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Guerra às drogas: Cinco ex-presidentes defendem o fim da guerra às drogas

Ex-chefes de Estado divulgaram um relatório pedindo o fim da guerra às drogas. Mas há pouca esperança de mudança para a próxima conferência da ONU sobre o tema. Mudar a abordagem proibitiva da ONU requer apoio dos 193 países-membros (Foto: Flickr/Neal Jennings) Após muito dinheiro gasto e muita violência a guerra às drogas mostrou poucos resultados. Por conta disso, a ideia de mudança de abordagem vem ganhando adeptos em vários países. A última crítica ao modelo vigente veio nesta quinta-feira, 24, através de um grupo de ex-presidentes e empresários que divulgou um relatório chamado “Ending the War on Drugs” (“Finalizando a Guerra às Drogas”).[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O documento reúne vários artigos sobre o tema publicados pelos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, do Brasil, César Gaviria, da Colômbia, Ernesto Zedillo, do México, Olusegun Obasanjo, da Nigéria e Ruth Dreifuss, da Suíça, além de um grupo de especialistas. O empresário George Soros, que já financiou vários grupos pró-legalização, também participou do relatório. Todos eles condenam o que enxergam como uma derrota política, econômica e de saúde pública. A divulgação do relatório tem como objetivo influenciar os diplomatas que no mês que vem se reunirão em Nova York para a próxima conferência especial da Assembleia Gera da ONU sobre o tema. A última conferência ocorreu em 1998, com o slogan “Um Mundo Livre de Drogas”. Apesar do estímulo a uma nova abordagem, a próxima conferência não gera muitas expectativas. A mais recente conferência da Comissão de Narcóticos da ONU, encerrou na última terça-feira, 22, com um projeto de declaração que sequer critica o uso de pena de morte para crimes relacionados às drogas, algo que era o mínimo esperado por aqueles que advogam por mudanças. Os argumentos usados pelos ex-presidentes conseguiram persuadir um considerável número de pessoas a repensar o assunto, incluindo os Estados Unidos. O país, que antes liderava a guerra às drogas, legalizou o uso medicinal e recreativo da maconha em vários estados e atualmente metade da população americana defende essa ideia. Porém, mudar a abordagem proibitiva determinada pela ONU requer o apoio de todos os 193 países-membros, muitos deles firmes na decisão de manter a política atual. O mais provável é que a discussão da reunião do mês que vem seja superficial e leve a entender que as demais conferências não serão reformadas, mas sim ignoradas. Fonte:Opinião&Notícia

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Em sua última semana de mandato, presidente da Nigéria aprova lei que proíbe a mutilação genital feminina

