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Kadafi: a barbárie e o retrocesso do Estado de Direito

Como já havia comentando em ‘post’ no dia da morte do genocida da Líbia, entendo que a função do Estado é punitiva, e não vingativa. É perigoso se justificar ações irracionais de um turba como a natural reação a anos de opressão. Geralmente se estabelece a anarquia e o resultado, a médio e longo prazo, écatastrófico. No Egito tal descontrole já começou. Há algo de podre no reino da Dinamarca, parodiando o bardo de Albion, quando se perde a noção do que seja a aplicação da lei e a barbárie. O Estado de Direito, que a humanidade cultiva com mais desvelo desde os iluministas, não pode admitir que alguém seja torturado e executado se o direito à ampla defesa. Os criminosos nazistas tiveram direito ao julgamento em Nuremberg. Fica a pergunta: como será daqui por diante viver num país como esse que as pessoas executam sumariamente. Posso estar errado, ou certo. Como haverão de impor ideais democráticos aqueles que executam seres humanos como se fossem animais e ainda ficam expondo os defuntos como se fossem brinquedos de crianças! A história o dirá, mas creio que esse país haverá de ficar mais violento, pois o que esperar quando os rebeldes forem cobrar a fatura? Abaixo artigo de Reinaldo Azevedo, que demonstra que estou em boa companhia. O Editor Também Mutassin, um dos filhos de Kadafi, foi preso com vida e depois assassinado sem julgamento por aquelas olorosas flores da Primavera Líbia… Não foi só Muamar Kadafi que foi preso com vida por esses que são chamados “rebeldes”. Também um de seus filhos, Mutassin, como se vê em três vídeos abaixo, estava vivo e caminhando quando foi capturado. No último, ela já é exibido morto. Vejam. Volto depois. Ah, sim: alguns leitores me perguntam por que apóio a eliminação de terroristas, mas censuro com tanta dureza as execuções extrajudiciais na Líbia. Vou explicar direitinho. Só não o fiz por falta de tempo. Achava que a diferença fosse óbvia. Não sendo, explico, não tem problema. O que vai acima diz tudo. Os corpos de Kadafi e do filho estão num açougue em Misrata, numa câmara fria. Líbios fazem fila para vê-los, tirar fotografia, fazer chacrinha ao lado dos cadáveres. Num dos vídeos, Mutassin está fumando, em bom estado de saúde. O cadáver, momentos depois, tem um rombo gigantesco logo abaixo da garganta. Mahmoud Jibril, premiê do governo de transição, visitou o local. E insistiu na mentira óbvia de que Kadafi morreu durante um tiroteio. Uma flor legítima da Primavera Árabe, sem dúvida, a exemplo daquelas outras flores que incendeiam casas e igrejas de cristãos no Egito. Por Reinaldo Azevedo [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Muamar Kadafi. Um neo pacifista?

