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A PhD catadora de lixo que revolucionou coleta e reciclagem de lixo

Uma mulher de 81 anos que organizou uma equipe feminina de coletoras de lixo em sua cidade no Líbano agora vive ouvindo perguntas sobre como fez isso. O acúmulo de lixo e a falta de aterros sanitários são um sério problema no país. Durante nove meses em 2015 e 2016, pilhas de lixo foram espalhadas pelas ruas da capital, Beirute, e até hoje a solução tem sido jogar parte do lixo no mar. Zeinab Mokalled provou que, quando o governo falha, iniciativas locais no estilo “faça você mesmo” podem funcionar. “Havia sujeira por todo canto e as crianças estavam imundas”, diz. Ela está relembrando os anos 1980 e 1990, quando Israel ocupou parte do sul do país, por 15 anos, e o recolhimento de resíduos foi interrompido em sua cidade, Arabsalim. Com o passar dos anos, o lixo foi se acumulando e Mokalled foi pedir ajuda ao governador da região. “Por que você se importa? Não somos Paris”, respondeu ele. “Eu soube naquele dia que eu tinha que fazer algo eu mesma.” Mokalled chamou as mulheres de seu vilarejo para ajudar – em parte porque queria empoderá-las e também porque acreditava que elas fariam um trabalho melhor. Khadija Farhat comprou um caminhão para coletar itens recicláveis Além disso, organizar a reciclagem doméstica e colocar o lixo para fora eram tarefas que já vinham sendo realizadas por mulheres. Mokalled precisava, então, de voluntárias para bater de porta em porta e falar sobre a iniciativa – e colocar homens para fazer isso em uma comunidade libanesa muçulmana em meados dos anos 1990 não seria apropriado. Elas não tinham equipamentos nem infraestrutura. Então por onde começar? Uma amiga de Mokalled, Khadija Farhat, comprou um pequeno caminhão com dinheiro de seu próprio bolso. Mokalled ofereceu seu próprio jardim como depósito de lixo reciclável. Não parecia provável que os 10 mil moradores da cidade pagariam para ter seu lixo coletado, então as voluntárias resolveram arcar com esse custo. E 19 anos depois, elas continuam fazendo o mesmo – cada uma dos 46 membros da equipe paga cerca de US$ 40 (R$ 130) por ano. “A reciclagem caseira era a melhor solução”, diz Mokalled, que chamou a organização de “Chamado da Terra”. Elas começaram reciclando vidro, papel e plástico. Recentemente, começaram a coletar lixo eletrônico e contrataram um pesquisador para descobrir a melhor forma de fazer compostagem nas condições secas e quentes do sul do Líbano. A única ajuda que as catadoras de lixo receberam das autoridades locais, após três anos de trabalho, foram 300 cestas de plástico e um terreno de presente, o que permitiu que Mokalled recuperasse seu jardim. Ao mesmo tempo, elas começaram a alugar um pequeno caminhão além do de Farhat, e contrataram um motorista homem – apesar de sempre acompanhá-lo para garantir que ele não se aproxime de mulheres sozinho. Depois de 10 anos, elas ganharam uma doação da embaixada italiana para construir um depósito, que é onde Mokalled agora recebe visitantes – crianças, estudantes e ativistas – que vêm estudar como o Chamado da Terra funciona. Os problemas relacionados a lixo aumentaram no país desde o fechamento do principal aterro de Beirute em 2015, o que levou à concentração de resíduos na cidade e na área no entorno do Monte Líbano. Um “rio de lixo” em Beirute antes de sua remoção para um aterro em março de 2016 – Direito de imagem GETTY IMAGES As tentativas de encontrar um novo local para despejar o lixo da cidade foram infrutíferas. Nenhum dos grupos étnicos que tradicionalmente disputam o poder no país – cristãos, sunitas ou xiitas – quis receber o aterro. O governo, então, anunciou que exportaria o lixo – mas reverteu a decisão meses depois. O lixo, no entanto, tinha que ir para algum lugar, e acabou sendo despejado perto do aeroporto. Só que isso atraiu bandos de gaivotas, que viraram um perigo para os aviões. Iniciativas de matar as gaivotas a tiros provocaram ondas de protesto, então foram usadas máquinas para tocar música alta e assustá-las. Uma decisão da Justiça exigiu o fechamento do local, mesmo assim, as gaivotas continuam circulando sobre a área. Para piorar, um antigo aterro sanitário foi reaberto. Além de trazer novos resíduos, caminhões estão levando lixo velho – em parte, contaminado por químicos – e jogando o entulho no mar Mediterrâneo. Caminhões transportam lixo antigo até o mar Mediterrâneo A longo prazo, o governo diz que quer queimar o lixo e gerar eletricidade a partir dele. Mas críticos temem que eles não lidem com a questão direito e que os plásticos e outros materiais capazes de criar fumaça tóxica sejam queimados junto a resíduos orgânicos limpos. Por isso, talvez não seja tão surpreendente que o simples esquema de reciclagem pela comunidade, bolado por Zeinab Mokalled, atraia tanta atenção. As mulheres do vilarejo vizinho de Kaffaremen recentemente começaram sua própria iniciativa, que é parecida com a de Mokalled, a única diferença é que é mantida pelo dinheiro dos moradores, não das voluntárias. Outra cidade próxima, Jaarjoua, também decidiu seguir o mesmo modelo. “Quando olho para elas, é como olhar para nós mesmas há 20 anos”, diz Mokalled. Quando criança, ela dava aulas de literatura árabe para algumas das voluntárias de Kaffaremen. Agora, ela é sua mentora em questões ambientais. “Vocês vão enfrentar muitos desafios, mas é tudo uma questão de paciência e determinação”, diz a elas. Wafaa, uma das ex-alunas de Mokalled, aperta com firmeza sua mão e diz: “Ela é um exemplo para mim. Ela nunca desistiu”. Além de garantir que Arabsalim esteja limpa, Mokalled ainda arranjou tempo para fazer um doutorado em Estudos Árabes, conquistado quando tinha 70 anos. Um aterro temporário chamado Costa Brava, bem ao lado do mar no aeroporto de Beirute Do que ela mais se orgulha? “Plantar a ideia na cabeça das pessoas de que cuidar do planeta é nossa responsabilidade nesta parte do mundo. Se o fizermos ou não, os políticos não vão se importar. Depende de nós. Se todos fizessem o que fizemos em Arabsalim, o Líbano não