Em sua última semana na presidência da Nigéria, Goodluck Jonathan assinou uma lei que criminaliza a mutilação genital feminina. De acordo com o All Africa, a lei traz esperança de que os nigerianos “comecem a aceitar que práticas culturais e religiosas também devem se sujeitar aos direitos humanos“. A medida já havia sido aprovada pelo senado do país em maio. Além da mutilação genital, a lei também proíbe o abandono de dependentes – mulher, filhos e outros – sem condições de sustento. Estima-se que cerca de 25% das mulheres entre 15 e 49 anos tenham sido submetidas à prática no país. No entanto, por se tratar do país mais populoso do continente, os números absolutos da Nigéria estão entre os mais altos do planeta. De acordo com o International Business Times, especialistas afirmam que a lei pode impactar a criação de outros dispositivos legais em outras 26 nações africanas, onde a prática ainda ocorre. Ainda segundo analistas ouvidos pelo IBT, a aprovação da lei nos últimos dias de mandato de Jonathan não é uma coincidência: enquanto ele não vai precisar encarar seu eleitorado, pois deixa o poder nesta sexta-feira (29), Muhammadu Buhari, que assume a presidência após uma eleição histórica, já pega o assunto, que envolve delicadas questões religiosas e culturais, “encaminhado”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Leia Também: Meninas choram em cerimônia de mutilação genital no Quênia Segundo o Guardian, há 13 anos ativistas e grupos de defesa dos direitos humanos pressionavam o governo para que aprovasse uma lei que proiba a prática. Cabe agora, ao país, conciliar a lei com práticas que façam com que os casos de mutilação genital sejam, de fato, reduzidos. “O fim da violência contra mulheres e meninas demanda investimentos, não apenas leis escritas em livros”, escreveu Stella Mukasa no jornal britânico. Considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma violação dos direitos humanos , esta prática consiste em remover – parcial ou totalmente – os genitais femininos, com a intenção de impedir que a mulher sinta prazer sexual. Não há nenhuma justificativa médica para esse tipo de intervenção, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. De acordo com dados divulgados pela Unicef em fevereiro, há cerca de 130 milhões de mulheres e meninas vítimas da prática vivas atualmente. Geralmente a operação é feita de forma rudimentar, sem anestesia e em condições de higiene “catastróficas”, de acordo com a Desert Flower Foundation. Facas, tesouras, lâminas e até cacos de vidro podem ser usados nos procedimentos, geralmente feitos até os 15 anos da vítima. Dados da Unicef mostram que a prática se alastra principalmente na Somália e na Guiné, onde 98% e 97% da população feminina foi mutilada, respectivamente. Caso a prática não seja inibida, 30 milhões de mulheres podem sofrer mutilação genital na próxima década. A Unicef, no entanto, afirma que a situação está melhorando, ainda que em um ritmo muito abaixo do ideal. A chance de uma menina ser cortada hoje em dia é um terço menor do que era há 30 anos. A OMS afirma que a mutilação causa sérios riscos como hemorragia, tétano, infertilidade e a necessidade de outras cirurgias para reparar o estrago. Por  Gabriela Bazzo, do Brasil Post 

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O abismo entre ‘Charlie’ e Baga, Nigéria

