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Sobre livros e leituras

Infelizmente, não sabemos se Shakespeare foi um homem que viajou muito. Mas a Itália, com certeza, é um país que ele deve ter conhecido, tantas são as peças cujas narrativas ocorrem lá. Essa paixão se deve ao esplendor artístico das cidades italianas durante o período do Renascimento. Em verdade, a Itália sempre fascinou escritores e músicos, os artistas em geral, de Goethe a Freud (o escritor), de Mozart a Beethoven. Shakespeare viveu o fim do Renascimento, movimento que durou em torno de três séculos. O mundo dos humanistas, homens de vastíssima cultura. O Renascimento europeu inicia-se no fim do século XIII e vai até as portas do século XVII. A Itália foi o berço e o principal recanto de prosperidade desse ressurgir cultural que mudou a história do ocidente e do mundo inteiro. Lembro o Renascimento – o retorno ao ideal greco-romano – para tocar num assunto que muito me incomoda. É de o quanto a especialização está matando o humanismo que o Renascimento nos legou. Falar de humanismo é até mesmo um exagero, digamos que um pouco de informação sobre o passado e sobre o mundo que nos cerca. Ler um bom livro, hoje, é uma tarefa hercúlea para médicos, advogados, engenheiros, professores, juízes etc. Todo pequeno ou grande profissional só conhece a matéria em que trabalha. Mesmo aqueles que pertencem à área de ciências humanas – Direito, Sociologia, História, Comunicação, Economia, que precisam escrever todos os dias – não conseguem opinar sobre nada que não pertença ao seu universo de estudo. Encontrar alguém com uma cultura diversificada é como encontrar um diamante na calçada! Os livros mais lidos são pouco mais que caça-níqueis, não passam de temas repetidos à exaustão. Mesmo assim, são apresentados como grandes novidades. As editoras precisam faturar, lucrar. Daí “empurram” livros que dão calafrios no leitor mais exigente. Esses livros ou ‘mercadorias’ não ajudam ninguém a pensar.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Algumas vezes fico calado em rodas de conversa – algo torturante para mim, pois adoro conversar – tal é a quantidade de bobagens ditas por pessoas de formação educacional muito pra lá de “nível superior” em suas opiniões sobre questões mais sábias. A conversa chega, às vezes, a ser tão despropositada que você passa por idiota, pelo simples fato de o mundo dessas pessoas girar em torno de suas profissões, do que veem na Internet, ou do que dizem os jornais do dia. Suas opiniões são centradas em um único conteúdo. Não há uma visão do todo. Sei que estou sendo muito duro. Mas, não estou pedindo a ninguém para citar clássicos em mesa de bar. O que nos estarrece é ver bobagens esotéricas, auto-ajuda e pequenos dramas de natureza pessoal tratados como Literatura. Como é que pessoas pós-graduadas em universidades leem essas coisas? Mário Vargas Llosa, numa recente entrevista no Brasil, chamou essas pessoas muito “educadas”, bem empregadas e alheias ao mundo – que só conhecem o seu métier – de: “analfabetos funcionais”. Gostaria de dizer que essa declaração é um exagero, mas, infelizmente, não é. Como também não precisamos ser tão duros quanto a Goethe, que disse: “Quem de cinco séculos não é capaz de dar conta, não merece estar por aqui”. Leiam os Clássicos! ¹ Theófilo Silva é Presidente da Sociedade Shakespeare de Brasília e Colaborador do blog do Moreno [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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A visão moderna dos gênios

Algumas pessoas vivem em eras românticas. Elas tendem a acreditar que o gênio é o produto de uma centelha divina. Acreditam que houve, no decorrer das eras, modelos de grandeza – Dante, Mozart, Einstein – cujos talentos superaram em muito a compreensão normal, que tinham um acesso sobrenatural à verdade transcendental e que podem ser abordados da melhor forma com um respeito reverencial. Nós, é claro, vivemos em uma era científica, e a pesquisa moderna desmonta o pensamento mágico. Segundo a ótica atualmente dominante, nem mesmo as habilidades precoces de Mozart foram o produto de algum dom espiritual inato. As suas primeiras composições nada tinham de especial. Eram imitações de trabalhos de outras pessoas. Mozart era um bom músico em tenra idade, mas ele não teria se destacado entre as melhores crianças instrumentistas de hoje. [ad#Retangulo – Anuncios – Esquerda]Atualmente acreditamos que, o que Mozart realmente possuía era a mesma coisa que Tiger Woods tem, – a capacidade de concentrar-se por longos períodos e uma determinação em melhorar as suas capacidades. Mozart tocava piano bastante quando era muito novo, de forma que obteve as suas 10 mil horas de prática bem cedo e a partir daí construiu o seu percurso. As pesquisas mais recentes sugerem uma visão de mundo mais prosaica, democrática e até mesmo puritana. O fator fundamental que distingue os gênios daqueles que são meramente bem sucedidos não é uma centelha divina. Não é o coeficiente de inteligência (QI) – geralmente um mal previsor de sucesso – nem mesmo em áreas como o xadrez. Em vez disso, é a prática deliberada. Os indivíduos que mais se destacam são aqueles que passam horas (muito mais horas) praticando rigorosamente os seus talentos. A recente pesquisa foi realizada por pessoas como K. Anders Ericsson, o falecido Benjamin Bloom e outros. Ela foi resumida em dois livros agradáveis: “The Talent Code” (“O Código do Talento”), de Daniel Coyle; e “Talent is Overrated” (algo como, “A Importância Atribuída ao Talento é Exagerada”), de Geoff Colvin. Se você quiser entender como um gênio típico pode se desenvolver, imagine o caso de uma garota que possua uma habilidade verbal ligeiramente acima da média. Não precisa ser um grande talento, apenas o suficiente para que ela possa obter alguma espécie de distinção. A seguir, você faria com que ela conhecesse, digamos, um romancista, que coincidentemente compartilhasse algumas das mesmas características biográficas. Talvez o escritor fosse da mesma cidade, tivesse a mesma origem étnica, ou tivesse nascido no mesmo dia – qualquer coisa que criasse uma sensação de afinidade. Esse contato daria à garota uma imagem da sua pessoa no futuro. Coyle enfatiza que isso proporcionaria a ela vislumbrar um círculo encantado no qual algum dia pudesse ingressar. E também seria útil se um dos seus pais morresse quando ela tivesse 12 anos, injetando nela uma profunda sensação de insegurança e alimentando uma necessidade desesperada de sucesso. por  David Brooks – The New York Times

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