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Amazônia: Os Brasileiros choramos por ti

O sofrimento da Amazônia em imagens Fotografias de Daniel Beltrá Pequena porção de terras cultiváveis perto de Santarém (PA). Marcas em formato de árvores deixadas pela água na terra nas margens do rio Amazonas. Panorâmica de uma mina de ouro ao sul do Parque Nacional das Montanhas de Tumucumaque. Panorâmica de uma zona de pântanos ao norte do Estado brasileiro do Amapá. Bosque ao sudoeste de Macapá Península no meio do Jari, afluente do rio Amazonas. Terras baixas alagadas perto das desembocaduras do rio Amazonas e o rio Araguari, no Brasil. O ramo ocidental do Rio Uaçá serpenteia através da selva, ao oeste do Parque Nacional do Cabo Orange, no Brasil. Árvores de mangue caídos ao longo das margens do rio Amazonas, a 80 km ao nordeste de Macapá (AP). Troncos empilhados no porto da capital, Macapá. Águas carregadas de sedimentos que se estendem 280 quilômetros ao longo da costa, a partir da desembocadura do rio Amazonas. Debandada de uma revoada de guarás. A maior selva tropical do mundo está lutando há décadas para sobreviver à exportação maciça de seus recursos

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Fósseis e o mercado negro da paleontologia

