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A imprensa e as redes sociais na guerra contra o lixo

São mais de 7 bilhões de pessoas ao redor do mundo gerando lixo diariamente e as previsões são de que até 2025 a tonelagem seja o dobro das atuais. Lixo urbano na Indonésia. Foto: Wikimedia / CC Por Cristiana Cyrino Borges de Andrade e Cláudio Magalhães Segundo o Banco Mundial (2012), em 2025 serão 4,3 bilhões de habitantes urbanos (contra 2,9 bilhões em 2002), produzindo 1,42 quilo de lixo por dia, num total de 2,2 bilhões t/ano. Além do planeta dar sinais de esgotamento por acumular tantos resíduos, mostra que o modelo de exploração dos recursos naturais está fadado ao fracasso.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] As consequências das mudanças climáticas, nos âmbitos ambiental (degelo da Antártida, desaparecimento de espécies vegetais e animais etc.) e saúde pública (retorno de doenças antes erradicadas e a proliferação de vetores que disseminam outras patologias, como o aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya e zika vírus), e mais recentemente o temor de uma epidemia de febre amarela no país, são demonstrativos dessa falência. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (2013), o Brasil desperdiça, a cada ano, cerca de R$ 10 bilhões por falta de destinação adequada de resíduos. Dados da Abrelpe (2014) mostram que58,4% dos resíduos coletados no país tiveram destinação adequada (aterro sanitário), mas “mesmo com uma legislação mais restritiva […], 3.334 municípios, correspondentes a 59,8% do total, ainda fazem uso de locais impróprios para destinação final dos resíduos coletados”. Diante desse cenário, é importante refletir de que forma os meios de comunicação – analógicos e digitais – podem contribuir de forma assertiva para a disseminação de informações de qualidade e a ampliação do debate sobre o tema na sociedade. Notadamente, percebemos que a grande imprensa rotineiramente abre espaço para temas como aquecimento global, degelo do Ártico, aumento das temperaturas, mas raramente para uma análise local dos problemas, por exemplo, trazendo a questão para o Brasil. Geralmente o tema “resíduos” ganha destaque na mídia nacional quando os garis paralisam os serviços de coleta ou ocorre algum problema em um aterro sanitário. A greve dos garis no Rio de Janeiro durante o carnaval de 2014 foi uma excelente oportunidade para a sociedade brasileira se debruçar sobre o debate dos resíduos sólidos frente à nova legislação e o desenfreado descarte de resíduos. O que se viu durante sete dias foram montanhas de plásticos, garrafas de água, latas, caixas de papelão e, claro, lixo comum transbordando por toda a capital fluminense. Não teria sido esse um ótimo momento para uma mobilização emergencial de educação ambiental com os cariocas? Com os turistas foliões? Numa análise superficial do noticiário dos dois jornais de maior circulação no Brasil – O Globo e Folha de S.Paulo –, ambos se limitaram a retratar os fatos, claro, dando ênfase à gravidade da situação, às doenças correlacionadas, como leptospirose e diarreias, mas não avançaram no debate chamado a sociedade para a corresponsabilidade, nem situando a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) nesse contexto. O envolvimento da sociedade O Globo publicou uma nota de opinião, levantando a hipótese de oportunismo político do movimento, em pleno carnaval, com a cidade repleta de gente e com 3 mil toneladas de lixo pela cidade todos os dias, sem desmerecer que os garis podiam ganhar mais. No bate-pé entre Prefeitura do Rio e garis, os trabalhadores dos resíduos venceram: pediram R$ 1.200 e levaram R$ 1.100, um aumento real de 37%, em cima do salário de R$ 803. Um dos preceitos da política nacional é reduzir a geração de resíduos, e para isso é necessário que as pessoas acessem o mínimo de informação para se mobilizar, como atestam Braga e Mafra (2000): “Além disso, precisam compartilhar visões, emoções e conhecimentos sobre a realidade das coisas à sua volta, gerando a reflexão e o debate para a mudança.” Pensar em políticas públicas e de mobilização da sociedade para reduzir a geração de resíduos e fazer seu descarte de forma correta é essencial. Com esse intuito, foi desenhada, depois de 20 anos tramitando no Congresso, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), legislação que prevê uma série de exigências a todos os 5.570 municípios brasileiros. Entre elas, e uma das mais significativas, é a construção do plano municipal de gestão dos resíduos sólidos, que cada cidade deve ter. Nesses planos devem constar, entre vários itens, a implantação da coleta seletiva com a participação de cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; e a adoção de programas e ações de educação ambiental que promovam a não geração, a redução, a reutilização e a reciclagem de resíduos sólidos .(PNRS, 2012) Uma das questões colocadas pela nova legislação é a responsabilidade compartilhada, que prevê o envolvimento de toda a sociedade, incluindo população, indústria, comerciantes, importadores, distribuidores, consumidores finais e serviços públicos de limpeza urbana com a questão, considerada um princípio norteador da PNRS, por Costa e Crespo (2012): “É uma mensagem para que todos os atores façam sua parte.” Comunicação para o desenvolvimento humano Mais do que envolver a população, é fundamental que a questão seja tomada com política de governo, como bem descreve Acselrad (2000): “A participação democrática e a socialização da política seriam condições do desenvolvimento, que contaria com a participação da sociedade nos fóruns de discussão sobre as decisões de interesse público.” Na visão de Acselrad, um caminho viável do desenvolvimento é repensar as articulações entre dimensões econômicas, sociais e político-institucionais. Um dos modelos seria movido pelos processos temporais de inovação, velocidade de circulação da informação e o uso do conhecimento tecnológico. O outro teria foco na cidadania como condição do desenvolvimento. Se o envolvimento da população se mostra como essencial para o sucesso de um processo de mudança – nesse caso, o da redução de geração de resíduos e adoção na prática diária de medidas ambientais, separação de materiais e destinação para a coleta seletiva –, a comunicação para o desenvolvimento humano e social, bem como para a promoção da autonomia dos sujeitos, se apresenta como item fundamental de mobilização social,

