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“Deu a louca no gerente”, e na Folha de São Paulo

Imprensa em questão: Marketing Editorial “Deu a louca no gerente!” O encontro entre a necessidade de chamar atenção do público e o marketing popular gerou bordões publicitários como este. Ocasionalmente, ocorriam variações como “o dono pirou”, “o gerente enlouqueceu”. Se tornou comum também a escolha de um dia da semana com pouco juízo, coisas como “terça maluca” ou algo parecido. Não muito diferente foi a recepção do anúncio da Folha de S.Paulo quando esta alardeou que seu novo colunista das terças-feiras seria Kim Kataguiri. Assim como no comércio popular, nem o gerente, nem o dono enlouqueceram, claro. Bem ou mal, foi minuciosamente pensado. Talvez ainda haja quem tenha ficado com dúvida de se tratar de estratégia de marketing ou editorial. Bem, nesse caso específico, parece que a supressão da conjunção “ou” responde plenamente: marketing editorial.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Faz muito tempo que os grandes jornais deixaram de encarar o leitor como leitor. Em certo momento, fim da era romântica do jornalismo, passou a ser o “público” dos jornais e a notícia transformou-se em espetáculo. Mais tarde, como “cliente”, associado à segmentação da notícia e a ode à opinião. Veja para uns, “pragmatismo político” para outros. Mainardis aqui, Freis Betos acolá. A lógica de mercado se consolidou. Um exemplo a seguir A incoerência e parcialidade, decomposição do ideal jornalístico, foram vestidas, perfumadas e vendidas como pluralidade de opiniões. A estreia de Kim Kataguiri, como na loja do gerente que enlouqueceu, serve para chamar a atenção e atrair público. Ocupará, por um tempo, a ponta de gôndola e, como um produto novo, será experimentado. A se levar em conta a má qualidade já demonstrada em seu primeiro artigo, nada que tenha ido muito além de uma redação mediana do Enem, as chances de Kim encalhar as expectativas da Folha de S.Paulo não são poucas. Mas para quem acha que o encalhe e o naufrágio são favas contadas, arrisco dizer que o público consumidor de Kataguiri combina muito bem com a decomposição do ideal jornalístico: incoerente e altamente parcial. Difícil não imaginá-los assim após dar um pulo em sua rede social. Os mesmos que reclamavam que certo político não poderia ser presidente por falta de estudo veem no garoto, que abandonou os estudos por se achar mais inteligente que seus professores, um exemplo a seguir. A chance de Kim combinar com a Folha de S.Paulo é, portanto, grande. Azar do jornalismo, que agora tem como meta novas promoções em pontas de gôndola para preencher. por:Alexandre Marini, sociólogo

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A luta por cliques na batalha do impeachment

No mesmo dia em que anunciou uma média mensal de 20 milhões de leitores em 2015, o jornal Folha de S. Paulo divulgou a ‘contratação’ de um novo colunista para o site: Kim Kataguiri, um dos organizadores das manifestações pró-impeachment. Por: Lívia de Souza Vieira: doutoranda no POSJOR/UFSC e pesquisadora do objETHOS   Tal fato repercutiu durante toda a segunda-feira (18) nas redes sociais, gerando questionamentos entre muitos desses milhões de leitores. O esforço de reflexão sobre a decisão da Folha começa por separar pluralismo editorial de informação qualificada. E sobre isso a professora Sylvia Moretzsohn comentou: “Não se trata, obviamente, da minha rejeição a posições de direita. Eu sempre achei que um jornal deve buscar a pluralidade. Mas é preciso buscar também a substância. Como disse uma colega, também professora e jornalista, colunista não é o sujeito que simplesmente vai lá e dá uma opinião: é alguém que traz informação original e qualificada. Definitivamente, não é o caso desse rapaz, que não tem condições de estar em nenhum jornal que se leve a sério”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O currículo de Kim Kataguiri não diz tudo sobre ele, obviamente. Mas é preciso destacar o que disse a própria matéria da Folha: ele terminou o ensino médio em 2013, largou o curso de Economia e neste ano pretende cursar Direito numa faculdade inaugurada em dezembro por Gilmar Mendes. E ainda afirmou que vai criticar o jornal constantemente, reforçando minha hipótese para sua contratação: a Folha quer polêmica e cliques. Se for isso, conseguiu. Como o próprio Kim divulgou em seu perfil no Twitter, a matéria estava entre as mais comentadas do dia, bem como o artigo, publicado na terça (19). No entanto, a aparente força dos números esconde um aspecto qualitativo essencial: o descontentamento dos leitores, que ficou explícito nos comentários. Notem as menções ao cancelamento da assinatura do jornal, uma prova da gravidade da situação. É como se os leitores estivessem dizendo ‘não esperávamos isso de você, Folha’. Enquanto o jornal está atento aos trending topics, os leitores estão reivindicando qualidade. Com os exemplos acima, fica claro que a crítica à contratação de Kataguiri não se restringiu somente à Academia, como esbravejou o também colunista da Folha, Reinaldo Azevedo. “Contam-me que, no Facebook, alguns doutrinadores disfarçados de professores de jornalismo também secretam o seu ódio. Isso explica, em parte, por que jornalistas recém-formados, muitas vezes, acham que os fatos são pura ‘conspiração da direita’. Acreditam que podem usar a profissão para ‘fazer justiça social’”. Ledo engano. A crítica se dá por amor aos valores que fazem do jornalismo, ainda hoje, um mediador importante no debate público. É preciso ter o que dizer para dizer. Em seu artigo de estreia, só para ficar com esse exemplo, Kim diz que os integrantes do Movimento Passe Livre cometem “atos de vandalismo e terrorismo”. Mas convenhamos, Azevedo acerta quando tenta desqualificar: não só acreditamos como também lutamos para que o jornalismo, por meio da informação, contribua para uma sociedade mais justa. Rir para não chorar De forma irônica, mas muito significativa, sites de humor e crítica, como o Sensacionalista, tentaram pôr em evidência a decisão equivocada da Folha: “Estudantes que passaram em jornalismo no SISU desistem após Kim Kataguiri estrear na Folha”. E o The Piauí Herald: “Pedro Paulo é o novo colunista da Revista Cláudia”. Trecho de post do site Sensacionalista Trecho de post do site The piauí Herald. De olhos e ouvidos fechados Além da coluna no site, a TV Folha fez um programa ao vivo com Kataguiri, no dia da estreia. Não sem novas reclamações explícitas dos leitores, como vemos abaixo: Vale lembrar que Kataguiri é também blogueiro do HuffPost Brasil, o que demonstra que a falta de preocupação com o debate realmente qualificado não é exclusividade dos veículos tradicionais. Por: Lívia de Souza Vieira é doutoranda no POSJOR/UFSC e pesquisadora do objETHOS