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Empresas buscam imagem ecologicamente correta, mas consomem muita energia

As máquinas de Jeff Rotshchild no Facebook tinham um problema que ele sabia que precisava ser resolvido imediatamente. Estavam a ponto de derreter. Segurança observa servidores em central de processamento de dados em Las Vegas A companhia ocupava um imóvel alugado em Santa Clara, um galpão de 18 por 12 metros, com fileiras de servidores necessários para armazenar e processar as informações sobre as contas de seus membros. A eletricidade que fluía para os computadores estava causando o derretimento de portas de rede e outros componentes cruciais. Pensando rápido, Rotshchild, o diretor de engenharia da companhia, enviou seus subordinados em uma expedição para comprar todos os ventiladores que pudessem. “Nós esgotamos o estoque de todas as lojas Walgreens da área”, ele disse – para soprar ar frio na direção do equipamento e impedir que o site caísse. Isso aconteceu no começo de 2006, quando o Facebook tinha modestos 10 milhões de usuários e seus servidores estavam instalados em um só local. Hoje, as informações geradas por mais 1,5 bilhão de pessoas exigem versões maiores dessas instalações, chamadas centrais de dados – Data Centers – , com fileiras e mais fileiras de servidores, espalhadas por áreas de dezenas de milhares de metros quadrados, e tudo com sistemas industriais de refrigeração. E esses servidores representam apenas uma fração das dezenas de milhares de centrais de processamento de dados que hoje existem para sustentar a explosão generalizada da informação digital. Volumes imensos de dados são movimentados a cada dia, sempre que as pessoas usam o mouse ou suas telas sensíveis ao toque para baixar filmes ou música, verificar os saldos em seus cartões de crédito no site da Visa, enviar e-mails com arquivos anexados via Yahoo!, adquirir produtos na Amazon, postar no Twitter ou ler jornais on-line. Um estudo conduzido pelo “New York Times” ao longo dos últimos 12 meses revelou que essa fundação da indústria da informação contrasta fortemente com a imagem de esguia eficiência e postura ecologicamente correta que o setor tenta apresentar. A maioria das centrais de processamento de dados consome vastos montantes de energia, deliberadamente e de maneira perdulária, de acordo com entrevistas e documentos. As companhias de internet operam suas instalações em capacidade máxima, 24 horas por dia, não importa qual seja a demanda. Como resultado, as centrais de processamento de dados podem desperdiçar 90% ou mais da eletricidade que recebem da rede, de acordo com o estudo. Para se protegerem contra quedas de energia, elas dependem, também, de conjuntos de geradores a diesel, causadores de emissões. A poluição gerada pelas centrais de processamento de dados viola a regulamentação de ar limpo norte-americana, de acordo com documentos oficiais. No Vale do Silício, muitas das centrais de processamento de dados constam do Inventário de Contaminantes Tóxicos do Ar, um documento governamental que lista os principais causadores de poluição em função do uso de diesel, na região. No restante do mundo, esses armazéns de informação digital utilizam cerca de 30 bilhões de watts de eletricidade, mais ou menos o equivalente a 30 usinas nucleares, de acordo com estimativas compiladas para o estudo por especialistas setoriais. As centrais de processamento de dados norte-americanas respondem por entre um quarto e um terço dessa carga, de acordo com as estimativas. “A dimensão desses números é espantosa para a maioria das pessoas, mesmo profissionais do setor. O tamanho assusta”, diz Peter Gross, que ajudou a projetar centenas de centrais de processamento de dados. “Uma central de processamento de dados pode consumir mais energia que uma cidade de tamanho médio.” A eficiência energética varia amplamente de empresa para empresa. Mas, a pedido do “New York Times”, a consultoria McKinsey analisou o uso de energia pelas centrais de processamento de dados e constatou que, em média, elas empregavam na realização de computações apenas entre 6% e 12% da eletricidade que seus servidores recebem. O restante da energia é usado essencialmente para manter ligados servidores ociosos, em caso de um pico de atividade que possa desacelerar as operações do sistema ou causar quedas. Um servidor é uma espécie de computador desktop bem reforçado, sem tela ou teclado, com chips para processar dados. O estudo examinou como amostra 20 mil servidores instalados em 70 grandes centrais de processamento de dados, em ampla gama de organizações: companhias farmacêuticas, fabricantes de equipamento bélico, bancos, empresas de mídia e agências do governo. “Esse é o segredinho sujo do setor, e ninguém quer ser o primeiro a admitir culpa”, disse um importante executivo do setor que pediu que seu nome não fosse revelado, a fim de proteger a reputação de sua empresa. “Se fôssemos um setor industrial, estaríamos rapidamente fora do negócio”, afirmou. As realidades físicas do processamento de dados ficam bem distantes da mitologia da internet, onde as vidas são vividas em um mundo “virtual” e a memória fica armazenada “na nuvem”. O uso ineficiente de energia é propelido em larga medida pelo relacionamento simbiótico entre os usuários que exigem resposta imediata ao clicar o mouse e as empresas que correm o risco de quebra caso não cumpram essas expectativas. Nem mesmo o uso intensivo de eletricidade da rede parece suficiente para satisfazer o setor. Alem dos geradores, a maior parte das centrais de processamento de dados abriga bancadas de imensos volantes de inércia ou milhares de baterias elétricas –muitas das quais parecidas com as dos automóveis– a fim manter os computadores em ação em caso de queda da rede elétrica nem que por apenas alguns milésimos de segundo, já que uma interrupção dessa ordem poderia bastar para derrubar os servidores. “É um desperdício”, diz Dennis Symanski, pesquisador sênior no Instituto de Pesquisa da Energia Elétrica, uma organização setorial de pesquisa sem fins lucrativos. “É ter número exagerado de apólices de seguro.” Pelo menos uma dúzia de grandes centrais de processamento de dados foram autuadas por violações dos códigos de qualidade do ar só nos Estados da Virgínia e Illinois, de acordo com registros dos governos estaduais. A Amazon foi autuada por mais de 24 violações em um período de três

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Ambiente e Poluição: Corais em extinção?