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De desastres naturais a terrorismo: os 5 grandes riscos globais em 2017, segundo Fórum Econômico Mundial

Com a chegada de 2017, o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) divulgou a edição anual do estudo que procura antecipar os principais riscos e desafios globais para os próximos 12 meses. Direito de imagemESA/NASA O documento, intitulado Global Risks Report (Relatório de Riscos Globais, em tradução livre), avalia tendências e serve de bússola para a formulação de políticas e estratégias de governos e empresas. Ele foi divulgado uma semana antes do início da reunião anual do Fórum em Davos, na Suíça, que conta sempre com a presença de acadêmicos e líderes empresariais e políticos do mundo inteiro. Confira quais são as cinco maiores ameaças para o mundo em 2017, segundo a “bola de cristal” do WEF: 1) Eventos climáticos extremos O relatório lembra que 2016 foi o ano mais quente da história, com temperatura global 1,14ºC acima da observada antes da Revolução Industrial. Sugere que as mudanças climáticas trazem consequências sociais graves, como imigração – segundo o estudo, 21,5 milhões de pessoas tiveram que emigrar desde 2008 por eventos relacionados ao clima. A entidade defende o cumprimento do Acordo de Paris, fechado em 2015 e que pressupõe a participação de todas as nações – não apenas países ricos – no combate ao aquecimento global. Geleiras do Ártico tiveram derretimento recorde em 2016; mudanças climáticas devem causar mais consequências neste ano – Direito de imagemAP “Muitos riscos causados por não se fazer nada a respeito do clima irão transbordar para ameaças sociais e geopolíticas. Veremos crescente imigração por riscos ambientais”, afirmou Margareta Drzeniek-Hanouz, chefe do setor de Competitividade Global e Riscos do WEF. 2) Imigração em larga escala Motivadas por catástrofes naturais e também por conflitos violentos, as ondas migratórias deverão se exacerbar em 2017, aponta o Fórum de Davos. O relatório identifica ainda o risco de essa tendência ser explorada por políticos populistas, em busca de votos e aprovação popular. “A imigração se mostrou ser um assunto político extremamente bem-sucedido entre os populistas anti-establishment, gerando uma ameaça eleitoral em vários países”, afirma o texto, que enumera desafios decorrentes do avanço de “tensões culturais”. “A imigração cria tensões culturais: há necessidade de dar espaço para a tolerância religiosa sem abrir a porta para o extremismo. Há a necessidade de encorajar a diversidade que traz inovação sem alimentar ressentimento”, aponta. Ondas migratórias devem aumentar neste ano por conta de mudanças climáticas e conflitos – Direito de imagemREUTERS A organização reconhece que, assim como ocorre com a globalização, há setores da sociedade que não experimentam os benefícios gerais à economia proporcionados pela imigração. “Os desafios humanitários continuarão a criar ondas de pessoas – e nos países onde há baixos índices de fertilidade e número de aposentados crescendo a imigração será necessária para trazer novos trabalhadores.” 