Arquivo

Violência no Rio – Beltrame: ‘Como vou exigir que o policial arrisque a vida se o Estado não paga?

“É muito difícil. A gente está preparado para situações bem complicadas. Temos procurado estudar maneiras de manter aquilo que se conquistou, mas avançar é muito difícil”. Forças de segurança patrulham o Complexo da Maré, que ainda não conta com UPPs e é um dos locais mais perigosos do Rio – Image copyrightAP A avaliação é de José Mariano Beltrame, secretário de segurança do Estado do Rio de Janeiro há quase dez anos, sobre o futuro da segurança no Rio depois da Olimpíada, quando os reforços militares e policiais deixarem a cidade.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Para ele, a crise econômica vivida pelo RJ acrescentou ainda mais dificuldades a uma área já complexa. “Como é que você vai fazer as coisas com os policiais sem salário? Com os batalhões às vezes sem alimentação? Imagina eu chegar pra você e dizer que você vai receber só meio salário. Como é que eu vou exigir que o policial saia para a rua, arrisque a vida e se comprometa com uma sociedade e com um Estado, se esse Estado não paga?”, questiona. Desde o final do ano passado, os servidores públicos do Estado, entre eles policiais civis e militares, têm enfrentado atrasos e suspensões de pagamentos de seus salários. Só recentemente, graças à ajuda de R$ 2,9 bilhões recebida do governo federal, foi possível programar o pagamento de salários atrasados dos agentes de segurança. Em entrevista à BBC Brasil e à BBC News no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), de onde será gerenciado todo o esquema de segurança da Olimpíada, Beltrame comentou a onda de violência que atinge o Rio nos últimos meses e que se intensificou nas últimas semanas, com mais mortes por balas perdidas, arrastões em bairros da Zona Sul e da Zona Norte, e o maior número de assaltos em 26 anos, registrado no mês de maio, com quase 10 mil roubos, praticamente um a cada quatro horas. Embora não negue que o Rio esteja “em um de seus momentos mais difíceis”, o secretário rejeita que a situação esteja “fora de controle”. “Os indicadores tiveram um aumento nos últimos quatro ou cinco meses mas nós temos uma história de nove anos e estamos, mesmo na crise, buscando já recuperar a diminuição desses índices, principalmente dos crimes contra a vida”, diz. À frente da segurança pública do RJ há quase dez anos, Beltrame diz que Estado vive um de seus ‘momentos mais difíceis’ – Image copyright JEFFERSON PUFF – BBC Beltrame diz não ter dúvidas de que haverá segurança no Rio durante os Jogos. “Eu posso dizer que as Olimpíadas vão ser tranquilas, que as pessoas podem vir ao Rio de Janeiro. O Rio está pronto para isso”. Para ele, o motivo de preocupação é o que vem depois. “Tenho policiais para serem chamados para trabalhar, mas não sei se vão conseguir nomeá-los. Tenho solicitação de concursos públicos para fazer, mas não posso porque não tenho dinheiro. Nós vamos ter que diminuir as incidências criminais dentro de uma realidade econômica sem perspectiva de melhora. É uma tarefa difícil”, avalia. Rumo aos 60 anos, o gaúcho de Santa Maria já se disse cansado do cargo diversas vezes, mas sempre aceitou continuar à frente da segurança pública do Rio. Ele diz que ainda tem “umas coisinhas para fazer”, e que vai tentar fazê-las, mesmo sem dinheiro. “Quando eu fizer, eu vou dar a minha missão, o meu período por cumprido.” Veja os principais trechos da entrevista: BBC Brasil – Nas últimas semanas o Rio de Janeiro tem vivido assaltos, arrastões, mortes por balas perdidas, casos de muita repercussão e cenas que remetem a uma época que o carioca já considerava parcialmente superada. Há uma crise de segurança no Rio? A situação está fora de controle? José Mariano Beltrame – Não, absolutamente não. Ainda ontem nós fechamos os números de junho e nós estamos no terceiro mês consecutivo de queda de homicídios. Nós temos sim um impacto na segurança pública que é oriundo de uma crise econômica que o Estado vem enfrentando, e isso foi se refletindo na segurança a partir de março em função de alguns programas que nós tínhamos e cujas verbas foram cortadas. Houve um impacto, mas não se trata de nada que possa ser classificado como fora de controle, ou a situação que nós tínhamos antes de 2007. Basta olhar os números. Os indicadores tiveram um aumento nos últimos quatro ou cinco meses mas nós temos uma história de nove anos e estamos, mesmo na crise, buscando já recuperar a diminuição desses índices, principalmente dos crimes contra a vida. Estamos conseguindo com muito sacrifício. Temos problemas de gerenciamento em função da economia do Estado e do país, mas longe de se ter algo fora de controle. BBC Brasil – À frente da segurança do Estado do RJ há quase dez anos, o senhor viu muitas transformações e diferentes situações. Em que momento o Rio está agora em termos de segurança pública? Beltrame – Nós estamos em um momento difícil. Como é que você vai fazer as coisas com os policiais sem salário? Com os batalhões às vezes sem alimentação? Isso tudo foi sanado agora semana passada, com dinheiro federal, mas não há como dizer que não temos problemas. É claro que temos. Imagina eu chegar pra você e dizer que você vai receber só meio salário. E a segunda parte? Não sei quando eu vou te pagar. Como é que eu vou exigir que o policial saia para a rua, arrisque a vida e que se comprometa com uma sociedade e com um Estado, se esse Estado não paga? Nós estamos vivendo um dos momentos mais difíceis da segurança pública no Rio. BBC Brasil – Estamos a três semanas da Olimpíada. O que pode ser feito antes dos Jogos para segurar a atual onda de violência? Beltrame – Eu posso dizer que a Olimpíada vai ser tranquila, que as pessoas podem vir ao Rio de Janeiro. O Rio está pronto para isso. Por quê? Porque nós vamos ter aqui em

Leia mais »