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Que deu na cabeça de Aécio para se meter na vida dos venezuelanos?

Uma das ideias mais idiotas da política recente brasileira. É uma das ideias mais imbecis dos últimos anos na cena política. Tem a mesma quantidade de tolice da viagem que Kim Kataguiri empreendeu a Brasília para derrubar Dilma. A diferença é que Kim é mirim, e Aécio já ultrapassou os 50, embora faça força para parecer um garotão.  Cada país que cuide de seus problemas. A direita brasileira é a segunda pior do mundo, no quesito apego a mamatas e privilégios estatais. Só é batida pela direita venezuelana. Desde que Chávez chegou ao poder – pelos votos – a direita tenta derrubar a nova ordem que nada mais fez que incluir uma vasta porção de venezuelanos relegados à miséria ao longo dos séculos. Até um golpe foi dado. Durou pouco, e Chávez acabou reconduzido pela reação do povo e de seus antigos companheiros militares. Neste trabalho de sabotagem contra a inclusão social e contra a democracia, a elite venezuelana tem o amparo permanente dos Estados Unidos. Era assim com Bush e continuou assim com Obama, de quem se esperavam, em vão, mudanças. Numa de suas grandes frases, Chávez disse que a diferença entre Bush e Obama era a mesma que existe entre seis e meia dúzia.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Chávez governou para os pobres, e recebeu deles o reconhecimento na forma de um amor irrestrito. Ele cansou de ganhar eleições, pelo apoio popular. Mesmo quando a oposição, tradicionalmente fragmentada, se uniu com Capriles Chávez, sozinho, bateu os que queriam o retorno da velha ordem. Doente, ele pediu que os venezuelanos votassem em Maduro caso morresse. Já não era Chávez que enfrentaria a oposição reunida, mas um semidesconhecido indicado por ele, Maduro. E Maduro venceu, em eleições cuja lisura foi atestada por Jimmy Carter e diversos outros insuspeitos observadores internacionais. A oposição começou a tramar contra Maduro imediatamente. O primeiro passo foi a acusação, disparatada e cínica, de fraude eleitoral. E a sabotagem não parou mais. Querem tirar Maduro? Que vençam nas urnas. Mas não. A direita venezuelana, como a brasileira, quer atalhos que prescindam de uma coisa chamada voto. O 1% venezuelano não tem nada a mostrar. Governou por séculos a Venezuela e construiu uma das sociedades mais iníquas do mundo. Se você acha que a mídia brasileira é canalha, é porque não viu a venezuelana. Até a mãe de Chávez era constantemente xingada nas redes de tevê da Venezuela. E é dentro desse quadro tão complicado, de boicote sistemático da plutocracia contra a democracia, que Aécio acha que tem alguma contribuição a dar aos venezuelanos. É cômico e é trágico ao mesmo tempo. Aécio, definitivamente, não se enxerga. Vi, nas redes sociais, reações que contam muito sobre o caso. Várias pessoas perguntaram quanto custaria a viagem aos cofres públicos. Até o avião da FAB seria utilizado. Pagar passagens com o próprio bolso não faz parte dos hábitos de Aécio. Terminou em piada, claro. O jornalista Pedro Alexandre Sanches, no Twitter, pediu a Maduro que aceitasse Aécio na Venezuela. Para sempre. Por Paulo Nogueira Batista/DCM

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