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Juiz cobra transparência da turma do Pasquim

Brasil: da série “quem te viu quem te vê”! Ziraldo, Jaguar e mais diversos outros que se dizem vítimas do regime de exceção que se estabeleceu no Brasil em 1964, recebem o que prosaicamente se denomina de bolsa ditadura. A indignação por tal ato indenizatório, continua suscitando protestos de todos os lados. Inclusive de antigos admiradores do Pasquim. Este é o caso do Juiz Ilton Dellandrea, cujo desabafo transcrevo a seguir: Prezados Ziraldo e Jaguar: Eu fui fã número 1 do PASQUIM (em seguida saberão porquê). Por isto me sinto traído pela atitude de vocês (Ziraldo e Jaguar). Vocês, recebendo essa indenização milionária, fizeram exatamente aquilo que criticavam na época: o enriquecimento fácil e sem causa emergente da e na estrutura ditatorial. Na verdade, vocês se projetaram com a Ditadura. Vocês se sustiveram da Ditadura. Vocês se divertiram com a Ditadura. Está bem, vocês sofreram com a Ditadura, mas, exceto aquela semana na cadeia – que parece não foi tão sofrida assim – nada que uma entrevista regada a uísque e gargalhadas na semana seguinte não pudesse reparar. A cada investida da Ditadura vocês se fortaleciam e a tiragem seguinte do jornal aumentava consideravelmente. Receber um milhão de reais e picos por causa daquela semana,convenhamos, é um exagero,principalmente quando se considera que o salário mínimo no Brasil é de R$ 480,00 Por mês… Vocês não podem argumentar que a Ditadura acabou com o jornal. Seria a mais pura mentira, se é que a mentira pode ser pura. O ‘O Pasquim’ acabou porque vocês se perderam. O Pasquim acabou nos estertores da Ditadura porque vocês ficaram sem o motor principal de seu sucesso, a própria Ditadura. Vocês se encantaram com a nova ordem e com a possibilidade de a Esquerda dominar este país que não souberam mais fazer humor. Tanto que mais tarde voltaram de Bundas – há não muitos anos – e de bunda caíram porque foram pernósticos e pedantes. Vocês só sabiam fazer uma coisa: criticar a Ditadura e não seriam o que são sem ela. Eu vi o nº 1 de ‘O Pasquim’ num tempo em que não tinha dinheiro para adquiri-lo. Mais tarde, estudante em Florianópolis, passei a comprá-lo toda semana na rua Felipe Schmidt, próximo à rua 7 de Setembro, numa banca em que um rapaz chamado, se não me engano Vilmar, reservava um exemplar para mim.Eu pagava no fim do mês. Formado em Direito, em 1976 fui para Taió. Lá assinei o jornal que não chegava na papelaria do meu amigo Horst. Em 1981 vim para o Rio Grande do Sul e morando, inicialmente, em Iraí, continuei assinante. Em fins de 1982 fui promovido para Espumoso e sempre assinante. Eu tenho o nº 500 de O Pasquim, aquele que foi apreendido nas bancas e que os assinantes receberam…Nessa época, não sei se lembram, o jornal reduziu drasticamente seu número de folhas. Era a crise. Era um arremedo do que fora, mas ainda assim conservava alguma verve. A Ditadura estava saindo pelas portas dos fundos e vocês pelas portas da frente, famosos e aplaudidos. Vocês lançaram uma campanha de assinaturas. Eu fui a campo e consegui cinco ou seis. Em Espumoso! Imaginei que se cada assinante conseguisse cinco assinaturas, ajudaria muito.Eu era Juiz de Direito. Convenhamos: não fica bem a um Juiz sair vendendo assinatura de jornal. Mas fiz isto com o único interesse de ajudar o Pasquim a se manter. Na verdade, as assinaturas foram vendidas a amigos advogados aos quais explanei a origem, natureza e linha editorial do jornal. Uns cinco ou seis adquiriram assinaturas anuais. No máximo dois meses depois todos paramos de receber o jornal, que saiu de circulação. O “O Pasquim” deu o calote…. Eu fiquei com cara de tacho e, como se diz por aqui, mais vexado que guri cagado. Sofri constrangimento por causa de vocês Devo pedir indenização por isto? Não. esqueçam! Mas agora que vocês estão milionários, procurem nos seus registros e devolvam o dinheiro dos assinantes de Espumoso que pagaram e não receberam a assinatura integral. Naquele tempo vocês não tinham como faze-lo. Agora têm. Paguem proporcionalmente, mas com juros e correção monetária, como manda a lei. Caso contrário, além de traidores, serei obrigado a considerá-los também caloteiros. Ilton Dellandrea Juiz de Direito

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Crônica – Ivan Lessa.