Uma atleta baleada na cabeça e outras histórias do ‘inferno’ da insegurança no Rio às vésperas dos Jogos

Aos 27 anos, Anna Paula Cotta sonha em ser uma atleta olímpica, mas, para os Jogos do Rio, na sua cidade natal, ela tem um desafio maior: recuperar-se do tiro que levou na cabela durante um assalto. Atleta de tiro esportivo, Anna Paula Cotta levou um tiro na cabeça durante um assalto “É uma coisa meio pesada pela qual muita gente passa. Você vê na televisão todos os dias… Todos os dias, alguém morre”, diz Cotta, que pratica tiro esportivo, em voz baixa. “Mas, graças a Deus, estou aqui”, acrescenta ela durante uma entrevista concedida à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, na intimidade de sua casa, a primeira depois de se tornar mais uma vítima da violência carioca, há menos de um mês. O crime ocorreu em 9 de junho em plena avenida Martin Luther King, uma importante artéria viária da Zona Norte do Rio, a menos de 500 metros da delegacia de polícia do bairro de Inhaúma. Por volta das 5h00 da manhã, Cotta estava dirigindo sozinha em um pequeno carro amarelo para ajudar na empresa de transportes de seu pai, que, aos 63 anos, luta contra um câncer. Ressonância magnética mostra o dano causado pela bala no crânio de Cotta Logo, ela se deparou com um grupo de assaltantes armados que haviam parado o trânsito para roubar dinheiro e celulares de motoristas, uma prática frequente na cidade. Ela tentou passar. Os ladrões abriram fogo. Seu automóvel foi alvejado seis vezes. Um dos tiros atingiu o osso frontal de seu crânio. O carro seguiu em frente por vários metros até bater contra um muro. Cotta ficou ali, imóvel, sangrando e indefesa. ‘Bem-vindos ao inferno’ Falta praticamente um mês para o começo dos Jogos Olímpicos Rio 2016, e os índices de criminalidade sobem de forma alarmante no Estado anfitrião do evento. Só em maio, foram denunciados 9.968 roubos nas ruas, 42,9% acima do mesmo mês do ano anterior, indica o Instituto de Segurança Pública (ISP), vinculado ao governo fluminense. Houve 2.083 homicídios dolosos no Estado do Rio entre janeiro e maio, um aumento de 13,6% em relação ao mesmo período de 2015. ‘Bem-vindos ao inferno’, dizia a faixa em protesto contra o atraso de salários de policiais e bombeiros do Rio – Image copyright AP Quebrado financeiramente, o governo do Rio decretou em junho “estado de calamidade pública”, para receber R$ 2,9 bilhões do governo federal, destinados à area de segurança, o que inclui o pagamento de salários atrasados de policiais. “Bem-vindos ao inferno”, dizia em inglês uma faixa que, nesta segunda-feira, voltou a ser exibida por um grupo de policiais no aeroporto internacional do Rio para protestar contra o atraso dos salários. “Policiais e bombeiros não estão sendo pagos, quem vier ao Rio de Janeiro não estará seguro.” O ato foi idêntico ao realizado uma semana antes, e, apesar de bastante criticado por empresários de turismo, está evidente a deterioração da segurança para quem vive na cidade ou acompanha as notícias locais. Só na última semana de junho, morreu baleado em um assalto um policial que integrava a equipe de segurança do prefeito do Rio, Eduardo Paes, e um cadáver mutilado apareceu nas areias de Copacabana, onde serão realizadas as disputas de vôlei de praia. Além disso, uma médica que dirigia pela Linha Vermelha, na Zona Norte da cidade foi assassinada com um tiro na cabeça. A polícia investiga se foi uma execução ou um assalto com um desfecho mais triste que o de Cotta. Boa pontaria Além de atleta, Cotta é psicóloga da Marinha e cursa um mestrado em Administração de Empresas “Sempre quis competir nos Jogos. Tentei em várias modalidades, e nunca fui boa em nada”, diz a atleta, que tem olhos negros e um sorriso generoso. Mas, um dia, ela descobriu o tiro esportivo. Assistia às transmissões de Olimpíadas pela TV junto com sua mãe quando “apareceu um senhor de idade gordinho atirando”. “Isso! Encontrei”, lembra-se de ter dito na ocasião. Até aquele momento, as armas nunca haviam despertado seu interesse. Quando passou a praticar o esporte, em 2010, começou com uma pistola de ar comprimido, porque achava que seria menos perigosa do que uma de fogo. Quase imediatamente, notou que tinha boa pontaria. Subiu no ranking, entrou para a Confederação Brasileira de Tiro Esportivo e, em maio, participou da Copa do Mundo, na Alemanha. Queria se classificar para os Jogos, mas não conseguiu. Acredita que faltou tempo: com algumas competições e pontos a mais somados no ranking, talvez tivesse obtido a classificação. Tempo sempre foi algo que faltou no dia a dia de Cotta: além de ser atleta e ajudar o pai, é psicóloga da Marinha e cursa um mestrado em Administração de Empresas. Sua mãe, Jussara, uma aposentada de 64 anos, lembra que, na noite de 8 de junho, Cotta disse estar cansada e a surpreendeu com perguntas de teor filosófico: “Para que nascemos? Para que estudamos tanto? Para que trabalhamos?” “Você nasceu para fazer coisas boas”, respondeu sua mãe. Seis horas despois, a jovem levou um tiro. Resgate de cinema e ‘pacificação’ em xeque Alguns acontecimentos recentes no Rio ligados à violência tiveram aspectos cinematográficos. Em 19 de junho, um domingo, cerca de 20 homens armados resgataram um narcotraficante internado em um hospital sob custódia policial, matando uma pessoa e deixando outras duas feridas. O hospital, localizado no Centro do Rio, é uma das unidades de referência para os 700 mil turistas esperados na cidade durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. As mortes pelas mãos de policiais também têm aumentado neste ano: apenas em maio, foram 84 em todo o Estado, 90,9% acima do mesmo mês do ano passado, segundo dados do ISP, que inquietam defensores de direitos humanos. Por sua vez, seis policiais morreram em serviço naquele mês, um a mais tendo como base a mesma comparação. Nos últimos dias, a polícia realizou uma série de operações para capturar criminosos em favelas da cidade, gerando cenas de pânico. A polícia tem realizado operações em favelas do Rio para combater a

Leia mais »

Olimpíadas: Brasil dorme de olhos abertos ante ameaça de ataques de “lobos solitários”

Serviços de inteligência não temem possibilidade de grande atentado durante os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. Exercício anti-terrorista das Forças Especiais brasileiras. Foto:GILBERTO ALVES/MINISTERIO DA DEFESA Na lista de preocupações que ameaçam o sucesso dos Jogos Olímpicos do Rio há uma que vem escalando degraus nos últimos meses: os chamados “lobos solitários”. Um homem armado, invisível para os serviços de inteligência, mas influenciado pela ideologia radical de grupos terroristas, é hoje uma ameaça muito maior que a de um ataque orquestrado pelo Estado Islâmico (Isis, nas suas siglas em inglês).[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] MAIS INFORMAÇÕES Secretário de Segurança: “O Rio me deu condições de executar meu trabalho, mas agora está me tirando isso” É possível ocorrer um ataque terrorista nas Olimpíadas do Rio? Sob pressão internacional, Câmara aprova lei que tipifica o terrorismo França oferece apoio ao Brasil contra ataques terroristas nos Jogos do Rio Segundo um relatório dos serviços de inteligência, publicado pela revista Veja, atentados de grande sofisticação e complexidade logística não são mais uma ameaça para o Brasil, mas sim o incentivo de grupos extremistas religiosos para que seus simpatizantes atuem por conta própria. “Uma das maiores preocupações governamentais está no acompanhamento da radicalização de indivíduos alinhados ideologicamente ao Estado Islâmico”, diz o texto. Nesta sexta-feira, a pedido das autoridades brasileiras, a companhia Avianca lançou um comunicado interno advertindo da possível entrada no Brasil de um ex-detento de Guantánamo, que foi acolhido no Uruguai há dois anos. Jihad Ahmad Diyab, que cumpriu pena na controversa prisão norte-americana por seus supostos vínculos com a Al Qaeda, era livre de deixar o território uruguaio, mas as autoridades migratórias brasileiras já haviam barrado sua entrada com base na lei antiterrorista. Tecnicamente ele não é um fugitivo, porque nunca foi processado nem acusado, mas a um mês da Olimpíada, qualquer rastro suspeito é motivo de alerta. Há outros vários indícios que levaram a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a falar publicamente sobre a ameaça específica dos lobos solitários, baseada no florescimento de um radicalismo autóctone. O último foi o descobrimento de um canal de comunicação em português para a troca de informações sobre o grupo terrorista no aplicativo de mensagens Telegram. O achado foi interpretado como um esforço do Estado Islâmico para ampliar sua influência no Brasil, um apelo a potenciais novos soldados. “Entendemos que a criação de uma conta pode ser a abertura de uma porta para que brasileiros sejam radicalizados”, disse uma fonte próxima ao assunto à agência de notícias Reuters. A divulgação por parte de Abin de investigações antiterroristas teve seus críticos, entre eles José Mariano Beltrame, o secretario de Segurança Pública do Rio, que receberá 85.000 agentes para garantir a ordem nos Jogos. “Quando temos investigações de coisas importantes para fazer, a gente não fala. A gente apresenta resultado. Na minha visão, não deveria nem ter confirmado ou desconfirmado”, criticou Beltrame. Não foi a primeira vez que a Abin divulgou informações que, tradicionalmente, são sigilosas. Em abril, os serviços de inteligência reconheceram a veracidade de um tweet que apontava o Brasil entre os objetivos do Estado Islâmico. A mensagem, que dizia em francês “Brasil, vocês serão nosso próximo objetivo”, foi publicada na rede social Twitter em novembro, quatro dias após os atentados do grupo terrorista que deixaram 129 mortos em Paris. A conta, hoje inativa, foi atribuída pela inteligência brasileira a Maxime Hauchard, um francês de 22 anos que aparece nos vídeos do Isis decapitando reféns. Para a elaboração desta reportagem, a Abin recusou responder perguntas enviadas por este jornal e tampouco confirmou a veracidade do relatório. Com o aumento dos protocolos de segurança em países da comunidade europeia e a constante vigilância e intercâmbio de informações de órgãos de inteligência, o Estado Islâmico pode ver no Brasil “uma alternativa inexplorada”, avalia o analista de assuntos estratégicos e consultor de agências internacionais André Luís Woloszyn. Nesse sentido, o informe da Abin, aponta a Olimpíada como um “fator de elevada atratividade para a atuação de grupos terroristas no Brasil”. Esse mesmo relatório reconhece que a “disseminação do ideário radical salafista entre brasileiros” e “a dificuldade de neutralizar atos preparatórios de terrorismo” apontam um aumento, sem precedentes, “da probabilidade de ocorrência de atentado durante 2016, especialmente por ocasião dos Jogos”. A inteligência brasileira já constatou, segundo Woloszyn, a existência de uma rede de tráfico de pessoas, algumas envolvidas em atos terroristas no Oriente Médio, utilizando o Brasil como passagem. Também tem no radar, diz o especialista, brasileiros classificados como “altamente radicalizados”. “Muitos destes, inclusive, prestaram juramento ao califado e, consequentemente, estariam em condições de atuar em ações terroristas em nome do Estado Islâmico”, afirma. Um deles seria um jovem de Santa Catarina, no sul do país, que passou a ser monitorado 24 horas com tornezeleira eletrônica. O universitário, segundo a revista Veja, teria ficado três meses numa cidade síria dominada pelo EI, e já no Brasil passava as madrugadas em treinos de tiro ao alvo. “Tais circunstâncias derrubam a tese defendida por muitos de que o Brasil está longe do terrorismo extremista, baseados em falsas premissas de que o país não está envolvido em operações bélicas no Oriente Médio, Norte da África e em países asiáticos e que somos pacíficos”, defende Woloszyn. “O cenário atual no Brasil é de pró-terrorismo cujas medidas profiláticas não dependem somente dos órgãos estatais mas, fundamentalmente, do envolvimento da sociedade em geral em um trabalho conjunto para coleta de informações.” Esse trabalho conjunto já vem sendo feito há meses em parceria com órgãos de inteligência estrangeira, sobre tudo com os norte-americanos, franceses, ingleses e israelense. Eles ofereceram treinamento aos agentes brasileiros e o compartilhamento de informações. A população também foi treinada. O Ministério da Defesa, a Abin, a Polícia Federal e a Secretaria Extraordinária para a Segurança de Grandes Eventos promovem, desde fevereiro, cursos para que voluntários, taxistas, recepcionistas de hotel ou funcionários do transporte público aprendam a identificar possíveis ameaças e como lidar com elas. ElPais/Maria Martin

