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Sylvia Plath – Poesia – 01/07/24

Boa noite Canção de Amor da Jovem Louca Sylvia Plath¹ Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer (Acho que te criei no interior da minha mente) Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis, Entra a galope a arbitrária escuridão: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama, Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade. (Acho que te criei no interior de minha mente) Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno: Retiram-se os serafins e os homens de Satã: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Imaginei que voltarias como prometeste Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome. (Acho que te criei no interior de minha mente) Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro: (Acho que te criei no interior de minha mente.) Tradução de Maria Luíza Nogueira ¹Sylvia Plath * Boston,Massachusetts – 27 de outubro de 1932 +Londres, Reino Unido – 11 de fevereiro de 1963

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T.S. Eliot – Poesia – 11/06/24

Boa noite. Retrato de uma dama-III T.S. Eliot¹ Cai a noite de Outubro; regressando como outrora, Excepto por uma leve sensação de estar inquieto, Galgo os degraus e giro a maçaneta da porta E sinto como se houvesse subido de quatro as escadas. “Com que então viajas? E quando voltas? Ora, que pergunta mais tola! Dificilmente o saberias. Hás de achar muito o que aprender lá fora.” Caiu-me lento o sorriso entre objetos antigos. “Poderás talvez escrever-me?” Por um segundo subiu-me o sangue à cabeça Como se assim eu calculasse este momento. “Tenho-me surpreendido com frequência ultimamente (Mas nossos princípios ignoram sempre nossos fins!) Por jamais nos havermos tornado amigos.” Senti-me como quem sorrisse, e ao voltar percebi, De repente, sua vítrea expressão. Perdi todo o controle; e em trevas na verdade mergulhamos. “Eu disse o mesmo para todos, todos os nossos amigos, Estavam todos certos de que nossos sentimentos Poderiam conjugar-se tão intimamente! Eu mesma dificilmente o entendo. Deixemos que isto fique agora à sua sorte. Escreverás, de quando em vez. E talvez nem demores tanto a fazê-lo. Estarei sentada aqui, servindo chá aos amigos.” E devo então trocar de forma a cada instante Para dar-lhe afinal uma expressão… dançar, dançar Como faria um urso bailarino, Tagarelar como um papagaio, rilhar os dentes como um bugio. Respiremos um pouco, no torpor de uma tragada. Bem! E se ela morresse numa tarde qualquer, Numa tarde enevoada e cinzenta, num encardido e róseo crepúsculo; Se ela morresse e me deixasse aqui sentado, a caneta entre os dedos. A névoa a cair sobre os telhados; Por um momento me perco em dúvidas, Já que não sei o que sentir ou se o entendo, Se sou um sábio ou simplesmente um tolo, cedo ou tarde… Não colheria ela algum lucro, afinal? Essa melodia culmina com uma “agonia de outono” E já que aqui falamos de agonia — Algum direito a sorrir eu teria? ¹Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880

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T.S.Eliot – Poesia – tarde – 26/04/24

