A marcha da insesnsatez – Faixa de Gaza
Ataque aéreo de Israel atinge a cidade de Rafah, em Gaza Foto: Abdalrahem Khateb/AP Policial israelense socorre crianças apos escola ser atingida por foguetes do Hamas
Ataque aéreo de Israel atinge a cidade de Rafah, em Gaza Foto: Abdalrahem Khateb/AP Policial israelense socorre crianças apos escola ser atingida por foguetes do Hamas
Criança Palestina, em Gaza, retira o que restou da casa bombardeada por ataque aéreo de Israel.
Policial israelense observa carro atingido por foguete do Hamas
A morte de israelenses e palestinos rende ganhos políticos para Hamas, Irã e trabalhistas em Israel. Gilles Lapouge* A guerra de Gaza será a consequência do ódio irracional, desvairado do povo israelense pelo palestino, e vice-versa? Com certeza, sim. Mas, sobre esse ódio, entrelaçam-se também estratégias, táticas, subterfúgios, cálculos “eleitoreiros”, tanto de israelenses quanto palestinos. A esta altura, devemos fazer uma indagação alarmante: a morte de 700 palestinos terá sido para devolver o orgulho ao Hamas? Para recuperar a imagem envelhecida dos trabalhistas israelenses? Ou para aumentar o prestígio de Mahmud Ahmadinejad, o fanático presidente que governa o Irã? O Hamas, partido dos extremistas palestinos que assumiram o controle da Faixa de Gaza em 2007, e que se posicionou como o inimigo implacável da outra facção palestina, os moderados do Fatah, liderados por Mahmud Abbas na Cisjordânia, está em declínio há um ano. Uma pesquisa recente dá 40% de apoio aos moderados do Fatah contra 16,6% aos frenéticos do Hamas. RESSURGIMENTO A degringolada do Hamas tem sido tão constante, tão irreversível, que seus dirigentes – Ismail Haniyeh, que está em Gaza, e Khaled Meshaal, homem que determina a linha política do Hamas do exílio na Síria – optaram pelo fim da trégua com Israel e, portanto, desencadearam uma tempestade da qual agora colhem os frutos. Em oito dias, o Hamas se regenerou. O cálculo do Hamas estava totalmente certo, principalmente porque permitiu que se realizassem os objetivos de Israel. Em Israel, os trabalhistas estão encurralados entre o Likud, a extrema direita, e o Kadima, o partido de Ariel Sharon, que passou da direita para o centro. Dentro de algumas semanas se realizarão as eleições israelenses, que ocorrerão depois da demissão inglória do primeiro-ministro, Ehud Olmert, por corrupção. O Partido Trabalhista já se considera derrotado. Consequentemente, Ehud Barak, líder dos trabalhistas e ministro da Defesa de Olmert, lançou seus soldados ao assalto de Gaza. Isso bastará para que ele vença as eleições? Pelo menos, essa é a sua equação. SURPRESA Quanto ao Irã, indubitavelmente a guerra de Gaza beneficia o presidente Ahmadinejad, que alardeia querer “riscar Israel do mapa”. Ele é tão barroco, tão irresponsável, que perdeu o apoio de parte da população iraniana. O ataque de Israel ao Hamas foi, portanto, recebido pelos amigos de Ahmadinejad como uma “surpresa divina”. O Irã se mobilizou em favor dos extremistas do Hamas, voltando a unir-se em torno dos delírios anti-israelenses de Ahmadinejad. Setenta mil jovens iranianos se inscreveram para “morrer em Gaza”, mas não há perigo: eles não têm como chegar ao território. Ao mesmo tempo, o governo iraniano explicou que não intervirá em Gaza, porque seus habitantes são fortes o bastante. A cotação de Ahmadinejad disparou. Chegamos, assim, a uma constatação repugnante: as crianças e os soldados que morrem, não morrem em vão. Foram sacrificados para que os líderes do Hamas continuem liderando, para que os trabalhistas consigam suas cadeiras no Parlamento de Israel e para que o ódio do iraniano Ahmadinejad possa persistir por mais algumas temporadas. O sentido oculto da Guerra Santa está nas eleições. *Gilles Lapouge é correspondente em Paris.