Leia mais »

Brasil: a violência e a corrupção são xifópagos

Bom dia otimistas! Lava-Jato 170 políticos investigados; 70 políticos indiciados; 1 réu. Eduardo Cunha! Obrigado STF! Os corruptos te saúdam! Rio de Janeiro 14 assaltos por hora; 1.700 homicídios em 4 meses! O inferno os espera políticos cariocas! Ps. 1. No Brasil tragédia e esquemas malignos se repetem continuamente. PS. 2. Plebiscito para decidir quem ficará para apagar a luz. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »

Rio de Janeiro – Violência – Homicídios

Os ‘desgovernantes’ do Rio de Janeiro, ratos de esgotos da peste negra, calhordas, safados, sacanas, incompetentes, irresponsáveis, pústula, escrotos, alegam que a área onde a médica foi assassinada não é área de competência do Zé, o Zé diz que era do Mané, o Mané diz que era do Chico… Entendi: a responsabilidade foi da vítima que saiu de casa em um país desgovernado por uma “canaia” que mereciam sessões ‘Torquemadianas’, antes da prisão perpétua com trabalho forçados. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »

Misha Gleeny: “Os grandes traficantes brasileiros não moram nas favelas”

Escritor autor de livro sobre o Nem da Rocinha critica política de guerra às drogas. Os caminhos da cocaína desde que a folha da coca é colhida por camponeses latino-americanos até chegar às narinas dos exigentes consumidores da Europa ou dos Estados Unidos deixam um rastro de morte no terceiro mundo. E o Brasil, com seus 50.000 homicídios anuais, não é exceção.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Não se trata, no entanto, de óbitos provocados pela overdose da droga. São uma consequência direta das infinitas batalhas por rotas e mercados, embates travados em nome da chamada “guerra às drogas”. Crítico da política proibicionista liderada por Washington e Europa e imposta aos países produtores e distribuidores, o jornalista inglês Misha Gleeny, que já mergulhou na rede do crime organizado transnacional em McMáfia (Companhia das Letras), agora aborda a o impacto do “fracasso da guerra às drogas” na vida de um indivíduo em particular: o traficante de drogas Nem da Rocinha. Sua história é contada no livro O Dono do Morro: Um homem e a batalha pelo Rio (Companhia das Letras). O autor, que estará na Feira Literária Internacional de Paraty este ano, conversou com o EL PAÍS no final de junho. MAIS INFORMAÇÕES Subiu o morro como Antônio, desceu como Nem da Rocinha “A Rocinha não precisa de teleférico, mas sim de saneamento básico” “Há lugar do Rio em que a polícia é despótica, sufoca a vida dos jovens” A ‘tropa de elite’ é suspeita de ter papel no assassinato de Amarildo Pergunta. Qual a diferença entre o traficante que atua na favela, como o Nem, e o grande traficante, como o mexicano El Chapo Guzmán? Resposta. Existem dois tipos básicos de traficantes no Brasil. O primeiro são os traficantes como o Nem, que atuam na ponta do varejo e distribuem a droga nas áreas urbanas ao longo da costa brasileira. A cocaína vem da Bolívia, Peru ou Colômbia, e parte dela é entregue nas cidades, levada pelos matutos. Eles se encarregam de levar a droga na mochila, de ônibus ou carro, e são parte fundamental do abastecimento das cidades. Cerca de 50% da droga vendida no varejo é entregue para as facções criminosas pelos matutos, que são pessoas de diversas nacionalidades, e não são especialmente ricos. O Nem, no contexto doméstico do tráfico de drogas do Rio de Janeiro, era uma figura muito importante. Mas o papel do Nem não tem nada a ver com o papel do El Chapo Guzmán no México, por exemplo. O Chapo faz parte do segundo tipo de traficante, que atua no atacado, que abastece os mercados mais ricos. Esse segundo perfil também existe no Brasil, só que os Chapos do Brasil não têm a mesma origem social que o mexicano, que nasceu em um bairro pobre. Quem faz esse serviço no Brasil costuma ser pessoas de classe média e classe alta que têm negócios legítimos operando, geralmente nas áreas de transporte e agricultura. Acontece que os lucros desses negócios são multiplicados quando eles utilizam essa rede de logística para transportar toneladas de cocaína através do país. Já descobriram carregamentos de cocaína dentro de carne bovina brasileira que seria exportada pra Espanha, por exemplo. As drogas atravessam o Brasil e deixam o país principalmente pelos portos de Santos e do Rio de Janeiro, e são vendidas no atacado para uma variedade de destinos como países do oeste da África, Espanha, os Balcãs, Holanda e Irlanda. Essa é a função primária do Brasil no mercado global da cocaína: entregar a droga das áreas de produção em grandes quantidades para outros países. P. São perfis completamente distintos de traficantes no atacado e no varejo… R. Esses dois perfis de traficantes tem muito pouco a ver entre si. Os lucros do negócio doméstico do tráfico de cocaína que abastece o Brasil – o país é o segundo maior consumidor de cocaína do mundo – não chegam nem perto do negócio de exportar a cocaína para a Europa. As margens de lucro crescem exponencialmente com a exportação. O perfil social dos envolvidos no tráfico do atacado no Brasil não tem nada a ver com a figura do bandido morador de favela que existe no imaginário da população. O perfil social dos envolvidos no tráfico do atacado no Brasil não tem nada a ver com a figura do bandido morador de favela que existe no imaginário da população. A única pessoa que circulou pelos dois mercados, atacado e varejo, foi o Fernandinho Beira-Mar, do Comando Vermelho [o traficante foi preso em 2002 na Colômbia, e havia construído uma rede de contatos com guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia para comprar e exportar a droga pelo Brasil]. P. Qual a marca da gestão do Nem na Rocinha? R. A Rocinha é uma favela muito fácil de defender, ela tem praticamente duas entradas, uma na parte alta e outra na baixa. Isso significa que o Nem não precisou investir tantos recursos na defesa da favela, em armas. Ele pode simplesmente investir mais recursos no negócio da cocaína, e ele aliou isso a uma redução da violência e do uso ostensivo de armas na comunidade. Isso fez com que as pessoas se sentissem seguras para comprar a droga lá, ele atraiu muitos consumidores de classe média que se abasteciam lá por saber que a favela era pacífica. Logo o faturamento bruto do tráfico subiu muito sob sua gestão. E ele investia parte desses recursos em duas outras coisas: primeiro na comunidade. Para que ela se sinta cuidada, feliz, próspera, ele injetava dinheiro na favela e fez com que a economia local florescesse. E, em segundo lugar, usava o dinheiro para corromper a polícia. Investigadores me disseram que ele tinha informantes na Polícia Civil e na Militar, gente de médio escalão, que o alertava sobre batidas e operações na Rocinha. Tudo isso para garantir seu poder político na comunidade. P. A impressão que se tem ao ler o livro era de que o Nem era um traficante que evitava a violência. Isso

