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A verdade sobre a presença Norte Americana na África

O general da Marinha e comandante do Comando dos EUA na África, Thomas D. Waldhauser, fala à imprensa no Pentágono, em 10 de maio de 2018. Imagem: Pablo Matinez Monsivais/AP OS MILITARES NORTE-AMERICANOS insistem há muito tempo que mantêm uma “leve presença” na África. Também existem relatos de propostas de retirada de forças de operações especiais e encerramento de atividades de tropas no continente, devido a uma emboscada ocorrida em 2017 no Níger e a um crescente foco em rivais como a China e a Rússia. Mas, em meio a tudo isso, o Comando dos Estados Unidos na África (Africom) falhou em fornecer informações concretas sobre suas bases no continente, deixando em aberto a pergunta sobre quais seriam as reais dimensões da atuação americana. No entanto, documentos da Africom obtidos pelo Intercept através da Lei de Liberdade de Informação oferecem uma brecha única para a extensa rede de destacamentos militares americanos na África, incluindo locais previamente secretos ou não confirmados em pontos cruciais como a Líbia, o Níger e a Somália. O Pentágono diz que as reduções de tropas na África serão modestas e realizadas ao longo de vários anos e que nenhum destacamento será fechado como resultado de cortes de pessoal. De acordo com um briefing elaborado em 2018 por Peter E. Teil, conselheiro científico da Africom, a constelação de bases militares inclui 34 locais espalhados pelo continente, com grandes concentrações no norte e no oeste, assim como no Chifre da África. Essas regiões, não surpreendentemente, também foram alvos de diversos ataques de drones americanos e ataques de infantaria de menor impacto nos últimos anos. Por exemplo, a Líbia – alvo de missões de infantaria e ataques de drones, mas para a qual o presidente Trump disse não ver nenhum papel dentro das forças armadas americanas no ano passado – é local de três postos militares até então não revelados. “O plano de posicionamento do Comando dos EUA na África é feito para garantir acesso estratégico a locais-chave em um continente caracterizado por grandes distâncias e infraestrutura limitada”, disse o general Thomas Waldhauser, comandante da Africom, ao Comitê das Forças Armadas do Congresso neste ano, embora sem fornecer dados precisos sobre o número de bases. “Nossa rede de posicionamento permite encaminhar testes de tropas para fornecer flexibilidade operacional e respostas adequadas a crises envolvendo cidadãos ou os interesses americanos sem passar a ideia de que o Africom está militarizando a África.” Segundo Adam Moore, professor assistente de geografia na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e especialista na atuação militar americana na África, “está ficando mais difícil para os militares americanos afirmarem plausivelmente que têm uma ‘leve presença’ na África. Só nos últimos cinco anos, foi estabelecido o que talvez seja o maior complexo de drones do mundo no Djibuti – Chabelley – que está envolvido em guerras em dois continentes, no Iêmen e ainda na Somália.” Moore também apontou que os Estados Unidos estão construindo uma base de drones ainda maior em Agadez, no Níger. “Certamente, para pessoas vivendo na Somália, no Níger e no Djibuti, a noção de que os EUA não estão militarizando seus países soa muito falsa”, disse. Nos últimos 10 anos, o Africom não apenas buscou definir sua presença como sendo de dimensões limitadas, mas também como se seus postos fossem pequenos, temporários, pouco além de bases locais onde soldados americanos não passam de inquilinos. Um exemplo disso é como o general Waldhauser descreveu um posto secreto de drones na Tunísia no ano passado: “E não é uma base nossa, é dos tunisianos”. Em visita a instalações americanas no Senegal recentemente, o chefe do Africom empenhou-se para enfatizar que os Estados Unidos não tinham intenção de estabelecer uma base permanente ali. Ainda assim, não há dúvidas sobre a dimensão da rede de postos do Africom ou de seu crescimento em infraestrutura. A Air Forces Africa sozinha, o componente de comando aéreo, recentemente concluiu ou está trabalhando em cerca de 30 projetos de construção em 4 países da África. “A atuação dos EUA no continente africano cresceu notoriamente na última década para promover interesses de segurança americanos no continente”, disse ao Intercept a comandante da Marinha Candice Tresch, porta-voz do Pentágono. Enquanto China, França, Rússia e Emirados Árabes aumentaram seu próprio envolvimento militar na África nos últimos anos e vários outros países agora possuem postos no continente, nenhum atingiu o tamanho da presença americana. A China, por exemplo, possui apenas uma base na África – uma instalação no Djibuti. De acordo com os documentos obtidos pelo Intercept através da Lei de Liberdade de Informação, a rede de bases do Africom inclui postos “permanentes” maiores, consistindo em locais operacionais avançados (FOS, na sigla em inglês) e unidades de segurança cooperativa (CLS, na sigla em inglês), assim como diversos outros recintos austeros conhecidos como locais de contingência (CL na sigla em inglês). Todos eles estão localizados no continente africano, com exceção de um FOS na Ilha de Ascensão, pertencente à Grã-Bretanha, no sul do Atlântico. O mapa de Teil do “Posicionamento Estratégico” do Africom nomeia os locais específicos de todos os 14 FOSs e CSLs e fornece localização específica em cada país para os 20 locais de contingência. O Pentágono, porém, não afirmou se o registro era completo, citando preocupações sobre fornecer publicamente os números de forças implantadas em postos específicos ou países em particular. “Por razões de segurança operacional, relatos completos do estabelecimento de forças específicas não são divulgáveis”, disse Tresch. Como tropas e destacamentos vêm e vão periodicamente do continente, e alguns locais utilizados por forças de infantaria conduzindo missões complexas são provavelmente mantidos em segredo, o mapa de Teil representa o registro mais atualizado e completo disponível e indica as áreas do continente de maior preocupação para o Africom. “A distribuição de bases sugere que as forças armadas dos Estados Unidos estão organizadas em torno de três palcos do contraterrorismo na África: o chifre da África – Somália, Djibuti, Quênia e Líbia; e o Sahel – Camarões, Chade, Níger, Mali e Burkina Fasso”,

