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Sylvia Plath – Poesia – 01/07/24

Boa noite Canção de Amor da Jovem Louca Sylvia Plath¹ Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer (Acho que te criei no interior da minha mente) Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis, Entra a galope a arbitrária escuridão: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama, Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade. (Acho que te criei no interior de minha mente) Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno: Retiram-se os serafins e os homens de Satã: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Imaginei que voltarias como prometeste Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome. (Acho que te criei no interior de minha mente) Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro: (Acho que te criei no interior de minha mente.) Tradução de Maria Luíza Nogueira ¹Sylvia Plath * Boston,Massachusetts – 27 de outubro de 1932 +Londres, Reino Unido – 11 de fevereiro de 1963

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Claes Andersson – Poesia – 08/11/22

Boa noite. Não se preocupam com os meios Claes Andersson ¹ Tem cuidado com aquele que diz representar a voz de muitos. Talvez seja verdade. Tem cuidado com aquele que diz que fala apenas em seu nome. Talvez seja verdade. Tem cuidado com aquele que se limita a consentir com a cabeça. Amanhã o consentimento pode afetar-te a ti. Tem cuidado com aqueles que só querem viver a sua vida em paz. Não se preocupam com os meios. ¹ Claes Andersson * Helsínquia, Finlândia – 30 de maio de 1937

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Maiakóvski – Poesia – 12/09/23

Boa noite Em lugar de uma carta Maiakóvski Fumo de tabaco rói o ar. O quarto — um capítulo do inferno de Krutchônikh. Recorda — atrás desta janela pela primeira vez apertei tuas mãos, atônito. Hoje te sentas, no coração — aço. Um dia mais e me expulsarás, talvez, com zanga. No teu hall escuro longamente o braço, trêmulo, se recusa a entrar na manga. Sairei correndo, lançarei meu corpo à rua . Transtornado, tornado louco pelo desespero. Não o consintas, meu amor, meu bem, digamos até logo agora. De qualquer forma o meu amor — duro fardo por certo — pesará sobre ti onde quer que te encontres. Deixa que o fel da mágoa ressentida num último grito estronde. Quando um boi está morto de trabalho ele se vai e se deita na água fria. Afora o teu amor para mim não há mar, e a dor do teu amor nem a lágrima alivia. Quando o elefante cansado quer repouso ele jaz como um rei na areia ardente. Afora o teu amor para mim não há sol, e eu não sei onde estás e com quem. Se ela assim torturasse um poeta, ele trocaria sua amada por dinheiro e glória, mas a mim nenhum som me importa afora o som do teu nome que eu adoro. E não me lançarei no abismo, e não beberei veneno, e não poderei apertar na têmpora o gatilho. Afora o teu olhar nenhuma lâmina me atrai com seu brilho. Amanhã esquecerás que eu te pus num pedestal, que incendiei de amor uma alma livre, e os dias vãos — rodopiante carnaval — dispersarão as folhas dos meus livros… Acaso as folhas secas destes versos far-te-ão parar, respiração opressa? Deixa-me ao menos arrelvar numa última carícia teu passo que se apressa.

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Saramar Mendes – Teus lábios de navegar – Poesia

Teus lábios de navegar Saramar Mendes Refazem teus lábios minha pele lassa e rios traçam, de sangue em rebuliço de mar sem tempo marcado, teus lábios de me tomar. Tanto tempo desfazes com teus beijos e o sol tem outro alumiar de passeio e pipa, no ar e a pele que com teus beijos devassas, são rosas avermelhadas de amor, guardando o viço, o fogo de me queimar. Tanto tempo, tanto amor e conheço a saudade de cada pedaço meu de onde tua língua lenta e doce se vai, barco de me singrar. Tanto teus lábios levam de mim para jardins no mar o ruim, a escuridão, o siso e deixam, longe, longe… em meus delírios, teus risos em meus rios, teus lábios a navegar. Pintura: Toulouse Lutrec,1892,Beijo na cama,Detalhe

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Max Aub – Da Imaginação

Reflexão na noite Da Imaginação   A origem da decadência humana tem – em parte – a sua base numa estranha faculdade anti-racional a que chamam imaginação e que consiste em supor coisas diferentes das que existem. Traçando quimeras, são capazes de negar a evidência e quando dela têm conhecimento e a reconhecem, é para melhor se perderem em novas elucubrações.   Radicou nisto a maior dificuldade que tive para me entender com eles. Encontrei alguns capazes de se glorificarem dos seus defeitos para os fazerem perdoar.   Vendo visões, passam o tempo enganando-se uns aos outros, de boa-fé e até de má-fé, porque, toldados por esse absurdo, não concebem limites para a sua ilusão. Chegam a pretender que nisso reside a sua grandeza.   Max Aub, in ‘Manuscrito Corvo’

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José Luis Peixoto – Versos na tarde 28/01/2018

Amor José Luis Peixoto Amor o teu rosto à minha espera, o teu rosto a sorrir para os meus olhos, existe um trovão de céu sobre a montanha. as tuas mãos são finas e claras, vês-me sorrir, brisas incendeiam o mundo, respiro a luz sobre as folhas da olaia. entro nos corredores de outubro para encontrar um abraço nos teus olhos, este dia será sempre hoje na memória. hoje compreendo os rios. a idade das rochas diz-me palavras profundas, hoje tenho o teu rosto dentro de mim.