Leia mais »

Como o estado do Rio de Janeiro chegou à falência?

Diversos fatores explicam decreto de calamidade pública, como gastos com Jogos Olímpicos e Copa do Mundo, má gestão de recursos públicos e queda na arrecadação de royalties de petróleo. Medida pode ter efeito cascata. O estádio do Maracanã será um dos palcos da Rio 2016 Uma série de fatores fez com que o governador em exercício do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles, decretasse na sexta-feira passada (17/06), faltando 49 dias para o início dos Jogos Olímpicos, estado de calamidade pública por causa da alta dívida do estado. Para especialistas ouvido pela DW, a medida poderá ter “efeito cascata”, já que outros estados também enfrentam sérias dificuldades financeiras.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Os motivos para a falência do Rio de Janeiro não são poucos. Entre eles estão a queda no preço do barril de petróleo e consequentemente na arrecadação de royalties pelo estado, a crise do setor petrolífero brasileiro devido ao escândalo de corrupção da Petrobras, a diminuição na arrecadação de ICMS, também devido à crise econômica, os gastos com a organização dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo e, ainda, falhas na administração das contas públicas. “Os investimentos do Rio de Janeiro tanto para os Jogos quanto para a Copa do Mundo, além da má gestão, foram decisivos para acelerar esse cenário. Caso contrário, o desfecho ocorreria um pouco mais adiante”, afirma José Matias-Pereira, especialista em administração pública da UnB. “Esse decreto teve o objetivo de transferir a ‘batata quente’ para o governo federal, na medida que o estado se mostrou incapaz de resolver seu problema fiscal.” Um dos motivos apontados pelo governo para optar pela medida é que a crise impede o estado de honrar os compromissos com os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. De acordo com a Empresa Olímpica Municipal, o estado do Rio está investindo cerca de 10 bilhões de reais, dos quais 8,6 bilhões são recursos estaduais e 1,4 bilhão, privados. Entre os projetos estão a ampliação da linha 4 do metrô – que corre o risco de não ser concluída para os Jogos caso o governo não receba dinheiro federal –, a revitalização de estações do sistema ferroviário e, ainda, a despoluição da Baía de Guanabara, que não vai sair totalmente do papel até o início do megaevento. Já na Copa, somente a reforma do Maracanã custou cerca de 1,2 bilhão aos cofres públicos estaduais. Com o estado de calamidade, o estado deverá receber 2,9 bilhões de reais do governo federal para concluir a linha 4 do metrô e pagar horas extras de policiais civis e, ainda, os salários dos servidores até os Jogos. Déficit de 19 bilhões de reais Entre os motivos para a falência do Rio estão a queda do preço do petróleo e gastos com os Jogos e Copa. Na foto, os mascotes das Olimpíadas O Rio de Janeiro, como grande parte dos outros estados, enfrenta graves problemas financeiros. No mesmo dia em que o governador em exercício anunciou a medida, o secretário estadual da Fazenda, Júlio Bueno, disse que a previsão de déficit no orçamento em 2016 é de 19 bilhões de reais – na opinião de especialistas, porém, o rombo deverá ser ainda maior. Dados da Secretaria Estadual da Fazenda mostram que o estado sofreu uma queda real na arrecadação de ICMS devido à crise econômica que afeta o país. A receita total desse tributo, em 2015, foi de 31,2 bilhões de reais, com queda real de 9,4% ante o total de 2014. O estado sofre ainda com a desvalorização do valor do barril de petróleo – que custava na faixa de 105 dólares em julho de 2013 e, atualmente, vale cerca de 50 dólares –, já que o valor dos royalties depende do preço do barril. Assim, o estado arrecadará, em 2016, 3,6 bilhões de reais – em comparação, no ano anterior foram 5,5 bilhões de reais, segundo dados da Secretaria da Fazenda. Quando o valor do barril de petróleo estava em alta, o estado ampliou seus gastos. As despesas do Rio de Janeiro com o pagamento de servidores ativos, inativos e pensionistas do Poder Executivo explodiu nos últimos anos. Segundo dados da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, em 2010 foram gastos 17,2 bilhões de reais. Já em 2016, o valor será de 37 bilhões de reais – quase o dobro. Com a crise, os cerca de 390 mil servidores ativos, inativos e pensionistas voltaram a ter seus salários de maio atrasados. Somente os cerca de 85 mil funcionários ativos da Educação receberam integralmente no dia 14, o décimo dia útil do mês. O estado não consegue também manter serviços básicos para a população, como saúde. O prefeito da cidade, Eduardo Paes, afirmou no domingo que a crise estadual não tem relação com a realização do megaevento na cidade. “A crise do estado não tem nada a ver com a Olimpíada. Afeta em zero os Jogos. O que afeta é a prestação de serviços. Estamos num momento muito crítico. Então tem, sim, que ter ajuda do governo federal para o estado do Rio. É uma necessidade”, frisou. Para prefeito do Rio, crise estadual não tem relação com a realização dos Jogos na cidade “Efeito em cadeia” O governo federal teme que a decisão do Rio comprometa as negociações das dívidas de outros estados. Em reunião nesta segunda-feira em Brasília, governantes de 18 estados pediram carência de 24 meses e alongamento de 20 anos no pagamento da dívida com a União. “Há o perigo de que outros estados também decretem estado de calamidade e causem, assim, um efeito em cadeia”, afirma Matias-Pereira. “O Distrito Federal e outros estados, como Rio Grande do Sul e Minas Gerais, estão vivendo situações muito parecidas. Agora, o Rio de Janeiro vai abrir a porteira e, como diz o ditado, onde passa um boi passa uma boiada.” O decreto publicado no Diário Oficial do Estado não deixa claro quais são as implicações da medida. Mas atos do tipo em caso de desastres permitem a concessão de novos socorros e empréstimos ao

