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Guerrilha digital: Do PSDB ao PSOL implodindo as Fake News do Bolsonaro no WhatsApp

Tudo começou quando Silva foi convidada a entrar nos grupos de que o pai participava. Ela comprou um chip novo, para que não fosse reconhecida pelo número de telefone, e passou a enviar notícias e vídeos – reais – que expunham os problemas do presidente. ‘Eu o vi xingando aquele fake sem saber que era a filha dele.’ A ideia era apenas rebater argumentos, em geral baseados em fake news, que se cansara de ouvir. À época, o principal assunto nos grupos era o atentado à faca contra Bolsonaro. Os integrantes dos grupos diziam, sem provas, que o mandante havia sido o ex-presidente Lula. A estudante rebatia com fatos da investigação. O pai dela ficou possesso, mas Silva não parou até que conseguisse implodir todos os grupos, um a um. “Eu o vi xingando ‘aquele fake’ sem saber que era a filha dele. Até que minha madrasta reclamou que ele perdia muito tempo brigando nos grupos e ele resolveu sair de todos”, riu a estudante. Mas aí quem não queria parar era ela. “Já tinha tomado gosto pela coisa.” Silva, que vive em Goiânia, percebeu que invadir o terreno em que bolsonaristas radicais se sentem mais confortáveis – os grupos de WhatsApp – é uma forma efetiva de combater a proliferação de fake news a favor do presidente. A ferramenta de envio de mensagens instantâneas foi essencial para a eleição de Bolsonaro – as evidências indicam que a avalanche de fake news distribuídas no mundo oculto dos grupos de zap beneficiou mais a ele do que a qualquer outro candidato. Guerrilha digital A goiana está longe de ser a única “guerrilheira digital” dedicada a combater fake news e intolerância em grupos de mensagens. Em algumas semanas de pesquisa, conheci dezenas de pessoas – eleitoras de Ciro Gomes, Fernando Haddad, Guilherme Boulos, Marina Silva e Geraldo Alckmin – que resolveram se entregar à tarefa. É estafante: são até oito horas diárias com os olhos fixos no WhatsApp. “Cada um mantém a sanidade como consegue”, ela desabafou. É o caso dos 20 editores de uma página de esquerda no Facebook. Durante a campanha eleitoral, eles entraram em grupos bolsonaristas para entender o que pensavam os apoiadores do capitão reformado. Passado o pleito, decidiram continuar por ali, na esperança de mudar opiniões. A tática escolhida é curiosa, mas vem surtindo efeito: fingindo ser eleitores de extrema direita, eles lançam mão de argumentos ainda mais radicais que os que habitualmente circulam nos grupos. Um dos participantes, um bacharel em filosofia que mora em São Paulo e pediu para não ser identificado para não ser descoberto nos grupos, posta coisas como: “Bolsonaro não é só um político, ele é Melquisedeque, a presença do Senhor na Terra, o patriarca de uma nova geração de governantes”. Ou: “A Amazônia está pronta para receber o povo de Israel, meu pastor disse que aqui será a nova Jerusalém”. ‘Eles não percebem o humor e a caricatura. Mas, se desenvolvem senso crítico, pra mim está bom.’ Ouve, como resposta, habitualmente, que está louco, que Bolsonaro não é Deus e nem poderia entregar a Amazônia a quem quer que fosse. Alguns ficam tão revoltados que saem do grupo. É quando o paulistano se considera vitorioso. “Eu uso citações da Bíblia, de Handmaid’s Tale, Game of Thrones e outros livros sobre regimes autoritários. Já mandei as máximas do Grande Irmão de [1984, romance clássico de George] Orwell para defender a ditadura militar. Eles não percebem o humor e a caricatura. Mas, se desenvolvem senso crítico, pra mim está bom”, me disse. Segundo ele, o trabalho do grupo chega a afugentar uma média de 100 pessoas por semana de grupos que espalham fake news pró-Bolsonaro. “Nós vimos que não dá para dialogar com algumas pessoas, então tentamos assustá-las com o próprio radicalismo. É gente a que só conseguimos chegar assim”, prosseguiu. Os Agentes das Fanfics Após dinamitar os grupos de que o pai participava, Brenda Silva percebeu que descobrira uma maneira de enfrentar as notícias falsas e postagens intolerantes que infestam os grupos pró-Bolsonaro. E resolveu ir adiante, ao lado de pessoas que encontrou no Twitter para somar esforços. A equipe que ela reuniu, chamada de Agentes das Fanfics, tem integrantes no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Distrito Federal. Ninguém se conhece pessoalmente, mas todos conversam diariamente em redes sociais. O lema é “resistência e deboche”, me disse a bacharel em Direito Stefany Oliveira, de Juiz de Fora. A trupe concebeu uma estratégia peculiar, que até aqui tem se mostrado praticamente infalível: ganhar a confiança dos participantes, conquistar o posto de administrador e deletar o grupo. Montei um passo a passo para explicar como ela funciona: Ao receber o convite para entrar num grupo bolsonarista, um dos integrantes da equipe entra e começa a conversar, de modo amistoso, com os demais participantes. Com o passar dos dias, pessoa constrói uma imagem confiável no grupo. Segundo Silva, isso requer tempo, dedicação e muito sangue frio para ler notícias falsas ou opiniões radicais, machistas, misóginas etc. Nesse meio tempo, outros integrantes da trupe são chamados a entrar no grupo. Após algumas semanas, começa a ação combinada. Geralmente, o integrante há mais tempo no grupo é atacado por um colega de equipe. O “veterano” então procura o administrador do grupo para reclamar da bagunça e das brigas constantes e pede poderes de moderador para retirar pessoas “mal intencionadas” da conversa. Assim que se torna administrador, o infiltrado avisa os companheiros. É a senha para o grupo ser invadido e ter início um bombardeio de figurinhas (stickers) – geralmente depreciativas a Bolsonaro. Em seguida, o administrador infiltrado deleta todos os integrantes, matando o grupo. ‘Uso as coisas que escuto do meu pai para me passar por minion nos grupos.’ Desde janeiro, quando o trabalho começou, que a trupe de Silva ostenta cerca de 30 grupos desmantelados, a maioria deles com centenas de participantes. Entre eles, estão agrupamentos batizados de Apenas direita, 100% Bolsonaro, Olavo x Mourão, Mulheres Conservadoras, Brasil com Bolsonaro, Avante Capitão, Mulheres

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Violência contra a mulher é violência contra a humanidade

