – demonstra que a solidão aumenta o risco de morte em 26%, aproximadamente o mesmo que a obesidade. O fato de que mais de uma em cada quatro pessoas em países industrializados pode estar vivendo na solidão, com consequências certamente devastadoras para a saúde, deveria nos preocupar. Em nossas investigações, também observamos que cada medida positiva para melhorar a qualidade das relações sociais melhora a pressão arterial, os níveis de hormônios do estresse, os padrões de sono, as funções cognitivas e o bem-estar geral. Com frequência, as pessoas solitárias não estão conscientes de muitas das coisas que estão acontecendo: não percebem. Por exemplo, a hipervigilância é aguçada de forma implícita em busca de ameaças sociais e a capacidade de controlar os impulsos é reduzida. Mas, assim como acontece com a dor física que nos informa de uma possível lesão em nosso corpo, o sentimento de solidão nos indica a necessidade de proteger ou consertar nosso corpo social. Josef Koudelka (Magnum)  Os familiares e amigos geralmente são os primeiros a detectarem os sintomas de solidão crônica. Quando uma pessoa está triste e irritável, talvez esteja pedindo, em silêncio, que alguém a ajude e se conecte com ela. A paciência, a empatia, o apoio de amigos e familiares, compartilhar bons momentos com eles, tudo isso pode fazer com que seja mais fácil recuperar a confiança e os vínculos e, por fim, reduzir a solidão crônica. Infelizmente, para muitos, falar com sinceridade sobre a solidão continua sendo difícil, porque é uma condição mal compreendida e estigmatizada. No entanto, dadas sua frequência e suas repercussões na saúde, teria que ser reconhecida como um problema de saúde pública. Deveria receber mais atenção nas escolas, nos sistemas de saúde, nas faculdades de medicina e em asilos para garantir que os professores, os profissionais de saúde, os trabalhadores de creches e de abrigos de terceira idade saibam identificá-la e abordá-la. As redes sociais podem abrir novas vias para conectar-se com os demais? Depende de como forem utilizadas. Quando as pessoas usam as redes para enriquecer as interações pessoais, isso pode ajudar a diminuir a solidão. Mas, quando servem de substitutas de uma autêntica relação humana, causam o resultado inverso. Imagine um carro. Se uma pessoa o conduz para compartilhar um passeio agradável com seus amigos, certamente se sentirá menos sozinha; se dirige sozinho para cumprimentá-los de longe e ver como os demais estão se divertindo, sua solidão certamente seguirá igual ou até mesmo pior. Falar com franqueza sobre a solidão continua sendo difícil, mas é um problema de saúde pública Infelizmente, muitas pessoas solitárias tendem a considerar as redes sociaiscomo um refúgio relativamente seguro para se relacionar com os outros. Como é difícil julgar se as outras pessoas são dignas de confiança no ciberespaço, a relação é superficial. Além disso, uma conexão pela internet não substitui uma real. Quando uma criança cai e machuca

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A igreja que trocou o crucifixo pela arte urbana

O artista Okuda nos fala de seu trabalho na igreja de Santa Bárbara, no norte da Espanha, agora um ‘skatepark’ A igreja de Santa Bárbara foi criada há pouco mais de cem anos em Llanera (em Astúrias, norte da Espanha) para dar trabalho aos funcionários da fábrica de explosivos de Santa Bárbara, que também moravam na região. Depois da Guerra Civil espanhola, a empresa fechou e, a partir dos anos 60, só este templo permaneceu de pé. A vida útil do edifício sofreu, há alguns anos, uma reviravolta inesperada, que agora culmina com o trabalho do artista urbano Okuda.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Foi em 2007 que o coletivo Church Brigade decidiu montar uma rampa de skate neste edifício abandonado. A arte urbana de Okuda, nascido na Cantábria (norte da Espanha), pode ser vista em quase todo o mundo, mas quando descobriu pelo Facebook que esta igreja tinha sido dessacralizada e transformada em um parque de skate, quis registrar sua obra nela. Sob o nome de Kaos Temple (Templo do caos), transferiu sua habitual explosão de cor a esse edifício religioso e de estilo clássico, que no século XXI perdeu suas credenciais religiosas para se transformar no templo do skate. É a simetria perfeita entre as abóbodas da igreja e as rampas de skate que fez com que Óscar San Miguel, conhecido como Okuda, se apaixonar por este projeto, conta ele por e-mail. O artista entrou em contato com a Church Brigade através de um amigo comum e lançou uma campanha no site de financiamento coletivo Verkami. Com o dinheiro financiou os custos necessários para esta obra, criada no número bíblico de sete dias. Havia um interesse especial para que a ideia fosse adiante. “Este projeto tem para mim um valor sentimental que o torna único. É bem do lado da minha terra, a uma hora da casa dos meus pais, enquanto quase todos os meus projetos grandes estão fora da Espanha”, explica. O estilo peculiar de Okuda, que ele mesmo define como “colorista e geométrico” parece deslocar a linguagem própria dos vitrais da igreja para fora das janelas, colocando-a nos arcos e abóbadas do edifício. Sua intenção, explica, é a de representar sua própria religião, liberdade e estilo de vida. Foto realizada por Rubén Pomares Okuda está muito acostumado a obras de grande formato como a deste local, já que cria cerca de dois murais por mês de pelo menos três andares de altura. “Me sinto muito à vontade adaptando-me a suportes tão clássicos quanto uma igreja. Esse contraste entre pintura contemporânea multicolorida e a arquitetura clássica e crua da pedra é o que mais me impressionou e emocionou neste projeto”, diz. Ainda que pareça não há mais o que conquistar para a arte urbana deste espanhol, ele ainda tem projetos pendentes. “Faz tempo que gostaria de dirigir videoclipes ou de colaborar com algum arquiteto”, confessa. Este ano participará da Art Beijing, em Pequim, e o único continente que resiste a ele até agora é a Austrália, para onde espera viajar no próximo ano. As imagens a seguir reúnem alguns dos trabalhos favoritos desse cantábrico. Estação de metro Paco de Luzia em Madri (2015) Gorki Park (Moscou) Festival Bonaroo (Manchester) 2013