Leia mais »

A crise no Rio, os porcalhões responsáveis e os guardanapos

Os responsáveis pela crise no Rio de Janeiro, que fez com que o governador em exercício decretasse estado de calamidade pública – o que já repercute na imprensa internacional -, são aqueles porcalhões que se sujaram dos pés à cabeça em uma festa milhardária no exterior, e tiveram que lavar a cabeça com guardanapo, enquanto riam e gargalhavam do sofrimento do povo fluminense. Em entrevista, o governador destacou que se o Estado do Rio de Janeiro fosse uma empresa, iria ser fechada. Mas, e o povo, como fica com isso? O jornal inglês The Guardian deu destaque na noite desta sexta-feira (17) ao decreto de calamidade pública, destacando que a medida ajuda a engrossar a lista de outros problemas que o país já precisava enfrentar, como impeachment da presidente Dilma, Zika, investigações sobre corrupção e dificuldades econômicas.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] “A maior preocupação para os 500 mil visitantes esperados para os Jogos é o corte no orçamento da segurança pública, o que contribui para os problemas enfrentados pela ‘pacificação’ de favelas e para um ressurgimento de crimes violentos. Isto em meio a advertências de que terroristas teriam o evento como alvo”, diz o jornal inglês. >> ‘The Guardian’: Calamidade pública no Rio é embaraço para anfitrião da Olimpíada Entre os personagens daquela festa milhardária estava o antigo secretário da Fazenda do Estado, que foi ministro da Fazenda no governo Dilma e hoje engana o mundo ao dirigir organismo internacional na área financeira. Outros que estavam ali enganam empresários, se empregando em suas empresas, talvez para fazer lobby de cobrança. E outro, da área de saúde, deve estar enganando ou tentando também com lobby para receber o que, quando secretário, ficou devendo a essas empresas. Em agosto de 2010, Sérgio Cabral já dizia: “Ganhamos as Olimpíadas, que parecia um sonho impossível. Estamos mudando o Rio”. Ele tinha razão, ele já sabia que o Rio ia quebrar, mas na mão de outros. Mais tarde, em novembro do mesmo ano, Cabral declarou: “Ganhamos as Olimpíadas de 2016 não foi para termos 21 dias de alta cobertura de segurança dos convidados. Ganhamos para dar à população do Rio.” E o povo, como fica? É obrigado a assistir a tudo isso calado. O próprio decreto fala em necessidade de atender às áreas de segurança, saúde e educação, basicamente. Na segurança pública, o cidadão é assaltado e morto. Na saúde, o enfermo tem como expectativa a morte. O acidentado no trânsito e o pobre doente em casa, se necessitarem do Samu, vão morrer, na ausência de ambulâncias, médicos e remédios. Na educação, o aluno do colégio público, como não pode estudar, corre o risco da delinquência ou da sobrevivência sofrida. Os servidores não recebem seus salários. E La Nave Va… E a Justiça não dará a esses senhores nem uma ‘tornozeleirinha’. Eles, os responsáveis por questões desde a queda de helicópteros com crianças mortas até o superfaturamento de empresas terceirizadas de todas as áreas, que não recebem do governo estadual mas também não reclamam, o que indica que os contratos firmados devem ter sido bem vantajosos para os envolvidos. E o povo, como fica? Depois que eles financiaram a Olimpíada, o povo se limita a trafegar por vias engarrafas, correndo o risco de perderem o emprego, os que ainda têm um, por não conseguirem chegar aos locais de trabalho na hora certa. E o povo, como fica? Os cientistas políticos e os sociólogos fazem suas previsões sobre o que pode vir a acontecer com esse povo. Eles concluem, por exemplo, que os policiais que vão para as ruas para tentar defender o estado e as famílias saem de casa conscientes de que suas próprias famílias podem perder o provedor. Os criminosos estão mais armados. Já a família precisaria esperar dois ou seis meses para receber os proventos do policial que morreu. E o povo, como fica? Enquanto o Brasil sofre, eles já providenciaram suas passagens e passaportes para viverem nas residências que devem ter no exterior. JB

Leia mais »

Por que mulheres ficaram contra a vítima de estupro coletivo no Rio?

