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Estado é condenado a indenizar gay agredido por skinheads

O juiz Marcos de Lima Porta, da 5ª Vara de Fazenda Pública de São Paulo, condenou o Estado a indenizar um gay agredido por um suposto grupo de skinheads no centro da capital. A sentença ainda ordena o pagamento de pensão vitalícia à vítima. Ainda cabe recurso. A condenação estipula o pagamento de 50 salários mínimos (R$ 23.250) por danos morais, as custas hospitalares (valores que serão calculados) e 1,1 salário mínimo (R$ 511,50) por mês durante toda a sua vida. A agressão ocorreu às 23h50 do dia 29 de dezembro de 2006 próximo à praça da República, ao lado da secretaria da Educação do Estado. O cabeleireiro Sérgio Carlos Pessoa, 32, que caminhava pelo local na companhia de amigo, foi cercado por um grupo de oito homens vestidos de preto e de coturnos. Sem dizer nada, conforme contou Pessoa ao juiz, o grupo começou a agredir seu amigo e, em seguida, ele. Diz ter levado uma “voadora” e, mesmo caído, foi cercado e agredido. No coturno do agressor havia, segundo ele, uma ponta metálica. “Com o golpe, teve extirpado o rim direito, sem falar da dor e no sofrimento relatado por ele [Pessoa] em seu depoimento pessoal. Essa situação ultrapassa os limites de um mero dissabor. Essa dor sentida e doída de forma constante deve ser, pois, ressarcida”, diz o magistrado, em trecho de sua sentença. Para o juiz, o Estado foi omisso na sua tarefa de oferecer segurança à população em um local sabidamente violento. Tanto era assim, relata o magistrado com base em depoimentos, “a polícia passou a ter uma viatura permanente no local”. No dia do ataque, porém, nenhum policial estava por perto. “Nem socorrido ele foi. Ficou jogado no chão. Foi levado para casa por um amigo, onde começou a passar mal”, disse a defensora pública Vania Agnelli, responsável pela ação. “É uma decisão importante porque surge como uma forma de pressionar o Estado a melhorar a segurança oferecida. Sabemos que não dá para colocar um policial em cada esquina, mas não era o caso. A polícia sabia que aquele lugar tinha ataques homofóbicos. E ele só foi agredido por isso, por ser gay”, disse ela. Rogério Pagnan – Folha de São Paulo

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Livro didático ensina preconceito contra o Nordeste

O nordestinos, somos mesmos os Tupiniquins dos Tupiniquins. As cheias em Santa Catarina, no ano passado, provocaram uma comoção nacional e uma, muita justa e humana, corrente de solidariedade aos desabrigados catarinenses, estimados em 80 mil pessoas. Agora, no infortunado nordeste, passa de 180 mil o número de desabrigados. A ajuda vem em conta gotas, enquanto a chuva cai em forma diluviana. A mídia nacional, embora noticie a calamidade, dá muito mais destaque aos infectados pela gripe suína. Como no samba de Chico Buarque “a dor da gente não sai no jornal”! O editor Parlamentares e educadores pernambucanos vão denunciar ao Ministério da Educação o “preconceito e os erros primários” do livro didático “Caatinga: a paisagem e o homem sertanejo” (Ed. Moderna), adotado no ensino fundamental. O litoral, dizem eles, “é vivo, alegre e gracioso” e não “seco, pobre, com solo pedregoso” como ensina o livro, que qualifica o sertanejo como “rude, indolente e tostado pelo sol”. coluna Claudio Humberto

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Repúdio à visita do presidente do Irã Ahmadinejad

É compreensível o repúdio da comunidade judaica à visita do presidente do Irã, Ahmadinejad, ao Brasil. Ahmadinejad prega a aniquilação de Israel, o que é inaceitável. Sob o comando de Ahmadinejad, o governo do Irã, secretamente para evitar protestos, enforcou uma jovem artista plástica de 23 anos, condenada por um crime, cujas provas periciais indicam que ela não cometeu o crime. Os judeus, os democratas e os humanistas, têm todo o direito, e o dever, de repudiarem pacificamente, a visita do “himileriano” presidente anti-semita iraniano. O Brasil é um país democrático, membro da ONU e obedece às normas diplomáticas internacionais. O Presidente do Irã é o chefe de um estado com o qual o Brasil, e mais dezenas de outros países, matêm relações diplomáticas. O Irã é um estado assassino, sensório, que enforca homossexuais e quaisquer outros dissidentes. Portanto, não é compreensível que o Brasil receba com deferências exageradas, além das meramente exigidas pela diplomacia, um dirigente incendiário, que nega o holocausto e prega a aniquilação do Estado de Israel, esse, o único país democrático na conturbada região do oriente médio. O editor