Boa noite. Gerontion’s – Parte I T.S.Eliot Thou hast nor youth nor age, But, as it were, an after dinner’s sleep, Dreaming on both. (William Shakespeare, Measure for Measure, “Não és jovem nem velho, / mas como, se após o jantar adormecesses,/ Sonhando que ambos fosses.”) Eis-me aqui, um velho em tempo de seca, Um jovem lê para mim, enquanto espero a chuva. Jamais estive entre as ígneas colunas Nem combati sob as centelhas de chuva Nem de cutelo em punho, no salgado imerso até os joelhos, Ferroado de moscardos, combati. Minha casa é uma casa derruída, E no peitoril da janela acocora-se o judeu, o dono, Desovado em algum barzinho de Antuérpia, coberto De pústulas em Bruxelas, remendado e descascado em Londres. O bode tosse à noite nas altas pradarias; Rochas, líquen, pão-dos-pássaros, ferro, bosta. A mulher cuida da cozinha, faz chá, Espirra ao cair da noite, cutucando as calhas rabugentas. E eu, um velho, Uma cabeça oca entre os vazios do espaço. Tomaram-se os signos por prodígios: “Queremos um signo!” A Palavra dentro da palavra, incapaz de dizer uma palavra, Envolta nas gazes da escuridão. Na adolescência do ano Veio Cristo, o tigre. Em maio cqrrupto, cornisolo e castanha, noz das faias-da-judéia, A serem comidas, bebidas, partilhadas Entre sussurros; pelo Senhor Silvero Com suas mãos obsequiosas e que, em Limoges, No quarto ao lado caminhou a noite inteira; Por Hakagawa, a vergar-se reverente entre os Ticianos; Por Madame de Tornquist, a remover os castiçais No quarto escuro, por Fraülein von Kulp, A mão sobre a porta, que no vestíbulo se voltou. Navetas ociosas Tecem o vento. Não tenho fantasmas, Um velho numa casa onde sibila a ventania Ao pé desse cômoro esculpido pelas brisas Tradução Ivan Junqueira 1 Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880 Gerontion é um poema feito por T. S. Eliot que foi primeiramente publicado em 1920. O especialista de obras de Eliot, Grover Smith, disse sobre o poema: “Se alguma noção continuou disto nos poemas de 1917, Eliot estava sentimentalmente contrastando um passado resplendor com um presente triste, Gerontion veio para dissipar isto.” Outros poetas e artistas anglófonos utilizam trechos do poema para citar em suas obras. São formas de comunicação que Eliot estabelece com seu público para que este entenda que há algo maior em jogo. E o que é que está em jogo? Nada menos que todo o problema da tradição, considerada já em inícios do século XX como um cadáver que precisava ser eliminado da cultura ocidental e substituído por uma nova maneira de olhar o mundo – o modernismo revolucionário que viria a transformar a estrutura da realidade em um pesadelo. De suas janelas ventosas Gerontion olha para uma colina estéril: mais uma vez o olho sobe para descer em um abismo, revertendo o movimento de Dante e os santos cristãos que seguiram a “Descida de Santo Agostinho para que possa subir”. A mente de Gerontion vaga para trás, no entanto, não para cima – já em 480 aC ea batalha de Thermopylae (que se traduz como “portões quentes”), em seguida, avançar através de uma série de guerras que Gerontion sente teria compensado ele se ele tivesse estado lá lutar. Ele pensa na história como um sistema de corredores engenhosamente planejados para confundir e finalmente corromper a raça humana. História é uma “ela” – como sua velha governanta, cutucando um dreno entupido; Também como Fräulein von Kulp (para culpa?) Que se voltou sedutoramente no corredor; Ou a mística Madame de Tornquist (um torniquete, ou parafuso para parar o sangue?). Como essas mulheres, a história não leva a nada senão a corrupção. Ela “dá muito tarde ou muito cedo”, como uma mulher frustrante, e ela deixa seu amante não só de má vontade, mas assustado. Os esforços heróicos para satisfazer as exigências obscuras da história levaram a nada além de crueldade e ódio. E nesta história “veio Cristo o tigre”. Gerontion pensa da vinda de Christ em duas maneiras, primeiramente como um infante inútil e então como um tigre caçado. Esta parte do poema costuma ser mal interpretada, porque ninguém observa que Eliot deixou intencionalmente a frase emprestada de Lancelot Andrewes com “a Palavra” sem capitalização. Assim, em “Gerontion” lemos apenas de “A palavra dentro de uma palavra, incapaz de falar uma palavra.” Eliot sabia o que ele era quando ele restaurou a capital em “A Song for Simeon” e “Ash-Wednesday” (1930): “A palavra dentro da palavra [bíblica], incapaz de falar uma palavra”. Como Gerontion reflete, a resposta ao clamor dos filisteus por um “sinal” foi decepcionante Uma criança sem palavras, que passou da escuridão do inverno e das faixas para uma mola “depravada”, quando se transformou em um tigre ravening – um animal sacrificial que na vida contemporânea é caçado e comido por transientes bloodless como os pensionistas Silvero, Hakagawa, Fräulein von Kulp, e Madame de Tornquist. “O tigre nasce no ano novo” faz “molas” uma syllepsis, ou trocadilho, significando tanto “surge como uma primavera rejuvenescedora” e “pounces como um animal assassino”. Em João 6: 52-58, Jesus diz que aqueles que levam seu corpo e sangue para se tornarem um com ele em comunhão viverão eternamente, enquanto aqueles que o rejeitam morrerão. Gerontion conclui que esta doutrina moribunda veio devorar aqueles que não devoram “o tigre”, como fazem os pensionistas de Gerontion. Para eles, a refeição ritual não é “comunhão”, mas um canibal “divisão”. “Depois de tal conhecimento”, de fato, “que perdão?” Eloise Knapp Hay – Da maneira negativa de TS Eliot . Harvard University Press, 1982

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Pablo Neruda – Poesia – 17/04/24

Boa noite Poema XVIII Pablo Neruda Aqui eu te amo. Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento. Fosforece a lua sobre as águas errantes. Andam dias iguais a perseguir-se. Descinge-se a névoa em dançantes figuras. Uma gaivota de prata se desprende do ocaso. As vezes uma vela. Altas, altas, estrelas. Ou a cruz negra de um barco. Só. As vezes amanheço, e minha alma está úmida. Soa, ressoa o mar distante. Isto é um porto. Aqui eu te amo. Já me creio esquecido como estas velha âncoras. São mais tristes os portos ao atracar da tarde. Cansa-se minha vida inutilmente faminta.. Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante. Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos. Mas a noite enche e começa a cantar-me. A lua faz girar sua arruela de sonho. Olham-me com teus olhos as estrelas maiores. E como eu te amo, os pinheiros no vento, querem cantar o teu nome, com suas folhas de cobre.