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Eleições e América Latina

Brasil, México e Venezuela: eleições vão redesenhar mapa político da América Latina Foto:Guilherme Imbassahy/Jornalistas Livres Neste ano, sete países vão escolher novos presidentes; cenário é indefinido quanto à retomada da esquerda na região. Para a América Latina, 2018 será um ano crucial para a política regional e internacional. Seis países irão passar por eleições presidenciais importantes, como é o caso de Brasil, México, Colômbia e Venezuela. Além disso, Cuba terá, pela primeira vez desde o triunfo revolucionário, a escolha, pela Assembleia Nacional, de um presidente da nova geração que não participou diretamente da Revolução de 1959. Para Igor Fuser, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), as eleições na região se situam em um contexto de embate entre a supremacia estadunidense e a autonomia dos povos latino-americanos. “De um lado, [temos] o esforço dos Estados Unidos de restabelecer a supremacia de seus interesses na América Latina e reforçar o poder das classes dominantes por meio de políticas neoliberais. E, do outro lado, a resistência dos povos da América Latina na busca por maior autonomia, por melhores condições de vida, por maior igualdade social e desenvolvimento econômico”, ressalta. Nesse sentido, a região acompanha com atenção o processo eleitoral no Brasil. A votação é considerada, por especialistas, como uma das mais imprevisíveis desde a redemocratização do país. A jornalista peruana Veronica Goyzueta, que trabalha como correspondente internacional, define a imprevisibilidade como ponto comum em todas as eleições latino-americanas. Ela destaca os cenários eleitorais no Brasil e no México como fundamentais para a definição do contexto regional. “Caso Lula seja candidato no Brasil e caso [Andrés Manuel] López Obrador consiga ganhar no México, a gente vai ter uma virada de dois governos que são super importantes”. De acordo com ela, os cenários fragmentados ainda não revelam a possível tendência de renovação da esquerda ou de avanço do conservadorismo no continente.  O jornalista pós-graduado em Políticas e Relações Internacionais José Reinaldo Carvalho aponta que as forças no México estão divididas, o que pode dificultar a vitória de López Obrador, fundador e atual líder do partido de esquerda Movimento de Regeneração Nacional (Morena). “O que está em jogo no México é a velha luta para que as forças democráticas, populares, patrióticas, antineoliberais, consigam derrotar o governo neoliberal do [Enrique] Peña Nieto”, diz. Além do México, Carvalho ressalta a importância das eleições na Colômbia como forma de “redesenhar o mapa político latino-americano”. Ele lembra que será a primeira eleição presidencial após a assinatura do acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que pôs fim a meio século de guerra civil no país. “Antes da questão direita/esquerda e antes da questão neoliberalismo/não neoliberalismo, o problema principal é se as eleições vão garantir a continuidade do processo de paz, que, infelizmente, já está muito ameaçado mesmo antes das eleições”, ressalta. Na Colômbia, a última pesquisa de intenção de votos registra liderança do candidato Sergio Fajardo, ex-prefeito de Medellín, que se apresenta como um independente “nem de esquerda, nem de direita, nem de centro”. O jornalista José Arbex Jr. destaca também a questão venezuelana como dramática, “não apenas pela conjuntura atual de crise, mas por tudo o que o bolivarianismo do [ex-presidente] Hugo Chávez representou na história recente da América Latina”. “O que está em disputa na Venezuela não é a simples condição do país e o controle do petróleo nacional. Está em disputa a perspectiva histórica aberta pelo bolivarianismo. Nesse sentido, a eventual derrota na Venezuela representará, simbolicamente, um golpe muito profundo nas esquerdas do hemisfério”, analisa. Cuba também vai determinar, em março, quem sucederá o presidente Raúl Castro. A eleição no país se dá em um processo indireto, com a indicação do mandatário pelo Congresso eleito pelo povo. Outros dois países ainda vão passar por eleições presidenciais neste ano: Costa Rica, em fevereiro, e Paraguai, em abril. Emilly Dulce Publicado originalmente no site do jornal Brasil de Fato

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Guerra Híbrida; você sabe o que é isso?

Entenda o que é a guerra híbrida: a nova guerra do século 21 tem o Brasil no epicentro.  Nos manuais norte-americanos as ações não-convencionais contra “forças hostis” a Washington. A centralidade do Pré-Sal no impeachment. Como os super-ricos cooptam a velha classe média. O Brasil no epicentro da Guerra Híbrida Revoluções coloridas nunca são demais. Os Estados Unidos, ou o Excepcionalistão, estão sempre atrás de atualizações de suas estratégias para perpetuar a hegemonia do seu Império do Caos.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A matriz ideológica e o modus operandi das revoluções coloridas já são, a essa altura, de domínio público. Nem tanto, ainda, o conceito de Guerra Não-Convencional (UW, na sigla em inglês). Esse conceito surgiu em 2010, derivado do Manual para Guerras Não-Convencionais das Forças Especiais. Eis a citação-chave: “O objetivo dos esforços dos EUA nesse tipo de guerra é explorar as vulnerabilidades políticas, militares, econômicas e psicológicas de potências hostis, desenvolvendo e apoiando forças de resistência para atingir os objetivos estratégicos dos Estados Unidos. […] Num futuro previsível, as forças dos EUA se engajarão predominantemente em operações de guerras irregulares (IW, na sigla em inglês)”. “Potências hostis” são entendidas aqui não apenas no sentido militar; qualquer país que ouse desafiar um fundamento da “ordem” mundial centrada em Washington pode ser rotulado como “hostil” – do Sudão à Argentina. As ligações perigosas entre as revoluções coloridas e o conceito de Guerra Não-Convencional já desabrocharam, transformando-se em Guerra Híbrida; caso perverso de Flores do Mal. Revolução colorida nada mais é que o primeiro estágio daquilo que se tornará a Guerra Híbrida. E Guerra Híbrida pode ser interpretada essencialmente como a Teoria do Caos armada – um conceito absoluto queridinho dos militares norte-americanos (“a política é a continuidade da guerra por meios linguísticos”). Meu livro Império do Caos, de 2014, trata essencialmente de rastrear uma miríade de suas ramificações. Essa bem fundamentada tese em três partes esclarece o objetivo central por trás de uma Guerra Híbrida em larga escala: “destruir projetos conectados transnacionais multipolares por meio de conflitos provocados externamente (étnicos, religiosos, políticos etc.) dentro de um país alvo”. Os países do BRICS (Brasil Rússia, Índia, China e África do Sul) – uma sigla/conceito amaldiçoada no eixo Casa Branca-Wall Street – só tinham de ser os primeiros alvos da Guerra Híbrida. Por uma miríade de razões, entre elas: o plano de realizar comércio e negócios em suas próprias moedas, evitando o dólar norte-americano; a criação do banco de desenvolvimento dos BRICS; a declarada intenção de aumentar a integração na Eurásia, simbolizada pela hoje convergente “Rota da Seda”, liderada pela China – Um Cinturão, Uma Estrada (OBOR, na sigla em inglês), na terminologia oficial – e pela União Econômica da Eurásia, liderada pela Rússia (EEU, na sigla em inglês). Isso implica em que, mais cedo do que tarde, a Guerra Híbrida atingirá a Ásia Central; o Quirguistão é o candidato ideal a primeiro laboratório para as experiências tipo revolução colorida dos Estados Unidos, ou o Excepcionalistão. No estágio atual, a Guerra Híbrida está muito ativa nas fronteiras ocidentais da Rússia (Ucrânia), mas ainda embrionária em Xinjiang, oeste longínquo da China, que Pequim microgerencia como um falcão. A Guerra Híbrida também já está sendo aplicada para evitar o estratagema da construção de um oleoduto crucial, a construção do Ramo da Turquia. E será também totalmente aplicada para interromper a Rota da Seda nos Bálcãs – vital para a integração comercial da China com a Europa Oriental. Uma vez que os BRICS são a única e verdadeira força em contraposição ao Excepcionalistão, foi necessário desenvolver uma estratégia para cada um de seus principais personagens. O jogo foi pesado contra a Rússia – de sanções à completa demonização, passando por um ataque frontal a sua moeda, uma guerra de preços do petróleo e até mesmo uma (patética) tentativa de iniciar uma revolução colorida nas ruas de Moscou. Para um membro mais fraco dos BRICS foi preciso utilizar uma estratégia mais sutil, o que nos leva à complexidade da Guerra Híbrida aplicada à atual, maciça desestabilização política e econômica do Brasil. No manual da Guerra Híbrida, a percepção da influência de uma vasta “classe média não-engajada” é essencial para chegar ao sucesso, de forma que esses não-engajados tornem-se, mais cedo ou mais tarde, contrários a seus líderes políticos. O processo inclui tudo, de “apoio à insurgência” (como na Síria) a “ampliação do descontentamento por meio de propaganda e esforços políticos e psicológicos para desacreditar o governo” (como no Brasil). E conforme cresce a insurreição, cresce também a “intensificação da propaganda; e a preparação psicológica da população para a rebelião.” Esse, em resumo, tem sido o caso brasileiro. Um dos maiores objetivos estratégicos do Excepcionalistão é em geral um mix de revolução colorida e Guerra Híbrida. Mas a sociedade brasileira e sua vibrante democracia eram muito sofisticadas para métodos tipo hard, tais como sanções ou a “responsabilidade de proteger” (R2P, na sigla em inglês). Não por acaso, São Paulo tornou-se o epicentro da Guerra Híbrida contra o Brasil. Capital do estado mais rico do Brasil e também capital econômico-financeira da América Latina, São Paulo é o nódulo central de uma estrutura de poder interconectada nacional e internacionalmente. O sistema financeiro global centrado em Wall Street – que domina virtualmente o Ocidente inteiro – não podia simplesmente aceitar a soberania nacional, em sua completa expressão, de um ator regional da importância do Brasil. A “Primavera Brasileira” foi virtualmente invisível, no início, um fenômeno exclusivo das mídias sociais – tal qual a Síria, no começo de 2011. Foi quando, em junho de 2013, Edward Snowden revelou as famosas práticas de espionagem da NSA. No Brasil, a questão era espionar a Petrobras. E então, num passe de mágica, um juiz regional de primeira instância, Sérgio Moro, com base numa única fonte – um doleiro, operador de câmbio no mercado negro – teve acesso a um grande volume de documentos sobre a Petrobras. Até o momento, a investigação de dois anos da Lava Jato não revelou como eles conseguiram