A violência contra a mulher é violência contra a humanidade. Enganam-se os machistas ao relegarem o problema como afeto somente ao ambiente doméstico. Não existe democracia sem Direitos Humanos. Na realidade, a violência contra a mulher vai além da física. Além do mais a violência contra o ser humano fere valores, normas, condutas e convenções. Cedo ou tarde, os indiferentes, omissos ou coniventes com esse “status quo” serão vítimas indiretas dessa barbárie doméstica, e praticada em diversos países como ato punitivo amparado por lei. Cabe ressaltar que a maioria dos homens não faz parte desse perfil machista. É preciso não mais argumentar com a máxima, cruel, de que “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher.” É preciso também derrubar o mito de que a violência contra a mulher, o que vem logo à mente, é a pura agressão física. O Editor Violência contra a mulher: eu me manifesto e você? Vai ficar olhando? Por Marli Gonçalves * Mulheres apedrejadas, esquartejadas, violentadas, exploradas, baleadas, surradas, torturadas, mutiladas, coagidas, reguladas, censuradas, perseguidas, abandonadas, humilhadas. Até quando a barbaridade inaceitável vai vigorar? Eu me manifesto, sim, contra tudo que considero inaceitável. E não é de hoje. Desde pequena meto-me em encrencas por causa disso. Uma vez, tinha acho que uns 12 anos, e brincava na portaria do prédio quando ouvi um homem brigando com uma mulher do outro lado da calçada, ameaçando-a de morte, dando-lhe uns sopapos. Não tive dúvidas.[ad#Retangulos – Direita] Atravessei, entrei pequenina no meio deles, gritando forte por socorro, o que o assustou e fez com que ele parasse as agressões. Para minha surpresa, ao olhar para os lados, vi que havia muitos adultos assistindo à cena, impassíveis. Nunca me esqueci disso. Inclusive porque, quando voltei para casa, tomei uma bronca daquelas. Atraída pelos meus gritos, minha mãe tinha ido à janela, e assistiu. “E se ele estivesse armado e te matasse?” – ouvi. Creio que respondi que nunca ficaria quieta vendo aquela cena, onde quer que fosse, e que jamais seria resignada. Dentro de minha própria casa já havia assistido a cenas que teriam ido para esse lado, não tivesse sido minha mãe uma guerreira baixinha e desaforada, ela própria vítima de um pai tão violento que não o aceitava nem em sua carteira de identidade, nem em sobrenome. Minha avó materna teria sido morta por um “acidente”, em que um motorista de ônibus, que por ele teria sido pago, acelerou quando ela descia. Caiu, bateu com a cabeça na sarjeta, morrendo horas depois, de hemorragia, na pequena cidade do interior de Minas. Anos depois, senti em minha própria pele o desespero solitário da agressão, da humilhação, do medo. Em plena juventude e viço, em uma ligação amorosa complicada, de paixão e amor intenso que vi virar violência, agressão, loucura e insegurança, só saí viva porque mal ou bem sou de circo, e protegida pelos meus santos e anjos, daqui e do céu… Tentei não envolver ninguém, resolver, e quase virei primeira página policial. Tive a minha vida quase ceifada, ora por ameaça de facadas; ora por canos e barras de ferro, ora pela perda de todas as referências, ora pela coação verbal. Os poucos e únicos amigos que ainda tentaram ajudar também entraram no rol da violência. E os (ex) amigos que viraram as costas, ou faziam-se de cegos, desses também me lembro bem; inclusive de alguns que conseguiam piorar a situação e pareciam gostar disso, insuflando. Ou se calando. Ou me afastando. Deve ser bonito ver o circo pegar fogo. Desespero solitário, sim. Não há a quem recorrer. Polícia? Apoiam os homens. Delegacia da Mulher? Na época não existia, mas parece que sua existência só atenuou a dimensão do problema, que pode acontecer em qualquer lar, lugar, classe social. Lei? Veja aí a Lei Maria da Penha. Pensava já naquele tempo, meu Deus, e se eu ainda tivesse filhos para proteger, além de mim? Não poderia ter me livrado – concluo ainda hoje, pasma em ver como a situação anda, em pleno Século XXI. Hoje, acredito que curei minhas feridas, que não foram poucas, especialmente as emocionais. Há semanas venho tentando defender, aqui do meu cantinho, a libertação da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, mais uma das mulheres iranianas cobertas da cabeça aos pés pelo xador, a vestimenta preta que é uma das versões mais radicais do véu muçulmano. Mas esse, a roupa, não é o maior problema dela e de outras iranianas. Viúva, dois filhos, em 2005 Sakineh foi presa pelo regime fundamentalista do Irã. Em 2007, julgada. A pena inicial foram 99 chibatadas. O crime, adultério! Sua pena final, a morte por apedrejamento. Uma história que lembra a fascinante personagem bíblica de Maria Madalena, a moça que aguardava a morte por apedrejamento até ser salva por Jesus Cristo. Cristo provocou com uma frase que ficou célebre, e revelou-se futurista: “Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”. Esses iranianos estão querendo matar Sakineh e outras a pedradas, e com pedras pequenas, para que sofram mais; talvez porque sejam, acreditam, muito puros? A sharia, lei islâmica, devia prever cortar dedos, língua, furar os olhos desses brucutus modernos, hitlers escondidos sob mantos religiosos, protegidos por petróleo e riquezas? Não bastasse a novela de Eliza Samudio que, morta ou não, faltou ser chutada igual bola, e de tantas jovens, inclusive adolescentes, mortas pelos namoradinhos, a advogada que morreu no fundo da represa. Todo dia tem violência. No noticiário ou na parede do lado da sua, no andar de baixo, no de cima, na casa da frente. Nem bem a semana terminou e outro caso internacional estava na capa da revista Time, com o propósito de pedir a permanência das tropas de ocupação no Afeganistão. Na foto, na capa, a imagem chocante da afegã Aisha, 18 anos, que teve o nariz e as orelhas decepados pelo Talibã. Foi a punição à sua tentativa de fugir de casa, de uma família que a maltratava. Agora, Aisha está guardada em lugar sigiloso, com escolta armada, paga pela ONG Mulheres

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Guerra Híbrida: Qual o verdadeiro peso das notícias falsas?

