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Patativa do Assaré – Versos na tarde – 20/08/2016

O Peixe Patativa do Assaré¹ Tendo por berço o lago cristalino, Folga o peixe, a nadar todo inocente, Medo ou receio do porvir não sente, Pois vive incauto do fatal destino. Se na ponta de um fio longo e fino A isca avista, ferra-a insconsciente, Ficando o pobre peixe de repente, Preso ao anzol do pescador ladino. O camponês, também, do nosso Estado, Ante a campanha eleitoral, coitado! Daquele peixe tem a mesma sorte. Antes do pleito, festa, riso e gosto, Depois do pleito, imposto e mais imposto. Pobre matuto do sertão do Norte! ¹Antônio Gonçalves da Silva * Assaré,Ceará, Br – 1909 d.C + Assaré,Ceará, Br – 2002 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Patativa do Assaré – Versos na tarde – 24/02/2016

Aos Poetas Clássicos Patativa do Assaré¹ Poetas niversitário, Poetas de Cademia, De rico vocabularo Cheio de mitologia; Se a gente canta o que pensa, Eu quero pedir licença, Pois mesmo sem português Neste livrinho apresento O prazê e o sofrimento De um poeta camponês. Eu nasci aqui no mato, Vivi sempre a trabaiá, Neste meu pobre recato, Eu não pude estudá. No verdô de minha idade, Só tive a felicidade De dá um pequeno insaio In dois livro do iscritô, O famoso professô Filisberto de Carvaio. No premêro livro havia Belas figuras na capa, E no começo se lia: A pá — O dedo do Papa, Papa, pia, dedo, dado, Pua, o pote de melado, Dá-me o dado, a fera é má E tantas coisa bonita, Qui o meu coração parpita Quando eu pego a rescordá. Foi os livro de valô Mais maió que vi no mundo, Apenas daquele autô Li o premêro e o segundo; Mas, porém, esta leitura, Me tirô da treva escura, Mostrando o caminho certo, Bastante me protegeu; Eu juro que Jesus deu Sarvação a Filisberto. Depois que os dois livro eu li, Fiquei me sintindo bem, E ôtras coisinha aprendi Sem tê lição de ninguém. Na minha pobre linguage, A minha lira servage Canto o que minha arma sente E o meu coração incerra, As coisa de minha terra E a vida de minha gente. Poeta niversitaro, Poeta de cademia, De rico vocabularo Cheio de mitologia, Tarvez este meu livrinho Não vá recebê carinho, Nem lugio e nem istima, Mas garanto sê fié E não istruí papé Com poesia sem rima. Cheio de rima e sintindo Quero iscrevê meu volume, Pra não ficá parecido Com a fulô sem perfume; A poesia sem rima, Bastante me disanima E alegria não me dá; Não tem sabô a leitura, Parece uma noite iscura Sem istrela e sem luá. Se um dotô me perguntá Se o verso sem rima presta, Calado eu não vou ficá, A minha resposta é esta: — Sem a rima, a poesia Perde arguma simpatia E uma parte do primô; Não merece munta parma, É como o corpo sem arma E o coração sem amô. Meu caro amigo poeta, Qui faz poesia branca, Não me chame de pateta Por esta opinião franca. Nasci entre a natureza, Sempre adorando as beleza Das obra do Criadô, Uvindo o vento na serva E vendo no campo a reva Pintadinha de fulô. Sou um caboco rocêro, Sem letra e sem istrução; O meu verso tem o chêro Da poêra do sertão; Vivo nesta solidade Bem destante da cidade Onde a ciença guverna. Tudo meu é naturá, Não sou capaz de gostá Da poesia moderna. Dêste jeito Deus me quis E assim eu me sinto bem; Me considero feliz Sem nunca invejá quem tem Profundo conhecimento. Ou ligêro como o vento Ou divagá como a lêsma, Tudo sofre a mesma prova, Vai batê na fria cova; Esta vida é sempre a mesma. Antônio Gonçalves da Silva – Patativa do Assaré * Assaré,Ceará, Br – 1909 d.C + Assaré,Ceará, Br – 2002 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Patativa do Assaré – Versos na tarde – 30/01/2014