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Libertários e a América Latina

Esfera de influência: Como os Libertários Americanos estão reinventando a política na América Latina. PARA ALEJANDRO CHAFUEN, a reunião desta primavera no Brick Hotel, em Buenos Aires, foi tanto uma volta para casa quanto uma volta olímpica. Chafuen, um esguio argentino-americano, passou a vida adulta se dedicando a combater os movimentos sociais e governos de esquerda das Américas do Sul e Central, substituindo-os por uma versão pró-empresariado do libertarianismo. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Ele lutou sozinho durante décadas, mas isso está mudando. Chafuen estava rodeado de amigos no Latin America Liberty Forum 2017. Essa reunião internacional de ativistas libertários foi patrocinada pela Atlas Economic Research Foundation, uma organização sem fins lucrativos conhecida como Atlas Network (Rede Atlas), que Chafuen dirige desde 1991. No Brick Hotel, ele festejou as vitórias recentes; seus anos de trabalho estavam começando a render frutos – graças às circunstâncias políticas e econômicas e à rede de ativistas que Chafuen se esforçou tanto para criar. Nos últimos 10 anos, os governos de esquerda usaram “dinheiro para comprar votos, para redistribuir”, diz Chaufen, confortavelmente sentado no saguão do hotel. Mas a recente queda do preço das commodities, aliada a escândalos de corrupção, proporcionou uma oportunidade de ação para os grupos da Atlas Network. “Surgiu uma abertura – uma crise – e uma demanda por mudanças, e nós tínhamos pessoas treinadas para pressionar por certas políticas”, observa Chafuen, parafraseando o falecido Milton Friedman. “No nosso caso, preferimos soluções privadas aos problemas públicos”, acrescenta. Chafuen cita diversos líderes ligados à Atlas que conseguiram ganhar notoriedade: ministros do governo conservador argentino, senadores bolivianos e líderes do Movimento Brasil Livre (MBL), que ajudaram a derrubar a presidente Dilma Rousseff – um exemplo vivo dos frutos do trabalho da rede Atlas, que Chafuen testemunhou em primeira mão. “Estive nas manifestações no Brasil e pensei: ‘Nossa, aquele cara tinha uns 17 anos quando o conheci, e agora está ali no trio elétrico liderando o protesto. Incrível!’”, diz, empolgado. É a mesma animação de membros da Atlas quando o encontram em Buenos Aires; a tietagem é constante no saguão do hotel. Para muitos deles, Chafuen é uma mistura de mentor, patrocinador fiscal e verdadeiro símbolo da luta por um novo paradigma político em seus países. O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, à esquerda, dentro de um carro em direção ao aeroporto, onde pegaria um voo para a Nicarágua nos arredores de San José. Domingo, 28 de junho de 2009. Foto: Kent Gilbert/AP UMA GUINADA À DIREITA está em marcha na política latino-americana, destronando os governos socialistas que foram a marca do continente durante boa parte do século XXI – de Cristina Kirchner, na Argentina, ao defensor da reforma agrária e populista Manuel Zelaya, em Honduras –, que implementaram políticas a favor dos pobres, nacionalizaram empresas e desafiaram a hegemonia dos EUA no continente.Essa alteração pode parecer apenas parte de um reequilíbrio regional causado pela conjuntura econômica, porém a Atlas Network parece estar sempre presente, tentando influenciar o curso das mudanças políticas. A história da Atlas Network e seu profundo impacto na ideologia e no poder político nunca foi contada na íntegra. Mas os registros de suas atividades em três continentes, bem como as entrevistas com líderes libertários na América Latina, revelam o alcance de sua influência. A rede libertária, que conseguiu alterar o poder político em diversos países, também é uma extensão tácita da política externa dos EUA – os think tanks associados à Atlas são discretamente financiados pelo Departamento de Estado e o National Endowment for Democracy (Fundação Nacional para a Democracia – NED), braço crucial do soft powernorte-americano. Embora análises recentes tenham revelado o papel de poderosos bilionários conservadores – como os irmãos Koch – no desenvolvimento de uma versão pró-empresariado do libertarianismo, a Atlas Network – que também é financiada pelas fundações Koch – tem usado métodos criados no mundo desenvolvido, reproduzindo-os em países em desenvolvimento.A rede é extensa, contando atualmente com parcerias com 450 think tanks em todo o mundo. A Atlas afirma ter gasto mais de US$ 5 milhões com seus parceiros apenas em 2016. Ao longo dos anos, a Atlas e suas fundações caritativas associadas realizaram centenas de doações para think tanks conservadores e defensores do livre mercado na América Latina, inclusive a rede que apoiou o Movimento Brasil Livre (MBL) e organizações que participaram da ofensiva libertária na Argentina, como a Fundação Pensar, um think tank da Atlas que se incorporou ao partido criado por Mauricio Macri, um homem de negócios e atual presidente do país. Os líderes do MBL e o fundador da Fundação Eléutera – um think tankneoliberal extremamente influente no cenário pós-golpe hondurenho – receberam financiamento da Atlas e fazem parte da nova geração de atores políticos que já passaram pelos seus seminários de treinamento. A Atlas Network conta com dezenas de think tanksna América Latina, inclusive grupos extremamente ativos no apoio às forças de oposição na Venezuela e ao candidato de centro-direita às eleições presidenciais chilenas, Sebastián Piñera. Protesto a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff diante do Congresso Nacional, em Brasília, no dia 2 de dezembro de 2015. Foto: Eraldo Peres/AP EM NENHUM OUTRO LUGAR a estratégia da Atlas foi tão bem sintetizada quanto na recém-formada rede brasileira de think tanks de defesa do livre mercado. Os novos institutos trabalham juntos para fomentar o descontentamento com as políticas socialistas; alguns criam centros acadêmicos enquanto outros treinam ativistas e travam uma guerra constante contra as ideias de esquerda na mídia brasileira. O esforço para direcionar a raiva da população contra a esquerda rendeu frutos para a direita brasileira no ano passado. Os jovens ativistas do MBL – muitos deles treinados em organização política nos EUA – lideraram um movimento de massa para canalizar a o descontentamento popular com um grande escândalo de corrupção para desestabilizar Dilma Rousseff, uma presidente de centro-esquerda. O escândalo, investigado por uma operação batizada de Lava-Jato, continua tendo desdobramentos, envolvendo líderes de todos os grandes partidos políticos brasileiros, inclusive à direita e centro-direita. Mas o MBL soube usar muito bem as redes sociais para direcionar a maior parte da revolta contra Dilma, exigindo o