Estima-se que, durante as eleições americanas, informações mentirosas tiveram mais de 8 milhões de compartilhamentos no Facebook. Especialista afirma que fenômeno pode, sim, influenciar a opinião pública. Desde a surpreendente vitória de Donald Trump nas eleições para a Casa Branca, a atenção da mídia se voltou para o fenômeno das notícias falsas, numa tentativa de entender o seu impacto no processo eleitoral americano. No Facebook, entre agosto e 8 de novembro, data da eleição americana, as “fake news” ganharam mais atenção do que os sites de notícias convencionais, de acordo com o editor-fundador da empresa de notícias digitais Buzzfeed, Craig Silverman. Foram “notícias” como “papa declara apoio a Trump” ou “agente do FBI que expôs e-mails de Hillary é encontrado morto”. Textos com correções também circularam, mas nada comparado às dezenas de milhares de vezes em que as mentiras foram compartilhadas – muitas vezes inadvertidamente – nas redes sociais. Segundo Silverman, que cita dados coletados do Facebook, as notícias falsas tiveram 8,7 milhões de compartilhamentos na rede social, reações e comentários, enquanto as notícias convencionais obtiveram 7,3 milhões. Na ânsia de se detectar as influências da polarizada eleição americana, rapidamente, surgiram na rede social e nos sites de notícias acusações afirmando que as “fake news” teriam sido usadas para enganar deliberadamente o eleitorado. Isso levou o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, a anunciar novas medidas para combater o fenômeno. “Após as eleições, muitas pessoas estão se perguntando se as notícias falsas contribuíram para o resultado e qual seria a nossa responsabilidade em impedir elas se espalhem. Essas são questões muito importantes e eu me importo profundamente em corrigi-las”, postou Zuckerberg. O fundador do Facebook afirmou que “mais de 99% do que as pessoas veem é autêntico”, referindo-se aos feeds de notícias dos usuários da rede social. “Dito isso, não queremos nenhuma fraude no Facebook. Nosso objetivo é mostrar às pessoas o conteúdo que elas vão achar mais significativo, e os usuários querem notícias precisas. Já começamos a trabalhar para que a nossa comunidade possa identificar fraudes e notícias falsas, e há mais coisas que podemos fazer”, explicou Zuckerberg. Alguns críticos afirmam que a política editorial poderia filtrar conteúdo considerado importante para movimentos sociopolíticos, como o “alt-right”, um grupo de ideologia de direita visto como uma força motriz por trás da vitória eleitoral de Trump. Mas dúvidas relativas a seus objetivos políticos surgiram na esteira da bem-sucedida campanha de Trump, que muitas vezes chegou próxima do incitamento ao ódio contra minorias nos EUA, condenando notícias convencionais como tendenciosas. Mudar, manipular, deslegitimar Bart Cammaerts, professor de mídia e comunicação na London School of Economics, diz que a ameaça das notícias falsas está na sua capacidade de espalhar sentimentos populistas e transformar a opinião pública, minando as regras da mídia tradicional. “A diferença entre a paródia e as notícias falsas está na intenção. A produção de ‘fake news’ não se destina a criticar ou zombar de algo, mas serve antes a objetivos que são inerentemente manipuladores, muitas vezes para mudar a opinião pública ou deslegitimar algo ou alguém”, explica Cammaerts. “Isso tende a ir de mãos dadas com o populismo, com a promoção de várias teorias de conspiração, a rejeição de especialistas e uma rigorosa crítica dos meios de comunicação, que em todas as partes tende a enfatizar o factual em suas reportagens”, acrescenta. O professor da London School of Economics aponta para um fenômeno similar na Alemanha, onde grupos anti-imigração e de extrema direita, como a Alternativa para a Alemanha (AfD) e o Pegida, acusam a mídia tradicional de distorcer propositadamente as suas posições, chamando-a de die Lügenpresse – “a imprensa da mentira”. “Como os alemães são mais conscientes, esse surgimento da política pós-factual, e tudo que vem junto, não é novidade. Ele remete a uma época fascista e antiliberal, que também foi racista, autoritária e acusava a mídia de ser ‘die Lügenpresse’”, aponta Cammaerts. Na Europa, problema já é combatido Em 2015, o órgão fiscalizador dos direitos da mídia na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) publicou uma reportagem criticando a propaganda disfarçada de noticiário, que acabou prejudicando a aproximação entre a Ucrânia e a Europa após a saída do presidente Viktor Yanukovich. A propaganda em questão empregou táticas semelhantes às usadas pelos sites de notícias falsas durante as eleições americanas, incluindo manchetes enganosas, citações fabricadas e declarações incorretas, o que levou a União Europeia (UE) a criar uma força-tarefa para “abordar as campanhas de desinformação em curso por parte da Rússia.” Segundo Cammaerts, notícias falsas têm sido usadas para angariar apoio a várias causas políticas e representam uma grave ameaça para as sociedades democráticas, seja na Europa, nos EUA ou em qualquer outro país do planeta. Mesmo o direito à liberdade de expressão, muito elogiado pelos seguidores de sites de notícias falsas, tem os seus limites, afirma. “A liberdade de expressão nunca é uma liberdade absoluta, nem mesmo nos EUA com sua doutrina da Primeira Emenda. Embora espalhar e fazer circular notícias falsas seja parte da liberdade de expressão de alguém, é uma obrigação democrática das organizações de mídia expor esse fato e se opor ativamente contra isso, o que pode significar também a recusa à sua divulgação”, diz o professor. “Acho que o Facebook e Twitter têm responsabilidades editoriais, e por isso é válido que eles ativamente combatam a propagação de notícias falsas. Mas tais decisões editoriais devem ser transparentes”, conclui.

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Adolescentes e redes sociais