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Grafiteiras árabes que derrubam muros

Artistas de rua do Egito e da Síria refletem o olhar feminino em espaços públicos A grafiteira palestina Laila Ayawi durante participação na Jordânia, em 2014. Mia Gröndahl Os muros nem sempre escondem realidades. Nas ruas de Alexandria, Sanaa ou Amã, as mesmas paredes capazes de engessar papéis de gênero também podem, graças ao grafite, dar visibilidade às mulheres. Com essa intenção, nasceu em 2013, no Egito, o Sit al-hita (as mulheres das paredes, em dialeto árabe egípcio) um grupo de cerca de 60 grafiteiros — principalmente mulheres, mas também há homens — de várias partes do mundo árabe que se reúnem a cada ano para levar o universo feminino ao espaço público através da arte de rua.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Até agora, pintaram muros no Cairo, Copenhague e Amã, a última vez em novembro de 2015, graças ao financiamento dos Governos sueco e dinamarquês. Os grafites políticos ganharam força na paisagem urbana do Egito com a eclosão da Primavera Árabe, em 2011. Com a revolta contra Hosni Mubarak, os muros começaram a refletir mensagens contrárias ao regime ou em homenagem aos mortos na repressão. Faltava, no entanto, metade da população. A jornalista e fotógrafa sueca Mia Gröndahl documentou os grafites no país para seu livroRevolution Graffiti: Street Art of the New Egypt (Revolução Grafite: Arte de Rua do Novo Egito) e descobriu que, de 17.000, somente cerca de 250 ilustrações eram representadas por mulheres. Foi então quando decidiu fundar o Sit al-hita com o egípcio-canadense Angie Balata. Os grafites que surgem dos encontros nem sempre trazem reivindicações ou mensagens feministas. Os exemplos vão desde uma mulher amordaçada e amarrada até uma simples borboleta colorida. Às vezes, tem a ver apenas em permitir que o olhar feminino ocupe espaços que normalmente são negados. Dina Saadi, por exemplo, ilustrou um coração alado com uma fechadura, o símbolo da mulher e o slogan “Liberte sua paixão”. “Como feminista convicta, sempre tento encorajar as mulheres a superar limites com minha arte”, explica Saadi, que nasceu na Rússia, cresceu na Síria e, logo após o início da guerra civil, se mudou para Dubai, onde agora trabalha como diretora artística. “Não se trata apenas de representar as mulheres. O simples fato de que os homens vejam uma mulher pintando na rua em cima de um guindaste de 50 metros acima do solo envia uma mensagem”, diz Gröndahl. Muitas das grafiteiras do grupo também criam em formatos tradicionais, mas a força da arte de rua é precisamente não necessitar do papel ativo do espectador (ir ao museu ou à galeria), podendo ser visualizada por todos os pedestres, incomodando-os ou não. É o caso dos slogans com spray contra o assédio sexual no Egito, abuso sofrido por 99,3% das mulheres no país. A palestina Laila Ayawi não pretende perturbar com seus traços os homens do campo de refugiados de Irbid, na Jordânia. Pelo contrário. “Sei que vivo em uma sociedade conservadora e não vejo minha comunidade como inimiga”, diz. Ayawi sempre pede permissão antes de usar o spray e evita representar o corpo feminino em espaços públicos. Sua revolução particular tem a ver com “pintar mulheres fortes”. “Gosto de focar no positivo. Não nos representar como vítimas ou frágeis, e sim dizer às outras mulheres: ‘Você tem uma voz no mundo e deve ser ouvida’”, afirma. Nur Qussini prefere os símbolos. As cadeiras que desenha representam, diz, a tradição das sociedades da Jordânia e do Catar, nas quais passou seus 27 anos de vida. “Falo por meio de conceitos, mas sobre histórias reais. Falo, por exemplo, de duas de minhas amigas agredidas por seus maridos que não podem se divorciar, porque seria uma vergonha para suas famílias. Por isso gosto tanto de pintar na rua, porque não tem a ver apenas em acrescentar beleza, mas também enviar uma mensagem.” Fonte:El País