3) Grandes desastres naturais Desastres naturais de grande escala são uma ameaça real à infraestrutura produtiva global, aponta o Fórum de Davos. O relatório cita um estudo da Universidade de Oxford (Inglaterra) que simulou o impacto destrutivo de uma enchente na região costeira da China, que concentra produção para exportação. Mais de 130 milhões de pessoas seriam afetadas em um eventual desastre, comprometendo a cadeia internacional de comércio. Escombros deixados pelo tufão Haiyan, nas Filipinas, em 2013; desastres naturais de grande escala ameaçam infraestrutura produtiva global, aponta texto. Direito de imagemAP “Interdependência entre diferentes redes de infraestrutura está aumentando o escopo de falhas sistêmicas (…) que podem se acumular e afetar a sociedade de formas imprevisíveis”, prevê o relatório. 4) Terrorismo e vigilância Ataques terroristas têm motivado um reforço na vigilância estatal sobre cidadãos, mas tais ferramentas muitas vezes são usadas com fins políticos, alerta o relatório, que diz ver a tendência com “preocupação”. “Em alguns casos, problemas de segurança e protecionismo (…) têm sido usados como razão para reduzir dissidências. Em outros casos, restrições às liberdades são efeitos colaterais de um pacote de segurança bem intencionado, (mas) essas tendências preocupantes estão aparecendo até mesmo em democracias.” O Fórum de Davos projeta uma “situação potencialmente explosiva” em países que coíbem a liberdade de expressão em nome do combate ao terrorismo. “Ferramentas tecnológicas estão sendo utilizadas para aumentar a vigilância e o controle sobre cidadãos e erradicar críticas (aos governos). Restringir novas oportunidade a formas democráticas de expressão e mobilização e, por consequência, toda uma gama de direitos, gera uma situação potencialmente explosiva.” Homenagem a vítimas de atentado em mercado de Berlim; ações terroristas no Ocidente não devem diminuir neste ano, prevê relatório Direito de imagemEPA 5) Fraudes eletrônicas e roubo de dados Outra ameaça citada pelo Fórum de Davos são as fraudes cibernéticas, que podem avançar diante de legislações frágeis e falta de ações conjuntas entre governos e setor privado. Em entrevista à BBC Brasil, o presidente da empresa de análise de risco Marsh, John Drzik, que atuou na elaboração do relatório, diz que criminosos estão cada vez mais próximos das vítimas, pois aparelhos eletroeletrônicos domésticos estão sendo conectados à internet. “A introdução de novas tecnologias deixará isso potencialmente ainda mais perigoso. Será possível invadir aparelhos domésticos como termômetros eletrônicos” exemplificou. Drzik citou ainda a ameaça de ataques patrocinados por governos e orientados por interesses comerciais. “Precisaremos de coordenação entre países na esfera internacional e entre governo e iniciativa privada para desenvolver respostas de governança”, afirmou. Golpes com cartão de crédito são recorrentes no Brasil; fraudes e invasão de dados serão problemas em 2017 – Direito de imagemMARTIN KEENE/PA WIRE Propostas de ação O relatório também sugere ações para enfrentar as ameaças à economia global, concentradas em quatro frentes: Reformas econômicas Entre 1900 e 1980, a desigualdade social recuou nos países ricos, mas entre 2009 e 2012 a renda dos 1% mais ricos nos Estados Unidos, por exemplo, cresceu mais de 31%, lembra o relatório. O documento defende a adoção de mecanismos de distribuição de benefícios econômicos, e cita o Bolsa Família, iniciativa federal de transferência de renda no Brasil, como medida eficiente na mitigação da desigualdade social. Pontes culturais Décadas de mudanças econômicas e sociais rápidas aumentaram o fosso entre as gerações e amplificaram conflitos de

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Casa Branca quer que cientistas explorem a controversa geoengenharia