Grande Barreira de Coral sofre danos sem precedentes, afirmam cientistas Área danificada atinge 1.500 quilômetros, equivalente a dois terços; pesquisadores dizem que corais danificados por dois anos seguidos de branqueamento têm chances mínimas de recuperação. Cerca de 1.500 quilômetros da Grande Barreira de Coral australiana – o equivalente a dois terços – estão danificados após dois anos seguidos de branqueamento, disseram cientistas australianos nesta segunda-feira (10/04). No mês passado, os cientistas disseram que haviam detectado um intenso processo de branqueamento também em 2017, após uma ocorrência semelhante no ano anterior. A causa do fenômeno seria a elevação acima da média das temperaturas das águas do oceano. “O impacto combinado desse branqueamento consecutivo se estende ao longo de 1.500 quilômetros, deixando apenas um terço situado ao sul ileso”, afirmou o diretor do Centro de Estudos de Corais da Universidade James Cook, Terry Hugues. Fenômenos similares aconteceram em 1998 e 2002. Em 2016, o branqueamento causado por um aumento acima da média nas temperaturas das águas, combinado com os efeitos do fenômeno meteorológico El Niño, afetou sobretudo a parte norte da Grande Barreira de Coral. Este ano, principalmente a parte central está sendo afetada. “Em 2017 estamos vendo um branqueamento intenso, mesmo sem a ajuda do El Niño”, disse Hughes. Deterioração da Grande Barreira de Coral começou na década de 1990, causada pelo aquecimento da água do mar e  pelo aumento da acidez pela maior presença de CO2 na atmosfera “Os corais descoloridos não são necessariamente corais mortos, mas, na região central, severamente afetada, antecipamos que se registraram altos níveis de perda de corais”, afirmou o cientista James Kerry, que também participou dos estudos. Segundo ele, os corais demoram cerca de uma década para se recuperar completamente. “Branqueamentos intensos com 12 meses de intervalo oferecem uma perspectiva nula de recuperação para os corais danificados em 2016.” A passagem do ciclone tropical Debbie, que atingiu o nordeste australiano no final de março, causou danos ainda maiores aos corais. “Provavelmente, qualquer efeito de arrefecimento relacionado com o ciclone será insignificante em relação ao dano que ele causou, já que infelizmente atingiu uma parte do recife que havia escapado à pior parte do branqueamento”, disse Kerry. A deterioração da Grande Barreira de Coral começou na década de 1990, ocasionada pelo duplo impacto do aquecimento da água do mar e do aumento da acidez gerado pela maior presença de dióxido de carbono na atmosfera. Declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco, a Grande Barreira de Coral abriga cerca de 400 tipos de corais, 1.500 espécies de peixes e quatro mil variedades de moluscos. Deutsche Welle/RC/afp/lusa

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Tragédia de Mariana: Trama sinistra para nova barragem

Subsecretária Ambiental pede licença e assina com mineradora para aprovar barragem maior em Mariana Cena de destruição após o rompimento de barragem operada pela Samarco em Bento Rodrigues em 2015. Foto: Christophe Simon/AFP/Getty Images Em março de 2015, uma funcionária pública do órgão que fiscaliza barragens em Minas Gerais tirou uma licença de dois anos para “tratar de interesses pessoais”. Vinte dias depois, ela assinou um documento, entregue ao Ibama, como gerente de licenciamento da mineradora Anglo American, no processo de aprovação da ampliação de uma barragem de rejeitos sete vezes maior do que a que rompeu em Mariana e causou o maior desastre ambiental do país. Na última sexta, uma câmara técnica aprovou a licença prévia para que o conglomerado estrangeiro expanda a mina na cidade de Conceição do Mato Dentro. Contratada pela gigante britânica, Aline Faria Souza Trindade comandou o processo de licenciamento da atual etapa do projeto de minério de ferro Minas-Rio, que tem como um dos principais empreendimentos a megabarragem. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente, que controla a Fundação Estadual do Meio Ambiente – o órgão que fiscaliza barragens e do qual a funcionária está licenciada sem remuneração –, disse em nota não ver “nenhuma ilegalidade” no trabalho da servidora na iniciativa privada. Aline pediu licença do emprego público, foi para a mineradora encaminhar a aprovação do projeto e ajudar a redigir documentos, e ainda tem a garantia de voltar ao mesmo emprego público de antes – e encontrar os processos que ela mesma ajudou a escrever, agora do outro lado do balcão. “Nenhuma ilegalidade”, garante a lei. A servidora concursada é influente na Secretaria de Meio Ambiente de Minas. Ela passou por cargos comissionados importantes: já foi chefe de gabinete; vice-presidente da Fundação da qual se licenciou, de 2012 até dezembro de 2013; e subsecretária de Gestão e Regularização Ambiental Integrada de 2014 até março de 2015. Na reunião em que foi aprovada a licença prévia para ampliar a barragem, os técnicos que representam o governo defenderam veementemente a obra, apesar de o Ministério Público Estadual, a Procuradoria da República, moradores de Conceição do Mato Dentro e especialistas de três universidades (UFMG, UFJF e UERJ) serem contrários à expansão da mina devido aos impactos sociais e ambientais. “Interesses particulares” De acordo com a legislação estadual mineira, o servidor pode licenciar-se em seis situações: para tratar de interesses particulares; para acompanhar cônjuge, também servidor público, que esteja servindo em outro município, estado ou país; licença maternidade ou paternidade; para tratamento de saúde; ou para cuidar de algum familiar com problema de saúde. A legislação não especifica, no entanto, o que configura “interesse particular”. A licença para ocupar um cargo no setor privado não é ilegal, mas o Código de Ética do Servidor Público faz algumas ressalvas: “É vedado ao agente público participar de qualquer outra atividade que possa significar conflito de interesse em relação à atividade pública que exerce; utilizar-se de cargo, emprego ou função, de facilidades, amizades, posição e influências para obter favorecimento para si ou para outrem; usar informações privilegiadas obtidas em âmbito interno de seu serviço, em benefício próprio, de parentes, amigos ou terceiros”. Em nota, a Secretaria de Meio Ambiente alegou que não há nenhuma ilegalidade no fato de Aline exercer atividades na iniciativa privada durante o período de licença: “Aline Faria Souza Trindade é servidora de carreira, com o cargo de analista ambiental da Fundação Estadual do Meio Ambiente. A licença para tratar de interesses pessoais é regida pelos artigos 179 a 184 da Lei Estadual nº 869/1952 e, para sua concessão, o servidor deve ter 2 anos de efetivo exercício e não estar obrigado a indenizar ou devolver valores aos cofres públicos. A referida licença obedeceu a esses critérios”. Já a Anglo American justificou que a legislação brasileira permite que qualquer funcionário público licenciado exerça atividades de natureza privada, inclusive assalariada. “Cumprimos rigorosamente as leis vigentes no país”, acrescentou. Antecessor passou pelo governo Antes de Aline, quem ocupava o cargo de gerente de licenciamento na Anglo American era Daniel Medeiros de Souza. De acordo com o currículo divulgado em uma rede social, Daniel foi assessor jurídico (2004 a 2005), diretor de normas (2009 a 2011) e superintendente de regularização ambiental (2011 a 2012) da Secretaria de Meio Ambiente. Em 2012, entrou para a empresa e passou a ser responsável pelo licenciamento ambiental da mina em Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas. Sob a sua gestão, a Anglo conseguiu a licença de operação da mina, ou seja, a autorização para a mineradora começar a exploração no local.  Diferentemente de Aline, no entanto, Daniel pediu exoneração no Estado para assumir a vaga no setor privado. O mineroduto da Anglo American que liga o interior de Minas Gerais ao porto do Açu, no Norte do estado do Rio de Janeiro, funciona há três anos e é o maior do mundo. A expectativa da Anglo com a expansão da mina é aumentar ainda mais a capacidade: dos atuais 17 milhões para 26,5 milhões de toneladas por ano. Estão previstos investimentos de R$ 1 bilhão para que a barragem de rejeitos passe  a comportar cerca de 229 milhões de metros cúbicos de água e de restos do processo de mineração. A intenção da Anglo, no entanto, é não parar por aí. A ideia é, numa fase posterior do projeto Minas-Rio, atingir a capacidade máxima da barragem de 370 milhões de metros cúbicos. A título de comparação, a barragem de Fundão, que rompeu causando o desastre de Mariana em 2015, tinha 55 milhões de metros cúbicos. Ou seja, isso significa que a nova barragem será, no mínimo, quatro vezes maior — podendo chegar a ser até sete vezes maior. Conceição fica a aproximadamente 300 km de Mariana, e o rio Santo Antônio, que nasce no município, é um dos principais a desaguar no rio Doce, que foi imerso pela lama da barragem de rejeitos de Mariana. Moradores sem fala Cento e quarenta pessoas acompanharam a reunião da Câmara Técnica de Atividades Minerárias, entre elas funcionários da Anglo American e da empresa