Vende-se animal extinto: 3,50 reais cada um Benaqla Sadki trabalha procurando fósseis perto de Erfoud (Marrocos). A exportação de fósseis é um setor desregulado, baseado na mão de obra barata e no qual convivem cientistas e colecionadores privados Benaqla Sadki é um homem magro, de mãos rudes e quase sem dentes. Diz ter 45 anos, mas aparenta pelo menos 10 a mais. Ele vive na cidade de Erfoud, no sudeste do Marrocos, trabalha num buraco de cinco metros que cavou a golpes de pá e picareta. Retira os escombros escalando pelas paredes com uma agilidade espantosa. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Levou um mês para abrir a fossa, e ainda terá que continuar cavando vários metros na horizontal antes de encontrar o que busca. Trabalha assim inclusive no verão, com temperaturas que superam os 40 graus. “Isto é o que tenho que fazer para ganhar o pão”, diz em francês.  Há 450 milhões de anos, o deserto do Saara era o fundo do oceano situado em torno do Polo Sul. Fazia parte do supercontinente de Gondwana. As costas eram similares às da Antártida, e em suas águas viviam trilobitas, animais que desenvolveram olhos de vidro e exoesqueletos para se proteger de seus predadores, os ortoconos (cefalópodes parecidos com lulas, mas com concha) e bivalves semelhantes aos atuais. Todos esses animais e muitos outros foram extintos há centenas de milhões de anos, mas seus corpos fossilizados continuam debaixo da terra e são contados aos milhões. “Graças ao comércio de fósseis, foram definidas em Marrocos cerca de mil novas espécies de invertebrados paleozoicos”, diz o pesquisador espanhol Juan Carlos Gutiérrez-Marco, que todos os anos viaja de jipe de Madri até a região Sadki é uma das centenas de catadores de fósseis nesta zona desértica do Anti-Atlas marroquino. Procura crinoides, animais marinhos caracterizados por seus vistosos cálices e pedúnculos. O preço depende do tamanho da peça. “Por uma boa placa podem me dar 3.000 dirhams [955 reais]”, diz. Às vezes, passa até quatro meses cavando sem encontrar nada, conta. Estes trabalhadores são a mão de obra barata que sustenta o mercado de fósseis em Marrocos, um dos principais exportadores em nível mundial. Nas lojas das localidades de Erfoud, Alnif e Rissani, pode-se comprar pelo equivalente a 3,50 reais trilobitas que cabem na palma da mão (são vendidos em caixas de 200 unidades), e placas com vários desses animais por mais de 3.500 reais. Há até tampos de cozinha e banheiro feitos com pedra calcária cheia de animais extintos. Uma vez retiradas do país, as peças mais valiosas são vendidas pela Internet por dezenas de milhares de reais. Toda esta atividade, que dá de comer a muitas famílias na região, não está regulada. Grande parte dessa riqueza fóssil acaba no estrangeiro, na maioria de casos sem passar pelo controle das autoridades. Um cortador de pedra em Erfoud. Numa das entradas de Erfoud, o som das serras é constante. Em meio a nuvens de pó asfixiante, trabalhadores com o rosto e os olhos tampados por lenços e óculos cortam placas de fósseis para sua posterior venda. São o elo seguinte da cadeia, os preparadores. Os mais qualificados usam brocas similares aos de um dentista e polidores que cospem uma areia fina, separando assim os trilobitas da pedra até deixá-los quase totalmente soltos, mas sem danificar os espinhos defensivos de algumas espécies. Além das lojas abertas ao público, alguns comerciantes têm armazéns privados nos quais oferecem garras de dinossauro por 860 reais, mandíbulas de baleia extinta por 5.200 reais, ou tochas de pedra esculpidas por humanos há dezenas de milhares de anos por 170 euros cada uma. Uma vez preparados para a venda, o preço dos fósseis na loja é pelo menos o dobro do que se paga a quem o coletou, e às vezes muito mais. Cientistas de vários países peregrinam a esta região em busca de descobrimentos de alto impacto. É uma forma de fazer paleontologia que começa em lojas e feiras da Europa ou EUA. Os investigadores perguntam aos vendedores sobre a origem de um fóssil de invertebrado ou vertebrado interessante. O rastro os leva às muitas pedreiras do sudeste de Marrocos. Se tiverem sorte, os comerciantes locais os levam até o local exato de onde saiu uma espécie desconhecida, e os coletores lhes deixam escavar. Só há uma condição: que paguem pelo que encontrarem. Um preparador de fósseis limpa um trilobita. “Graças ao comércio de fósseis foram definidas em Marrocos quase mil novas espécies de invertebrados paleozoicos”, diz Juan Carlos Gutiérrez-Marco, pesquisador do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC) da Espanha. Anualmente, esse geólogo faz uma viagem de ida e volta em jipe de Madria Marrocos para ver quais animais novos estão sendo extraídos, comprar alguma peça interessante e realizar suas próprias escavações nas zonas que ainda não foram exploradas. O pesquisador já descreveu três novas espécies e tem outras sete na gaveta. Marrocos tem amplos afloramentos dos períodos Cambriano, Ordoviciano, Siluriano e Devoniano, que abrangem entre 540 e 350 milhões de anos atrás. O fato de não haver uma camada de vegetação por cima faz desta zona de Marrocos um dos melhores lugares do mundo para encontrar fósseis. “No ritmo atual de exploração, as reservas demorariam séculos para se esgotarem”, diz Gutiérrez-Marco. Os comerciantes locais deixam os cientistas escavarem, desde que paguem Um dos achados científicos mais recentes nesta área foi o anomalocaris-gigante (Aegirocassis benmoulae), um artrópode marinho de aproximadamente dois metros de comprimento, que era provavelmente o maior animal do mundo há 480 milhões de anos. Os cadáveres desses animais e outros do seu ecossistema ficaram tão bem preservados no sedimento que os órgãos e partes moles se fossilizaram, algo excepcional, comparável apenas aos famosos xistos de Burgess, no Canadá, e a outros similares na China. Mohamed Ben Moula, de 63 anos, é um ex-pastor de camelos que se tornou caçador de fósseis. Ele achou os primeiros anomalocaris e os vendeu a Brahim Tahiri, um dos comerciantes de fósseis mais ricos da região. Tahiri mostrou o material a

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O declínio do carro particular

