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Adriano Espínola – Poesia – 19/02/24

Boa noite. Língua-mar Adriano Espínola¹ A língua em que navego, marinheiro, na proa das vogais e consoantes, é a que me chega em ondas incessantes à praia deste poema aventureiro. É a língua portuguesa, a que primeiro transpôs o abismo e as dores velejantes, no mistério das águas mais distantes, e que agora me banha por inteiro. Língua de sol, espuma e maresia, que a nau dos sonhadores-navegantes atravessa a caminho dos instantes, cruzando o Bojador de cada dia. Ó língua-mar, viajando em todos nós. No teu sal, singra errante a minha voz. ¹Adriano Espínola * Fortaleza, CE. – 1952 d.C Professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Ceará e professor-leitor na Université Stendhal-Grenoble III (1989-91). Autor de vários livros de poesia e de antologias em português e em inglês. Já tem publicados uma tese sobre a poesia de Gregório de Matos e os seguintes livros de poesia: Fala, favela (1981); O lote clandestino (1982); Trapézio (1984); Táxi (1986); Metrô (1993); Em trânsito (1996), que reúne os dois livros anteriores; Beira-Sol (1997). Em 1998 foi lançada uma segunda edição bilíngüe (português/francês) do seu livro de estréia.

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Ledo Ivo – Poesia – 12/08/2023

Boa noite A Queimada Ledo Ivo ¹ Queime tudo o que puder: as cartas de amor as contas telefônicas o rol de roupas sujas as escrituras e certidões as inconfidências dos confrades ressentidos a confissão interrompida o poema erótico que ratifica a impotência e anuncia a arteriosclerose os recortes antigos e as fotografias amareladas. Não deixe aos herdeiros esfaimados nenhuma herança de papel. Seja como os lobos: more num covil e só mostre à canalha das ruas os seus dentes afiados. Viva e morra fechado como um caracol. Diga sempre não à escória eletrônica. Destrua os poemas inacabados, os rascunhos, as variantes e os fragmentos que provocam o orgasmo tardio dos filólogos e escoliastas. Não deixe aos catadores do lixo literário nenhuma migalha. Não confie a ninguém o seu segredo. A verdade não pode ser dita. Lêdo Ivo * Maceió, AL – 18 de Fevereiro de 1924 +Sevilha, Espanha – 23 de dezembro de 2012

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Fagundes Varela – Versos na tarde – 21/01/2016

Canção Lógica Fagundes Varela¹ Eu amo, tu amas, ele ama… Teus olhos são duas sílabas Que me custam soletrar, Teus lábios são dous vocábulos Que não posso, Que não posso interpretar. Teus seios são alvos símbolos Que vejo sem traduzir; São os teus braços capítulos Que podem, Que podem me confundir. Teus cabelos são gramáticas Das línguas todas de amor, Teu coração – tabernáculo Muito próprio, Próprio de ilustre cantor. O teu caprichoso espírito, Inimigo do dever, É um terrível enigma Ai! que nunca, Que nunca posso entender. Teus pezinhos microscópios, Que nem rastejam no chão, São leves traços estéticos Que transtornam, Que transtornam a razão! Os preceitos de Aristóteles Neste momento quebrei! Tendo tratado dos píncaros, Oh! nas bases, Nas bases me demorei! ¹Luiz Nicolau Fagundes Varella * Rio Claro, RJ. – 1841 d.C + Niterói, RJ. – 1875 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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J. G. de Arújo Jorge – Verso na tarde – 09/01/2016

Esperança J. G. de Arujo Jorge¹ Não! A gente não morre quando quer, Inda quando as tristezas nos consomem. Há sempre luz no olhar de uma mulher E sangue oculto na intenção de um homem. Mesmo que o tempo seja apenas dor E da desilusão se fique prisioneiro. Vai-se um amor? Depois vem outro amor Talvez maior do que o primeiro. Sonho que se afogou na baixa-mar, De novo há de erguer, cheio de fé, Que mesmo sem ninguém o suspeitar, Volta a encher a maré. Não penses que jamais hás de achar fundo Nem que entre as tuas mãos não terás outra mão. Pode a vida matar o sonho e o sol e o mundo, Mas não nos mata o coração. (Poesia de Maria Helena,- extraído do livro Concerto a 4 mãos – de 1959) ¹José Guilherme de Araújo Jorge * Tarauacá, AC. – 20 de Maio de 1914 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 27 de Janeiro 1987 d.C >> Biografia de José Guilherme de Araújo Jorge [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Fagundes Varela – Versos na tarde – 03/07/2015