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A conspiração para remover Trump da Presidência dos Estados Unidos

Os serviços de inteligência dos EUA, o Partido Democrata, alguns republicanos, incluindo membros do próprio governo do presidente Trump, e os meios de imprensa dos EUA estão conspirando contra a democracia americana e o presidente dos Estados Unidos.  Nós conhecemos isso de uma carta pública a Trump publicada hoje, 24 de julho de 2017, em consortiumnews.com por Veteran Intelligence Professionals for Sanity. Veja: https://consortiumnews.com/2017/07/24/intel-vets-challenge-russia-hack-evidence/ [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Ao contrário da CIA, NSA e FBI, os profissionais veteranos de inteligência realizaram investigações forenses. Eles descobriram evidências conclusivas de que a suposta “intrusão no servidor DNC Guccifer 2.0 em 5 de julho de 2016 [estes são os e-mails que mostram o DNC trabalhando para Hillary contra Sanders] não foi pirateada, mas vazou. Os documentos vazados foram copiados para um dispositivo de armazenamento externo e apagados com um trabalho de recortar e colar para implicar a Rússia como tendo pirateado os documentos. Em outras palavras, o suposto hack era, em vez disso, uma cópia do interior que posteriormente foi processada para refletir a origem russa. Os profissionais de inteligência veteranos supõem que isso foi feito para concentrar a atenção no conteúdo embaraçoso dos e-mails, colocando a atenção em vez da “interferência russa na eleição presidencial dos EUA”. Como eu vejo, o sucesso desta história falsa e orquestrada de hacking russo, para o qual não existe uma pequena evidência, revelou ao complexo militar / segurança a oportunidade de remover o Trump e assim proteger o orçamento e o poder sobrecarregados das Forças Armadas / Complexo de segurança que está ameaçado pela intenção de Trump de normalizar as relações com a Rússia. Ele revelou às forças de Hillary a oportunidade de reivindicar-se com o argumento de que a Rússia roubou as eleições para Trump. Ele revelou a Israel a oportunidade de pôr fim à retirada de Trump da interferência dos EUA no Oriente Médio, permitindo que Israel continue a usar os militares dos EUA para eliminar os obstáculos à expansão israelense. Forneceu os apostadores, que odeiam Trump e “os deploráveis” que o elegeram, com uma história principal por meses e meses a serem seguidos em suas expectativas com a história da remoção de Trump da presidência. Os profissionais de inteligência aposentados são muito circunspectos para dizer ao presidente Trump que uma conspiração está em andamento para removê-lo do cargo, seja por impeachment ou assassinato por uma “porca solitária” de direita enfurecida contra o presidente traidor, mas isso parece ser a mensagem entre as linhas. Como eu forneci o link para a carta, você pode lê-lo e chegar à sua própria conclusão. Autor: Autor: Paul Craig RobertsTraduzido para publicação em dinamicaglobal.wordpress.com Fonte: Katehon.com

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Crise na Venezuela: o Brasil é um zero à esquerda