Escândalos na indústria automotiva e a proteção do ambiente convidam a imaginar uma cidade diferente. Matthias Mueller, CEO da Volkswagen, na conferência de imprensa em outubro, após o escândalo da falsificação dos motores diesel. ODD ANDERSEN AFP MAIS INFORMAÇÕES Os táxis sem motorista do Japão Audi e Skoda: 3,3 milhões de carros com ‘software’ ilegal Essa engenhoca conhecida como carro, grande protagonista do crescimento urbano, da livre circulação e do status social, parece que precisa passar por uma revisão geral. A crise do setor, junto com a preocupação, cada vez maior, de seu impacto ambiental deram origem a propostas inusitadas: carros de uso público compartilhados, proprietários de veículos que oferecem a outros passageiros a divisão de despesas em suas rotas habituais, ou particulares que se oferecem como motoristas a baixo preço.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Estas novas práticas já estão entre nós com nomes como carsharing, Blablacar ou Uber, respectivamente. Acrescente a isso o aumento da bicicleta como meio de transporte urbano. Seu crescimento — com pior ou melhor sinalização — entre o trânsito foi acompanhado de subsídios para promover o aluguel para trajetos na cidade. Tudo isso pinta um panorama no qual o carro particular poderia ser visto não mais como um luxo, mas como um incômodo. A ideia de que o uso do carro seja limitado nas cidades pode soar tão incrível quanto parecia impossível há duas décadas que o tabaco acabasse sendo banido dos lugares públicos. Mas a cidade sem carros já está entre nós. Ou melhor: sempre esteve aqui, desde o início. Há cidades que foram construídas em espaços com topografias inacessíveis, com a densidade de uma cidade medieval, cidades nas montanhas, cidades fortaleza, cidades proibidas, na qual os carros nunca entraram. Também foram fundadas cidades isoladas ou em arquipélagos que só tinham comunicação pelo mar; eram cidades ilhas e cidades mar. Nesses lugares não havia o barulho, a poluição e o perigo inerentes ao transporte por carro. Tudo isso pinta um panorama no qual o carro particular poderia ser visto não mais como um luxo, mas como um incômodo Imaginemos agora uma cidade visível, real, contemporânea, onde, exceto em casos de necessidade, as pessoas se movem sem o auxílio de qualquer força motriz artificial. Um lugar onde a rua seja em si mesma um meio de transporte, ruas pavimentadas ou canais de Veneza. Paradoxalmente, o lugar de onde parte o narrador de As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino, é hoje, por incrível que pareça, um modelo de futuro. Essa ideia é impensável para as pessoas de uma cidade histórica invadida e mutilada pelos automóveis. Também poderia ser uma utopia para quem vive na cidade do século XX, construída por e para o carro, e onde não possuir um pode quase relegá-lo a ser um cidadão de segunda classe. Mas o declínio do carro particular e seu impacto é uma questão multidisciplinar. Seus benefícios em termos de saúde, ambiente, energia e justiça social estão começando a passar por uma discussão mais profunda. Para que a cidade sem carros seja algo real, só precisamos resolver o fator econômico, ou seja, o impacto sobre o setor, mas não a viabilidade da ideia. Temos a tendência a ver a cidade como algo que é construído, quando também é uma sucessão de quedas. Quanto mais bem-sucedida, de longa duração e vital é uma cidade, maior é o número de transformações que experimentou. A restrição a estacionar veículos de não residentes no centro de Madri, implementada por Manuela Carmena há algumas semanas, mostrou que o tema de limitar o uso do carro na cidade não é algo visionário, complexo ou de ficção científica, é na verdade uma questão de mudança de mentalidade. O nascimento dos Estados-nação derrubou as muralhas e o desenvolvimento industrial solucionou o problema do saneamento, agora chega a hora da derrubada dos veículos particulares na cidade. Começa o tempo para refletir sobre este novo espaço público. Luis Feduchi é arquiteto e decano da Faculdade de Arquitetura da Universidade Camilo José Cela. Colabora com a Universidade Humboldt de Berlim. ElPaís

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Má qualidade do meio ambiente causa 12,6 milhões de mortes por ano