Com o ramo executivo do governo americano prestes a ser entregue a pessoas que não acreditam no aquecimento global e magnatas do petróleo, a administração que sai agora está pedindo para cientistas explorarem todas as opções para combater a mudança climática, incluindo a geoengenharia – a injeção de partículas na atmosfera terrestre para reverter o aquecimento global. Uma planta de captura de carbono no Mississippi, que é feita para capturar o CO2 de suas próprias emissões e armazená-lo embaixo da terra. Imagem: AP Photo/Rogelio V. Solis. A geoengenharia, ou hackear o sistema climático para resfriá-lo, é a mais recente ideia de ficção científica a ir para os planos da Casa Branca, depois de um relatório da semana passada sobre como devemos nos preparar para um apocalipse causado por um asteroide. Já que um apocalipse provocado por um asteroide não tem a chance de nos aniquilar se o clima sair de controle, parece que a Casa Branca está tentando cobrir todas as bases.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] O fato da geoengenharia, um assunto controverso que a Casa Branca se recusou a comentar durante anos, começar a ser tratado seriamente agora também é uma indicação que Obama não acha que nós estamos reduzindo nossas emissões rápido o bastante, e que intervenções tecnológicas agressivas podem ser necessárias. O plano, que foi enviado para o congresso essa semana pelo US Global Change Research Program, o corpo governamental de 13 agências federais que conduz pesquisas sobre a mudança climática, apresenta direções para estudos futuros em tópicos associados, como o rápido aquecimento Ártico e o impacto humano no ciclo das águas. O relatório também incentiva a pesquisa em dois dos dos conceitos mais discutidos de hackear o planeta: engenharia solar ao injetar partículas na estratosfera para a deixar mais reflexiva, e captura de carbono, que suga o CO2 direto do céu. Por mais que os relatórios não sugiram aos cientistas conduzir um experimento climático a curto prazo, a engenharia solar e a captura direta de carbono do ar são ideias bem especulativas, eles recomendam que nós comecemos a fazer algum trabalho de base, melhorando os modelos e capacidades de observação para que possamos prever as consequências da geoengenharia. “Essa pesquisa também definiria a menor escala dos experimentos de intervenção que nos dariam conhecimento científico significativo”, diz o relatório. Riscos Ken Caldeira, um cientista climático da Carnegie Institution for Science que recentemente estava na palestra National Academies que recomendou a pesquisa de engenharia solar e captura de carbono, aplaudiu a Casa Branca “por prestar atenção no que cientistas estão dizendo que devemos fazer. Eu gostaria que a administração Obama tivesse dito essas coisas 8 anos atrás”, ele disse ao Gizmodo por e-mail. Caldeira foi cauteloso ao notar que as duas propostas de intervenção são bem diferentes, e que enquanto a captura de carbono apresenta poucos riscos, a não ser gastar bilhões em uma tecnologia que não funciona, a injeção de aerossol estratosférico “levanta vários novos riscos e preocupações ambientais”. De fato, modelos anteriores sugerem que injetar partículas de sulfato que refletem o sol na estratosfera poderia alterar os padrões climáticos da terra, possivelmente impactando as chuvas de monções que abastecem as plantações que alimentam centenas de milhares de pessoas no sul da Ásia. “Por outro lado, se a mudança climática se mostrar realmente catastrófica, a geoengenharia solar é a única abordagem conhecida de esfriar o nosso planeta em uma escala de tempo relevante”, ele acrescentou. Michael Mann, um cientista climático da Penn State University e um crítico aberto da geoengenharia, apresentou uma visão um pouco mais sombria das recomendações da Casa Branca. “Eu acredito ser perigoso considerar grandes intervenções planetárias com um sistema que não entendemos completamente”, ele disse ao Gizmodo. “As consequências não planejadas são perigosas”. “A única exceção possível é a captura direta do ar, uma forma relativamente benigna de geoengenharia”, Mann continua. “Quanto aos outros esquemas, como a injeção estratosférica de aerossol de sulfato, a única razão para estudarmos eles agora, do meu ponto de vista, é para entender melhor os perigos que podem resultar ao implementarmos tais esquemas”. Os que temem que a geoengenharia poderia sair do controle podem ficar seguros com o fato que a administração de Trump e o Congresso decidiram ignorar as últimas recomendações de políticas científicas de Obama. Apesar de em linhas gerais, isso não ser um pensamento muito reconfortante. Maddie Stone/Gizmodo

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Olimpíadas Rio 2016

Olimpíadas, poluição tortura e misogenia Além de problemas nacionais, como a crise política, o jornal britânico da BBC cita o “cheiro de excremento” da Baía da Guanabara, a morte de trabalhadores nas construções olímpicas, a queda de parte da ciclovia Tim Maia e “declarações a favor da tortura, da misoginia e da ditadura militar feitas pelo político mais votado da cidade, Jair Bolsonaro”. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Meio Ambiente: Promessas irreais e falhas condenam Baía de Guanabara à poluição

