2011: um marco para o setor de TI Luiz A. Sette ¹/O Estado de S.Paulo O Brasil está vivendo uma euforia em quase todos os setores da economia e muito se tem falado nas áreas de consumo, petróleo e de infraestrutura, em razão do crescente mercado consumidor brasileiro, das descobertas do pré-sal e dos grandes investimentos que serão necessários para a realização da Copa do Mundo, em 2014, e dos Jogos Olímpicos, em 2016. Pouco se comenta, porém, sobre o setor de Tecnologia da Informação (TI) e quanto este será crucial no nosso desenvolvimento. O País é, hoje, o sexto maior mercado em vendas de computadores pessoais do mundo, tendo alcançado um total de quase 14 milhões de unidades vendidas somente em 2010, entre desktops e notebooks – estes representando mais da metade das vendas. Estima-se que, neste ano, o mercado brasileiro absorva mais de 15 milhões de novos computadores. Em apenas dois anos, projeta-se que o Brasil possa alcançar o terceiro lugar no ranking mundial de vendas de PCs, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Vale notar que a China deverá alcançar, pela primeira vez na história, o topo das vendas ainda este ano, deixando em segundo lugar o país que democratizou o uso da tecnologia.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Este fenômeno não é recente. Desde o fim da famigerada reserva de mercado de informática, o consumidor brasileiro sempre mostrou um forte apetite para tecnologia. Com a popularização dos meios eletrônicos, o advento da internet e da comunicação móvel, o consumidor passou a fazer uso do PC em casa, no trabalho e na escola, transformando-o em instrumento essencial de acesso ao conhecimento. Essa transformação foi de extrema importância para o País, que passou a capacitar melhor sua classe média e a fomentar o desenvolvimento econômico sustentável e de qualidade. Vê-se essa mudança, por exemplo, com a criação de cursos de graduação virtuais; a expansão do e-commerce e o consumo por novos meios, como os sites de compras coletivas; a criação de milhares de blogs pessoais e a mobilização pela internet para eventos diversos, inclusive políticos e sociais. Esse avanço na utilização da internet e da comunicação móvel tende a aumentar ainda mais no Brasil após a implementação do Plano Nacional de Banda Larga – PNBL, que foi instituído pelo Decreto 7.175/10. O PNBL terá investimentos de cerca de R$ 13 bilhões, sendo certo que grande parte desses recursos deverá ser direcionada para os indispensáveis serviços de TI – e para a infraestrutura do País. Mas, apesar do enorme volume de PCs vendidos no mercado brasileiro, do acesso à tecnologia de quase metade da população, e, agora, do lançamento do PNBL, ainda vivenciamos um baixo nível de investimento em TI por parte do mundo corporativo. A empresa brasileira ainda investe muito pouco em tecnologia da informação e, por isso, o mercado caracteriza-se por uma ampla diversidade de pequenas e médias empresas do segmento, pulverizadas regionalmente e direcionadas para setores específicos. Pulverização Um recente estudo publicado pela auditoria KPMG mostra que o setor de TI movimentou 72 operações de fusões e aquisições no ano passado. O número representa quase o dobro do registrado no ano anterior, mas o valor médio das aquisições foi inferior a R$ 10 milhões, o que é muito pouco se comparado a outros grandes mercados mundiais. Este volume modesto é o espelho da grande pulverização do segmento no Brasil. Até 2008, o mercado de TI foi sempre marcado pelas grandes aquisições internacionais lideradas pelos gigantes mundiais como Oracle, IBM, HP, SAP, Microsoft e outras. Diante da freada de investimentos nos países europeus e nos Estados Unidos, é natural que as empresas mundiais se voltem para o Brasil. Nos últimos anos, no entanto, uma nova tendência tem sido observada: a consolidação de empresas brasileiras, com destaque para a Stefanini e Totvs e, recentemente, para as aquisições da Tivit e da CPM Braxis. Existe um movimento natural de união de empresas brasileiras para ganho de escala e posicionamento estratégico, como resposta à atenção que as empresas estrangeiras passaram a dispensar ao País. As companhias menores estão se capacitando e se preparando não só para uma explosão de demanda no mercado brasileiro, bem como para concorrer com as multinacionais que buscam no Brasil a solução para a crise enfrentada nos mercados tradicionais. As empresas nacionais devem unir forças para encarar um mercado mais competitivo e buscar, por meio das fusões e das aquisições, uma estratégia de crescimento e, principalmente, de defesa contra os grandes players mundiais. Além do movimento natural de coalizão, muitas empresas brasileiras de TI retomaram seus projetos de abertura de capital que, em muitos casos, somente se concretizarão com algumas aquisições bem sucedidas. Diante do quadro de estagnação de alguns mercados e da transformação de outros, novas empresas passam a concorrer pela liderança no mundo e no Brasil. Existem, ainda, muitos entraves para aquisições de empresas de TI no Brasil, especialmente quando tratamos de um segmento repleto de pequenas e médias empresas. Na maioria dos casos, a governança corporativa é o maior limitador para uma aquisição. Os custos de transação, no Brasil, representam um limitador igualmente forte. Mas, tendo em vista a expansão do mercado e a necessidade de união entre os small players, podemos esperar, com certeza, que o ano de 2011 registre o maior número de fusões e aquisições de empresas de TI da história do Brasil. ¹ Luiz A. Sette é sócio da Azevedo Sette Advogados