Nas malhas da rede *Ivan Lessa – BBC London No mundo inteiro, não se fala de outra coisa: o Windows Vista, novo sistema operacional da Microsoft, começa a ser vendido na quinta-feira. Só a versão para empresas, conforme já anunciou esta página na qual me encontro incrustado como jornalista no começo da invasão do Iraque. O sistema para uso doméstico só em janeiro. De qualquer forma, pode ser um excelente presente de Natal e quem vai, ou quer, receber já olha atravessado para a atual versão XP do Windows. O mundo é novidadeiro. O XP me acolhe aqui na BBC e em casa. Comecei no pobre do Windows 98, que morreu de morte natural, a velhice, e eu lamentei quase tanto quanto lamentei o atropelamento da primeira cachorrinha que tive, a Susy. Aliás, naquela época, nunca me ficou claro na cabeça se era Susy ou Susie. Era, como hoje, semiletrado. De esquemas como XP, manjo um pouquinho mais. Não chego a ser o proverbial “nerd”. “Nerd”, aliás, já traduziram no Brasil? Procuraram um equivalente? Informática A gente passa direto para os “chat rooms” em que se transformaram nossos velhos e simpáticos butecos (sim, com U mesmo) e vamos deletando o português brasileiro cada vez mais. Tem gente que gosta dos neologismos anglo-informáticos. Gente que acha que aumentam nosso vocabulário, nosso léxico, nossas blogueadas por esse mundo de Deus e Bill Gates. Só há dois argumentos contra: primeiro, que a preguiça de procurar um equivalente faz mal à alma e à mente, e, segundo, que cada neologismo que se toma emprestado e se incorpora ao nosso idioma significa uma palavrinha dizendo adeus, sendo atropelada em frente à Colombo de Copacabana, num domingo, feito a minha bassê. (Eu devia ter deixado “basset”.) Noel diante da tela Eu vivo citando nosso cancioneiro (nunca “songuibuque”) para exemplificar tudo e nada. Noel Rosa cantou que o cinema falado foi o grande culpado da transformação. Referia-se, o poeta da Vila, ao fato de que o samba não tem tradução e que o amor, lá no morro, era, e ainda deve ser, espero, amor pra chuchu, inclusive que suas rimas não tinham e não têm tradução. Mais: essa história de “alô, boy, alô, Johnny” só podia ser conversa de telefone. Tinha razão o grande Noel. Pena que não pegou os anos 50 e a televisão para saber o que diria, ou melhor, cantaria e comporia. Internet? Só de pensar, tenho arrepios. Uma coisa é certa: Internet é palavra de rima rica. Não me ocorre nenhuma no momento a não ser “mete”, do verbo “meter”, mas isso é culpa da ignorância e falta de vergonha na cara de minha mente. 15 segundos de progresso Negócio seguinte: um estudo completíssimo, como só os estudos britânicos são completos, revelou uma brusca mudança nos hábitos mediáticos dos cidadãos destas ilhas. Os ingleses, galeses, escoceses e irlandeses do norte, sem combinar nada, baixaram os jornais, fecharam os livros, desligaram a televisão e foram lá para diante das telas cada vez maiores dos computadores. Baixam, ou “download” (daumloudum?) tudo, conforme está na moda. Filme, filminhos e ate mesmo filmões, que estão na bica de começar. Não, os cinemas não estão às moscas. Não, os jornais não estão apenas embalando peixe. Há mais de um senhor aposentado na biblioteca do bairro. Mas houve uma mudança. E sensível, para os donos das mídias. Que, é claro, já correram e há muito para chegar em primeiro lugar na Net, tentando dar aquilo que os irriquietos internautas querem. Não deve ser tão difícil assim. Um dado mudou pouquíssimo: o tempo que um internauta passa diante de um sítio (ou “site”) passou de 40 segundos para 55. Nada contém o progresso. Nada retém a regressão. *Nota do editor do blog. Ivan Pinheiro Themudo Lessa (São Paulo, 9 de maio de 1935) é um jornalista e escritor brasileiro. Filho da jornalista e cronista Elsie Lessa e do escritor Orígenes Lessa. É bisneto do escritor e gramático Julio Cézar Ribeiro Vaugham, autor, entre outros, do romance naturalista A Carne, além de criador da Bandeira Paulista. Ivan foi editor e um dos principais colaboradores do jornal O Pasquim, onde assinava as seções Gip-Gip-Nheco-Nheco, Fotonovelas e “Os Diários de Londres”, escritos em ‘parceria’ com seu heterônimo Edélsio Tavares. Publicou três livros: Garotos da Fuzarca (contos, 1986), Ivan Vê o Mundo (crônicas, 1999) e O Luar e a Rainha (crônicas, 2005).Ivan Lessa mora em Londres, onde escreve crônicas três vezes por semana para a BBC.