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Lixo Nuclear: Um Problemão

A difícil busca pelo depósito definitivo de lixo nuclear Há mais de seis décadas, usinas nucleares em todo o mundo geram resíduos radioativos, e nunca se encontrou uma solução para o armazenamento final – por milhões de anos.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Em 2016 entraram em funcionamento dez reatores nucleares em todo o mundo, além de outros dois no primeiro semestre de 2017, segundo o relatório World Nuclear Industry Status Report, publicado na sexta-feira passada (08/09). Seis dessas novas usinas estão localizadas na China, que passou ao terceiro lugar entre as cinco maiores potências geradoras de energia atômica, depois dos Estados Unidos e da França. Juntas, as cinco grandes produtoras geram 70% desse tipo de energia no mundo, cabendo a metade aos EUA e França. Uma vez que, nesse mesmo período, apenas quatro reatores foram desativados, torna-se ainda mais premente a decisão de o que fazer com os resíduos radioativos – uma questão que ainda não foi devidamente respondida. Oposição da população alemã Em setembro de 2017, a Alemanha começará a procura por um local definitivo para armazenar seu lixo atômico. Uma comissão especial está encarregada de rastrear o país em busca de um sítio geológico apropriado à construção de um depósito profundo. Nele ficará enterrado, de uma vez por todas, o legado de décadas de produção de energia nuclear. O governo alemão espera encontrar esse local até o ano de 2031. No entanto, críticos estão céticos de que o prazo seja viável. Há questões técnicas complexas, por exemplo se argila, granito ou sal oferecem a melhor proteção contra vazamento ou contaminação. O sítio deve fornecer segurança por 1 milhão de anos, portanto os cientistas querem estar certos de que ele resistirá a ocorrências como eventuais eras glaciais. O maior desafio, contudo, será persuadir as comunidades a aceitar um depósito de lixo atômico “no seu quintal”. No fim dos anos 1970, por exemplo, a Alemanha Ocidental decidiu testar uma mina de sal em Gorleben, na Baixa Saxônia, como possível depósito definitivo: seguiu-se uma batalha de décadas, com os moradores locais protestando veementemente contra o projeto. Os opositores argumentavam que a área pouco populosa e próxima à fronteira com a antiga Alemanha comunista, teria sido escolhida por motivos políticos, e não científicos. Levantaram-se também objeções técnicas. O especialista americano em assuntos nucleares Robert Alvarez destaca que a Alemanha ao menos dispõe de um conjunto de critérios científicos para selecionar um sítio que seja geologicamente estável e preserve os contêineres da oxidação e consequente corrosão. Em comparação com o governo dos EUA, Berlim “tem prestado mais atenção aos geólogos e aos especialistas em segurança nuclear”. Protesto em Berlim contra depósito temporário de Gorleben Segurança questionável nos EUA Nos EUA, o presidente Donald Trump tomou iniciativas para reiniciar as obras num depósito na Montanha Yucca, antigo local de testes de armas nucleares no remoto deserto de Nevada. Segundo Alvarez, a escolha do sítio, ocorrida antes da eleição de 1988, foi resultado de uma jogada política do Congresso, que descartou um estudo sobre possíveis locações por todo o país. “As pessoas ficaram loucas, e isso assustou os políticos que concorriam na eleição. Então, em 1987, quando o processo estava se desenrolando, o Congresso simplesmente mudou a lei e disse: ‘Vamos colocar o depósito em Yucca, vocês todos estão fora de perigo’.” O pesquisador sublinha que o local já estava contaminado pelos testes nucleares, e que na época Nevada só dispunha de quatro votos no colégio eleitoral que escolhe o presidente. No entanto as condições geológicas na montanha estão longe de ser ideais, exigindo ventilação em grande escala por pelo menos cem anos a fim de manter baixa a temperatura dos resíduos. “Há um monte de baboseira sobre Yucca ser o melhor local”, afirma Alvarez. Melhor seria um sítio granítico, como os que estão sendo explorados na Finlândia e na Noruega. “Temos uma grande extensão de solo de granito em nosso país, mas fica em áreas populosas”, observa o especialista. Tonéis contendo lixo atômico em Morsleben, Alemanha, ilustram problema ainda em aberto Obstáculos em aberto na Europa A Finlândia ocupa as manchetes internacionais com o que se tem saudado como o primeiro depósito nuclear permanente de longo prazo do mundo, a 400 metros de profundidade no leito granítico do litoral oeste. Segundo Alvarez, os países escandinavos estão se afirmando como a vanguarda no setor. Ainda assim, não há garantias de que os depósitos de granito profundos continuarão seguros daqui a centenas de anos, como pretendem os finlandeses. “Para dizer o mínimo, essa afirmativa contém fortes elementos de especulação. Como prever como estará o mundo daqui a cem anos?”, objeta o cientista. Outros países enfrentam dificuldades ainda maiores. “O problema na Finlândia e na Suécia é muito simples”, diz Andy Blowers, do grupo independente de especialistas Nuclear Waste Advisory Associates. “Elas têm um tipo de geologia, e em grande quantidade, têm poucas usinas elétricas