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O que pode se esconder sob a crise do Brasil

“Nas democracias, governantes não são ungidos por Deus, mas eleitos pela vontade popular”. O Brasil atravessa uma grave crise que, segundo analistas, que não são poucos, é mais política do que econômica. E por isso é mais difícil de resolver apesar da riqueza do país em recursos naturais, matérias primas e capacidade criativa. A economia brasileira, além disso, não enfrenta um risco de quebra como o caso da Grécia ou Venezuela. É o que diz o correspondente Juan Arias, do jornal espanhol El País, em artigo publicado nessa quarta-feira (26/08). O problema é, acima de tudo, político. O povo das ruas o sabe. O deixou claro em suas últimas reivindicações de protesto nas quais ressoaram mais os gritos contra os políticos e seus crimes de corrupção, do que sobre a inflação ou o desemprego, dois fantasmas que assustam cada vez mais.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O que não funciona, e parece sem solução, é o enredo político com atores medíocres, mais burocratas que estadistas, que não conseguem recitar os grandes dramas e parecem conformar-se com resultados de opereta. Um papel que mal se conjuga com a democracia consolidada e moderna de um país continental como o Brasil. Existem muitas explicações ao desafio que o Brasil enfrenta: o de conjugar uma política exercida por profissionais com o desenvolvimento de uma economia com grandes possibilidades e capacidades. Talvez a menos prevista, e a razão pela qual os políticos se afogam e a recuperação econômica se atrasa, é a tentação latente de sacralizá-los ao mesmo tempo que se lhes outorga impunidade, como se não fossem cidadãos como os demais. Se algo deveria distinguir as democracias modernas dos antigos regimes totalitários é de ter se libertado do perigo dos messianismos, seja religiosos ou ideológicos. O Brasil não vive os tempos bíblicos em que foi necessário um Moisés messiânico para libertar o povo judeu da escravidão do Egito. Nem vive os tempos das teocracias da Idade Média, durante as quais os reis governavam em nome de Deus, com quem não é possível discutir, só obedecer. A modernidade é incompatível com dogmas políticos. Os governantes, nas democracias, não são ungidos por Deus e devem só responder às leis e à vontade de quem os elege livremente. E são proibidos de mentir. Quanto mais perfeita é uma democracia, menos os políticos têm. Em um cenário assim, os representantes do povo chegam a confundir-se na rua com as pessoas comuns, sem privilégios. Essas democracias maduras não precisam de heróis, nem de messias, nem de salvadores da Pátria, nem de pais ou mães dos pobres. A eles lhes é exigido apenas capacidade para governar com acerto e justiça, tendo em conta sempre, a hora de dividir os orçamentos, as necessidades mais urgentes, como reduzir as desigualdades sociais e alentar o crescimento do país. Poderá parecer simples, mas na prática as coisas não são tão fáceis nem delicadas. Os que chegam ao poder se esquecem que não ganharam o posto por uma designação divina, mas pelo voto popular. Inclusive nos países com Constituições democráticas existe a tentação, alimentada às vezes pela mesma sociedade, de sacralizar o poder. Certos messianismos seguem ainda vivos, com sua nefasta carga antidemocrática e até ditatorial, em vários países da América Latina, onde uma mistura de fundamentalismo religioso, fomentado pelas Igrejas Evangélicas e de messianismo ideológico, herdado dos velhos socialismos totalitários, impede o desenvolvimento de democracias modernas e participativas. Quando os governantes são divinizados, se tornam indispensáveis e insubstituíveis, até o ponto em que qualquer movimento de mudança política é visto como diabólico e contra os pobres. No Brasil, um país com uma constituição democrática e separação entre a Igreja e o Estado, segue viva a tentação de querer levar Deus ao Congresso, ou aos bancos da Justiça, sacralizando a vida pública e com ela seus governantes, ainda que depois sejam denegridos e criticados. Há até quem defende que se introduza na Constituição que o poder vem de Deus e não do povo. E há legisladores evangélicos que profetizam que, se um deles chega à presidência brasileira, seria por vontade divina. Dizem também que governariam consultando a Bíblia antes da Constituição. Só quando a política se limita à arte de governar com capacidade e com ética, sem tentações messiânicas, pode-se falar de democracia. Não existem políticos ungidos por Deus, insubstituíveis e eternos. O poder deles é temporal. Só o da sociedade é permanente e inapelável. Eles estão a seu serviço e não ao contrário. Esquecê-lo é abrir a porta a todo tipo de instabilidade que acaba, inexoravelmente, em crises econômicas e irritação popular. El País/Juan Arias

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