Como o Brasil se tornou irrelevante na mediação da crise na Venezuela. Manifestantes lembram dos 100 dias de protestos na Venezuela. FERNANDO LLANO AP País de Nicolás Maduro passa de 100 dias de protestos nas ruas enquanto segue isolado.Drama de Caracas expõe deserto diplomático na América Latina depois de ciclo pró-ativo “Queremos contribuir para que a Venezuela  encontre em paz um caminho e que o povo venezuelano seja feliz”. A frase é do ex-presidente Lula, então em seu primeiro mês de seu primeiro ano de mandato, em janeiro de 2003. Naquela época, o Brasil liderava a criação de um grupo de países amigos da Venezuela para ajudar a Organização dos Estados Americanos (OEA) a buscar uma saída para a grave crise que afetava o país. Um ano antes, ainda sob o presidente tucano Fernando Henrique Cardoso, Brasília puxou um movimento no chamado Grupo do Rio para condenar a tentativa de golpe de Estado que tirou Hugo Chávez brevemente do poder e isolar a gestão George W. Bush, que apoiara a rebelião. Chávez telefonou para agradecer FHC, feliz de o bolivariano ter voltado ao cargo. Agora, 14 anos depois, discute-se novamente um diálogo com Caracas por meio de países vizinhos. Mas, diferentemente daquela época, o Brasil hoje passa longe de liderar esta conversa. Com uma conjuntura política bastante diferente, tanto no Brasil quanto na Venezuela e em toda a América Latina, Caracas vive um estado de convulsão política em meio a um deserto diplomático. A situação se aproxima de mais um capítulo tenso. A oposição venezuelana, nas ruas há mais de 100 dias em jornadas de protestos que já contabilizam mais de 90 mortos, realizou um referendo simbólico neste domingo que resultou na rejeição de uma nova Assembleia Nacional Constituinte, proposta por Maduro. Por não ter valor legal, a oposição espera que o plebiscito sirva como uma espécie de ultimato para o presidente, que marcou para o próximo dia 30 a eleição dos novos deputados constituintes. Além de redigir uma nova Carta, que segundo Maduro é essencial para ajustar o país à nova situação, os novos nomes eleitos vão substituir um Parlamento dominado pela oposição e tirá-la de vez do jogo. A campanha pela Constituinte dividiu ainda mais chavistas que já estão rachados.  A iminência da eleição da Constituinte voltou a tentar mover o xadrez de declarações e intenções, na falta de iniciativas mais articuladas no hemisfério a respeito da crise. O Brasil lançou uma nota nesta segunda, condenando a iniciativa de Maduro, alentando a consulta popular da oposição e apoiando “uma negociação efetiva a favor da paz e da democracia na Venezuela”. Já o Governo Donald Trump ameaça com sanções. Se por um lado a conduta dura de Washington pode ser comemorada pela oposição que vê Maduro imparável, por outro deve certamente alimentar a retórica chavista radical de que é preciso lutar contra o intervencionismo externo, especialmente o norte-americano. A próxima reunião da cúpula do Mercosul, que ocorrerá a partir de sexta-feira na Argentina, tem na pauta a suspensão da Venezuela do bloco – algo que já está em vigor desde dezembro. Todos os olhos se voltam, no entanto, para a Colômbia, que toma a iniciativa de tentar liderar um diálogo. O presidente Juan Manuel Santos, munido do Nobel que ganhou por negociar o fim do conflito colombiano, embarcou neste domingo para Cuba para tentar convencer Raúl Castro a apoiar o início de uma conversa regional com Caracas. Segundo o jornal Financial Times, a ideia teria o apoio do México e da Argentina. De fato, segundo uma fonte diplomática, ouvida por EL PAÍS, a Colômbia, assim como Uruguai, Chile e o Equador, seriam os melhores países para liderar esta conversa. “O fato de termos um Governo sem legitimidade democrática direta até 2018 dificulta um eventual protagonismo brasileiro em um novo grupo de amigos”, disse, desde sua embaixada. “Outros países, dentre eles a Colômbia, teriam de estar na linha de frente neste momento”. E o presidente colombiano vem acenando neste sentido: na semana passada, Santos somou-se aos apelos da oposição e pediu que Maduro cancelasse a Constituinte para facilitar o diálogo. Já o Brasil, além de viver uma crise política que enfraquece a musculatura que poderia ser despendida para a política externa, não tem a postura mais neutra para liderar esta conversa agora. É o que defende Carolina Silva Pedroso, pesquisadora da Universidade do Sul da Flórida e especialista em Venezuela. “Aloysio [Nunes, ministro das Relações Exteriores] é muito interessado no tema, mas, por outro lado, é um interesse muito ideologizado”, diz. “E o que a Venezuela menos precisa agora é de alguém escolhendo um lado”. A pesquisadora diz que Fernando Henrique Cardoso e Lula mantinham conversas com oposição e Governo em Caracas e esse fator foi crucial para que a liderança da criação do grupo funcionasse. “Além disso, agora, o timing para a criação de um novo grupo já passou”. Flávio da Silva Mendes, pesquisador do departamento de sociologia da Unicamp, também defende que a mudança do Governo brasileiro, após o impeachment de Dilma Rousseff, contribuiu para o isolamento de Caracas. “Se ainda fosse a Dilma ou o PT [na presidência], seria outra relação, que não era de apoio direto, era mais neutra”, diz ele, que também é autor do livro Hugo Chávez em seu labirinto: O movimento bolivariano e a política na Venezuela (Alameda). “A mudança do Governo no Brasil contribuiu muito para o isolamento da Venezuela”. A relação próxima entre os dois países foi fruto de uma certa conveniência econômica, defende Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e colunista do EL PAÍS. “Na época da criação dos amigos da Venezuela, Chávez era um dos melhores clientes das empresas brasileiras. Por isso fazia sentido toda aquela parceria”, diz. “Mas isso enviou um sinal à oposição de que o Governo brasileiro estava totalmente alinhado com o venezuelano”. Ele também defende a neutralidade para as negociações agora. “O mediador ideal neste momento deve ter influência tanto na oposição quanto no Governo, e o Brasil não tem condições de influenciar nesta situação agora”. O caminho, para Stuenkel, seria então via OEA. “Está muito evidente que o governo chavista

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Brasil: A Inquisição Curitibana