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Quintino Cunha – Poesia – 02/12/23

Boa noite Encontro das Águas Quintino Cunha¹ Vê bem, Maria aqui se cruzam: este É o Rio Negro, aquele é o Solimões. Vê bem como este contra aquele investe, como as saudades com as recordações. Vê como se separam duas águas, Que se querem reunir, mas visualmente; É um coração que quer reunir as mágoas De um passado, às venturas de um presente. É um simulacro só, que as águas donas D’esta região não seguem o curso adverso, Todas convergem para o Amazonas, O real rei dos rios do Universo; Para o velho Amazonas, Soberano Que, no solo brasílio, tem o Paço; Para o Amazonas, que nasceu humano, Porque afinal é filho de um abraço! Olha esta água, que é negra como tinta. Posta nas mãos, é alva que faz gosto; Dá por visto o nanquim com que se pinta, Nos olhos, a paisagem de um desgosto. Aquela outra parece amarelaça, Muito, no entanto é também limpa, engana: É direito a virtude quando passa Pela flexível porta da choupana. Que profundeza extraordinária, imensa, Que profundeza, mais que desconforme! Este navio é uma estrela, suspensa Neste céu d’água, brutalmente enorme. Se estes dois rios fôssemos, Maria, Todas as vezes que nos encontramos, Que Amazonas de amor não sairia De mim, de ti, de nós que nos amamos!… ¹José Quintino Cunha * Itapajé, CE. – 24 Julho 1875 + Fortaleza,CE. – 01 Junho 1943

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Paul Valéry – Poesia – 14/11/23

Boa noite O SILFO Paul Valéry¹ Entrevisto e esquivo, eu sou esse aroma finado mas vivo que no vento assoma! Entrevisto e incerto, acaso ou talento? Mal se chega perto, concluiu-se o intento! Entrelido e oculto? Que erros, ao arguto, foram prometidos! Entrevisto e alheio lapso nu de um seio entre dois vestidos! ¹Ambroise-Paul-Toussaint-Jules Valéry * Paris, França – 30 de Outubro de 1871 d.C. + Paris, França – 20 de Julho de 1945 d.C. Filósofo, escritor e poeta francês, da escola simbolista. Seus escritos incluem interesses em matemática, filosofia e música. Realizou os estudos secundários em Montpellier na França, e iniciou sua carreira em Direito em 1889. Publicou seus primeiros versos, fortemente influenciados pela estética da literatura simbolista dominante na época. Em 1894 se instalou em Paris, onde trabalhou como redator no Ministério de Guerra. Depois da Primeira Guerra Mundial se dedicou inteiramente a literatura e foi aceito pela Academia Francesa em 1925. Sua obra poética foi influenciada por Stéphane Mallarmé que conseqüentemente influenciou outro francês Jean-Paul Sartre.

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T.S.Eliot – Poesia – 01/01/24

Boa noite A canção de amor de J. Alfred Prufrock – Parte VI TS. Eliot Não! Não sou o Príncipe Hamlet, nem pretendi sê-lo. Sou um lorde assistente, o que tudo fará Por ver surgir algum progresso, iniciar uma ou duas cenas, Aconselhar o príncipe; enfim, um instrumento de fácil manuseio, Respeitoso, contente de ser útil, Político, prudente e meticuloso; Cheio de máximas e aforismos, mas algo obtuso; As vezes, de fato, quase ridículo Quase o Idiota, às vezes. Envelheci . . . envelheci . . . Andarei com os fundilhos das calças amarrotados. Repartirei ao meio meus cabelos? Ousarei comer um pêssego? Vestirei brancas calças de flanela, e pelas praias andarei. Ouvi cantar as sereias, umas para as outras. Não creio que um dia elas cantem para mim. Vi-as cavalgando rumo ao largo, A pentear as brancas crinas das ondas que refluem Quando o vento um claro-escuro abre nas águas. Tardamos nas câmaras do mar Junto às ondinas com sua grinalda de algas rubras e castanhas Até sermos acordados por vozes humanas. E nos afogarmos. Tradução Ivan Junqueira 1 Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880

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