Soneto Fagundes Varela ¹ Desponta a estrela d’alva, a noite morre. Pulam no mato alígeros cantores, E doce a brisa no arraial das flores Lânguidas queixas murmurando corre. Volúvel tribo a solidão percorre Das borboletas de brilhantes cores; Soluça o arroio; diz a rola amores Nas verdes balsas donde o orvalho escorre. Tudo é luz e esplendor; tudo se esfuma Às carícias da aurora, ao céu risonho, Ao flóreo bafo que o sertão perfuma! Porém minh’alma triste e sem um sonho Repete olhando o prado, o rio, a espuma: – Oh! mundo encantador, tu és medonho! ¹ Luiz Nicolau Fagundes Varella * Rio Claro, RJ. – 1841 d.C + Niterói, RJ. – 1875 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Carlos Drumnond de Andrade – Prosa na tarde – 24/06/2015

Não deixe o amor passar Carlos Drummond de Andrade¹ Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida. Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu. Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês. Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: o amor. Por isso, preste atenção nos sinais – não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o amor. ¹Carlos Drummond de Andrade * Itabira do Mato Dentro, MG, – 31 de Outubro de 1902 d.C + Rio de Janeiro RJ, – 17 de Agosto de 1987 d.C >> biografia de Carlos Drummond de Andrade [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Jorge de Lima – Versos na tarde – 04/04/2015

A Tristeza era tanta Jorge de Lima ¹ A tristeza era tanta, tanta a mágoa que seu anjo da guarda resolvera lutar com ele, lutar para lutar, que o interesse da vida perecera. Ave e serpente, círculo e pirâmide, os olhos em fuzil e os doces olhos, os laços, os vôos livres e as escamas. Que doida simetria nesses ódios! Que forças transcendentes aros e ângulos alguém quis que lutassem nesse dia! Ave e serpente, círculo e pirâmide: Que divina constante simetria nessa luta soturna, nessa liça em que Deus reconstrói o eterno cisne! ¹ Jorge de Lima * União dos Palmares, AL. – Abril de 1895 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – Novembro de 1953 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Alphonsus de Guimaraens Filho – Versos na tarde – 17/03/2015

Boca temporã Alphonsus de Guimaraens Filho ¹ A boca temporã, nessa risada matinal, descuidosa, a linda boca fresca de céu, perdidamente louca pelo desejo apenas esmagada… Nela respira ingênua madrugada, a carne azul dos campos mal dormidos, rios, aguadas, vila despertada pelos ventos do alto, comovidos… Nessa boca que aos poucos madurando se oferece na árvore travessa, vejo dormir as frutas assustadas, as frutas sumarentas despontando. Agasalhar no colo essa cabeça, depois sair sonhando nas estradas. ¹ Alphonsus de Guimaraens Filho * Mariana, MG. – 3 de Junho de 1918 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 28 de Agosto de 2008 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Mário Quintana – Versos na tarde – 25/09/2014

Das Utopias Mário Quintana ¹ Se as coisas são inatingíveis… ora! não é motivo para não querê-las… Que tristes os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas! ¹ Mário de Miranda Quintana * Alegrete, RS. – 30 de Julho de 1906 d.C + Porto Alegre, RS. – 5 de Maio de 1994 d.C >> biografia [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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João Cabral de Melo Neto – Versos na tarde – 09/07/2014

Tecendo a Manhã João Cabral de Melo Neto ¹ 1 Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. 2 E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. inA Educação pela Pedra ¹ João Cabral de Melo Neto * Recife, PE. – 9 de Janeiro de 1920 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 9 de Outubro de 1999 d.C [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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