Sursis: Alma Brasileira em liberdade condicional, Direito Colonial para interesses estrangeiros. Qual mãos limpas em atos sujos, qual nada! É a velha e perniciosa presença colonial que dá curso e validade, além de enorme divulgação, às ações que causam unânime repúdio entre os que creem em justiça e a associam ao direito, ou os que assim precisam idealizar. Trato da inquisição curitibana.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]Do descobrimento pelos portugueses até nossos dias decorreram 517 anos. Agora observe o esclarecido leitor que tivemos, de 1500 até 1603 como regra maior de conduta e organização, as Ordenações Afonsinas (breve tempo) e as Manuelinas, às quais se seguiram as delongadas Ordenações Filipinas, cuja efetividade ultrapassou nosso formal status de Nação independente, pois ainda se aplicavam, no Brasil, em 1830. Podemos afirmar, com ressalvas, que nossa disciplina legal, aqui elaborada – não confundir com aqui idealizada –, completa 187 anos, confrontando com 330 anos de importação jurídica. Em princípio as leis, que organizam e estabelecem as regras de convivência de uma sociedade, deveriam ser fruto desta própria sociedade. Das opções escolhidas pelos habitantes do País, ou seja, da livre manifestação daqueles que vivem nos limites territoriais da Nação. Jamais impostas por estrangeiros, o que, no cotidiano da justiça e do direito, sempre nos ocorreu. Mas vejamos o exemplo, nas Ordenações Manuelinas, sobre o direito e o judiciário. No livro primeiro, como ocorrera nas Afonsinas e se repetirá nas Filipinas, estas Ordenações tratam do “Regedor de Justiça na Casa da Suplicação”. Este “magistrado” deveria ser procurado entre fidalgos “de sangue limpo, bom, virtuoso e de muita autoridade, temente a Deus, sem perversão nem paixão” (sic). Contextualizando, era o juiz um representante classista, da aristocracia de então, da burguesia, de hoje. Sua percepção não deveria ser conspurcada por ânimo particular, mas pelo ideal de justiça da época – e que será de sempre – qual seja a de um segmento social, jamais de toda sociedade, mas, já com a hipocrisia que permeará toda história, “com gracioso acolhimento, para que todos vejam o caridoso e piedoso regedor e guardem a lembrança de seus cuidados” (sic). Poderíamos trazer para atualidade este fiel regedor, tratando com desvelo uma específica imprensa e mesmo, caridosamente, vazando conteúdos, cenas e falas para seus mais diletos acólitos. Haverá alguma divergência sobre o que enunciarei, mas pediria a benevolência, sem o cinismo de um regedor, para minha canhestra compreensão. A partir da Revolução Francesa, tivemos, sem os retrocessos tão comuns em nossos dias, duas ideias de sociedade: a do contrato de Rousseau e da sociedade sem conflitos de Marx. A opção pelo contrato social levou à luta ideológica; o que afirmo sem qualificar, pois entendo a ideologia como a proteção de um interesse particular. Em meus artigos sempre coloquei, por exemplo, a religião, qualquer que fosse, como ideologia. Ora, nesta luta sempre desigual, o detentor do poder colocará a lei, o direito a seu serviço; se colônia, a lei do ou dos colonizadores. Na sociedade rousseauniana, o Brasil, neste século XXI, é colônia da banca, do sistema financeiro internacional, e, embora com diferenças sutis e mínimas, do interesse geopolítico estadunidense, onde também prepondera a banca. Banqueiros. Qual a virtude do regedor de hoje? Nesta sociedade conflituosa onde um poder se destaca e age, não pelo acordo social, mas como imperador absolutista? Não mais de uma linhagem pura e reconhecida, mas com o dócil aceitar da traição nacional; nem com a virtude, pois há de proteger criminosos e a eles se associar; nem agirá também para que se lhe guarde boa lembrança, vez que manterá em cárcere, sem qualquer condenação, como forma de tortura para “confessar” os feitos e os não feitos, encontros com quem jamais esteve e falas nunca proferidas, o que não poderíamos qualificar de gracioso acolhimento. Este é o regedor que temos. Aos crimes comprovados dos favoritos da banca, a liberdade e os louvores de vida dedicada à família e à pátria; se um desgarrado regedor condena, o pronto habeas corpus de um plantonista madrugador, e, nesta proposital legislação caótica, importa-se a lei estrangeira e aqui, por ela, se processa. E para isto se organizam cursos e seminários colonizadores pela potência colonial. Por que estranhar o desmonte industrial, a cremação da engenharia nacional, o vilipêndio do defensor do Brasil, com prisão perpétua?Chegamos agora a um ponto crucial. A condenação sem crime em processo, confessadamente não lido, de um líder popular. Alguém que buscou, como um bom selvagem, a harmonia social dos acordos, ao invés da luta a que tantos sempre propugnaram. Há enorme expectativa sobre as reações e se ocorrerão na continuidade desta condenação. Há também grande perplexidade pela sujeição aos evidentes interesses da banca, pronunciados pelos seus mais autorizados porta-vozes, nesta condenação e futura prisão do líder. Será a confissão de um agente, na agonia dos últimos instantes, do crime contra a Pátria? Em artigo recente, sobre o fim de uma era de progresso, iniciada por Vargas, e sentindo profunda agonia por meus adolescentes netos, intitulei-o “Com a morte na alma”, uma existencial alusão sartriana. Neste vejo a sociedade em liberdade provisória, em “sursis”. Espero que o povo brasileiro reaja e meu próximo artigo, fechando a trilogia, tenha por título “A idade da razão”. Autor: Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

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Temer do Brasil catapulta Macri da Argentina

Declínio de imagem do Brasil no exterior ajuda Macri a projetar Argentina Foto: Washington Costa / Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços Longa crise política interna tem afetado protagonismo do Brasil; nos últimos meses, Macri recebeu líderes internacionais importantes, como Angela Merkel, da Alemanha, Sergio Mattarella, da Itália, enquanto o Brasil ficou de fora da lista dos dois.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Com a crise política que atinge o Brasil e mina a credibilidade internacional do governo, uma oportunidade de ouro surgiu para a vizinha Argentina, que tem se tornado a protagonista da América do Sul. O presidente Mauricio Macri, no cargo desde dezembro de 2015, tem despertado a curiosidade e a empatia de chefes de Estado e de Governo, como a chanceler alemã, Angela Merkel, o chinês Xi Jinping e até o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama – que o chamou de “líder” da região. Nos últimos meses, Macri recebeu líderes internacionais importantes, como a própria Merkel e o presidente da Itália, Sergio Mattarella. Já o Brasil ficou de fora da lista dos dois. Macri fez viagens ao exterior, como Washington, para se reunir com o presidente norte-americano, Donald Trump, e Pequim, além de ter sido altamente requisitado em reuniões bilaterais durante a cúpula do G20. Até o ano que vem, a Argentina terá dois eventos mundiais de peso: sediará a conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), em dezembro, e o próximo G20, em 2018. Os dois encontros são inéditos na América do Sul. Mas essa nova postura do governo argentino pode tirar a tradicional liderança do Brasil? Para o coordenador do MBA em Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel, “a longo prazo, não”. “Não se pode comparar os dois países, porém em função da crise política, em curto prazo, o presidente Macri tem uma visibilidade e uma presença internacional maior porque a situação da Argentina é, digamos, menos pior do que no Brasil”, disse Stuenkel à ANSA. O especialista explicou que, apesar dos problemas econômicos e também políticos da nação vizinha, “Macri representa uma narrativa muito clara sobre como a Argentina pretende superar as dificuldades”, coisa que não existe no Brasil. “O presidente Michel Temer até tentou construir essa narrativa, mas não funcionou porque este governo dificilmente pode ser visto como um governo que pode fazer o país sair da situação em que se encontra. Alguns passos corretos podem ser dados, mas há a percepção de que o Brasil não tem um caminho para sair da crise”, ressalta. Já para Reinaldo Dias, especialista em Ciência Política da Universidade Presbiteriana Mackenzie em Campinas, o governo brasileiro atual tem um problema de “legitimidade”. “O grande problema do Brasil é a legitimidade. É uma diferença bastante grande, já que Macri venceu eleições e Temer não. Mas, não é só isso que dá a legitimidade a um governo, que pode ser conseguida através de boas ações. Mas, do ponto de vista global, Temer não tem isso”, afirmou Dias à ANSA. Segundo o especialista do Mackenzie, esse processo de perda de liderança do Brasil já vem desde o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, que “não adotou uma postura de líder regional na América Latina”, e piorou com o atual mandatário. “Não existe vácuo na política porque sempre esse lugar será ocupado por algum ator”, destaca. Para Dias, os líderes ao redor mundo “aguardam” uma postura do Brasil como líder, já que é a nação que faz fronteira com praticamente todos os países sul-americanos. No entanto, a ausência já se fez presente em acordos recentes importantes para todo o continente, como ocorreu no pacto de paz firmado entre o governo de Juan Manuel Santos e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e que foi finalizado no ano passado. Outro ponto em que o Brasil não tem postura ativa, conforme Dias, é a crise na Venezuela, que já causa um fluxo migratório maior para o norte do país. “Isso pode custar muito caro no futuro porque já estamos com problemas nas fronteiras que podem se agravar se não tiver uma liderança ativa”, acrescenta. “O pragmatismo de Macri é bastante significativo. É um perfil de líder, que busca de fato a liderança. Por exemplo, ele participou da posse do novo presidente do Equador, Lenín Moreno, que tem ideologia oposta a ele; ele se ofereceu para intermediar o problema que envolve a construção do muro entre Estados Unidos e México. Ele é proativo”, destaca ainda Dias. Já Stuenkel lembrou outro ponto importante da governança do presidente argentino, que é o de que líderes de outros países o veem como uma liderança de longo prazo. “A Argentina é um pouco bola da vez. É um governo relativamente recente e tem uma expectativa de poder. Ou seja, Temer chegou no poder quando o Macri já estava lá e vai sair antes do Macri deixar o cargo”, destacou Stuenkel à ANSA. No entanto, na contramão dessa liderança, o governo brasileiro assumirá a Presidência rotativa do Mercosul nesta sexta-feira (21/07), justamente após Macri liderar o bloco. Tatiana Girardi/ANSA/OperaMundi