Dupla de advogados tenta responder por que parte da sociedade ainda culpa a jovem pelo crime. Manifestação em São Paulo na quarta-feira contra o machismo e em protesto ao estupro coletivo de uma jovem de 16 anos no Rio. M. SCHINCARIOL AFP “A cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil e a culpa nunca é da vítima”. A voz, saída de um megafone no entardecer na avenida Paulista na última quarta-feira, deu início a uma marcha – de mulheres em sua maioria – contra o machismo e em protesto ao estupro coletivo de uma jovem de 16 anos ocorrido no Rio de Janeiro na semana passada. A segunda informação da frase que abriu a marcha – “a culpa nunca é da vítima” – deveria ser óbvia. Mas não é.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] MAIS INFORMAÇÕES Compartilhar estupro coletivo nas redes, a nova versão da barbárie brasileira “Estuprador também é o branco que se veste bem e tem dinheiro” As vozes da multidão que grita contra a cultura do estupro em São Paulo Carmen Lúcia sobre estupro coletivo: “Inadmissível, inaceitável e insuportável” Alguma vez um desconhecido tocou você sem seu consentimento? Assim que a notícia sobre o estupro da adolescente começou a ser veiculada na imprensa, a sociedade se dividiu entre os que condenaram o crime e os que culparam a garota pelo ocorrido. Mulheres, inclusive, atribuíram à vítima a responsabilidade pelo crime. Em busca de tentar entender por que parte da sociedade ainda culpa a vítima por um crime como esse, incluindo mulheres que não se solidarizam com a dor da vítima, a advogada Verônica Magalhães de Paula e o delegado e professor da Unisal, Eduardo Cabette, publicaram o estudo “Crime de estupro: até quando julgaremos as vítimas?”. A publicação é de 2013, mas para o nosso azar, o tema é atemporal. E com séculos de história. De acordo com o texto, “mesmo em plena aurora do século 21, as mulheres ainda são julgadas como na Idade Média, onde somente a mulher honesta e virgem poderia ser vítima de crime de estupro e desde que também ficasse comprovado que ela havia lutado e gritado por socorro, pois o silêncio da vítima significava o consentimento do ato praticado”. Para Verônica de Paula, parte da sociedade julga a vítima por ela não se enquadrar nos padrões idealizados da mulher correta, aquela que é casada e cuida do marido e dos filhos. “Somos educadas desta forma”, diz. “A mulher tem que ser submissa, recatada, falar baixo, sair de casa apenas para ir ao trabalho, no máximo”. O estudo compara dois casos que ocorreram em 2012. Um, aqui no Brasil, de duas adolescentes de 16 anos que foram estupradas por seis integrantes de uma banda de pagode, a extinta New Hit, na Bahia. Na época, houve protestos contra a prisão dos criminosos. As vítimas foram ameaçadas de morte e tiveram que entrar no Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente Ameaçados de Morte, assim como a vítima do estupro no Rio de Janeiro de duas semana atrás. O outro caso foi o de uma mulher de 23 anos que sofreu um estupro coletivo na Índia, quando voltava para a casa, em um ônibus. Ela não resistiu aos ferimentos – foi perfurada internamente – e morreu. Milhares de pessoas em todo o mundo ficaram chocadas com o crime, e na Índia, foram às ruas por leis mais rígidas e maior proteção para as mulheres. Os criminosos quase foram linchados pela população indignada. A história é contada no documentário . “Mesmo em plena aurora do século 21, as mulheres ainda são julgadas como na Idade Média, onde somente a mulher honesta e virgem poderia ser vítima de crime de estupro” O que diferencia um episódio do outro? Segundo os autores do estudo, a jovem indiana era vista como uma mulher honesta. Voltava da Universidade quando foi abordada. Estava coberta dos pés à cabeça. Não pediu para ser estuprada. Já as garotas na Bahia não deveriam estar naquele local, assistindo a um show de uma banda com letras de duplo sentido e com coreografias de conotação sexual. Com essas atitudes, elas estavam sujeitas a passar pelo que passaram. Ou pior: pediram para ser estupradas. No ano passado, a Justiça condenou os integrantes da banda a 11 anos e oito meses de prisão, mas coube recurso e eles respondem em liberdade. O pré-julgamento da vítima se repete agora, três anos depois, com o caso da jovem no Rio de Janeiro. Muitas pessoas usaram o argumento de que a garota era usuária de drogas, frequentava o morro e usava roupas curtas para culpá-la pelo crime do qual foi vítima. Assim como as meninas na Bahia, ela não deveria estar em um baile funk. “Culpamos a vítima porque partimos do pressuposto de que a mulher não pode ter uma vida sexual ativa”, disse Eduardo Cabette, o co-autor do estudo. Segundo Cabette, se a vítima em questão fosse uma garota de classe média, usando roupas compridas, o tratamento do público seria diferente. Mas, perante à lei, alerta Cabette, isso não faz – ou não deveria fazer – nenhuma diferença. “A população pode até pensar diferente, mas juridicamente, se a mulher é uma prostituta, por exemplo, e no meio do programa ela decide não continuar a relação e o cliente a força a seguir em frente, ela pode ser vítima de estupro”. “Culpamos a vítima porque partimos do pressuposto de que a mulher não pode ter uma vida sexual ativa” O delegado afirma que no caso do crime no Rio de Janeiro, os suspeitos podem ser julgados por estupro de vulnerável, se for comprovado que a garota estava desacordada quando o crime ocorreu. “E esse crime tem pena mais grave que o crime de estupro comum, aliás”, diz. “Não importa se ela se drogou ou se a drogaram”. “A culpa é da crise” O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Mágino Alves Barbosa Filho, afirmou ao jornal O Estado de São Paulo que a crise econômica

Leia mais »

Olimpídas: Tiro na favela. Esporte olímpico na Rio 2016?