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Crônica – Ivan Lessa.

Ivan Lessa – BBC A Taça Global já é nossa! Folhas inglesas e brasileiras me informam que há 500 jornalistas brasileiros cobrindo a Copa do Mundo na Alemanha. Uso o verbo cobrir em seu mais amplo sentido. O mesmo não faço com a palavra “jornalista”.Pelo que depreendi, há muito tempo, jornalista cobre (novamente em seu mais amplo sentido) radialista e televisionista. São 500 atletas das palavras se exercitando – atirando martelos, arremessando dardos, correndo os 200 metros rasos – para que 270 milhões de brasileiros possam ficar imaginando o que não deve ser um jogo de futebol entre seleções internacionais. Corrigindo-me: são 280 milhões de brasileiros. Foi só eu parar para digitar duas linhas que mais 10 milhões coroaram ou deram as caras, por assim dizer. As mesmas folhas me dão conta que, desses 500, 160 são da Globo, o que inclui rádio e televisão, mais 16 – esses comprovadamente alfabetizados –, do jornal com uma triagem de mais de 300 mil exemplares.É bastante. Levando-se em conta que o Brasilzão, como o chamam carinhosamente essas pessoas aumentativas torcendo por jogadores diminutivos (Ronaldinho, Juninho, Robinho, Cafuinha, Didinho etc), não tem mais que 3 jornais e 1/3 que possam ser levados a sério por pessoas que fazem questão de ser sérias. Acho uma boa distribuição daquilo que poderíamos chamar, no melhor estilo PT, de “Bolsa Beabá”. Folheio ciberneticamente o simpático jornalão soi disant carioca. Lá estão, todos os santos dias, desde que esse raio dessa copa começou, 16 jornalistas. Dos colunistas, coitados, morro de pena, apesar de todas as mordomias, pois já exerci a profissão quando jovem, inocente, duro e cara de pau. Dia após dia, lá estão os 16 fazendo o espetáculo sem juiz, bandeirinhas, cartões amarelos ou vermelhos. É só dar uma chegada ao sítio global. Olhai-os a zanzar pela relva verde, farta e saborosa da palavra escrita. De óculos escuros, bengalas brancas, tentando não esbarrar uns nos outros, esbarrando sempre uns nos outros, tropeçando, caindo de bunda no chão, como num pastelão clássico imitando os mestres do gênero, de Chaplin a Buster Keaton, passando por Harry Langdon e Harold Lloyd, em roteiro idealizado por Ionesco e Beckett. Suas frases ecoam na mente como encantações ou pontos de macumba. As escritas e lidas e principalmente as imaginadas, pois não há melhor forma de elogio do que a imaginação. O texto está pronto e tinindo, para os bons apreciadores. Como nas velhas sessões Passatempo, do Capitólio, na Cinelândia, onde também estavam Os Três Patetas e O Gordo e o Magro, o espetáculo começa quando você chega. – É preciso escalar Robinho. – Ich komme aus Rio. – Comandante Lobato! Comandante Lobato! – Ronaldinho está jogando muito na frente. – Leitura labial é crime previsto na constituição ou não? – Qual é o certo: Ich bin ein Berliner ou Ich bin Berliner? – Como dizia Neném Pé de Prancha… – Alguém aí viu o comandante Lobato? – Der Motor ist kaputt. – Devemos esquecer 2002 e 1998. Dois amigos cuja opinião prezo e respeito me garantiram que a coluna do Tostão é a melhor do gênero. Por ser um fracasso na marcação, eu sempre me descuidei. Passei a acompanhar, a fazer minha cobertura. Eles estavam, estão, certos. Tostão é longe o melhor comentarista, traje esporte ou passeio. Agora, pouco importa o resultado do jogo de sábado e o próximo, se houver, e sei que, malheuresement, haverá. Uma taça nós já erguemos: a Global de Cobertura Jornalística é nossa. Sempre mal informado, só não sei se somos penta, tetra ou hexa.

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