“Os editores devem se lembrar de que há extensas partes do mundo nas quais as pessoas não existem a não ser em grupos de mais de 50 mil.” Assim o irreverente jornalista Alexander Cockburn, falecido em 2012, iniciou um artigo no qual ironizava os critérios de notícia da imprensa americana – uma crítica que se poderia generalizar, sem erro –, e que começava estabelecendo quantos negros americanos precisariam morrer para se equipararem à morte de um branco americano típico. Daí prosseguia com gradações até chegar às “hordas incalculáveis” dos “indianos, africanos e chineses”, em relação aos quais já não se conceberia qualquer número. “As pessoas somente começam a se interessar se falarmos em 50 mil e 100 mil mortos. Especialistas calculam que somente uns 50 mil indianos seriam capazes de igualar, em termos de notícia, ao total de 10 americanos”. O texto foi publicado em 1976, mas é perfeitamente atual. E muito oportuno, diante da justa comoção mundial causada no início do mês pelo assassinato dos jornalistas do Charlie Hebdo, que, entretanto, não teve contrapartida em relação ao massacre de 2 mil pessoas promovido dias antes pelo grupo fundamentalista islâmico Boko Haram em Baga, na Nigéria. Como escreveu o correspondente Simon Allison, do Daily Maverick (ver aqui), da rede do britânico The Guardian, “há massacres e massacres. Podemos estar no século 21, mas as vidas de africanos parecem continuar a ser menos importantes”. Por isso, chamou para o título da reportagem a sua declaração: “Eu sou Charlie, mas também sou Baga: sobre o massacre esquecido da Nigéria”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Uma lógica perversa A disparidade é, antes de mais nada, reveladora da distinção entre os seres humanos: o ocidentais brancos, especialmente se têm prestígio social, valem mais que negros africanos ou pessoas que nasceram e habitam na periferia do mundo. Geopoliticamente, faz sentido, por mais que seja cruel: o que ocorre nos países mais importantes tem mais relevância, inclusive pelas consequências políticas que pode provocar. A derrubada das Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, é um exemplo disso. E o jornalismo se guia por esses critérios. Seria necessário mudar os critérios para que a barbárie pudesse ser apresentada em toda a sua dimensão? Talvez, mas essa não é uma questão simples de resolver, porque não bastam as boas intenções de quem produz um jornal ou deseja disseminar uma informação: é preciso cativar o interesse do público, acostumado – pela própria imprensa, aliás – a prestar atenção apenas ao que, aparentemente, lhe diz respeito, por proximidade física, cultural ou ideológica. Para nós, portanto, é como se o que ocorre na Nigéria não existisse, ou não tivesse muita importância. A dimensão da barbárie Mesmo os critérios jornalísticos vigentes, entretanto, poderiam ter sido acionados para expor a barbárie africana em sua dimensão internacional. Empenhado em discutir o tema, o professor Marcos Palacios, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA, divulgou reportagem do Guardian (ver aqui) que começa por comparar as diferenças entre Paris e Baga para a cobertura jornalística: repórteres são alvejados, não é fácil divulgar denúncias porque as pessoas comuns têm dificuldade de acesso à internet. “Os jornalistas mais próximos estão a centenas de quilômetros de distância”, informa o correspondente Allison, que ao mesmo tempo indica a gravidade da situação: “Boko Haram controla efetiva e completamente o estado de Borno [onde fica a cidade de Baga, no extremo nordeste do país]. Não são apenas terroristas: estão se tornando um Estado de facto”. Mais uma razão, diz a reportagem, para que o mundo saiba do que se passa por lá. Marcos Palacios reitera: “Sim, o Boko Haram é o mesmo grupo que sequestrou mais de 200 meninas que foram ‘dadas em casamento’ a militantes do grupo [em abril do ano passado]; sim, é o mesmo grupo que se opõe à educação das mulheres e está usando meninas de 10 a 12 anos como bombas [no início de janeiro]; sim, é também um grupo fundamentalista que quer criar um califado na Nigéria, nos moldes do Isis [Estado islâmico]”. O número absurdo de mortos no mais recente massacre, portanto, é só a expressão mais radical do motivo pelo qual a situação da Nigéria teria de ser destacada no noticiário do mundo todo. Na Indonésia, no Lins Se trouxermos a mesma questão da importância relativa da vida humana para o Brasil, poderemos comparar a disparidade da repercussão de dois casos recentes: o do instrutor de asa delta Marco Archer, preso na Indonésia desde 2004 por ter tentado entrar no país com alguns quilos de cocaína, sentenciado à morte e fuzilado no sábado (17/1), com outros condenados pelo mesmo delito, e o do menino Patrick Ferreira de Queiroz, atingido por um tiro de fuzil no Lins, subúrbio do Rio, e enterrado também em 17/1, quando faria 12 anos. O escândalo em torno do fuzilamento de Archer tem sentido pela dimensão internacional do caso e é necessário para demonstrar a aberração da pena de morte. Mas conta com esse ingrediente que desperta a sensibilidade da classe média: era um dos nossos, mais ou menos como na história que se transformou em livro e depois no filme Meu nome não é Johnny. Note-se que em momento algum Archer foi chamado de traficante: era apenas alguém que carregava droga e foi flagrado pela alfândega. Já o menino Patrick morreu supostamente numa troca de tiros entre traficantes e policiais da UPP do Lins. Também supostamente, de acordo com o registro policial, ele carregava uma pistola e uma mochila com drogas e um radiotransmissor. É a monótona repetição da mesma velha história: a versão oficial de sempre, a justificar a pena de morte informal aplicada a quem vive o cotidiano da periferia das nossas cidades. Não há escândalo para mais do mesmo. Por: Sylvia Debossan Moretzsohn¹,Observatório da Imprensa. ¹Por Sylvia Debossan Moretzsohn é jornalista, professora da Universidade Federal Fluminense, autora de Repórter no volante. O papel dos motoristas de jornal na produção da notícia (Editora Três Estrelas, 2013) e Pensando contra os fatos.

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