Caso de condenado por estuprar garotas em Porto Alegre serve de alerta. Róger da Silva Pires, 20 anos, preso e condenado por estupros, extorsões e ameaças que envolveu meninas entre 12 e 15 anosReprodução / Agencia RBS Ministério Público (MP) divulga resultados de apuração para chamar atenção ao Dia Mundial da Internet Segura Ocultado pela naturalidade e inocência típicas de crianças e adolescentes que buscam fazer o máximo de amigos em grupos nas redes sociais está um risco sorrateiro que não para de fazer vítimas: o do abuso sexual. Na véspera do Dia Mundial da Internet Segura (6 de fevereiro), o Ministério Público Estadual divulga os resultados da apuração de uma série de estupros, extorsões e ameaças que envolveu garotas entre 12 e 15 anos em Porto Alegre. O autor, Róger da Silva Pires, 20 anos, foi preso e condenado e, nos últimos meses, teve as condenações confirmadas pelo Tribunal de Justiça em um total de 42 anos de prisão — a Defensoria Pública, que representou o réu nos processos, avalia a possibilidade de recorrer. — É uma pena exemplar, não só para fins de punição, mas para que a sociedade saiba que esse tipo de crime (com uso da internet) tem, sim, punição. É muito alto o risco que os adolescentes têm. Há pesquisa que mostra o Brasil como o país com maior vulnerabilidade de crianças e adolescentes online. No Brasil, ainda estamos começando a responsabilizar os crimes que ocorrem via internet. Esse caso foi um divisor — diz a promotora Denise Villela, coordenadora do Centro de Apoio da Infância, Juventude, Educação, Família e Sucessões do MP. O terror imposto por Pires a suas vítimas adolescentes começou em meio a brincadeiras de amigos, passeios em shopping e parques e muita, muita conversa em aplicativos do celular e por meio do Facebook. Enturmado com jovens de classe média e média alta por dar aulas de tênis e treinar no Parque Germânia, Pires conseguia se inserir em grupos de WhatsApp e, então, passava a escolher suas vítimas. Ele foi preso em ação da Polícia Civil e do Ministério Público em 2016 e condenado por crimes contra cinco adolescentes cometidos entre 2015 e 2016. O MP acredita que pode ter havido mais casos. Usando pelo menos três aparelhos de telefone e 18 diferentes chips (apreendidos na operação), Pires, então com 18 anos, criava falsos perfis nas redes para conversar, seduzir, extorquir e ameaçar as jovens. Depois de obter fotos com cenas de nudez das vítimas (ou de alegar ter as fotos), ele usava nomes diferentes para enviar mensagens com pedidos de dinheiro ou exigências de encontros, prometendo que só assim apagaria as imagens sem divulgar na internet. Os encontros acabavam resultando em estupros. E o terror seguia com intimidações. As autoridades extraíram cerca de 5 mil imagens dos telefones dele, a maior parte com cenas de pornografia e, algumas delas, das vítimas identificadas. Em seu rol de ameaças, Pires dizia ser filho de um desembargador (inclusive, enviava para o telefone das vítimas a foto do magistrado), que poderia mandar prender familiares da vítima ou fazê-los perder o emprego, alegava ser de facções criminosas e, caso a vítima não cedesse, teria parentes executados. Nos perfis falsos, o homem também fazia se passar por supostas vítimas dele. Em um caso, uma das adolescentes recebeu mensagem de uma pessoa que se identificava como mulher e contava que Pires havia matado sua avó e sequestrado uma amiga por ela ter se negado a ter encontros com ele. A suposta interlocutora enviou ainda uma foto mostrando pulsos ensanguentados e dizendo que cometeria o suicídio por não suportar mais a pressão de Pires. Tudo mentira. Perfil falso Pires chegou a criar um perfil falso usando nome e foto de um jovem de classe média alta que era conhecido (e popular) entre as adolescentes que ele tinha como alvos. Com a falsa identidade, simulava namoros virtuais. Usando outras identidades, conseguia que vítimas enviassem fotos com cenas de nudez. O rapaz soube do uso de seu nome quando foi procurado por adolescentes que queriam entender o motivo de ele não conversar mais com elas no Facebook. Ele sequer as conhecia. Assustado, avisou a mãe, que fez registro na polícia. O jovem que teve o nome usado conhecia Pires de encontros casuais no shopping em grupos de amigos. Dedicado a falsear uma realidade que não vivia, Pires costumava fazer selfies ao lado desses garotos e publicá-las em seu Facebook como se fosse amigo próximo deles.  As ameaças protagonizadas por Pires eram tão contundentes que mesmo vítimas que não haviam enviado fotos suas para ele ficavam apavoradas e cediam, aceitando encontrá-lo. Ele costumava captar imagens de mulheres nuas na internet e enviar às vítimas como forma de pressioná-las. Segundo consta nos processos, os estupros teriam ocorrido numa espécie de porão de uma casa na Vila Jardim, onde Pires morava com a avó e outros familiares. Com 28 anos de atuação no MP, a promotora Denise Villela disse que poucos criminosos a impressionaram tanto quanto Pires em seu depoimento à polícia: — Falava do que tinha feito desprovido de constrangimento. Não conseguia compreender o quão perverso foi com as meninas, pois foi uma extorsão sexual brutal. Não era estuprador de colocar revólver na cabeça e estuprar. Era dissimulado. Essas vítimas de crimes cibernéticos são exploradas dentro da confiança que têm nas pessoas com quem se relacionam virtualmente, é uma quebra de confiança semelhante ao abuso sexual paterno, que ocorre dentro de casa. Elas perdem a confiança nas pessoas, passam a desconfiar de forma exacerbada, é um prejuízo para o resto da vida. Para o promotor da Infância e da Juventude Júlio Almeida, que fez as denúncias contra Pires, o caso é um paradigma para o MP por ter revelado a facilidade com que o criminoso se infiltrou em grupos de conversa de adolescentes: — O caso nos mostrou que não precisa ser um hacker ou um expert para conseguir isso. É tudo muito novo, o WhatsApp é novo. Os pais têm de saber onde os filhos estão transitando. Crianças

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Publicação de selfie desvenda assassinatos no Canadá

Como selfie de amigas publicada no Facebook ajudou polícia a desvendar assassinato  Cheyenne Antoine (à esq.) posa para selfie com cinto usado para matar Brittney Gargol (à dir.) | Reprodução/Facebook Uma foto publicada no Facebook foi a chave para solucionar um crime no Canadá. Cheyenne Rose Antoine, de 21 anos, foi condenada na segunda-feira a sete anos de prisão por homicídio culposo (sem intenção de matar) pelo assassinato da amiga Brittney Gargol, de 18 anos, ocorrido em março de 2015. Ela foi identificada como suspeita após publicar, horas antes do crime, uma selfie com Gargol no Facebook. Na imagem, ela usava o cinto que foi encontrado ao lado do corpo da vítima na cena do crime. Estrangulada até a morte, a jovem foi achada perto de um aterro em Saskatoon, na província de Saskatchewan, com o cinto de Antoine ao lado. Segundo a polícia, a versão que a amiga da vítima deu inicialmente – de que as duas tinham ido a vários bares antes de Gargol sair com um homem não identificado, e ela ir ver o tio – não batia. Os policiais usaram então as postagens do Facebook para ajudar a reconstituir a movimentação das amigas na noite do crime. E perceberam que a publicação de Antoine na linha do tempo de Gargol na manhã seguinte – “Cadê você? Não deu mais notícias. Espero que tenha chegado bem em casa” – era uma tentativa de despistá-los. Direito de imagemAFPPoliciais foram ao Facebook procurar pistas ‘Nunca me perdoarei’ Antoine, inicialmente acusada de assassinato em segundo grau, que equivale no Brasil a homicídio doloso (com intenção de matar), se declarou culpada do crime, mas disse que não se lembrava de matar a amiga. Ela disse que as duas estavam bêbadas e tinham fumado maconha quando começaram uma discussão acalorada. Em um comunicado, ela se disse arrependida: “Eu nunca me perdoarei. Nada que eu diga ou faça trará ela de volta. Eu lamento muito, muito… Isso não deveria ter acontecido”, afirmou Antoine em nota emitida por meio de seu advogado. O advogado de Antoine disse sua cliente foi à polícia um mês antes do assassinato para denunciar maus-tratos cometidos pelos pais adotivos, e que ela teria sofrido abusos similares no abrigo para crianças no qual viveu em Saskatchewan. A família de Gargol se manifestou no julgamento. “Não conseguimos deixar de pensar em Brittney, no que aconteceu naquela noite, no que ela deve ter sentido lutando por sua vida”, disse Jennifer Gargol, tia dela, no tribunal. BBC

