O mercado de saúde complementar reúne 24% da população brasileira. Desse total, 70% a 80% são planos vinculados a pessoas jurídicas, ou seja, pagos por empresas para os funcionários. Segundo Cláudio Tafla, Gerente Médico da Diretoria Técnica da Amil, os planos corporativos mudam drasticamente o relacionamento da operadora com o usuário. O Editor Há dois tipos de brasileiros: os que têm planos de saúde de primeira linha (ínfima minoria) e os demais (imensa maioria). Eu entendo as pessoas que defendem a tese de que Lula devia se tratar no SUS. Para mim, essas críticas acintosas e incômodas trazem à luz o maior problema deste país, que é a saúde pública. Pelas leis do mercado, implantadas pela irresponsável conivência de sucessivos governos, os brasileiros foram divididos em duas classes sociais: os que têm plano de saúde de primeira linha (uma ínfima minoria) e os demais (a imensa maioria). Falo em plano de saúde de primeira linha, porque não adianta ter determinadas coberturas, bem mais baratas, mas que dão ao segurado apenas uma sensação de estar protegido. [ad#Retangulo – Anuncios – Esquerda]Na verdade, quando realmente adoece e precisa de assistência, ele descobre que a cobertura do plano é limitada a somente um hospital de médio porte e algumas clínicas desqualificadas. E em muitos casos o paciente acaba tendo de recorrer ao SUS. Para conferir nossa realidade, basta examinar os levantamentos feitos pelo Tribunal de Contas da União. São informações irrefutáveis, inquestionáveis, inaceitáveis, como gosta de frisar o mestre Helio Fernandes. No ano passado, cerca de 60 mil pacientes não puderam se submeter aos serviços de radioterapia. Se já não bastasse, 80 mil não conseguiram ser operados para extração de um tumor. Ao contrário do que aconteceu ao presidente Lula, que tem um plano de saúde de cobertura total das despesas hospitalares e foi prontamente atendido num hospital de primeira linha, no SUS ocorre o contrário. Além de não conseguir atender a todos – na radioterapia o índice de não atendidos é de 34% e em cirurgia, de 53% – os pacientes começam o tratamento muito depois do tempo adequado. No caso dos procedimentos de quimioterapia, o tempo de espera médio foi de 76,3 dias e apenas 35% dos pacientes foram atendidos com 30 dias (prazo máximo “aceito” pelo Ministério da Saúde). Na radioterapia, o resultado é ainda pior: 113,4 dias de espera e apenas 16% atendidos no primeiro mês. Esta é a realidade brasileira. Por isso, eu entendo quando as pessoas mandam o Lula (ou qualquer outra autoridade) se tratar no SUS. Há motivos muito sérios para que a maioria dos brasileiros se comportem assim. Mas é claro que Lula, como pessoa, teria mesmo que procurar o melhor tratamento, e o mais rápido possível. Caso contrário, não deveria ser levado ao Hospital Sirio e Libanês e sim ao hospício mais próximo. Carlos Newton/Tribuna da Imprensa