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Judeus, Palestinos e Hitler

A equilibrada e racional reflexão de um historiador e jornalista brasileiro sobre o conflito no Oriente Médio. Marcos Guterman, no artigo reproduzido abaixo, não poupa os radicais de ambos os lados. A Hitler o que é de Hitler por Marcos Guterman¹ – Blog O Estado de São Paulo Guerras, por definição, sinalizam rupturas. Enquanto a diplomacia oferece portas de saída, o conflito armado só se justifica pela decisão de destruir o inimigo e aquilo que ele representa. E a destruição não pode ser apenas militar ou material; ela tem de se dar também, e sobretudo, no campo moral. O conflito que simboliza melhor esse conceito é a Segunda Guerra Mundial, que passou à história como a luta contra o mal absoluto, resumido no nazismo. Hitler e sua ideologia insana tornaram-se paradigmas daquilo que deve ser combatido sem trégua e sem quartel, em nome da humanidade. Por isso, mesmo passadas seis décadas do fim do conflito, o nazismo continua sendo a referência mais implacável que alguém pode usar quando pretende desqualificar completamente seu inimigo no campo de batalha da opinião pública e da justificativa moral. O caso da presente guerra entre Israel e Hamas mostra justamente os exageros dessa retórica. Em artigo publicado no Wall Street Journal, o líder da oposição israelense Benjamin Netanyahu comparou os ataques do Hamas no sul de Israel à blitz aérea promovida pela Alemanha de Hitler contra Londres. Já do lado palestino, Mustafa Barghouti escreveu um texto no jornal egípcio Al-Ahram, a respeito da ofensiva israelense, cujo título é “A Guernica dos palestinos”, em referência ao dramático bombardeio nazista contra essa cidade espanhola em 1937. Trata-se de um óbvio exagero, de ambos os lados, e é um exagero calculado. Ao igualar os palestinos aos nazistas, Netanyahu simplifica grosseiramente o quadro com o objetivo de invocar, no imaginário israelense, o pesadelo da “solução final”. Não é possível, em qualquer sentido, dar pesos semelhantes às forças nazistas e ao limitado poder de fogo do Hamas, ainda que este, a exemplo de Hitler, tenha como objetivo eliminar os judeus. Netanyahu, além disso, se esquece de informar que os palestinos vivem em situação de desespero – que gera grandes ressentimentos – em parte como resultado das ações brutais e dos erros de Israel ao longo de mais de 40 anos de ocupação, com laivos de apartheid. Barghouti, por sua vez, recorre à velha fórmula anti-semita de comparar os israelenses aos nazistas. É uma fórmula de duplo objetivo, ambos perversos. Primeiro, iguala a vítima ao seu maior algoz, um algoz que reduziu a população judaica na Europa de 9,5 milhões para 3,5 milhões de seres humanos em menos de dez anos. Ele poderia ter comparado os israelenses aos americanos, por exemplo, mas isso não teria o efeito desejado, qual seja, o de ligar os judeus ao mal absoluto. O segundo objetivo da fórmula é diminuir a importância e a singularidade do Holocausto, para então adaptar a impactante imagem do extermínio em massa perpetrado pelos nazistas a qualquer outra circunstância conveniente – por exemplo, a morte de palestinos por israelenses. A retórica que Netanyahu e Barghouti aplicaram, em lugar de explicar o conflito, obscurece ainda mais o já complicado quadro das tensões no Oriente Médio. Argumentos desse tipo podem até fazer um grande sucesso entre gente oportunista e panfletária – um bom exemplo foi a grosseira nota em que o PT acusou os israelenses de “prática típica do Exército nazista” -, mas eles definitivamente não ajudam a entender a crise nem muito menos a construir pontes para sua superação. Para o bem do debate, deixemos a Hitler o que é de Hitler. ¹Marcos Guterman é historiador e jornalista de O Estado de S.Paulo

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Preconceito não traz segurança aos Israelenses

De Garry Young, colunista do jornal britânico The Guardian: No dia de ano-novo, Atif Irfan e sete membros de sua família embarcaram em um voo da AirTran, em Washington. Caminhando pelo corredor, Irfan questionou se a parte traseira do avião não seria o melhor lugar para se sentar. Sua cunhada disse que a considerava a parte mais segura da aeronave, “caso algo aconteça”. A conversa foi ouvida por duas adolescentes que repararam nas barbas dos homens e nos lenços das mulheres e viram uma família de terroristas suicidas – com três criancinhas de 2 a 7 anos. As mocinhas contaram a seus pais; seus pais, ao comissário de bordo; o comissário de bordo, a agentes federais a bordo; os agentes ligaram para o FBI. A família foi detida para averiguações e depois liberada. Mas o avião decolou sem eles. O suplício da família Irfan seguiu uma lógica própria e humilhante. E , no entanto, sete anos após o 11 de Setembro, esse não foi um incidente isolado. Preventivo, desproporcional e discriminatório, ele diz muito sobre os valores da sociedade em que essas adolescentes americanas viveram durante boa parte de suas vidas. Um mundo que iguala muçulmano a terrorista, e confunde o civil e o combatente pegando o medo e o preconceito e os entregando ao Estado. A única coisa que não fez desse particular incidente uma metáfora perfeita da guerra ao terror é que ninguém foi morto ou desapareceu. Mas não há nada de exclusivamente americano nisso. Como a Nike e o McDonald?s, a guerra ao terror pode ter começado aqui, mas rapidamente tornou-se global. Logo após os ataques de 2001, o presidente George W. Bush viu-se em companhia de gente como o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, e o ex-primeiro-ministro da Índia Atal Bihari Vajpayee. No entanto, poucos países o acompanharam como Israel. “Vocês, nos EUA, estão numa guerra contra o terror”, disse Ariel Sharon após sair da Casa Branca depois dos atentados suicidas em Haifa e Jerusalém, em dezembro de 2001. “Nós, em Israel, estamos numa guerra contra o terror. É a mesma guerra.” O problema é que nos últimos sete anos, essa guerra foi completamente desacreditada – não só moralmente, mas militar e estrategicamente. Ninguém dá ouvidos a moderados, e menos ainda à razão, quando bombas estão caindo e pessoas morrendo. Isso vale tanto para os foguetes que mataram um punhado de israelenses como para a barragem de bombas e agora tanques que mataram centenas de palestinos. Ao eliminar qualquer perspectiva de negociação, a violência fortaleceu os extremistas. A intenção de Israel pode ter sido alçar a facção moderada Fatah que hoje governa a Cisjordânia. Mas a vitória do Hamas nas urnas foi uma consequência direta do desprezo que os israelenses mostraram por eles. do O Estado de São Paulo

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