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O Reino dos Algoritmos

Cada vez mais influentes em nossas decisões, os algoritmos pedem responsabilidade de quem os cria Eles estão em toda parte, mas você não se dá conta. Em suas buscas na internet, lá estão eles. Se você quer aplicar no mercado de ações, comprar um tênis ou contratar um financiamento imobiliário, é claro que eles estarão lá. Silenciosos, imperceptíveis, mas influenciando suas decisões. Você poderia achar que estamos falando sobre sua consciência, mas não. Estamos nos referindo aos algoritmos. Em termos técnicos, um algoritmo é uma sequência lógica, finita e definida de instruções que devem ser seguidas para resolver um problema ou executar uma tarefa. Eles são muito utilizados na área de programação, descrevendo as etapas que precisam ser efetuadas para que um software execute as atribuições que lhe são designadas. Qualquer programa de computador é composto por uma variedade de algoritmos sendo executados em alta velocidade. Nos casos mais avançados, eles podem nem ser escritos por um ser humano, mas por outros algoritmos. O aprendizado de máquinas é uma técnica de inteligência artificial moderna usada para ensinar aos computadores como realizar coisas que as pessoas podem fazer. No entanto, eles não são restritos apenas à área computacional. O simples ato de um indivíduo se secar sempre na mesma ordem depois que sai do banho, por exemplo, já é considerado um algoritmo. Contudo, a relação do termo com o universo eletrônico é mais forte pela presença constante no nosso cotidiano, mesmo que não percebamos. Dado esse cenário, muitas pessoas já começam a se perguntar até que ponto os algoritmos estão de fato influenciando nossa vida, seja no trabalho, nas tomadas de decisões ou no simples gosto do que escolhemos como entretenimento. “A internet criou um mundo de escolha infinita: se quero comprar um par de sapatos, em vez de ir à sapataria do bairro e escolher entre cem pares, posso ir a um site e escolher entre 1 milhão. Mas ninguém tem tempo de olhar 1 milhão de pares de sapatos. O que os algoritmos fazem, então, é escolher, dentre esse milhão, a centena que provavelmente nos agradará mais, e depois nós escolhemos dentre esses”, explica Pedro Domingos, professor de ciências da computação na Universidade de Washington, nos Estados Unidos, e autor do livro O algoritmo mestre (Editora Novatec). Para Tom Griffiths, diretor do Laboratório de Ciência Cognitiva Computacional da Universidade da Califórnia em Berkeley, as eleições presidenciais de 2016 dos Estados Unidos dão um bom exemplo de como os algoritmos podem ter um impacto significativo em nossas vidas. Segundo ele, um dos problemas nessa eleição foi que as pessoas não estavam tendo uma cobertura equilibrada: como consequência do uso de plataformas de redes sociais, as pessoas estavam vendo histórias defendidas por pessoas com visões políticas similares e selecionadas pelas empresas de tecnologia para maximizar o engajamento. “Para mim, isso sugere um problema de projeto de algoritmo: existe um algoritmo melhor que podemos usar para selecionar as notícias que as pessoas veem para se certificar de que estão entendendo bem as questões que afetam sua sociedade? Do ponto de vista de um cientista da informática, trata-se de escolher a ‘função objetiva’ que estamos tentando otimizar ao mostrar o conteúdo. Mostrar às pessoas o que elas querem ver pode maximizar o número de vezes que elas clicam nos anúncios ou o tempo que gastam na plataforma. Penso que é hora de as empresas pensarem mais sobre essas funções objetivas e a sociedade começar a fazer perguntas sobre quais dessas funções são aceitáveis para as empresas usarem”, diz ele à Revista da Cultura. Pensando nisso, recentemente Facebook e Google corrigiram seus sistemas de inteligência artificial para mostrar a seus usuários uma visão de mundo mais real. A intenção, além de manter a credibilidade do conteúdo, é proteger os usuários de uma exposição danosa na rede mundial de computadores, além de atacar a rentabilidade que esse conteúdo pernicioso pode gerar. A partir do momento em que isso pare de dar dinheiro, deixará de ser feito. Existem softwares que mapeiam as preferências e rotinas das pessoas, não só nas redes sociais, mas também em outros ambientes públicos na internet, como sites de compras ou de pesquisa. Ao mapear essas preferências e hábitos de utilização, os softwares apresentam ofertas de produtos, serviços ou até mesmo ideias, no exato momento em que o internauta está mais disposto a aceitá-los. “Eu mesmo passei por isso, quando estava esperando minha filha nascer. Naturalmente, passei a procurar mais pelo assunto e também produtos e serviços relacionados. Fiquei impressionado na época com o poder desses algoritmos, pois cada vez que entrava em algum site de lojas de departamento, na capa, só apareciam ofertas de carrinhos de bebê, fraldas e outros produtos do tema. Dado que nos tempos de hoje é rotineiro ao ser humano pesquisar qualquer coisa na web, as ações desses algoritmos influenciam substancialmente nas nossas decisões diárias”, afirma Ricardo Ribeiro Assink, especialista em engenharia de projetos de software e professor nos cursos de ciências da computação e sistemas de informação da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). Thiago Avelino, matemático pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor de tecnologia da Nuveo, trabalha com inteligência artificial, rede neural e visão computacional. De acordo com ele, as pessoas adquirem produtos ou são impulsionadas a tomar determinada atitude porque os algoritmos nos jogam dentro de “bolhas de necessidades relativamente parecidas”. Portanto, grupos semelhantes – seja por gênero, idade ou classe social – consomem sempre as mesmas coisas. E O FUTURO? O dilema inevitável quando falamos sobre algoritmos é se um dia eles poderão definitivamente suplantar a vontade humana. Para Domingos, em muitas áreas, os algoritmos já nos suplantam. Em outras, vai demorar mais tempo. Ainda de acordo com ele, o fundamental é que as decisões finais estejam sempre a cargo dos humanos. Outra questão que se impõe é se um dia eles poderão reproduzir nosso senso de justiça ou ética, por exemplo. O especialista responde afirmativamente. O problema é que nós somos pouco consistentes no nosso comportamento ético. Portanto, os computadores, ao

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Eleições 2018 e Perfis falsos