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Vargas Llosa: Nove livros de leitura obrigatória

Vargas Llosa Indica Os 9 Livros Que Todos Deveriam Ler Como quase todos os escritores, Mario Vargas Llosa é um leitor apaixonado. Passou quase toda a sua vida entre a leitura e a escrita, por isso também é um grande conhecedor da literatura universal. Alguns livros o marcaram a tal ponto que hoje os reconhece como textos que toda pessoa deveria ler. São nove e aqui veremos quais são: [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] 1- A Senhora Dalloway, de Virginia Woolf Vargas Llosa diz sobre este livro que: “O embelezamento sistemático da vida graças a sua refração em sensibilidades deliciosas, capazes de sugar de todos os objetos e de todas as circunstâncias a beleza oculta que possuem, é o que dá ao mundo de ‘A Senhora Dalloway’ a sua milagrosa originalidade”. 2- Lolita, de Vladimir Nabokov A respeito desta obra, o vencedor do Prêmio Nobel afirma: “Humbert Humbert conta esta história com as pausas, suspense, falsas pistas, ironias e ambiguidades de um narrador consumado na arte de reavivar a curiosidade do leitor a cada momento. Sua história é escandalosa mas não pornográfica, nem sequer erótica. Uma piada incessante das instituições, profissões e afazeres, desde a psicanálise – uma das bestas negras de Nabokov – até a educação e a família, permeiam o diálogo de Humbert Humbert”. 3- O Coração das Trevas, de Joseph Conrad Sobre esta obra, Vargas Llosa indica: “Poucas histórias conseguiram expressar de forma tão sintética e subjugante como esta o mal entendido nas conotações metafísicas individuais e nas suas projeções sociais”. O filme “Apocalipse Now” está baseado nesta maravilhosa obra da literatura universal. 4- Trópico de Câncer, de Henry Miller Foi um dos livros mais controversos de sua época e ainda hoje continua despertando fortes polêmicas. A seu respeito, Vargas Llosa comenta: “O narrador-personagem de Trópico de Câncer é a grande criação da novela, o êxito supremo de Miller como novelista.” “Esse “Henry” obsceno e narcisista, depreciativo do mundo, solícito apenas com seu falo e suas tripas, tem, frente a tudo, um verbo inconfundível, uma vitalidade rabelesiana para transmutar em arte o vulgar e o sujo, para espiritualizar com seu grande vozeirão poético as funções fisiológicas, a mesquinharia, o sórdido, para dar dignidade estética à grosseria”. 5- Auto de Fé, Elias Canetti Esta obra, escrita por outro Prêmio Nobel, é uma das favoritas de Vargas Llosa: “Ao mesmo tempo que os demônios da sua sociedade e de sua época, Canetti se serviu também dos que habitavam somente a ele. Barroco emblema de um mundo a ponto de explodir, a sua novela é ainda assim uma fantasmagórica criação soberana na qual o artista funde suas fobias e apetites mais íntimos com os sobressaltos e crises que fissuram seu mundo”. 6- O Grande Gatsby, de Francis Scott Fiztgerald Sobre O Grande Gatsby, Vargas Llosa aponta: “A novela toda é um complexo labirinto de muitas portas e qualquer uma delas serve para entrar na sua intimidade. Quem abre esta confissão do autor de O Grande Gatsby se presta a uma história romântica, dessas que faziam chorar”. 7- O Doutor Jivago, de Boris Pasternak Uma extensa obra até a qual, sem dúvida, muitos chegaram graças ao cinema. Um clássico de clássicos sobre o qual o Premio Nobel Peruano comenta: “Sem essa confusa história que os manipula, atordoa e finalmente despedaça, as vidas dos protagonistas não seriam o que são.” Este é o tema central da novela, o que reaparece, vez trás outra, ao longo da sua tumultuada peripécia: o desamparo do indivíduo frente à história, sua fragilidade e impotência quando se vê preso no remoinho do “grande acontecimento”. 8- O Leopardo, de Giuseppe Tomasi de Lampedusa Vargas Llosa é contundente no seu comentário sobre esta obra: “Como em Lezama Lima, como em Alejo Carpentier, narradores barrocos que se assemelham porque também construíram uns mundos literários de beleza escultural, emancipados da corrosão temporal. Em ‘O Leopardo’ a varinha mágica executa aquela trapaça, mediante a qual a ficção adquire fisionomia própria, um tempo soberano diferente do cronológico, é a linguagem”. 9- Opiniões de um Palhaço, Heinrich Böll “‘Opiniões de um Palhaço’, sua novela mais célebre, é um bom testemunho dessa sensibilidade social escrupulosa maníaca. Trata-se de uma ficção ideológica, ou como diziam ainda na época em que apareceu (1963), ‘comprometida’. A história serve de pretexto para um julgamento religioso muito severo e moralista do catolicismo e da sociedade burguesa na Alemanha Ocidental do pós-guerra”, sentencia o afiado escritor. Imagem cortesia de dadevoti Texto original em espanhol de Edith Sánchez

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