e, portanto, um volume definido de resíduos.” A França, que gera três quartos de sua energia de fontes termonucleares, planejava abrir em 2030 um depósito em Bure, no sul. No entanto, assim como no caso da montanha Yucca, o local apresenta uma série de problemas técnicos e de segurança, e ativistas vêm protestando contra o projeto. No Reino Unido, os planos para um depósito definitivo próximo ao sítio de desmantelamento e reprocessamento nuclear foram cancelados, em seguida a consultas junto ao público e a autoridades científicas. Também devido à oposição do público, em meados deste ano o governo da Austrália abandonou seus planos de um depósito internacional, onde iria se armazenar lixo atômico de todo o mundo. Depósito geológico na Finlândia: solução final – ou não? Seco ou molhado? Assim, antes mesmo de a Finlândia começar a encher seu novo depósito, os resíduos acumulados pelo mundo em mais de seis décadas de energia nuclear estão basicamente esperando sobre o solo, em instalações temporárias. Com graus variáveis de segurança, essas instalações nunca foram pensadas para concentrar tanto lixo radioativo, nem por tanto tempo. Também neste ponto, Alvarez considera a posição da Alemanha melhor do que a de muitas outras nações: por um lado, ela tem utilizado contêineres que

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Carro elétrico não polui? Jura?

O conto do carro elétrico Ele polui bem menos que motores a diesel e gasolina, dizem defensores. É mesmo? Será que não esqueceram de incluir na conta a produção e reciclagem das enormes baterias, questiona o jornalista de economia Henrik Böhme.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Que malvados esses fabricantes de automóveis! Desde que a acusação de formação de cartel foi feita contra o setor, até então modelo, a malícia corre solta na direção de Wolfsburg, Stuttgart e Munique. O que é compreensível, pois a credibilidade das montadoras já andava cambaleante desde o chamado dieselgate. Elas próprias não dão um pio. Também isso é compreensível, pois as investigações das autoridades antitruste estão no início e o que vale, também neste caso, é a presunção da inocência. Além disso, uma palavra mal colocada pode custar milhões. É provável que, daqui a pouco, só advogados falarão. Henrik Böhme é jornalista da redação de economia da DW Já os inimigos dos automóveis e, em especial, dos motores de combustão estão em festa. Eles veem o seu maior inimigo, esse odiado poluidor movido a combustíveis fósseis, perto do fim. Pois é. Só que, no fundo, é a mesma história já vista no imbróglio da mudança da matriz energética alemã. Trata-se de um poço sem fundo bilionário. E tudo comandado pelo Estado, ou seja, subvencionado a altos custos. E, mesmo assim, fabricantes alemãs de células solares vão à falência, uma atrás da outra. Já as turbinas eólicas ninguém quer ter perto de casa, muito menos novas redes de distribuição de energia. A questão central é: de onde virá a energia quando todas as usinas nucleares estiverem desligadas na Alemanha? Na substituição dos motores a combustão pelos elétricos, a história se repete. Aqui, a questão é: se o motor de combustão for proibido, em que carro vamos andar? No carro elétrico, é óbvio!, diz o senso comum, sem refletir. E é aí que a porca torce o rabo. Ninguém sabe dizer se isso vai um dia funcionar, pois o balanço ambiental do carro elétrico é terrível. Só depois de oito anos de condução, um Mercedes Classe E alcança o impacto ambiental de um Tesla. Um motor de combustão que necessita de menos de seis litros de gasolina tem um impacto ambiental inferior a um bólido elétrico da Tesla. O motivo: as enormes baterias. Milhões e milhões de carros significam também: milhões e milhões de baterias. E isso, por sua vez, significa que matérias-primas como lítio e sobretudo cobalto serão necessárias. E de onde vem o cobalto? Em grande maioria do Congo, um país arrasado pela guerra civil e a corrupção. Sobretudo crianças retiram esse minério da terra, e elas trabalham em condições desumanas. Só que, sem o sujo cobalto do Congo, não há os limpos carros elétricos na Europa. E isso não é tudo. A fabricação das baterias libera venenos e partículas finas – e também toneladas de CO2. Quando chegam ao fim da vida útil, as baterias precisam ser recicladas. Do contrário são um dejeto perigoso. Talvez o carro elétrico seja apenas uma tecnologia intermediária. E quem sabe a célula de combustível não acabe virando o propulsor do futuro. Talvez, talvez. Hoje, porém, ninguém pode saber se um dia será assim. Nenhum especialista em carros, nenhum chefe de pesquisa e desenvolvimento de montadora. Ninguém pode dar uma resposta honesta a essa pergunta. Talvez seja necessário encarar a mudança energética no trânsito por um outro viés: mais bondes e ônibus elétricos nas cidades. Por que não eletrificar as autobahns e ligar caminhões e ônibus nas catenárias? Nenhuma novidade, pois tudo isso já existiu. O problema: quando se vê a maneira diletante como a Alemanha gerencia sua mudança da matriz energética, acabam-se as esperanças de que mudança no trânsito dê certo. E muito menos se os malvados da máfia das montadoras continuarem dando as cartas. Com dados DW