Exclusivo: investigação revela exército de perfis falsos usados para influenciar eleições no Brasil Cada funcionário seria responsável por controlar de 20 a 50 perfis falsos | Ilustração: Kako Abraham/BBC São sete da manhã e um rapaz de 18 anos liga o computador em sua casa em Vitória, no Espírito Santo, e dá início à sua rotina de trabalho. Atualiza o status de um dos perfis que mantém no Facebook: “Alguém tem um filme para recomendar?”, pergunta. Abre outro perfil na mesma rede. “Só queria dormir a tarde inteira”, escreve. Um terceiro perfil: “Estou com muita fome”. Ele intercala esses textos com outros em que apoia políticos brasileiros. Esses perfis não tinham sua foto ou nome verdadeiros, assim como os outros 17 que ele disse controlar no Facebook e no Twitter em troca de R$ 1,2 mil por mês. Eram, segundo afirma, perfis falsos com fotos roubadas, nomes e cotidianos inventados. O jovem relatou à BBC Brasil que esses perfis foram usados ativamente para influenciar o debate político durante as eleições de 2014. As evidências reunidas por uma investigação da BBC Brasil ao longo de três meses sugerem que uma espécie de exército virtual de fakes foi usado por uma empresa com base no Rio de Janeiro para manipular a opinião pública, principalmente, no pleito de 2014. A estratégia de manipulação eleitoral e da opinião pública nas redes sociais seria similar à usada por russos nas eleições americanas, e já existiria no Brasil ao menos desde 2012. A reportagem identificou também um caso recente, ativo até novembro de 2017, de suposto uso da estratégia para beneficiar uma deputada federal do Rio. A reportagem entrevistou quatro pessoas que dizem ser ex-funcionários da empresa, reuniu vasto material com o histórico da atividade online de mais de 100 supostos fakes e identificou 13 políticos que teriam se beneficiado da atividade. Não há evidências de que os políticos soubessem que perfis falsos estavam sendo usados. Com ajuda de especialistas, a BBC Brasil identificou como os perfis se interligavam e seus padrões típicos de comportamento. Seriam o que pesquisadores começam a identificar agora como ciborgues, uma evolução dos já conhecidos robôs ou bots, uma mistura entre pessoas reais e “máquinas” com rastros de atividade mais difíceis de serem detectados por computador devido ao comportamento mais parecido com o de humanos. Parte desses perfis já vinha sendo pesquisada pelo Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo, coordenado pelo pesquisador Fábio Malini. “Os ciborgues ou personas geram cortinas de fumaça, orientando discussões para determinados temas, atacando adversários políticos e criando rumores, com clima de ‘já ganhou’ ou ‘já perdeu’”, afirma ele. Exploram o chamado “comportamento de manada”. “Ou vencíamos pelo volume, já que a nossa quantidade de posts era muito maior do que o público em geral conseguia contra-argumentar, ou conseguíamos estimular pessoas reais, militâncias, a comprarem nossa briga. Criávamos uma noção de maioria”, diz um dos ex-funcionários entrevistados. Esta reportagem é a primeira da série Democracia Ciborgue, em que a BBC Brasil mergulha no universo dos fakes mercenários, que teriam sido usados por pelo menos uma empresa, mas que podem ser apenas a ponta do iceberg de um fenômeno que não preocupa apenas o Brasil, mas também o mundo. Segundo Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), a suspeita de que esse seria um serviço oferecido normalmente para candidatos e grupos políticos “faz pensar que a prática deva já estar bem disseminada nesse ambiente político polarizado e que vai ser bastante explorada nas eleições de 2018, que, ao que tudo indica, serão ainda mais polarizadas que as últimas de 2014”. Philip Howard, professor do Instituto de Internet da Oxford, vê os ciborgues como “um perigo para a democracia”. “Democracias funcionam bem quando há informação correta circulando nas redes sociais”, afirma, colocando os fakes ao lado do problema da disseminação das fake news, ou seja, notícias falsas. Direito de imagemGETTY IMAGESRobôs estariam tentando manipular opinião pública nas redes sociais no Brasil desde 2012 Exército fake Em 2012, segundo os entrevistados pela BBC Brasil, o empresário carioca Eduardo Trevisan, proprietário da Facemedia, registrada como Face Comunicação On Line Ltda, teria começado a mobilizar um exército de perfis falsos, contratando até 40 pessoas espalhadas pelo Brasil que administrariam as contas para, sobretudo, atuar em campanhas políticas. Inicialmente, a BBC Brasil entrou em contato com Trevisan por telefone. Ele negou que sua empresa crie perfis falsos. “A gente nunca criou perfil falso. Não é esse nosso trabalho. Nós fazemos monitoramento e rastreamento de redes sociais”, afirmou, pedindo que a reportagem enviasse perguntas por email. “Os serviços em campanhas eleitorais prestados pela Facemedia estão descritos e registrados pelo TSE, de forma transparente. Por questões éticas e contratuais, a Facemedia não repassa informações de clientes privados”, respondeu, posteriormente, por email (leia resposta completa na parte final desta reportagem). Empresário criou a página Lei Seca RJ, que alerta motoristas para locais de blitze no Rio | Reprodução/Facebook Trevisan, cujo perfil pessoal no Twitter carrega a descrição “Brasil, Pátria do Drible”, tem quase um milhão de seguidores. Ele ganhou projeção com sua página Lei Seca RJ, criada em 2009. Seguida por 1,2 milhão de usuários, ela alerta motoristas para locais de blitze no Rio. Um ex-funcionário disse ter sido contratado justamente achando que trabalharia administrando o Twitter do Lei Seca RJ. “Era um trabalho bem sigiloso. Não sabia que trabalharia com perfis falsos”, diz. Quando descobriu, conta, passou a esconder de amigos e familiares o que fazia. Hoje, afirma, tem medo de falar, porque trabalhou “para gente muito importante” e teria assinado um contrato de sigilo com a empresa. Políticos Os depoimentos dos entrevistados e os temas dos tuítes e publicações no Facebook levam aos nomes de 13 políticos que teriam sido beneficiados pelo serviço, entre eles os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Renan Calheiros (PMDB-AL) e o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). A atuação era variada. Para Aécio, perfis supostamente falsos publicaram, por exemplo, mensagens elogiosas ao

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Como hackers estão usando o Facebook para te roubar sem você perceber

Hackers passaram a utilizar a publicidade no Facebook para fazer pequenos pagamentos com suas contas e promover páginas fraudulentas.  Direito de imagemGETTY IMAGES Há alguns anos, o modo preferido de atuação de hackers era enviar vírus que se instalavam nos nossos computadores e podiam destruir nossos arquivos ou tornar o aparelho completamente inútil. Com a explosão de compras pela internet, porém, o foco de muitos deles passou a ser ganhar dinheiro. E as redes sociais se transformaram um de seus principais locais de atuação. De acordo com o Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), um think tank americano, os ciberataques são responsáveis pelo roubo de cerca de 20% do dinheiro gerado na internet – aproximadamente US$ 400 bilhões por ano. Os números são estimados, já que nem todas as pessoas roubadas pela internet denunciam os crimes, e há muitos países que nem sequer guardam os dados. Desde malwares (softwares maliciosos) até phishing (roubo de dados por meio de links falsos), passando pelo ransomware (golpe em que computadores são infectados com um vírus que codifica e “sequestra” os arquivos – os invasores pedem um “resgate” por eles), sorteios e loterias falsas, todos têm o objetivo de conseguir dinheiro de forma fraudulenta. Agora, por meio dos anúncios colocados no Facebook para promover páginas pessoais, de negócios ou de eventos, foi descoberto um novo fenômeno no cibercrime. Roubo ‘por comissão’ Direito de imagemGETTY IMAGESCriminosos geralmente são responsáveis por páginas de apostas ou de sorteios e recebem comissões caso elas tenham mais tráfego Quando o participante da rede social resolve pagar um anúncio no Facebook para promover sua empresa, por exemplo, pode deixar os dados de seu cartão armazenados no site para futuras contas ou dar à página acesso a outras contas de pagamento como PayPal. Ao invadir nossas contas, os hackers sabem onde procurar e acessar esses dados. “Eles entram na conta do Facebook não para roubar grandes quantidades de dinheiro, mas sim para usar valores da vítima e promover seus próprios sites de apostas. Ao dirigir e aumentar as visitas a essas páginas, eles recebem uma espécie de comissão”, diz o especialista em segurança e privacidade na internet Graham Cluley à BBC. Direito de imagemGETTY IMAGESHá alguns anos o site criou a possibilidade de pagar por anúncios de páginas, negócios ou eventos na rede social Os criminosos basicamente se apossam momentaneamente da conta de Facebook da vítima e fazem pequenos pagamentos para anúncios de seu interesse. Como o dinheiro sai do bolso do usuário e em pequenas quantidades – algo entre US$ 2 e US$ 6 -, fica mais difícil detectar a fraude. Além disso, como o Facebook realiza a cobrança automática dos anúncios depois que o usuário contrata o serviço uma vez, o pagamento não costuma levantar suspeitas. Um programa de rádio da BBC chegou a receber o telefonema de um ouvinte que teve cerca de US$ 16 mil roubados por meio desse método. Questionado pela BBC, o Facebook admitiu que, neste caso, terceiros obtiveram acesso aos dados de login da vítima e foram feitos pagamentos fraudulentos para a promoção de páginas à revelia do dono real do perfil. Proteja-se Direito de imagemGETTY IMAGESSua segurança na internet depende da quantidade de informação sobre si mesmo que você compartilha nos sites e como a protege Graham Cluley fez algumas recomendações para que seja possível se prevenir. Primeiro, é preciso assegurar-se de que as informações sobre seus cartões de crédito não ficaram gravadas em seu computador nem em seu celular. Elimine também qualquer conta que contenha dados financeiros e esteja associada ao seu perfil de Facebook. Por exemplo, Paypal, ou um método de pagamento semelhante. Cheque o movimento em sua conta bancária com frequência. Pequenos roubos, mesmo frequentes, podem passar despercebidos. Se você tem suspeitas, peça informações ao Facebook. O site pode fornecer detalhes sobre os anúncios e páginas que você está promovendo, e qual foi a quantia investida neles. Caso você tenha feito uma campanha com anúncios pagos no Facebook, mas ela já chegou ao fim, também é possível pedir ao banco que não aceite mais cobranças que venham da rede social, a não ser que sejam autorizadas por você mediante contato.

