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Helena Lukianski – Poesia – 24/02/24

Boa noite Helena Lukianski O Sol Extraia um balanço nunca se lance a um amor desconhecido mostre apenas uma parte faça faces lunares tentei não nascer deixar uma estria só o crepúsculo não se mantém o amor é a Terra que se movimenta e me revela.

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Rainer Maria Rilke – Poesia – 23/02/24

Boa noite O mundo estava no rosto Rainer Maria Rilke O mundo estava no rosto da amada – e logo converteu-se em nada, em mundo fora do alcance, mundo-além. Por que não o bebi quando o encontrei no rosto amado, um mundo à mão, ali, aroma em minha boca, eu só seu rei? Ah, eu bebi. Com que sede eu bebi. Mas eu também estava pleno de mundo e, bebendo, eu mesmo transbordei.

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Bretch – Poesia – 22/02/24

Boa noite. Assim se fez o homem Brecht Assim se faz o homem:dizendo sim e dizendo não,batendo e apanhando,unindo-se a uns aqui, a outros acolá. Assim se faz o homem: transformando-se: assim e forma em nós a sua imagem, igual à nossa, no entanto diversa. ¹Bertold Brecht * Augsburg, Alemanha – 10 de Fevereiro de 1898 + Berlim, Alemanha – 14 de Agosto de 1956

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Clarice Lispector – O amar aos outros

Boa noite Clarice Lispector Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O “amar os outros” é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.

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Marisa Hanser – Poesia – 16/02/24

Boa noite Um poema para quando Marisa Hansen Atenção: este poema é para quando Você tem de fazer tudo E o que você faz é nada Para quando Você quer abraçar o mundo E as mãos estão amarradas). Um poema para quando A esquina é muito longe E o minuto é muito longo Para quando O que você tem é muito Mas outros dizem “nem tanto”. Um poema para quando O cansaço é maior que a fome Você dorme e ronca mais que a barriga Para quando Você quer dizer “te amo” E não há tradução na língua. Um poema para quando Tudo o que resta é gente Feroz ou indiferente Para quando Tanta gente diz nada Comovente ou relevante. Um poema para quando tudo. Um poema quando tudo para.

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Guimarães Rosa – Poesia – 14/02/24

Boa noite. Guimarães Rosa Viver é um descuido prosseguido Sigo à risca. Me descuido e vou… Quebro a cara. Quebro o coração. Tropeço em mim. Me atolo nos cinco sentidos. Viver não é perigoso? Então, com sua licença! Não tenho medo. Nasci assim. Encantada pela vida. O sertão é dentro da gente. Ah, como não? Aqui tudo é achado. Somos ferro e fogo. Perigo nunca falta! Sertão é igual coração. Se quiser, que venha armado! Tudo é igual. Aqui se vive. Aqui se morre. Dentro e fora da gente. Confusão demais em grande demasiado sossego.

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Antônio Gedeão – Poesia – 13/02/24

Boa noite. Enquanto Antônio Gedeão Enquanto houver um homem caído de bruços no passeio e um sargento que lhe volta o corpo com a ponta do pé para ver como é; Enquanto o sangue gorgolejar das artérias abertas e correr pelos interstícios das pedras, pressuroso e vivo como vermelhas minhocas despertas; Enquanto as crianças de olhos lívidos e redondos como luas, órfãs de pais e de mães, andarem acossadas pelas ruas como matilhas de cães; Enquanto as aves tiverem de interromper o seu canto com o coraçãozinho débil a saltar-lhes do peito fremente, num silêncio de espanto rasgado pelo grito da sereia estridente; Enquanto o grande pássaro de fogo e alumínio cobrir o mundo com a sombra escaldante das suas asas amassando na mesma lama de extermínio os ossos dos homens e as traves das suas casas; enquanto tudo isto acontecer, e o mais que se não diz por ser verdade, Enquanto for preciso lutar até ao desespero da agonia, o poeta escreverá com alcatrão nos muros da cidade: Abaixo o mistério da poesia.

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Lygia Fagundes Telles – Literatura – 07/02/24

Boa noite Enriqueço de solidão Lygia Fagundes Telles¹ Enriqueço na solidão: fico inteligente, graciosa e não esta feia ressentida que me olha do fundo do espelho. Ouço duzentas e noventa e nove vezes o mesmo disco, lembro poesias, dou piruetas, sonho, invento, abro todos os portões e quando vejo a alegria está instalada em mim.” ¹Lygia Fagundes Telles, no livro “As meninas”. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

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