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Agricultura e pesticidas

As agriculturas do mundo e o negócio das sementes, fertilizantes e pesticidas. O percurso histórico de agravamento das desigualdades produtivas e da fome, no século XX, é coincidente com o da história das principais multinacionais.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Atualmente os discursos políticos e técnicos dominantes nas sociedades ocidentais condicionam brutalmente a opinião de qualquer cidadão sobre o que é hoje a agricultura no mundo. Propagam-se as ideias sobre os avanços tecnológicos da ciência e a sua facilidade de acesso: a mecanização, a comunicação, os processos de automatização, as ferramentas biotecnológicas, a obtenção de novas variedades, etc. A sociedade absorve a ideia de que a população mundial é suportada por uma espécie de agricultura industrializada. Esta ideia é falsa, mas é sobre ela que se desenham e promovem políticas que são aplicadas local e globalmente. A agricultura é muito diversa e bastante desigual. Esta situação é fácil de constatar, não apenas comparando países “desenvolvidos” com países pobres mas também dentro de cada país. Pensar e desenhar políticas agrícolas significa intervir sobre a vida de todos nós, mas em especial sobre a vida de uma grande fatia da população mundial que depende diretamente da agricultura enquanto atividade económica e de subsistência, cerca de 27% (FAO, 2010). Os dados da FAO relativos à população agrícola do ano 2010 mostram um globo onde a agricultura e a produção de alimentos andam a velocidades muito diferentes: 49% da população africana; 56% da África Central; 39% da Ásia; 47% da Ásia do sul; 16% da América Latina; 1,7% da América do Norte; 5,9% da Europa; 2% da Europa Central; 4,4% em Espanha; 10,3% em Portugal. Segundo Mazoyer e Roudart (2001), 80% dos agricultores em África e 40 a 60% na América Latina e Ásia apenas dispõem de utensílios manuais e, entre estes, só 15 a 30% têm tração animal. Referem os mesmos autores que a diferença de produtividade do trabalho entre a agricultura manual menos produtiva do mundo e a agricultura motorizada e mecanizada mais produtiva, no espaço de um século (o séc. XX), passou de 1:10 para 1:500. No caso dos cereais, afirmam que um trabalhador isolado, na melhor situação, consegue produzir 2.000 toneladas, enquanto que, na pior situação, uma família produz apenas 1 tonelada, no espaço de um ano. Estas duas realidades encontram-se hoje, frequentemente, separadas não por um oceano mas por um muro ou vedação. É sobre esta realidade desigual que se desenham acordos e políticas internacionais que interferem diretamente nas atividades agrícolas, mas é também neste quadro que atuam as diversas empresas multinacionais produtoras e distribuidoras de fatores de produção. Não por mero acaso, o percurso histórico de agravamento das desigualdades produtivas e da fome, no século XX, é coincidente com o da história das principais multinacionais que ainda hoje atuam no mercado mundial. Foi no decorrer dos anos 60 e 70 que todo o processo se acelerou, com o surgimento crescente de variedades híbridas, adubos e pesticidas, possibilitando o melhoramento da relação semente-fertilizante e consequentemente o grande aumento das produções. Este processo ficou historicamente conhecido por revolução verde. Nos países e regiões mais pobres, onde eram maiores os riscos de fome consequentes do aumento da população e da fraca capacidade produtiva dos sistemas agrários, as consequências foram desastrosas. A maioria dos novos saberes e tecnologias não chegaram aos agricultores locais e as poucas que chegaram retiraram-lhes a autonomia, criando dependências entre agricultores e empresas fornecedoras de fatores. Na história destas empresas abundam as situações fraudulentas que provocaram a destruição de recursos endógenos e criaram dependências dos seus negócios. Surgiram diferenciais de produtividade brutais com a entrada em funcionamento de unidades produtivas modernas, os preços dos alimentos caíram, muitos agricultores abandonaram a atividade, destruíram-se redes de distribuição locais e surgiram novas dependências alimentares que espalharam a fome e o desespero. Iniciou-se uma mudança de paradigma, passou a haver produção de alimentos suficiente para alimentar a população mas a fome agravou-se devido à impossibilidade de acesso aos alimentos. Todas as atuais principais empresas de produção e distribuição de sementes, adubos e pesticidas têm um histórico de atividade que iniciou antes ou durante a revolução verde e quase todas já tiveram reestruturações decorrentes da fusão com outras empresas. Há quase um século que atuam numa área de atividade onde o negócio é garantido e ainda não parou de crescer. Se analisarmos as suas histórias, facilmente constatamos que os seus negócios cresceram sem regras nem princípios, ao lado dos interesses financeiros e políticos das maiores potencias mundiais. Alguns fatos históricos sobre as principais empresas multinacionais que operam no mercado se sementes, pesticidas e adubos: Monsanto: Surge em 1901 com a produção de sacarina. Produz vários equipamentos para a 2ª guerra mundial; em 1945 entra no negócio dos pesticidas; em 1960 é uma das principais produtoras de agente laranja, herbicida com efeito desfolhante aplicado na guerra do Vietname e que provocou sequelas brutais nos soldados e na população local; em 1964 lança o primeiro herbicida seletivo pré-emergência para a cultura do milho. Syngenta: Surge apenas em 1999, mas resultou de uma fusão empresarial onde se destacava a Geigy, que se fundou em 1935 e produzia inseticidas; em 1974 entrou no negócio das sementes. Bayer: Surge em 1863 como produtora de corantes e mais tarde dedica-se à indústria farmacêutica. Prestou serviços à Alemanha de produção de equipamentos necessários às duas guerras mundiais; Em 1956, Fritz ter Meer, depois de sete anos de prisão consequentes de colaboração em ensaios em seres humanos e tráfego de escravos provenientes de um campo de concentração em Aushwitz, foi nomeado presidente do conselho de supervisão da Bayer. DuPont: Iniciou em 1802 com a produção de pólvora; Produziu equipamentos para as duas guerras mundiais; Em 1943 participa no Manhattan Project e no desenvolvimento de uma bomba nuclear; Entre 1997 e 1999 comprou absorveu a empresa Pioneer, uma das maiores empresas que atuava no mercado mundial de sementes (desde 1926), altura em que lançou o primeiro milho híbrido comercializado. Em 1960 lança o inseticida Lanate. Limagrain: Surge em 1942 com a