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Fakes e comportamento de manadas

Como ‘comportamento de manada’ permite manipulação da opinião pública por fakes Usuários reais estão sujeitos à manipulação de perfis falsos nas redes sociais | Ilustração: Kako Abraham/BBC A estratégia que vem sendo usada por perfis falsos no Brasil e no mundo para influenciar a opinião pública nas redes sociais se aproveita de uma característica psicológica conhecida como “comportamento de manada”. O conceito faz referência ao comportamento de animais que se juntam para se proteger ou fugir de um predador. Aplicado aos seres humanos, refere-se à tendência das pessoas de seguirem um grande influenciador ou mesmo um determinado grupo, sem que a decisão passe, necessariamente, por uma reflexão individual. “Se muitas pessoas compartilham uma ideia, outras tendem a segui-la. É semelhante à escolha de um restaurante quando você não tem informação. Você vê que um está vazio e que outro tem três casais. Escolhe qual? O que tem gente. Você escolhe porque acredita que, se outros já escolheram, deve ter algum fundamento nisso”, diz Fabrício Benevenuto, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sobre a atuação de usuários nas redes sociais. Ele estuda desinformação nas redes e testou sua teoria com um experimento: controlou quais comentários apareciam em um vídeo do YouTube e monitorou a reação de diferentes pessoas. Quanto mais elas eram expostas só a comentários negativos, mais tendiam a ter uma reação negativa em relação àquele vídeo, e vice-versa. “Um vai com a opinião do outro”, conclui Benevenuto. Em seu experimento, os pesquisadores chegaram à conclusão de que a influência estava também ligada a níveis de escolaridade: quanto menor o nível, mais fácil era ser influenciado. Exército de fakes Usuária identificada como falsa, com foto de perfil de banco de dados, tem 2.426 amigos | Foto: Reprodução/FacebookEvidências reunidas por uma investigação da BBC Brasil ao longo de três meses, que deram origem à série Democracia Ciborgue, da qual esta reportagem faz parte, sugerem que uma espécie de exército virtual de fakes foi usado por uma empresa com base no Rio de Janeiro para manipular a opinião pública, principalmente, no pleito de 2014. E há indícios de que os mais de 100 perfis detectados no Twitter e no Facebook sejam apenas a ponta do iceberg de uma problema muito mais amplo no Brasil. A estratégia de influenciar usuários nas redes incluía ação conjunta para tentar “bombar” uma hashtag (símbolo que agrupa um assunto que está sendo falado nas redes sociais), retuítes de políticos, curtidas em suas postagens, comentários elogiosos, ataques coordenados a adversários e até mesmo falsos “debates” entre os fakes. Alguns dos usuários identificados como fakes tinham mais de 2 mil amigos no Facebook. Os perfis publicavam constantemente mensagens a favor de políticos como Aécio Neves (PSDB) e o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB), além de outros 11 políticos brasileiros. Eles negam ter contratado qualquer serviço de divulgação nas redes sociais por meio de perfis falsos. A investigação da BBC Brasil não descobriu evidências de que os políticos soubessem do expediente supostamente usado. Eduardo Trevisan, dono da Facemedia, empresa que seria especializada em criar e gerir perfis falsos, nega ter produzido fakes. “A gente nunca criou perfil falso. Não é esse nosso trabalho. Nós fazemos monitoramento e rastreamento de redes sociais”, disse à BBC Brasil. Personas As pessoas que afirmam ser ex-funcionárias da Facemedia entrevistadas pela BBC Brasil disseram que, ao começar na empresa, recebiam uma espécie de “pacote” com diferentes perfis falsos, que chamavam de “personas”. Esses perfis simulavam pessoas comuns em detalhes: profissão, história familiar, hobbies. As mensagens que elas publicavam refletiam as características criadas. “As pessoas estão mais abertas a confiar numa opinião de um igual do que na opinião de uma marca, de um político”, disse um dos entrevistados. “Ou vencíamos pelo volume, já que a nossa quantidade de posts era muito maior do que o público em geral conseguia contra-argumentar, ou conseguíamos estimular pessoas reais, militâncias, a comprarem nossa briga. Criávamos uma noção de maioria”, diz um ex-funcionário. Para Yasodara Córdova, pesquisadora da Digital Kennedy School, da Universidade Harvard, nos EUA, e mentora do projeto Serenata de Amor, que busca identificar indícios de práticas de gestão fraudulentas envolvendo recursos públicos no Brasil, “a internet só replica a importância que se dá à opinião das pessoas ao redor na vida real”. “Se três amigos seus falam que um carro de uma determinada marca não é bom, aquilo entra na sua cabeça como um conhecimento”, diz ela. Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionEspecialista vê prática como fator que afeta a confiança da socieade na democracia Confiança abalada Para Lee Foster, da FireEye, empresa americana de segurança cibernética que identificou alguns perfis fakes criados por russos nas eleições americanas, essa tentativa de manipulação pode não fazer as pessoas mudarem seus votos. “Mas podem passar a ver o processo eleitoral todo como mais corrupto, diminuindo sua confiança na democracia”, afirma. “As redes sociais estão permitindo cada vez mais coisas avançadas em termos de manipulação nas eleições”, diz Benevenuto, citando as propagandas direcionadas do Facebook. “Estamos entrando em um caminho capaz de aniquilar democracias.” A solução proposta por pesquisadores para o problema dos perfis falsos e robôs em redes sociais vai da transparência das plataformas ao esforço político de “despolarizar” a sociedade. Córdova diz que não se deve pensar em “derrubar todos os robôs” – que não são necessariamente maliciosos, são mecanismos que automatizam determinadas tarefas e podem ser usadas para o bem e para o mal nas redes sociais. “É impossível proibi-los. A saída democrática é ter transparência para outros eleitores”, afirma. Se “robôs políticos” existem e estão voluntariamente cedendo seus perfis para reproduzir conteúdo de um político, eles devem estar marcados como tal, como, por exemplo, “pertencente ao ‘exército’ do candidato X”. Transparência Defensora do direito à privacidade e da liberdade de expressão, a pesquisadora Joana Varon, fundadora do projeto Coding Rights (“direitos de programação”), também defende a transparência como melhor via. “Anonimato e privacidade existem para proteger humanos. Bots (robôs de internet) feitos para campanha eleitoral precisam ser identificáveis e registrados, para não enganar o

