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T.S. Eliot – Poesia – Versos na tarde – 15/05/2017

Retrato de uma dama T.S. Eliot¹ I Entre a fumaça e a neblina de uma tarde de Dezembro, Aí tens montada a cena — como deverá ser vista — Assim: “Pertence a ti toda esta tarde”; E quatro círios na penumbra da sala, Quatro anéis de luz no teto a coroar nossas cabeças, Uma atmosfera de tumba de Julieta Propícia a que tudo se diga, ou a que nada se enuncie. Digamos que estivéssemos a ouvir o derradeiro polonês A transmitir os Prelúdios com a ponta de seus dedos e cabelos. “Tão íntimo este Chopin que julgo deveria sua alma Ressuscitar apenas entre amigos, Uns dois ou três, talvez, que sequer lhe roçariam o viço Polido e arranhado nesta sala de concertos.” — E de fato as conversas deslizam de mansinho Entre veleidades e suspiros a custo reprimidos Em meio a tíbios timbres de violinos Acompanhados de arcaicos cornetins E principiam. “Não sabeis o quanto eles significam para mim, meus amigos, E como é raro, estranho e raro, encontrar Numa vida feita de tanto entulho, tanto resto e retalho (Pois na verdade o odeio… sabes? Não és cego! Como és vivo e subtil!), Um amigo que possui tais qualidades, Que possui e oferece Tais qualidades sobre as quais arde a amizade. O quanto importa que te diga isto — Sem tais amizades — a vida, que cauchemar! Entre os volteios dos violinos E as arietas Dos ásperos cornetins Um obscuro tantã em meu cérebro começa Absurdamente a percutir o seu prelúdio, Obstinada salmodia: No mínimo, uma estrita “nota imprecisa”. — Respiremos um pouco, no torpor de uma tragada, Admiremos os monumentos, Falemos sobre os fatos mais recentes, Acertemos nossos relógios pelos relógios das praças. E sentemo-nos então, por meia hora, a beber nossa cerveja. 1 Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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