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Poluição – O petróleo é o único e maior vilão?

Qual é a indústria que mais polui o meio ambiente depois do setor do petróleo? Mesmo fibras naturais como o algodão tem forte impacto ambiental Direito de imagemTHINKSTOCK É fácil citar a indústria do petróleo como principal vilã da poluição. Mas poucos talvez saibam que o segundo lugar nesse ranking pertence à indústria da moda.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Se você veste calças ou malhas de poliéster, por exemplo, fique sabendo que a fibra sintética mais usada na indústria têxtil em todo o mundo não apenas requer, segundo especialistas, 70 milhões de barris de petróleo todos os anos, como demora mais de 200 anos para se decompor. A viscose, outra fibra artificial, mas feita de celulose, exige a derrubada de 70 milhões de árvores todos os anos. E, apesar de natural, o algodão é a uma fibra cujo cultivo é o que mais demanda o uso de substâncias tóxicas em seu cultivo no mundo – 24% de todos os inseticidas e 11% de todo os pesticidas, com óbvios impactos no solo e na água. Nem mesmo o algodão orgânico escapa: uma simples camiseta necessitou de mais de 2.700 litros de água para ser confeccionada. A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo Direito de imagemGETTY IMAGES Usar e jogar fora Mas talvez o maior dano causado pela indústria da moda seja a tendência da “moda rápida”, marcada especialmente pelos preços baixos. O consumo multiplica os problemas ambientais. O custo da “moda rápida” Uma peça de roupa que usamos menos de 5 vezes e jogamos fora após 1 mês produz mais 400% de emissões de carbono que uma usada 50 vezes e mantida por 1 año Fonte: HBS GETTY O chamado “segredo sujo” da moda deu origem a iniciativas que buscam uma maior responsabilidade ambiental. Na Argentina, a Industry of All Nations foi fundada como uma “empresa de design e desenvolvimento com o compromisso de repensar métodos de produção”. O objetivo é produzir “roupa limpa”. “Eu e meus irmãos nos demos conta de que, em um mundo tão grande, quase todos os produtos são feitos em dois ou três países asiáticos. E a única razão é porque é mais barato produzi-los lá”, explica Juan Diego Gerscovich, fundador da empresa familiar. “A IOAN, como diz o nome, existe para que voltemos à produção e aos produtores originais, para que voltássemos à fonte”. Os hermanos Gerscovich, que são argentinos e vivem Los Angeles, começaram produzindo sandálias, usando os serviços de uma fábrica há 120 anos no ramo. Sandálias já eram produzidas de modo quase sustentável, segundo empresários Direito de imagemINDUSTRY OF ALL NATIONS “Era uma empresa sustentável sem saber, pois as sandálias eram de juta e algodão. A empresa produzia um milhão de unidades. A única coisa que fizemos foi mudar as tiras, que eram de material sintético, para algodão”. Mas foi um segundo produto que soou o “alarme da contaminação”. Os irmãos queriam produzir jeans, mas abandonaram a ideia quando “se deram conta de que se te uma questão muito tóxica”. Decidiram resgatar o método tradicional de produção do tecido, com o uso de algodão orgânico e índigo – uma tintura obtida da planta Indigofera tinctoria. Gerscovich encontrou um pequeno vilarejo no sul da Índia, Auroville, onde levaram anos investigando como reviver a indústria local. “Era uma indústria muito importante e conectada à cultura indiana, mas a Revolução Industrial trouxe os corantes químicos, e a indústria do tecido natural desapareceu… era muito mais econômico e rápido com os métodos modernos.” Fabricação artesanal de tintura Direito de imagemINDUSTRY OF ALL NATIONS O processo natural requer ainda mais tempo e investimento, mas o empresário argentino diz que ele é muito menos agressivo para o meio ambiente. O desaparecimento da indústrias fez com que fosse necessário treinar tecelões, pois ninguém na comunidade sabia fazer jeans. Mais que um negócio A empresa depois se dedicou à produção de suéteres com lã de alpacas bolivianas. “E sem corantes”, ressalta Gersovich. Os suéteres de lã de alpaca vendidos pela empresa dos irmãos Gersovich não usam corantes Direito de imagemINDUSTRY OF ALL NATIONS “A cooperativa que produz os suéteres na Bolívia conhece nossa filosofia e montou um pequeno laboratório para começar a desenvolver tintas naturais.” A idea original dos irmãos Gerscovich é não apenas fazer a roupa, mas empoderar comunidades. “O mais importante é que, como seres humanos, mudemos de mentalidade: precisamos consumir menos”, diz o empresário. Corantes naturais Direito de imagemINDUSTRY OF ALL NATIONS A IOAN, assim como outras iniciativas do gênero, produzem suas peças em mais tempo e a um custo maior. Um par de jeans, por exemplo, custa US$ 170, valor bem superior ao de muitas marcas no varejo mundial. “Vamos reduzir custos à medida que as vendas cresçam. Mas jamais chegaremos aos níveis das grandes cadeias (de lojas de roupa). Seus preços são uma invenção. Estão desrespeitosos 100% com seus produtores.”