A cem dias dos Jogos no Brasil, moradores das favelas do Rio de Janeiro sofrem o aumento da violência policial. Vitor Santiago Borges, ferido pela polícia, com sua mãe no complexo da Maré. AF Rodrigues Por Angel Gonzalo da Anistias Internacional * Conheci Vitor Santiago Borges, de 30 anos, prostrado em sua cama, em um quarto de dois metros por três no qual nos apinhávamos –eu, sua mãe (sentada em uma cadeira) e quatro colegas da Anistia Internacional (espalhados no pouco espaço livre que havia no chão).[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Vive com os pais em uma humilde casa da comunidade de Vila do Pinheiro, pertencente ao Conjunto de Favelas da Maré, no Rio de Janeiro, em um primeiro andar com degraus íngremes. MAIS INFORMAÇÕES Tiro na favela. Esporte olímpico na Rio 2016? Rio de Janeiro: 16 vítimas de balas perdidas em apenas dez dias No Rio de Janeiro, a vida vale 30 reais “Eu prometi ao meu filho que a sua morte não ficaria impune” Brasil, um país em “permanente violação de direitos humanos” Vitor ficou paraplégico depois que um grupo de soldados das Forças Armadas que ocupavam a Maré atirou no carro no qual voltava para casa, com quatro amigos, em 13 de fevereiro de 2015. A cama em que agora tem de passar todo o dia foi doada por sua comunidade. A cadeira de rodas, também. Não recebeu nenhuma indenização do Estado. Eram duas da madrugada e os rapazes (um deles, militar) regressavam depois de ver uma partida de futebol de seu time, o Flamengo. Os cinco viajavam em um carro que cruzou sem problemas um primeiro posto de controle do Exército. Seguiu avançando e, de repente, se escutaram os disparos. “Não lembro de nada. Somente o ruído dos tiros. E a dor que senti. E o sangue, claro. Muito sangue.” Não sabe quantos foram os tiros, mas que apenas cessaram quando seu amigo, sargento da Aeronáutica, conseguiu identificar-se. Vitor foi atingindo por pelo menos duas balas de fuzil. Uma o acertou na coluna vertebral e outra se manteve alojada na parte posterior do ombro, e ali ficou durante vários meses depois de ser operado e receber alta. Sua mãe a mostra para nós, envolta em uma bolsinha de plástico. Ele nos aponta os orifícios de entrada, ainda visíveis em seu torso nu. Como consequência dos disparos, perdeu a perna esquerda e parte do pulmão esquerdo. Quando chegou ao hospital os médicos lhe deram 7% de chance de sobrevivência. Conseguiu, mas só depois de passar uma semana em coma e mais de três meses no hospital. Se não tivessem atirado nele, no dia seguinte teria ido à praia com a filha Beatriz, que então tinha dois anos. Havia prometido a ela, mas não pôde cumprir a promessa. Só sorri quando fala dela e nos mostra sua fotografia, em destaque em sua cama. Mal pode levantá-la desde que está nessa situação. Um dos outros filhos de Irone, sua mãe, lhe telefonou e informou do tiroteio. “Por quê? Meu filho não é um bandido. Por quê? Não é possível. Vitor é um bom garoto. É músico e muito trabalhador. Nunca se meteu em confusão.” A versão das autoridades difere da de Vítor. Afirmam que o carro no qual viajava quis atropelar um soldado que tentava bloquear sua passagem. De concreto, apresentaram acusações contra o condutor do veículo. O amigo militar de Vitor nega essa versão. Vitor passou de vítima de um tiroteio a testemunha de uma tentativa de atropelamento. O mundo de cabeça para baixo. Assim são as coisas na Maré. Ao contrário de outras favelas, não está localizada num morro, mas na parte plana e se assemelha a qualquer bairro marginal de qualquer outra grande cidade latino-americana. No entanto, é um dos maiores conjuntos de favelas do Rio de Janeiro. Ali vivem cerca de 140.000 pessoas com poucos recursos e escasso acesso a serviços básicos, distribuídas em 16 comunidades. Suas ruas e acessos estão controlados por bandos de traficantes, forças de segurança ou paramilitares organizados em milícias. A maioria da população sobrevive como pode a essa situação. Há um clima assustador de violência e drogas em plena luz do dia. Essa rede de submoradias se situa no norte, junto à principal via de acesso do aeroporto internacional ao centro. Foi ocupada em abril de 2014 por 2.700 soldados da Força de Pacificação, unidade federal. Chegaram “para garantir a lei e a ordem” pouco antes da celebração da Copa do Mundo de futebol em meados de 2014. O Mundial durou um mês. Os militares permaneceram ali um ano e dois meses. Além das Forças Armadas e da Polícia Militar, existe uma corporação específica para recuperar o controle do Estado em territórios onde o narcotráfico e as milícias ditam suas normas paralelamente às instituições. Trata-se das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) e fazem parte da paisagem de dezenas de favelas do Rio desde 2008. No entanto, para os moradores seus resultados não são alentadores. As operações policiais para pacificar zonas de elevada criminalidade só se justificam se podem garantir os direitos de todos os cidadãos, a começar pelos moradores dos bairros marginalizados, algo que não tem ocorrido. Organizações de defesa dos direitos humanos, como a Anistia Internacional, criticam a permanência do Exército e da Polícia Militar nas favelas. O que conseguiu foi aumentar as violações de direitos humanos e militarizar a vida cotidiana em algumas das comunidades mais pobres. As Forças Armadas não contam com formação adequada para esse tipo de operação e têm pouca experiência em dialogar com a sociedade civil. Podia ter acontecido com qualquer um. Mas aconteceu comigo. E destruíram a minha vida O Brasil possui uma das cifras de homicídios mais elevadas do mundo. Talvez por isso a mãe de Vitor considere que seu filho teve sorte. Entre 2005 e 2014 foram registrados 5.132 casos de homicídios cometidos por agentes que estavam em serviço no Rio. Em 2015, foram pelo menos 307 as pessoas que morreram em mãos dos agentes em operações policiais. Desde

Leia mais »