A festa da natureza Patativa do Assaré¹ Chegando o tempo do inverno, Tudo é amoroso e terno, Sentindo o Pai Eterno Sua bondade sem fim. O nosso sertão amado, Estrumicado e pelado, Fica logo transformado No mais bonito jardim. Neste quadro de beleza A gente vê com certeza Que a musga da natureza Tem riqueza de incantá. Do campo até na floresta As ave se manifesta Compondo a sagrada orquesta Desta festa naturá. Tudo é paz, tudo é carinho, Na construção de seus ninho, Canta alegre os passarinho As mais sonora canção. E o camponês prazentero Vai prantá fejão ligero, Pois é o que vinga premero Nas terras do meu sertão 1Antônio Gonçalves da Silva * Assaré, Ceará, – 05 de Março de 1909 d.C + Assaré, Ceará, – 08 de Julho de 2002 d.C >> biografia de Patativa do Assaré [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Patativa do Assaré – Versos na tarde – 23/01/2014

A terra dos posseiros de Deus Patativa do Assaré¹ Esta terra é desmedida e devia ser comum, Devia ser repartida um toco pra cada um, mode morar sossegado. Eu já tenho imaginado Que a baixa, o sertão e a serra, Devia sê coisa nossa; Quem não trabalha na roça, Que diabo é que quer com a terra? ¹Antônio Gonçalves da Silva * Assaré, Ceará, – 05 de Março de 1909 d.C + Assaré, Ceará, – 08 de Julho de 2002 d.C >> biografia de Patativa do Assaré [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Patativa do Assaré – Versos na tarde – 03/12/2013

Outros olhos Patativa do Assaré¹ Teus olhos Maria Loura, Teus olhos Maria Morena, Teus olhos Maria Ruiva Não cabem no meu poema! Porque no meu poema (no poema que escreverei) Só cabem os olhos dela, Daquela que sempre amei!… Por isso, Maria Loura, Por isso, Maria Morena, Por isso, Maria Ruiva, Fitar-me não vale a pena! Só cabem no meu poema Os olhos da minha amada; Olhos negros, olhos claros, De rubis… de esmeralda!… ¹Antônio Gonçalves da Silva * Assaré, Ceará, Br. – 1909 d.C + Assaré, Ceará, Br. – 2002 d.C >> biografia de Patativa do Assaré [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Patativa do Assaré – Versos na tarde – 07/05/2013

Saudade Patativa do Assaré¹ Saudade dentro do peito É qual fogo de monturo Por fora tudo perfeito, Por dentro fazendo furo. Há dor que mata a pessoa Sem dó e sem piedade, Porém não há dor que doa Como a dor de uma saudade. Saudade é um aperreio Pra quem na vida gozou, É um grande saco cheio Daquilo que já passou. Saudade é canto magoado No coração de quem sente É como a voz do passado Ecoando no presente. A saudade é jardineira Que planta em peito qualquer Quando ela planta cegueira No coração da mulher, Fica tal qual a frieira Quanto mais coça mais quer. ¹Antônio Gonçalves da Silva * Assaré, Ceará – 1909 d.C + Assaré, Ceará – 2002 d.C >>biografia de Patativa do Assaré [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Patativa do Assaré – Versos na tarde

O Burro Patativa do Assaré¹ Vai ele a trote, pelo chão da serra, Com a vista espantada e penetrante, E ninguém nota em seu marchar volante, A estupidez que este animal encerra. Muitas vezes, manhoso, ele se emperra, Sem dar uma passada para diante, Outras vezes, pinota, revoltante, E sacode o seu dono sobre a terra. Mas contudo! Este bruto sem noção, Que é capaz de fazer uma traição, A quem quer que lhe venha na defesa, É mais manso e tem mais inteligência Do que o sábio que trata de ciência E não crê no Senhor da Natureza. ¹Antônio Gonçalves da Silva * Assaré, Ceará, – 1909 d.C + Assaré, Ceará, – 2002 d.C >> biografia de Patativa do Assaré

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