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Não deixe rastros na Internet

8 passos para apagar seus rastros na internet A internet não tem memória curta – Direito de imagemGETTY IMAGES A internet é como uma memória infinita, eterna e coletiva que guarda tudo: de suas buscas mais vergonhosas a comentários e fotos inapropriadas. Muitas vezes nem sequer nos lembramos de tais momentos – afinal, quem é que se recorda do perfil no MySpace ou de mensagens no Facebook enviadas há dez anos? Mas a verdade é que, a não ser que façamos alguma coisa, nossas recordações digitais ficarão no cyberespaço para sempre. Com alguns passos simples, porém, é possível evitar que nosso passado digital nos persiga. Mais precisamente, oito passos: Google é o ‘rei’ das buscas online, mas não se esqueça de buscar a si mesmo nos concorrentes – os resultados podem te surpreender. Direito de imagem GETTY IMAGES 1. Busque-se nas ferramentas de busca O primeiro passo antes de qualquer limpeza na internet é ter muito claro o que quer eliminar. Você pode começar com uma busca por seu nome e sobrenome no Google e analisar os resultados que aparecem. Inclua também outros buscadores, como Bing, Yahoo, Bipplex e Ask, por exemplo. Quanto mais, melhor. É possível que você não encontre todas as menções de primeira e que precise fazer uma busca mais profunda. Mas dedique tempo. Uma vez que encontre o que deseja apagar, acesse diretamente as plataformas e páginas da web onde está o conteúdo postado por você. E comece a limpeza. 2. Releia suas mensagens Além do WhatsApp, que outras plataformas você já usou para mandar fotos e mensagens?Direito de imagemGETTY IMAGES É importante revisar mensagens, incluindo plataformas que já não utiliza, para assegurar-se de que não está deixando para trás algo que possa te deixar em apuros. Estamos falando, é claro, de aplicativos de mensagens, mas também de redes sociais e fóruns. Mesmo os locais em que você não usou seu nome real. 3. Apague suas contas em redes antigas O que será que aconteceu com aquela conta do MySpace que você não acessa há anos?Direito de imagemGETTY IMAGES Você se lembra do MySpace? Foi lançado em agosto de 2008. Antes de Instagram, Facebook, Twitter e Snapchat se alçarem como favoritos, o site era o espaço escolhido por muitos internautas para o compartilhamento de fotos. Portanto, fotos do seu passado ainda podem continuar na rede, como algumas da cantora Taylor Swift e do ator Tom Hardy, para a alegria dos fãs deles. O MySpace continua ativo – e tem 38 milhões de usuários. A exemplo dele, há dezenas de ferramentas “antigas” que ainda existem. As plataformas fotográficas Fotolog e Flickr, as redes sociais Hi5 e Faceparty e apps de relacionamento são alguns exemplos. Muitos sofreram grande êxodo com a chegada de novos sites e redes sociais, mas ainda podem servir de baú do “tesouro” de fotos embaraçosas. Revise estes perfis. 4. Troque de nome Se você não quer ter que apagar depois todas as mensagens que já escreveu em fóruns online e sites, use um pseudônimo que não seja de fácil identificação.Direito de imagemGETTY IMAGES Muitas sessões de comentários em sites são geridos por gigantes da internet, como o Facebook e o Disqus – este último anunciou, em 2012, que sofreu um grande ataque de hackers. Se você usou seu nome real em alguns fóruns e sites, e não quer eliminar todos os comentários que já fez, pode optar por trocar seu nome e a foto associada ao seu perfil. Escolha um pseudônimo que ninguém possa identificar. 5. Ponha em prática o ‘direito ao esquecimento’ Revise as leis existentes e exija o direito de desaparecer de certos sites de busca.Direito de imagemGETTY IMAGES Em alguns países, as empresas de internet têm que cumprir com uma série de normas que garantem ao usuário o “direito ao esquecimento”. O Tribunal de Justiça da União Europeia determinou em maio de 2014 que Google, Bing e outros buscadores devem permitir que os internautas escolham se querem que sejam apagados os resultados que aparecem em buscas relacionadas a eles. Postagens antigas nas redes sociais, por exemplo, podem ser ocultadas dos resultados de buscas. Isso pode ser especialmente útil se a pessoa está buscando emprego, já que cada vez mais as empresas fazem buscas online sobre os candidatos. Essa medida também é importante para vítimas de violência doméstica (os agressores muitas vezes continuam perseguindo a vítima) e para pessoas com condenações prescritas ou penas já cumpridas. Alguns lugares onde já houve decisões judiciais garantindo o “direito ao esquecimento” são México, Brasil e Colômbia. Portanto, pesquise as leis e exerça o seu direito. 6. Peça que eliminem sua conta Facebook é obrigado a oferecer a possibilidade de o usuário eliminar a conta por completo, se assim desejar Algumas redes sociais complicam o procedimento ao usuário que quer apagar a conta de forma permanente. Em troca, oferecem desativar “temporariamente”. Mas se você quer que o serviço de “limpeza” seja efetiva, o melhor é apagar a conta por completo. O Facebook tem uma página com essa finalidade. No caso do Twitter, a eliminação é concluída depois de 30 dias. Ao eliminar as contas do Facebook e Twitter, suas publicações desaparecerão. No entanto, algumas cópias podem continuar aparecendo nos resultados dos buscadores. 7. Proteja suas contas Uma senha mais complexa pode ajudar a proteger a conta O material que compartilhamos por meio de mensagens privadas – como no WhatsApp e no Messenger – geralmente é mais sensível e confidencial do que o que publicamos em fóruns e redes sociais. É sempre uma boa ideia proteger essas contas com contrassenhas complexas e originais. Se a página na web te dá esta opção de senha adicional, faça a verificação e siga os passos. Assim, será muito mais difícil para outros entrarem na sua conta sem permissão, pois precisarão da contrassenha, além da senha inicial de acesso ao celular. 8. Um conselho final… Nada do que você compartilha na internet é completamente privado. Uma vez publicado, nem sempre poderá ser eliminado. Há, inclusive, sites como o Wayback Machine, que permitem “viajar

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