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A quem interessa nossa ignorância?

Corruptos e desonestos lucram com a ignorância Alunos em uma sala de aula. DANIEL CASTELLANO SMCS A manutenção do péssimo modelo de educação pública interessa, e muito, aos desonestos e corruptos, que formam a grande maioria dos nossos dirigentes Por Luiz Ruffato Daqui a cerca de nove meses – o equivalente ao tempo de uma gestação humana – teremos que nos dirigir às urnas para eleger o presidente que irá governar pelos próximos quatro anos. Em quase todas as rodas de conversa, o cenário se repete: um total desencanto com relação aos nomes já propostos e uma preocupante desesperança quanto ao futuro, principalmente entre os jovens. Pesquisa Datafolha, divulgada no dia 2, afere isso: perguntados sobre em que vão votar, 19% dos entrevistados responderam “ninguém” e 46% disseram não saber. Esse cenário de ceticismo se explica em duas frentes. A primeira, a falta de novidades entre os nomes apresentados – a única “renovação” é um candidato que prega… o retorno aos tempos da ditadura militar! Todos os outros, sem exceção, são políticos manjados, que já tiveram a oportunidade de mostrar a que vieram. A segunda questão é que, devido à sensação de que não conseguimos nunca, como coletividade, avançar na resolução dos nossos problemas básicos, caímos naquele estado de autocomiseração: se aqui, em se plantando tudo dá, quem colhe os frutos são sempre os mesmos…   Ora, se a conclusão acima reflete uma verdade, essa verdade é relativa, não absoluta. Embora o Brasil apresente uma das maiores diferenças entre ricos e pobres do planeta – segundo o IBGE, a média de renda mensal real de 1% da população (R$ 27.085) equivale a 33,6 vezes ao recebido pela metade da população que ganha menos (R$ 747) –, a única solução para todos os problemas encontra-se no fortalecimento da nossa débil democracia. Ou seja, somos nós os responsáveis tanto pelos caminhos percorridos até aqui, como pelos que serão trilhados no futuro. Para mim, o cerne do problema encontra-se no péssimo sistema de educação pública que adotamos. É sabido que um em cada quatro brasileiros não sabe ler e escrever ou não compreende textos simples. Além disso, o Brasil ocupa o 65º lugar entre 70 países avaliados pelo PISA, programa internacional que analisa o desempenho de alunos de 15 anos dos sistemas público e privado de ensino. A falta de escolaridade é um impedimento não só para o crescimento individual – mas também para o desenvolvimento coletivo. A pessoa que não tem acesso a um ensino de qualidade não consegue usufruir do mundo em sua plenitude. A noção de subjetividade, ou seja, aquela que permite que compreendamos a realidade a partir da complexidade da nossa própria existência, deriva do contato com formas mais elaboradas de conhecimento, que adquirimos por meio da educação formal. Sem educação, com as exceções de praxe, dificilmente galgamos o estatuto de cidadãos – tornamo-nos meramente estatísticas, seja na hora de apertar botões na urna eletrônica, seja na hora de ocupar o lugar na urna funerária. A ignorância, advinda da falta de escolaridade, explica a mediocridade na qual nossa sociedade encontra-se atolada. O obscurantismo, que aceita respostas simples para perguntas complexas, seja no campo religioso, seja no campo artístico, seja no campo político, mina a tentativa de construirmos um Brasil multicultural e pluriétnico. Ao contrário, empurra-nos para o pensamento hegemônico, fundamentalista e simplório. O resultado, a História nos mostra, é sempre catastrófico. A manutenção do péssimo modelo de educação pública interessa, e muito, aos desonestos e corruptos, que formam a grande maioria dos nossos dirigentes. É a forma mais fácil de a elite – seja ela política, econômica ou intelectual – garantir seus privilégios, que não são poucos. Ainda restam nove meses para exigirmos dos candidatos compromissos com mudanças substantivas pelo menos do nosso sistema escolar. No entanto, para isso, desde já, somos nós que temos de arregaçar as mangas.

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Bahia – Documentos da ditadura militar serão abertos.

Quase duas décadas depois de Estados como Pernambuco, que abriu seus arquivos sobre a ditadura há 19 anos, e São Paulo, que fez o mesmo há 18 anos, o governo baiano divulgou na edição de hoje do Diário Oficial o decreto de criação de um grupo de trabalho que tem como objetivo “localizar e tornar acessíveis” os arquivos sobre o regime militar, entre 1964 e 1985. O decreto também prevê a mobilização da sociedade para reunir acervos particulares sob a guarda de entidades privadas e pessoas físicas. Para o governador do Estado, Jaques Wagner (PT), militante estudantil na década de 1970, o decreto é histórico. “As sociedades baiana e brasileira têm o direito de conhecer seu passado.” O projeto, chamado Memórias Reveladas das Lutas Políticas na Bahia, será coordenado pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH) e terá a participação de representantes das Polícias Militar (PM) e Civil e da Fundação Pedro Calmon, ligada à Secretaria da Cultura e responsável pela gestão do Arquivo Público Estadual. O grupo ainda deverá preparar a integração da Bahia à rede nacional de cooperação para divulgação e disponibilização de dados, imagens e informações de interesse sobre o período de repressão política. De acordo com o decreto, os trabalhos devem ser concluídos em 180 dias. Os primeiros documentos a figurar no projeto serão os reunidos nas sedes das Polícias Federal (PF), Militar e Civil, em Salvador. A expectativa é que os arquivos encontrados ajudem a esclarecer pontos controversos da atuação dos órgãos repressores durante a ditadura, mostrando os detalhes das operações. Na Bahia, há registro de 32 mortos e desaparecidos políticos. “Tememos que muitos documentos que existiam tenham sido destruídos, em ações como a ocorrida há quatro anos, quando uma grande quantidade de dados foi queimada na Base Aérea de Salvador“, disse a presidente do Grupo Tortura Nunca Mais na Bahia, Diva Santana. “Apesar disso, temos a esperança que muitos outros arquivos surjam durante os trabalhos.” do G1

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