Para ajudar a entender um pouco mais sobre as divergências, milenares, que confrontam judeus e palestinos, transcrevo abaixo correspondência trocada entre simpatizantes das duas causas no Brasil. As cartas trocadas entre o presidente da Conib – uma das organizações existentes no Brasil e que se manifesta em nome da comunidade judaica – e o presidente da ONG ABC Sem Racismo. Prezado Senhor Cláudio Lottenberg, Presidente da CONIB Não sou um ativista anti-judeu. Ao contrário: sou um admirador da luta do povo judeu e de sua milenar história. Mais do que isso: me considero um parceiro do povo judeu na luta contra o racismo e qualquer espécie de discrimnação. Mas, por favor, me responda: como é possível que um povo que há menos de cem anos foi vítima de crimes contra a humanidade como o holocausto praticados pelo nazismo, possa estar, precisamente hoje, repetindo os mesmos crimes, com a mesma crueldade, contra um povo inteiro – o palestino? As imagens falam mais forte do que mil palavras e de nada adianta a propaganda do seu Exército mostrar ao mundo que se trata apenas de uma guerra contra o Hamas, a quem o seu Governo e Bush acusam de terrorista. Os mortos, às centenas, senhor Lottenberg, são na sua maioria civis – homens, mulheres e crianças desarmadas. Como explicar esse crime às gerações futuras, senhor Lottenberg? Como poderá o povo judeu continuar falando de holocausto, quando transformou a Palestina, há décadas, em verdadeiro campo de concentração, com todos os requintes a que a crueldade humana pode chegar? Porque o seu Exército e os seus Governos sistematicamente, sob proteção americana, descumprem Resoluções da ONU que asseguram o direito inalienável do povo palestino ao seu Estado, onde possa viver em paz e em segurança? Por que o seu Governo recusa-se ao cessar fogo proposto pela União Européia? É apenas para ganhar tempo para perpretar o massacre contra civis indefesos? Estamos todos cansados, senhor Lottenberg, da sua propaganda. Quando jovem eu e muitos da minha geração ficamos alarmados com as imagens de Sabra e Chatila, o senhor se lembra? Também lá, homens, mulheres e crianças palestinas foram vítimas de um verdadeiro massacre, praticados sob o comando do seu Exército. Na época, senhor Lottenberg, o Hamas sequer existia. Assim como não há propaganda capaz de apagar as imagens da resistência judaica no gueto de Varsóvia; assim como não há palavras para descrever os sofrimentos do seu povo, Senhor Lotenberg, nos campos de concentração sob o nazismo; tampouco há propaganda e ou palavras que possam apagar os crimes contra a humanidade que hoje são praticados à luz do dia e sob as câmeras de TV pelo seu Exército. Protegido, apoiado e amparado pelas vítimas de ontem! Chega! Basta de mentira e de hipocrisia! Cordialmente, Dojival Vieira Jornalista Responsável pela Afropress – www.afropress.com Presidente da ONG ABC SEM RACISMO Fones: 9647-7322 Resposta do presidente da CONIB Prezado Senhor Dojival: Agradeço que me escreva e fico feliz que o senhor seja um admirador, como assim se manifesta, do povo judeu e de sua historia milenar, colocando-se como um verdadeiro parceiro na luta contra o racismo. Ao tomar a liberdade de me escrever também tomo à liberdade de lhe contestar a luz da sugestão de que o senhor aprofunde o seu conhecimento no sentido de admirar de forma consistente, baseado em fatos concretos, e não alimentado por informações isoladas e não verdadeiras como o senhor aqui coloca. A historia relativa ao Estado de Israel tem dados sobre os quais eventualmente o senhor desconheça. Em 1948 este Estado foi criado com a participação decisiva do brasileiro Osvaldo Aranha e, desde então uma longa historia vem acontecendo. Acordos são realizados e desrespeitados, diálogos são interrompidos e acredite que nos desaponta muito que o caminho da paz ainda não tenha sido atingido. Comparar a situação da Faixa de Gaza com o Holocausto reflete um desconhecimento absoluto acerca dos dois episódios. O Holocausto foi fruto de uma indiferença de uma sociedade que condenou um povo à morte, liderado por um grupo minoritário. Este povo não caminhava com morteiros, não lançava foguetes e não matou civis, como é o caso daquilo que ocorreu na faixa de Gaza. Estes civis que morreram no Holocausto não morreram por serem terroristas ou por quererem a exterminação de um povo. Morreram por serem judeus. Em 2005, Israel se retirou da Faixa de Gaza e entregou conforme acordado a região a Autoridade Palestina. Esta