A natureza humana é surpreendente. Quando menos se espera santos se transfiguram em bestas feras e, de forma não menos espetacular, ditadores sanguinários aparecem quais cordeiros da pacificação e arautos da tolerância entre os opostos. O ditador da Líbia, Muamar Kadafi, parece ser um desses casos de inesperadas, e, caso sejam sinceras suas intenções, transformações para o bem. Kadafi migra de incentivador de ações terrorista, como o atentado de Lockerbee¹, para um arauto da paz entre judeus e palestino. O ex maluquete das arábias, a continuar assim, poderá ser até agraciado com o Prêmio Nobel da Paz. Abaixo artigo da lavra do ditador líbio publicado no The New York Times e reproduzido pel  O Estado de São Paulo. Ave! “A chocante intensidade da última onda de violência entre israelenses e palestinos nos impele a considerar a extrema urgência de uma solução final para a crise do Oriente Médio. É vital não apenas romper este ciclo de destruição e injustiça, mas também negar aos radicais religiosos que se alimentam do conflito uma desculpa para promover suas próprias causas. Mas para onde quer que olhemos, entre os discursos e as iniciativas da diplomacia, não há um caminho concreto para um avanço. Uma paz justa e duradoura entre Israel e palestinos é possível, mas deve ser procurada na história do povo dessa terra em constante conflito, e não na desgastada retórica das soluções que apontam para a criação de dois Estados. Embora seja difícil de perceber, depois dos horrores que acabamos de testemunhar, entre judeus e palestinos nem sempre existiu um estado de guerra. Na realidade, muitas das rupturas ocorridas entre os dois povos são recentes. O próprio nome “Palestina” era usado comumente para definir toda a região, até mesmo pelos judeus que viviam ali, até 1948, quando começou a ser usado o nome “Israel”. Judeus e muçulmanos são primos e descendem de Abraão. Ao longo dos séculos, ambos sofreram cruéis perseguições e, muitas vezes, se ajudaram mutuamente. Os árabes ofereceram guarida aos judeus e os protegeram quando estes sofriam sob o governo de Roma e quando foram expulsos da Espanha, na Idade Média. A história da região é marcada por governos transmitidos entre tribos, nações e grupos étnicos, que resistiram a muitas guerras e a ondas migratórias de povos vindos de todas as direções. É por isso que a questão se torna tão complicada quando uma das partes reivindica o direito de ser dona dessa terra. O cerne do moderno Estado de Israel é a inegável perseguição ao povo judeu, que foi escravizado, massacrado, perseguido por egípcios, romanos, ingleses, babilônios, cananeus e, mais recentemente, pelos nazistas. O povo judeu merece uma pátria, mas os palestinos também têm uma história de perseguições e consideram as cidades de Haifa, Acra, Jafa como a terra de seus ancestrais, transmitida de geração em geração, até pouco tempo atrás. Portanto, os palestinos acreditam que o que agora se chama Israel é parte de sua nação, mesmo que fiquem com Cisjordânia e Gaza. E os judeus acreditam que a Cisjordânia é a Samaria e a Judeia, parte da sua pátria, mesmo que ali venha a estabelecer-se um Estado palestino. Com o cessar-fogo em Gaza ressurgiram os apelos para uma solução de dois Estados, que nunca funcionará. Essa solução criará uma ameaça para a segurança de Israel. Um Estado árabe armado na Cisjordânia daria a Israel menos de 16 quilômetros de profundidade estratégica em seu ponto mais estreito. Além disso, um Estado palestino na Cisjordânia e em Gaza não solucionaria o problema dos refugiados. Qualquer situação que mantenha a maioria dos palestinos em campos de refugiados e não ofereça uma solução dentro de suas fronteiras históricas não é uma solução. Pelas mesmas razões, a divisão da Cisjordânia em áreas judaicas e árabes, com zonas-tampão entre elas, não funcionará. As áreas palestinas não teriam condições de abrigar todos os refugiados e as zonas-tampão simbolizariam a exclusão e alimentariam tensões. Em termos absolutos, os dois movimentos terão de permanecer em um perpétuo conflito ou chegar a um compromisso: o da criação de um Estado único para todos, uma “Isratina”, que permita que as pessoas de cada lado sintam que podem viver em toda a região. Um requisito fundamental da paz é o direito dos palestinos refugiados de regressarem para as casas que suas famílias deixaram, em 1948. É uma injustiça que os judeus que não viviam originalmente na Palestina, nem seus antepassados, venham do exterior para se estabelecer ali, enquanto essa permissão é negada aos palestinos que foram obrigados a fugir dali há relativamente pouco tempo. É um fato incontestável que, até recentemente, os palestinos viviam nessa terra, eram donos de fazendas e casas, mas tiveram de sair com medo da violência dos judeus após 1948. Por isso, somente o território total da Isratina poderá abrigar todos os refugiados e favorecer a justiça, que é o elemento fundamental da paz. A assimilação é um fato concreto da vida em Israel. Mais de 1 milhão de árabes muçulmanos vivem no país. Eles têm nacionalidade israelense, participam da vida política e constituem partidos. Por outro lado, há assentamentos israelenses na Cisjordânia. As fábricas israelenses dependem da mão-de-obra palestina e há intercâmbio de produtos e serviços. Essa assimilação, por seu sucesso, pode ser um modelo para Isratina. Se a atual interdependência e o fato histórico da coexistência de judeus e palestinos servirem de orientação a seus líderes, e se, na busca de uma solução de longo prazo, eles olharem além da violência recente e da sede de vingança, perceberão que a coexistência debaixo de um único teto é a única opção para uma paz duradoura.” ¹Nota do Editor O atentado de Lockerbie foi um ataque terrorista ao vôo 103 da Pan Am em 21 de dezembro de 1988. O avião Boeing 747-121 partira do Aeroporto de Londres Heathrow em Londres com destino a Nova Iorque, e explodiu no ar logo acima da cidade escocesa de Lockerbie, matando 270 pessoas (259 no avião e 11 na terra) de 21 nacionalidades diferentes. Deste total, 189

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