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A encenação da “Guerra-Espetáculo”

Como funciona a indústria da encenação da Guerra-Espetáculo, parte da máquina de guerra do imperialismo desde o fim da Guerra Fria aos dias atuais Na história da indústria da encenação, parte integrante do aparelho industrial militar do imperialismo, 1989 é um ano de virada. Nicolae Ceausescu ainda está no poder na Romênia. Como derrubá-lo? Os meios de comunicação ocidentais difundem de modo maciço, especialmente à população romena, informação e imagens do “genocídio” cometido em Timisoara pela polícia, por indicação de Ceausescu. 1. Os cadáveres mutilados. O que acontecera na realidade? Beneficiado pela análise de Debord sobre a “sociedade do espetáculo”, um ilustre filósofo italiano (Giorgio Agamben) sintetizou de modo magistral a história que estamos tratando aqui: “Pela primeira vez na história da humanidade, cadáveres sepultados ou alinhados sobre as mesas do necrotério foram desenterrados às pressas e torturados para simular frente às câmeras de vídeo um genocídio que devia legitimar o novo regime. O que o mundo viu ao vivo como verdade real, na tela da televisão, era a não verdade absoluta. Embora a falsificação fosse óbvia, ela todavia foi autenticada como verdadeira pelos meios de comunicação do sistema mundial, porque estava claro que agora a verdade não era senão um momento do movimento necessário do falso. Assim, a verdade e a mentira tornaram-se indiscerníveis e o espetáculo legitimava-se unicamente mediante o espetáculo. Timisoara é, neste sentido, a Auschwitz da sociedade do espetáculo: e como já foi dito que depois de Auschwitz é impossível escrever e pensar como antes, da mesma forma, depois de Timisoara não será mais possível ver uma tela de televisão do mesmo modo” (Agamben, 1996, p. 67). No ano de 1989 a transição da sociedade do espetáculo para o espetáculo como técnica de guerra manifestou-se à escala planetária. Algumas semanas antes do golpe de Estado, ou seja, da “revolução Cinecittà” na Romenia (Fejtö 1994, p 263), a 17 de Novembro de 1989, a “revolução de veludo” triunfava em Praga agitando uma palavra de ordem de Gandhi: “Amor e Verdade”. Na realidade, um papel decisivo coube à divulgação da notícia falsa de que um aluno fora “brutalmente assassinado” pela polícia. Vinte anos mais tarde o protagonista da manipulação, um “jornalista e líder da dissidência, Jan Urban”, revela satisfeito: a sua “mentira” havia tido o mérito de suscitar a indignação em massa e o colapso de um regime já periclitante (Bilefsky 2009). Algo semelhante acontece na China: em 08 de Abril de 1989, Hu Yaobang, secretário do PCC até há um par de anos, sofreu um enfarto durante uma reunião da Comissão Política e morreu uma semana depois. Para a multidão na Praça da Paz Celestial a sua morte está ligada ao duro conflito político verificado no decorrer naquela reunião (Domenach, Richer, 1995, p 550.), De qualquer modo ele se torna vítima do sistema que se tenta derrubar. Em todos os três casos, a invenção e a denúncia de um crime são chamados a suscitar a onda de indignação de que o movimento de revolta tem necessidade. Se se consegue o êxito completo na Checoslováquia e na Romenia (onde o regime socialista havia-se seguido ao avanço do Exército Vermelho), esta estratégia falhou na República Popular da China que brotou de uma grande revolução nacional e social. E, aqui é que tal fracasso se torna o ponto de partida de uma nova e mais maciça guerra midiática, que é desencadeada por uma superpotência que não tolera rivais ou potenciais rivais e que ainda está em pleno desenvolvimento. Fica definido que o ponto da virada histórica está em primeiro lugar em Timisoara, “a Auschwitz da sociedade do espetáculo”. 2. “O anúncio dos bebês” e o corvo marinho. Dois anos depois, em 1991, verificou-se a primeira Guerra do Golfo. Um corajoso jornalista norte-americano explicou como se deu “a vitória do Pentágono sobre a mídia”, ou seja, a “derrota colossal dos veículos de comunicação por obra do governo dos Estados Unidos” (Macarthur 1992, pp. 208 e 22). Em 1991, a situação não foi fácil para o Pentágono (nem para a Casa Branca). Tratava-se de convencer da necessidade da guerra um povo sobre o qual ainda pesava a memória do Vietnã. E então? Espertezas várias reduziram drasticamente a possibilidade de jornalistas falarem diretamente com os soldados ou reportarem diretamente a partir da frente de batalha. Na medida do possível, tudo deve ser filtrado: o fedor da morte e sobretudo o sangue, o sofrimento e as lágrimas da população civil não devem invadir as casas dos cidadãos dos EUA (e dos habitantes do mundo inteiro) como na época da guerra no Vietnã. Mas o problema central mais difícil de resolver era outro: como demonizar o Iraque de Saddam Hussein, que ainda há alguns anos era considerado digno aos olhos dos EUA, agredindo o Irã que brotara da revolução islâmica e anti-americana de 1979 e inclinado a fazer proselitismo no Oriente Médio. A demonização teria sido muito mais eficaz se ao mesmo tempo a sua vítima fosse angelical. Operação nada fácil, e não apenas pelo fato de no Kuwait ser dura e impiedosa a repressão de todas as formas de oposição. Havia algo pior. Para executar as tarefas mais humildes os imigrantes eram sujeitos a uma “escravatura de fato” e uma escravatura de fato que muitas vezes assumia formas sádicas: não despertou particular emoção casos de “servos arremessados a partir do terraço, queimados ou cegados ou espancados até a morte ” (Macarthur 1992, pp. 44-45). E ainda assim… Generosamente ou fabulosamente recompensada, uma agência de publicidade encontra remédio para tudo. Essa denunciou o fato de que os soldados iraquianos cortavam as “orelhas” dos kuwaitianos que resistiam. Mas o golpe de teatro desta campanha era outro: os invasores haviam irrompido num hospital, “removendo 312 bebês das suas incubadoras e deixando-os morrer no chão frio do hospital de Kuwait City” (Macarthur 1992, p 54). Proclamada repetidamente pelo presidente Bush, confirmado pelo Congresso, endossado pela imprensa de referência, e até mesmo pela Anistia Internacional, esta notícia tão horripilante, mas mesmo assim circunstanciada para indicar com precisão o número