foi aos poucos lateralizada pelo braço terrorista Hamas, que é assim denominado pela União Européia e pelos EUA que progressivamente iniciou estimulado pelo Iran, um processo de agressões sistemáticas aos israelenses, moradores da região vizinha a Faixa de Gaza. Foguetes e morteiros eram lançados diariamente, civis assassinados e Israel inutilmente avisava que tomaria medidas caso isto não fosse interrompido. O Hamas, braço terrorista, coloca claramente que com Israel não há dialogo e que Israel deve ser destruído, e que, portanto mesmo os acordos previamente realizados não têm valor. Optou, portanto, em manter os ataques aos civis e aí, efetivamente, não haveria alternativa que não aquela tomada legitimamente de defesa. Cabe a toda estrutura de Estado garantir a segurança de seus cidadãos e exigir que seus vizinhos tenham um comportamento adequado. Portanto deixo claro ao senhor que a comparação com o Holocausto é no mínimo um reflexo de falta de sensibilidade, de desrespeito e que suas informações sobre a Faixa de Gaza são incompletas e fruto de manchetes de jornal isoladas de um contexto maior. Quero lhe dizer mais uma coisa. Sou brasileiro e, portanto peço ao senhor respeito, pois meu julgamento é acerca de um comportamento de uma situação internacional, mas o meu governo é o governo brasileiro assim como o seu. Portanto, faça suas observações, mas não me cobre como o senhor assim o faz, pois a minha contribuição junto a este país tem sido enorme bastando que o senhor levante parte das atividades que desenvolvi. Acho que este cuidado que o senhor não teve, reflete o perfil de uma pessoa que por sua
[ad#Retangulo – Anuncios – Duplo] Prédio destruido por bombardeio de Israel em Zeitoun, Gaza Foto: AP
A equilibrada e racional reflexão de um historiador e jornalista brasileiro sobre o conflito no Oriente Médio. Marcos Guterman, no artigo reproduzido abaixo, não poupa os radicais de ambos os lados. A Hitler o que é de Hitler por Marcos Guterman¹ – Blog O Estado de São Paulo Guerras, por definição, sinalizam rupturas. Enquanto a diplomacia oferece portas de saída, o conflito armado só se justifica pela decisão de destruir o inimigo e aquilo que ele representa. E a destruição não pode ser apenas militar ou material; ela tem de se dar também, e sobretudo, no campo moral. O conflito que simboliza melhor esse conceito é a Segunda Guerra Mundial, que passou à história como a luta contra o mal absoluto, resumido no nazismo. Hitler e sua ideologia insana tornaram-se paradigmas daquilo que deve ser combatido sem trégua e sem quartel, em nome da humanidade. Por isso, mesmo passadas seis décadas do fim do conflito, o nazismo continua sendo a referência mais implacável que alguém pode usar quando pretende desqualificar completamente seu inimigo no campo de batalha da opinião pública e da justificativa moral. O caso da presente guerra entre Israel e Hamas mostra justamente os exageros dessa retórica. Em artigo publicado no Wall Street Journal, o líder da oposição israelense Benjamin Netanyahu comparou os ataques do Hamas no sul de Israel à blitz aérea promovida pela Alemanha de Hitler contra Londres. Já do lado palestino, Mustafa Barghouti escreveu um texto no jornal egípcio Al-Ahram, a respeito da ofensiva israelense, cujo título é “A Guernica dos palestinos”, em referência ao dramático bombardeio nazista contra essa cidade espanhola em 1937. Trata-se de um óbvio exagero, de ambos os lados, e é um exagero calculado. Ao igualar os palestinos aos nazistas, Netanyahu simplifica grosseiramente o quadro com o objetivo de invocar, no imaginário israelense, o pesadelo da “solução final”. Não é possível, em qualquer sentido, dar pesos semelhantes às forças nazistas e ao limitado poder de fogo do Hamas, ainda que este, a exemplo de Hitler, tenha como objetivo eliminar os judeus. Netanyahu, além disso, se esquece de informar que os palestinos vivem em situação de desespero – que gera grandes ressentimentos – em parte como resultado das ações brutais e dos erros de Israel ao longo de mais de 40 anos de ocupação, com laivos de apartheid. Barghouti, por sua vez, recorre à velha fórmula anti-semita de comparar os israelenses aos nazistas. É uma fórmula de duplo objetivo, ambos perversos. Primeiro, iguala a vítima ao seu maior algoz, um algoz que reduziu a população judaica na Europa de 9,5 milhões para 3,5 milhões de seres humanos em menos de dez anos. Ele poderia ter comparado os israelenses aos americanos, por