Às vésperas das Olimpíadas, livro resgata histórico de falhas de programas de despoluição da Baía de Guanabara, cartão postal do Rio de Janeiro e palco da disputa de vela nos Jogos. Esgoto é o maior problema. O roteiro das mais de duas décadas de trabalho para despoluir a Baía de Guanabara, local de competições olímpicas no Rio de Janeiro e Patrimônio Mundial da Humanidade, passa por promessas fantásticas, execução falha, licitações duvidosas e inúmeros adiamentos. É o que conta o livro Baía de Guanabara – Descaso e Resistência, idealizado pela Fundação Heinrich Böll e assinado por Emanuel Alencar, lançado nesta quinta-feira (23/06). O último compromisso irreal foi assumido diante do público internacional. Quando o Rio de Janeiro se candidatou como sede dos Jogos Olímpicos, em 2007, a promessa era reduzir em 80% o esgoto e lixo despejados na baía até 2016. Chegado o ano das Olimpíadas, estima-se que menos de 40% do esgoto seja tratado.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A meta foi abandonada publicamente pelo governo estadual, que culpou a falta de planejamento comum entre os vários gestores da baía pelo insucesso. Atualmente, não existe prazo fixado para que os números prometidos em 2007 sejam alcançados. “Alguns erros não poderiam mais ser cometidos 22 anos depois do início do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara. No entanto, continuam acontecendo”, diz Emanuel Alencar, fazendo referência ao primeiro programa de limpeza da baía que obteve financiamento internacional, em 1993. Dentre os equívocos, Alencar cita “os atrasos incríveis de cronograma, obras com pouquíssima transparência ou controle social, falta de acompanhamento e de pressão de órgãos controladores, como o Ministério Público e agência reguladora de saneamento”. Um dos casos mais emblemáticos é a construção da Unidade de Tratamento de Rio Irajá. Nesse processo, em vez de tanques com substâncias químicas, a água é tratada na calha do rio – o máximo de carga orgânica é retirada por meio de flotação. O projeto previa que unidade do rio Irajá entrasse em operação em 2013, mas nada funciona até hoje. “Foram gastos 40 milhões e ela está lá, parada já há dois anos, porque ninguém sabe quem vai operar. A prefeitura não quer, o estado diz que não tem dinheiro. É inacreditável”, lamenta Alencar. Poluição e descaso a um ano das Olimpíadas Histórico problemático Os problemas para gerir os recursos destinados ao saneamento básico do entorno da baía vêm de longe. No início da década de 1990, enquanto o governo do Rio de Janeiro ainda se organizava para pedir o primeiro financiamento internacional voltado para a limpeza da área, empresas já se articulavam nos bastidores em busca de vantagens. Em 1993, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) anunciou que liberaria US$ 350 milhões para Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG). Mas fez uma exigência: o governo estadual, diante do seu limitado quadro de especialistas, teria que contratar uma empresa para gerir os recursos do programa. O processo, segundo as leis brasileiras, exigia a abertura de uma licitação, e a empresa vencedora receberia US$ 5 milhões pelo trabalho. Foi então que Manuel Sanches, coordenador do grupo do governo do estado que idealizou o programa, recebeu um pedido especial. Funcionários do governador Leonel Brizola queriam dispensa da licitação em favor da Promon Engenharia. O episódio de tentativa de favorecimento foi narrado por Sanches no livro. Depois de ouvir o pedido, ele explicou que não poderia fazer o contrato com a empresa abrindo mão da licitação. “A empresa teria todo o controle dos recursos do programa. Não era cabível fazer um contrato sem licitação: era irregular tanto do ponto de vista da legislação do estado como da legislação internacional dos bancos que estavam financiando”, contou em entrevista à DW Brasil. No dia seguinte ao pedido, 13 de abril de 1993, soube pelos jornais que seria exonerado. A recusa em favorecer a empresa havia lhe custado o cargo público. Edição do jornal O Globo de 13/04/1993 traz exoneração de Sanches na capa Consultada pela DW Brasil, a Promon Engenharia preferiu não comentar o caso. A empresa, que em 2015 passou a ser investigada pela Operação Lava Jato, continuou participando de obras públicas e participou, inclusive, do projeto para o atual Parque Olímpico. Limpeza e transparência insuficientes O PDBG, que deveria ter sido concluído em 1999, foi encerrado apenas em 2006 e classificado como “pouco efetivo” e “insatisfatório” pelo próprio BID. O banco de fomento japonês, que cofinanciou o programa, chegou organizar uma moção de repúdio ao governo do Rio de Janeiro pelo “total fiasco do PDGB”, mas foi contido pelo BID. Depois de consumir cerca de US$ 1,2 bilhão em valores atuais, o programa não conseguiu sanear sequer uma das sub-bacias da baía. Algumas estações de tratamento de esgoto foram construídas, mas extensos trechos de redes coletoras seguem inexistentes. Resultado: a baía de Guanabara ainda recebe 18 mil litros por segundo de esgoto in natura de 15 municípios do entorno. Diante dos atrasos, o Ministério Público entrou com uma ação contra o governo. Nela, a promotora Rosani Cunha pedia a apresentação de um cronograma com prazo de execução não superior a dois anos de todas as obras contempladas no PDGB sob multa diária de R$ 10 mil. Mas o juiz que analisou o caso optou pelo arquivamento do processo o que mostra, na visão de Alencar, que a Justiça também “jogou contra”. Depois do PDBG, foi criado como sucessor o Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (PSAM). Questionada sobre a falha em atingir as metas, a Secretaria de Estado do Ambiente não respondeu às solicitações da DW Brasil. A poluição industrial A área da baía de Guanabara, com 337 km2 de espelho d’água e 143 rios e córregos, é ocupada por cerca de 9 milhões de habitantes e 1400 indústrias – 700 delas do setor petrolífero, o que traz também resíduos industriais. A despoluição deixou de ter prioridade. “A baía está cheia, iluminada, parece um estacionamento de centenas de embarcações e plataformas que vêm pra manutenção”, comenta Dawid Bartelt,