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Mídia, mentira e desinformação

Os meios de comunicação, a mentira pela omissão e o papel da desinformação. Nada do que é importante no mundo é hoje refletido pela comunicação dita “social”, os meios de comunicação empresariais que arrogantemente se auto-intitulam como padrão de “referência”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Para quem pretende uma transformação do mundo num sentido progressista isto é um problema, e problema grave. Significa um brutal atraso na tomada de consciência dos povos, cuja atenção é desviada para balelas, entretenimentos idiotas, falsos problemas e outros diversionismos. Omissão não é a mesma coisa que desinformação. Vejamos exemplos de uma e outra, a começar pela primeira. A mais atual é a ameaça da instalação de mísseis Iskander junto às fronteiras ocidentais da Europa. Isso é praticamente ignorado pela mídia ocidental, assim como é ignorada a razão porque eles estão a ser agora instalados: o cerco da Rússia pela OTAN, que instalou novos sistemas de mísseis numa série de países junto às suas fronteiras. É indispensável reiterar que tanto os da OTAN como o da Rússia são dotados de ogivas nucleares. Outro exemplo de omissão é o apagamento total de informação quanto ao terrível acidente nuclear de Fukushima, que tem consequências pavorosas e a longuíssimo prazo para toda a humanidade. Continua o despejo diário de 400 toneladas de água com componentes radioativos no Oceano Pacífico, o equivalente a uma disseminação igual à de todos os mais de 2500 ensaios de bombas nucleares já efetuados pela espécie humana. Caminha-se assim para o extermínio de uma gama imensa de espécies vivas – da humana inclusive – pois tal poluição entra no ecossistema que lhes dá suporte. Outro exemplo ainda é o silenciamento deliberado quanto às consequências do desastre com a plataforma de pesquisa da British Petroleum (BP) no Golfo do México. Tudo indica que a gigantesca fuga de petróleo ali verificada ao longo de meses (100 mil barris/dia?) não está totalmente sanada, pois este continua a vazar embora em quantidades menores. A política ativa de silenciamento conta com o apoio não só da BP como do próprio governo americano. Este, aliás, já autorizou o reinício da exploração de petróleo em águas profundas ao longo das costas norte-americanas. Este silenciamento verifica-se com o pano de fundo do Pico Petrolífero (Peak Oil), que também é deliberadamente escondido da opinião pública pelos meios de comunicação corporativos. Pouquíssima gente hoje no mundo sabe que a humanidade já atingiu o pico máximo da produção possível de petróleo convencional, que esta está estagnada há vários anos. Trata-se do fim de uma era, com consequências irreversíveis, cumulativas, definitivas e a longo prazo. Mas este fato é ocultado da opinião pública. A maioria dos governos de hoje abandonou há muito a pretensão de ser o gestor do bem comum: passou descaradamente a promover os interesses de curto prazo do capital – em detrimento das condições de sobrevivência a longo prazo da espécie humana. Trata-se, pode-se dizer, de uma política tendente ao extermínio. Veja-se o caso, por exemplo, do fracking, ou exploração do petróleo e metano de xisto (shale) através de explosões subterrâneas e injeção de produtos químicos no subsolo – o que tem graves consequências sísmicas e polui lençóis freáticos de água potável. O governo Obama estimula ativamente o fracking, na esperança – vã – de dotar os EUA de autonomia energética. Mas há assuntos que para os meios de comunicação corporativos dominantes são não apenas omitidos como rigorosamente proibidos – são tabu. É o caso da disseminação do urânio empobrecido (depleted uranium, DU) que o imperialismo faz por todo o mundo com as suas guerras de agressão. Países como o Iraque, a antiga Jugoslávia, o Afeganistão e outros estão pesadamente contaminados pelas munições de urânio empobrecido. Trata-se do envenenamento de populações inteiras por um agente que atua no plano químico, físico e radiológico, com consequências genéticas teratológicas e sobre todo o ecossistema. A Organização Mundial de Saúde é conivente com este crime contra a humanidade pois esconde deliberadamente relatórios de cientistas que examinaram as consequências da invasão estado-unidense do Iraque. Absolutamente nada disto é refletido nos meios de comunicação empresariais. Um caso mais complicado é aquela categoria especial de mentiras em que é difícil separar a omissão da desinformação. Omitir pura e simplesmente a crise capitalista – como os meios de comunicação corporativos faziam até um passado recente – já não é possível: hoje ela é gritante. Portanto entram em acção as armas da desinformação, as quais vão desde o diagnóstico até as terapias recomendadas. Os economistas vulgares têm aqui um papel importante: cabe-lhes dar algum verniz teórico, uma aparência de cientificidade, às medidas regressivas que estão a ser tomadas pela nova classe dominante – o capital financeiro parasitário. As opções de classe subjacentes a tais medidas são assim disfarçadas com o carimbo do “não há alternativa”. E a depressão económica que agora se inicia é apresentada como coisa passageira, meramente conjuntural. Os meios de comunicação passaram assim da omissão para a desinformação. Desde o iluminismo, a partir do século XVIII, a difusão da imprensa foi considerada um fator de progresso, de ascensão progressiva das massas ao conhecimento e entendimento do mundo. Hoje, em termos de saldo, isso é discutível. A enxurrada de lixo que atualmente se difunde no mundo superou há muito as publicações sérias. Basta olhar a quantidade de revistecas exibidas numa banca de jornais ou a sub-literatura exposta nos super-mercados. Tal como na Lei de Greshan, a proliferação do mau expulsa o bom da circulação. E esta proliferação quantitativa não pode deixar de ter consequências qualitativas. Ela faz parte integrante da política de desinformação. A grande mídia corporativa esmera-se neste trabalho de desinformação. Além de omitir os assuntos realmente cruciais para os destinos humanos ainda promove ativamente campanhas de desinformação. Um caso exemplar foi a maneira como apresentavam e apresentam a agressão à Síria. Assim, bandos sinistros de terroristas e mercenários pagos pelo imperialismo — alguns até praticaram o canibalismo como se viu num vídeo famoso difundido no YouTube — são sistematicamente tratados como “Exército de Libertação”. E daí passaram à mentira pura e simples, afirmando que o governo legítimo da Síria teria utilizado armas químicas contra o seu próprio povo. Denúncias públicas de que os crimes

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