exemplo, mas isso não teria o efeito desejado, qual seja, o de ligar os judeus ao mal absoluto. O segundo objetivo da fórmula é diminuir a importância e a singularidade do Holocausto, para então adaptar a impactante imagem do extermínio em massa perpetrado pelos nazistas a qualquer outra circunstância conveniente – por exemplo, a morte de palestinos por israelenses. A retórica que Netanyahu e Barghouti aplicaram, em lugar de explicar o conflito, obscurece ainda mais o já complicado quadro das tensões no Oriente Médio. Argumentos desse tipo podem até fazer um grande sucesso entre gente oportunista e panfletária – um bom exemplo foi a grosseira nota em que o PT acusou os israelenses de “prática típica do Exército nazista” -, mas eles definitivamente não ajudam a entender a crise nem muito menos a construir pontes para sua superação. Para o bem do debate, deixemos a Hitler o que é de Hitler. ¹Marcos Guterman é historiador e jornalista de O Estado de S.Paulo
Além de destruir a Palestina, Israel ameaça o governo Obama Os que defendem o assassinato em massa praticado pelos israelenses contra os palestinos usam de todos os recursos, mesmo os mais sujos, deprimentes e antidemocráticos. O presidente da UE (União Européia) já disse sem constrangimento e exibindo um terrorismo sem ética: “A ação de Israel é puramente DEFENSIVA”. Quer dizer: massacram os palestinos da Faixa de Gaza, matam mais de 150 pessoas por dia, perderam apenas um homem, e isso é chamado de defensivo. A chanceler de Israel, desmoralizando as mulheres que estão em alta no mundo: “Não há necessidade de trégua humanitária em Gaza, pelo fato de não haver crise humanitária” . E nem toma remédio para dormir. O ministro da Defesa de Israel (que por infelicidade se chama Barak) atira certeiro contra a democracia: “Essa guerra é movida por interesses políticos, os dois lados têm eleições quase que imediatamente”. Esse ministro Barak, que em vez de Defesa deveria se chamar de Ataque, considera que a proximidade de eleição provoca imediatamente uma guerra. Só que não está havendo guerra e sim massacre. Além do mais, o mundo inteiro realiza eleições e isso não se traduz em guerra perto ou distante. Os EUA, que protegem Israel, financiam suas loucuras, permitem esses massacres, saíram de uma eleição duríssima. E não há guerra à vista, a não ser indiretamente por causa do Poder de VETO dos EUA no Conselho de Segurança. A ONU, agonizante, vai morrer da mesma forma que a Liga das Nações depois da Primeira Guerra Mundial. Essas questões como a de Israel-Palestina deveriam ser resolvidas de forma diplomática. Mas quem acredita nisso, se 5 países têm mais poder do que todos os outros? Na verdade, a ONU praticou suicídio, logo depois do nascimento. Em 1948 (há 60 anos), a ONU acertou em cheio criando dois Estados: Israel e Palestina. Mas, por interesses políticos, o Estado da Palestina jamais existiu. Um cientista político, desses que preenchem o tempo da televisão com o vazio de suas considerações, dizia anteontem: “O problema Israel-Palestina só será resolvido pelas novas gerações”. Quanto mais tolos, ignorantes ou envolvidos em interesses escusos, mais espaço obtém na comunicação. O que esses Cientistas chamam de “novas gerações”, já estão contaminados no berçário. A solução definitiva, pacífica e construtiva, tem que surgir obrigatoriamente da criação dos dois Estados. Aí, milhões de pessoas podem conviver, confraternizar, atravessar territórios, sem fronteiras, sem medo e sem ódio. E, como conclusão do aparecimento desse dois Estados independentes, uma reformulação da ONU, ainda no velório antes do crepúsculo da liberdade e da democracia. No que identificam sempre como Terceira Guerra Mundial, Israel pode substituir a antiga União Soviética. A chanceler, o ministro da Defesa e o primeiro-ministro adorariam. PS – Ninguém no mundo tinha qualquer dúvida: no Conselho de Segurança, os EUA vetariam qualquer intervenção em Israel. Escrevi isso no primeiro dia, grande novidade. O problema dentro de 13 dias passará a ser de Obama presidente. E que problema. PS 2 – Intervir diretamente em Israel? Essa será a primeira missão de dona Hillary? Deixar como está, ou seja, praticar o ato supremo, covarde e negativo da omissão? PS 3 – Isso contraria todo o programa e as promessas de Obama, mesmo as não específicas. Além do crime do massacre, Israel destrói, antes mesmo de começar, tudo o que o mundo esperava de Obama. Que tristeza. Hélio Fernandes – Tribuna da Imprensa