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Brasil – Meio ambiente na contra mão

Política ambiental do Brasil “está indo na direção errada”, diz Noruega Em entrevista para a DW Brasil, o ministro norueguês de Meio Ambiente, Vidar Helgesen, falou sobre a cooperação – e manifestou preocupação – com o Brasil às vésperas da visita oficial de Michel Temer ao país nórdico.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Num dos países considerados menos corruptos do globo, a preocupação com os rumos da política ambiental no Brasil é crescente. A Noruega é uma das principais doadoras do Fundo Amazônia, que financia ações de combate ao desmatamento no Brasil. Com o aumento do corte da floresta no ano passado e a ameaça de redução de áreas protegidas na Amazônia, o dinheiro norueguês pode desaparecer. DW Brasil: O presidente Michel Temer vem a Noruega nesta semana para uma visita oficial. Temas ambientais estão incluídos na agenda? Vidar Helgesen: Sim, estão. A colaboração na área de floresta entre Brasil e Noruega é uma parte significativa das relações entre os dois países. Vimos progressos impressionantes no Brasil nas últimas décadas, mas as tendências são preocupantes. E essa é uma discussão que teremos com o presidente. DW: A Noruega foi o primeiro doador do Fundo Amazônia e renovou o compromisso de continuar apoiando financeiramente o combate ao desmatamento. Nesse momento, o Congresso vota leis vistas como um retrocesso na legislação ambiental, com diminuição de áreas protegidas na Amazônia. Como a Noruega acompanha esses desenvolvimentos no Brasil? VH: Nosso programa de doação é baseado em resultados – o dinheiro é repassado se o desmatamento é reduzido, e foi o que vimos nos últimos anos. Isso significa que se o desmatamento está subindo, haverá menos dinheiro. As decisões no Brasil só podem ser feitas pelas autoridades brasileiras. Nós mencionamos a nossa preocupação com as autoridades brasileiras em relação a esse debate sobre a legislação. Mas, no fim, é o Brasil que toma a decisão. Quando vemos a tendência indo na direção errada nos últimos anos, é claro que isso levanta preocupação e perguntas sobre o que o governo está planejando para reverter esse quadro. E deixamos bem claro que nosso financiamento é baseado em resultados. DW: Como a opinião pública na Noruega vê o financiamento ao Fundo Amazônia? E como vocês acompanham o investimento, a aplicação do dinheiro feito no Brasil? VH: Nós temos um sistema muito meticuloso para verificar o índice de desmatamento. Na Noruega, o apoio dos cidadãos a iniciativas ligadas ao clima é ampla, inclusive as que acontecem no Brasil, Aqui se reconhece também que a floresta tropical tem um papel importantíssimo para o cumprimento do Acordo de Paris. Paralelamente, a imprensa norueguesa também faz mais questionamentos com o aumento do desmatamento no Brasil e o debate em relação às leis ambientais. DW: Por que a Noruega, grande produtor de petróleo, decidiu investir na proteção de florestas tropicais em lugares distantes, como Brasil, Congo e Indonésia? VH: É importante porque as florestas têm um papel fundamental na mitigação das mudanças climáticas globalmente. A Floresta Amazônica, as florestas tropicais no Congo e na Indonésia são recursos pertencentes aos respectivos países, mas são, ao mesmo tempo, um “presente” desses países ao mundo. Se pararmos o desmatamento, as florestas vão poder continuar tendo essa função importantíssima que é de absorver carbono e regular o clima. Não é possível atingir a meta estabelecida pelo Acordo de Paris sem as florestas tropicais. Há ainda outros aspectos: os recursos que podem ser explorados de forma sustentável são maiores que a produção de biocombustível ou produção de madeira, que são atividades que provocam o desmatamento. As comunidades indígenas e tradicionais têm um papel importante também. Nós acreditamos que é um investimento necessário em termos de política ambiental e de apoio a países que querem proteger suas florestas. DW: A Noruega é um grande exportador de petróleo, e a maior empresa do país é desse ramo. O que o país está fazendo para diminuir suas próprias emissões? VH: O maior consumidor de petróleo no mundo é o setor de transporte. Temos uma política ambiental muito ambiciosa voltada para o transporte elétrico. A Noruega tem um mercado pequeno, mas quer demonstrar que é possível transformar o setor com veículos elétricos. E isso tem uma importância global, por causa do consumo de petróleo do setor. Também estamos reduzindo as emissões das nossas indústrias: o corte é significativo em relação a 1990. Nossa indústria de petróleo e gás é uma grande fonte de emissão, mas está inserida no programa europeu de compensação – as emissões na Noruega são compensadas em outro lugar. E temos ainda um imposto elevado sobre a emissão de carbono. DW: A noruega está lançando uma iniciativa que reúne líderes religiosos de todo o mundo na tentativa de preservar florestas tropicais e combater as mudanças climáticas. O senhor considera que o sistema político está falhando nessa missão? VH: Seria muito fácil dizer que o sistema politico está falhando. O que se viu no Brasil nas últimas décadas foi impressionante: um sistema político que funcionou no combate ao desmatamento. Na Colômbia, por exemplo, a ecologia e o papel da floresta são um componente importante do Tratado de Paz. Isso é resultado do sistema político. Estamos participando de um programa naquele país para transformar antigos soldados das Farc em guardiões da floresta. Por outro lado, estamos vendo que os desafios continuam crescendo, as soluções políticas não são suficientes. Com o desmatamento crescendo no Brasil, por exemplo, esperamos que haja uma política para combater isso. Globalmente, estamos vendo as emissões caindo pelo terceiro ano, mesmo com a economia mundial em expansão. Isso é um bom sinal. Mas temos tanto ainda pra fazer! Proteger as florestas tropicais é parte disso. Estamos mobilizando essa iniciativa com diferentes religiões porque acreditamos que líderes religiosos trazem mais força para a coalizão. Eles têm uma voz moral, têm os formadores de opinião, e têm alcance, o que é importante para o combate ao desmatamento. Em muitos países, o Estado é ausente em muitas regiões, mas sempre existe uma igreja, uma mesquita, um templo. Mobilizar líderes religiosos pode ter um grande impacto, mas

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