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Meio Ambiente e Poluição: Microplásticos estão virando o “fast food” dos peixes

Fast food marinho: larva que ingeriu microplástico referente a artigo publicado na revista Science. Fotografia de: Oona M. Lönnstedt e Peter Eklöv Vanessa Barbosa A poluição por lixo plástico nos oceanos vem ganhando contornos cada vez mais sombrios. Agora, os pesquisadores descobriram que as micropartículas de plástico, filamentos com menos de cinco milímetros, parecem ter um efeito “fast food” sobre os peixes. Na pesquisa, os cientistas identificaram uma espécie que pode realmente tornar-se viciada em comer microplásticos ao confundi-los com um alimento nutritivo. O estudo completo, publicado na revista Science e liderado por pesquisadores da Universidade de Uppsala, na Suécia, é um dos primeiros a avaliar os impactos sobre a vida marinha desse material, bastante comum em produtos esfoliantes e outros cosméticos. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Realizada no mar Báltico, na Europa, onde existem altas concentrações de micropartículas de polietileno, a pesquisa descobriu que os espécimes mais jovens, em fase de crescimento, são os mais vulneráveis ao “pseudoalimento” indigesto. É como se eles fossem iludidos ao julgar que se trata de um recurso de alta energia que eles precisam comer aos montes. Naturalmente, esse tipo de dieta é um convite ao desastre: segundo a pesquisa, os peixes em águas com maior presença de plástico são fisicamente menores do que o grupo de controle de águas limpas, além de serem mais lentos e mais “burros”, demorando para fugir de predadores potenciais. Para agravar, os pesquisadores notaram que, não raro, os peixes optavam por comer microplástico mesmo quando opções naturais, como o planctôn, estavam prontamente disponíveis. O estudo alerta que, apesar de muitos contaminantes químicos serem conhecidos da Ciência, pouco se sabe sobre seus impactos ecológicos. “Os mecanismos pelos quais os microplásticos podem afetar embriões e larvas de organismos aquáticos, que são particularmente vulneráveis aos poluentes, são especialmente obscuros”, observam os pesquisadores. O aumento da utilização de plásticos é de tal forma significativo que, em 2050, os oceanos terão mais detritos desse material do que peixes, alertou um estudo recente da fundação da reconhecida velejadora britânica Ellen MacArthur, em parceria com a consultora McKinsey. No final, a poluição marinha por plástico expõe não apenas os animais marinhos e seus ecossistemas, como nós, humanos. Uma pesquisa divulgada em outubro passado mostrou que nada menos do que um quarto dos peixes vendidos nos mercados na Califórnia e na Indonésia contém, em suas entranhas, detritos plásticos. Pois é, o mundo dá voltas.

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