A OMS calcula que 23% das mortes por ano se devem a ambientes pouco saudáveis. Em Pequim, moradores aderem ao uso de máscaras. Kevin Frayer (Getty Images) As más condições ambientais são responsáveis por 12,6 milhões de mortes por ano no planeta, segundo um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) apresentado nesta terça-feira. Isso significa que cerca de 23% das mortes no mundo ocorrem por se “viver ou trabalhar em ambientes poucos saudáveis”. Os fatores de risco ambientais —como a poluição do ar, da água, do solo, a exposição a produtos químicos, a mudança climática e a radiação ultravioleta— “contribuem para mais de 100 doenças ou traumatismos”, afirma esta organização internacional em seu estudo A prevenção de doenças por meio de ambientes saudáveis.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] MAIS INFORMAÇÕES A América Latina sonha com uma vida sem carro Poluição na China matará 923.000 pessoas até 2030, segundo estudo OMS ataca o cigarro em Hollywood Madri proibirá totalmente circulação de carros quando a poluição disparar Trata-se da segunda edição deste relatório, que parte de dados de 2012. O estudo anterior foi realizado há quase uma década. Maria Neira, diretora do Departamento de Saúde Pública, Meio Ambiente e Determinantes Sociais da OMS, ressalta que nestes dez anos essa porcentagem de 23% de mortes por causas ambientais não variou. Mas mudaram os tipos de doenças. “Atualmente, dois terços das mortes são por doenças crônicas, como as cardiovasculares, enfartes, câncer ou doenças respiratórias crônicas”, afirma. De concreto, segundo aponta o estudo, as mortes por doenças não transmissíveis que podem ser atribuídas à contaminação do ar (incluída a exposição à fumaça do tabaco alheio) aumentaram até a cifra de 8,2 milhões”. Nesta última década, paralelamente, a OMS ressalta que “reduziram-se as mortes devido a doenças infecciosas como diarreia e malária”, que estavam vinculadas à má qualidade da água, do saneamento e da gestão do lixo. Supõe-se que por trás dessa redução está “a melhoria do acesso à água potável e ao saneamento, assim como a imunização, a focos de mosquito tratados com inseticidas e a medicamentos essenciais”, afirma a organização internacional. A mudança no padrão das mortes causadas por problemas ambientais propõe desafios. “As doenças crônicas são mais custosas para um país”, ressalta Neira ao compará-las com as infecciosas. “Têm um custo altíssimo para a sociedade”, acrescenta. Epidemia A responsável da OMS recorda que as doenças crônicas —como as cardiovasculares ou o câncer— se associam a “causas pessoais”, como o sedentarismo ou o fumo. Mas o relatório também destaca que há componentes ambientais, como a má qualidade do ar, a exposição a produtos químicos e a queima de combustíveis fósseis nas casas. “É preciso controlar esses fatores de risco”, recomenda Neira. Os mais afetados pela má qualidade do ambiente são as crianças e as pessoas mais velhas Em sua opinião, a maioria das medidas têm de ser aplicadas nas cidades. “É preciso melhorar e planejar as cidades”, onde se concentram muitos dos fatores de risco ambientais. Além disso, a especialista recorda que, em 10 anos, calcula-se que “70% da população viverá em cidades”. “É preciso melhorar o transporte e os combustíveis para ter uma economia com menos dióxido de carbono.” Crianças e idosos Os mais afetados pela má qualidade do ambiente são as crianças e as pessoas mais velhas. A OMS sustenta que por ano poderiam ser evitadas 1,7 milhão de mortes de menores de cinco anos e 4,9 milhões de adultos entre 50 e 75 anos se a gestão do meio ambiente for melhorada. “As infecções das vias respiratórias inferiores e as doenças diarreicas afetam sobretudo os menores de cinco anos, enquanto que as pessoas mais velhas são as mais afetadas pelas doenças não transmissíveis”, afirma a organização. Por áreas geográficas, a que mais sofre com a má qualidade ambiental é o Sudeste Asiático, com 3,8 milhões de mortes anuais. Atrás dela está o Pacífico Ocidental (3,5 milhões) e a África (2,2 milhões). Nos últimos lugares estão o Mediterrâneo oriental (854.000) e os Estados Unidos (847.000). Na Europa, segundo a OMS, as más condições ambientais causam 1,4 milhão de mortes por ano. Doenças O estudo identifica uma centena de doenças ou traumatismos vinculados às condições ambientais negativas. À frente em relação à mortalidade relacionada ao meio ambiente, estão, segundo a OMS, os “acidentes vasculares cerebrais”, que representam 2,5 milhões de mortes por ano. Atrás deles estão as cardiopatias isquêmicas, com 2,3 milhões. Em terceiro lugar estão os chamados “traumatismos involuntários”, por exemplo, “mortes por acidente de trânsito”, que respondem por 1,7 milhão de mortes anuais, número semelhante ao de vários tipos de câncer. El País/Manuel Planbelles

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