Arquivo

Pablo Neruda – Poesia – 17/04/24

Boa noite Poema XVIII Pablo Neruda Aqui eu te amo. Nos escuros pinheiros se desenlaça o vento. Fosforece a lua sobre as águas errantes. Andam dias iguais a perseguir-se. Descinge-se a névoa em dançantes figuras. Uma gaivota de prata se desprende do ocaso. As vezes uma vela. Altas, altas, estrelas. Ou a cruz negra de um barco. Só. As vezes amanheço, e minha alma está úmida. Soa, ressoa o mar distante. Isto é um porto. Aqui eu te amo. Já me creio esquecido como estas velha âncoras. São mais tristes os portos ao atracar da tarde. Cansa-se minha vida inutilmente faminta.. Eu amo o que não tenho. E tu estás tão distante. Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos. Mas a noite enche e começa a cantar-me. A lua faz girar sua arruela de sonho. Olham-me com teus olhos as estrelas maiores. E como eu te amo, os pinheiros no vento, querem cantar o teu nome, com suas folhas de cobre.

Leia mais »

Pablo Neruda – Poesia – 24/03/24

Boa noite. Os teus pés Pablo Neruda Quando não posso contemplar teu rosto, contemplo os teus pés. Teus pés de osso arqueado, teus pequenos pés duros. Eu sei que te sustentam e que teu doce peso sobre eles se ergue. Tua cintura e teus seios, a duplicada púrpura dos teus mamilos, a caixa dos teus olhos que há pouco levantaram vôo, a larga boca de fruta, tua rubra cabeleira, pequena torre minha. Mas se amo os teus pés é só porque andaram sobre a terra e sobre o vento e sobre a água, até me encontrarem.

Leia mais »

Pablo Neruda – Poesia – 09/01/24

Boa noite Teu riso Pablo Neruda Tira-me o pão, se quiseres, tira-me o ar, porém nunca me tires o teu riso. Não me tires a rosa, a lança que debulhas, a água que de repente em tua alegria estala, essa onda repentina de prata que te nasce. De áspera luta volto com olhos fatigados por vezes de ter visto a terra que não muda, mas ao chegar teu riso sobe ao céu me buscando, e abre para mim todas as portas desta vida. Amor meu, no momento mais escuros desata o teu riso, e se acaso vês que meu sangue mancha as pedras do caminho, ri, porque teu riso será, em minhas mãos, como uma espada fresca. Junto ao mar, no outono, teu riso deve erguer sua cascata de espuma, e em primavera, amor, quero teu riso como a flor que eu esperava, a flor azul, a rosa da minha pátria sonora. Que te rias da noite, ri do dia, da lua, das ruas tortas da ilha, ri do desajeitado rapaz que te quer tanto, porém quando mal abro os olhos, quando os fecho, quando os meus passos vão, quando os meus passos voltam, nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera, mas nunca o teu riso, senão, amor, eu morro.

Leia mais »

Pablo Neruda – Poesia – 20/11/23

Boa noite Soneto * Pablo Neruda¹ Saberás que não te amo e que te amo posto que de dois modos é a vida, a palavra é uma asa do silêncio, o fogo tem uma metade de frio. Eu te amo para começar a amar-te, para recomeçar o infinito e para não deixar de amar-te nunca: por isso não te amo ainda. Te amo e não te amo como se tivesse em minhas mãos as chaves da fortuna e um incerto destino desafortunado. Meu amor tem duas vidas para amar-te. Por isso te amo quando não te amo e por isso te amo quando te amo. *in cem sonetos de amor e uma canção desesperada ¹Neftalí Ricardo Reyes * Parral, Chile – 12 de Julho de 1904 d.C + Santiago, Chile – 23 de Setembro de 1973 d.C

Leia mais »

Pablo Neruda – Versos na tarde – 10/06/2016

Mulher Remota Pablo Neruda¹ Esta mulher cabe em minhas mãos. É branca e ruiva e em minhas mãos a levaria como uma cesta de magnólias. Esta mulher cabe em meus olhos. Envolvem-na os meus olhares, meus olhares que nada vêem quando a envolvem. Esta mulher cabe em meus desejos. Desnuda está sob a anelante labareda de minha vida e o meu desejo queima-a como uma brasa. Porém, mulher remota, minhas mãos e meus desejos guardam para ti a sua carícia porque só tu, mulher remota, só tu cabes em meu coração. ¹Neftalí Ricardo Reyes * Parral, Chile – 1904 d.C + Santiago, Chile – 1973 d.C Prêmio Nobel de Literatura em 1971 [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »

Pablo Neruda – Versos na tarde

Amor, quantos caminhos Pablo Neruda¹ Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo, que solidão errante até tua companhia! Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva. Em Taltal não amanhece ainda a primavera. Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos, juntos desde a roupa as raízes, juntos de outono, de água, de quadris, até ser só tu, só eu juntos. Pensar que custou tantas pedras que leva o rio, a desembocadura da água de Boroa, pensar que separados por trens e nações tu e eu tínhamos que simplesmente amar-nos com todos confundidos, com homens e mulheres, com a terra que implanta e educa cravos. ¹Neftalí Ricardo Reyes * Parral, Chile – 12 de Julho de 1904 d.C + Santiago, Chile – 23 de Setembro de 1973 d.C Prêmio Nobel de Literatura em 1971 [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »

Neruda – Versos na tarde – 24/12/2015

Os Teus Pés Pablo Neruda¹ Quando não te posso contemplar Contemplo os teus pés. Teus pés de osso arqueado, Teus pequenos pés duros, Eu sei que te sustentam E que teu doce peso Sobre eles se ergue. Tua cintura e teus seios, A duplicada purpura Dos teus mamilos, A caixa dos teus olhos Que há pouco levantaram vôo, A larga boca de fruta, Tua rubra cabeleira, Pequena torre minha. Mas se amo os teus pés É só porque andaram Sobre a terra e sobre O vento e sobre a água, Até me encontrarem. ¹Neftalí Ricardo Reyes – Pablo Neruda * Parral, Chile – 1904 d.C + Santiago, Chile – 1973 d.C Prêmio Nobel de Literatura em 1971 [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »