Arquivo

Eugenio de Andrade – Versos na tarde – 27/07/2016

Glosa Eugênio de Andrade¹ Que voz se desprende, hesita, tropeça? Que pedras tacteia, que ramos alcança? Que fonte pressente? Que rio procura? Que ritmo persegue, que palavras ama? Que sombras repele, que luzes derrama? ¹ José Frotinhas Rato * Fundão, Portugal – 19 de Janeiro de 1923 d.C + Porto, Portugal – 13 de Junho de 2005 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »

Eugenio de Andrade – Versos na tarde – 23/07/2016

Concentro os olhos no mais precário Eugenio de Andrade¹ Concentro os olhos no mais precário lugar do teu corpo: morre-se em Agosto com as aves: de solidão. Neste instante sou imortal: tenho os teus braços em redor do corpo todo: as areias escaldam: é meio-dia. Do teu peito avista-se o mar caindo a prumo: morre-se em Agosto na tua boca: com as aves. ¹ José Frotinhas Rato * Fundão, Portugal – 19 de Janeiro de 1923 d.C + Porto, Portugal – 13 de Junho de 2005 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »

Eugênio de Andrade – Versos na tarde – 17/07/2015

O lugar da casa Eugênio de Andrade¹ Uma casa que nem fosse um areal deserto; que nem casa fosse; só um lugar onde o lume foi aceso, e à sua roda se sentou a alegria; e aqueceu as mãos; e partiu porque tinha um destino; coisa simples e pouca, mas destino: crescer como árvore, ao vento, ao rigor da invernia, e certa manhã sentir os passos de abril, ou, quem sabe?, a floração dos ramos, que pareciam secos, e de novo estremecem com o repentino canto da cotovia. ¹José Frotinhas Rato * Fundão, Portugal – 19 de Janeiro de 1923 d.C + Porto, Portugal – 13 de Junho de 2005 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »

Eugenio de Andrade – Versos na tarde – 02/07/2015

Assim seja Eugênio de Andrade¹ A terra é boa, e o corpo apesar de bastardo traz consigo pátios e cavalos. A multiplicação da luz torna mais limpo o ar, até mesmo a lebre salta dos fenos. Contenta-te com ser, hoje amanhã outro dia, esta luz breve. ¹ José Frotinhas Rato * Fundão, Portugal – 19 de Janeiro de 1923 d.C + Porto, Portugal – 13 de Junho de 2005 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »

Eugenio de Andrade – Versos na tarde 20/06/2015

A luz do chão Eugenio de Andrade¹ Sem nenhuma razão a voz rompia, a rasteirinha voz tão rente à vida que se confunde com a luz do chão, a luz de Março rastejando ainda. ¹José Frotinhas Rato * Fundão, Portugal – 19 de Janeiro de 1923 d.C + Porto, Portugal – 13 de Junho de 2005 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »

Eugênio de Andrade – Versos na tarde – 04/05/2015

Procuro-te Eugênio de Andrade¹ Procuro a ternura súbita, os olhos ou o sol por nascer do tamanho do mundo, o sangue que nenhuma espada viu, o ar onde a respiração é doce, um pássaro no bosque com a forma de um grito de alegria. Oh, a carícia da terra, a juventude suspensa, a fugidia voz da água entre o azul do prado e de um corpo estendido. Procuro-te: fruto ou nuvem ou música. Chamo por ti, e o teu nome ilumina as coisas mais simples: o pão e a água, a cama e a mesa, os pequenos e dóceis animais, onde também quero que chegue o meu canto e a manhã de maio. Um pássaro e um navio são a mesma coisa quando te procuro de rosto cravado na luz. Eu sei que há diferenças mas não quando se ama, não quando apertamos contra o peito uma flor ávida de orvalho. Ter só dedos e dentes é muito triste: dedos para amortalhar crianças, dentes para roer a solidão, enquanto o verão pinta de azul o céu e o mar é devassado pelas estrelas. Porém eu procuro-te. antes que a morte se aproxime, procuro-te. Nas ruas, nos barcos, na cama, com amor, com ódio, ao sol, à chuva, de noite, de dia, triste, alegre – procuro-te. ¹ José Frotinhas Rato * Fundão, Portugal – 19 de Janeiro de 1923 d.C + Porto, Portugal – 13 de Junho de 2005 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »

Eugênio de Andrade – Versos na tarde – 13/03/2015

Podes ensinar à mão Eugénio de Andrade¹ Podias ensinar à mão outra arte, essa de atravessar o vidro; podias ensiná-la a escavar a terra em que sufocas sílaba a sílaba; ou então ser água, onde, de tanto olhá-las, as estrelas caíam. ¹ José Frotinhas Rato * Fundão, Portugal – 19 de Janeiro de 1923 d.C + Porto, Portugal – 13 de Junho de 2005 d.C ganhou o Prêmio Camões da Língua Portuguesa em 2001 [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »

Eugênio de Andrade – Versos na tarde – 02/03/2015

Lettera amorosa Eugênio de Andrade ¹ Respiro o teu corpo: sabe a lua-de-água ao amanhecer, sabe a cal molhada, sabe a luz mordida, sabe a brisa nua, ao sangue dos rios, sabe a rosa louca, ao cair da noite sabe a pedra amarga, sabe à minha boca. ¹ José Frotinhas Rato * Fundão, Portugal – 19 de Janeiro de 1923 d.C + Porto, Portugal – 13 de Junho de 2005 d.C ganhou o Prêmio Camões da Língua Portuguesa em 2001 [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »

Eugênio de Andrade – Versos na tarde – 19/04/2013

Litania Eugênio de Andrade ¹ O teu rosto inclinado pelo vento; a feroz brancura dos teus dentes; as mãos, de certo modo, irresponsáveis, e contudo sombrias, e contudo transparentes; o triunfo cruel das tuas pernas, colunas em repouso se anoitece; o peito raso, claro, feito de água; a boca sossegada onde apetece navegar ou cantar, ou simplesmente ser a cor de um fruto, o peso de uma flor; as palavras mordendo a solidão, atravessadas de alegria e de terror; são a grande razão, a única razão. ¹ José Frotinhas Rato * Fundão, Portugal – 19 de Janeiro de 1923 d.C + Porto, Portugal – 13 de Junho de 2005 d.C ganhou o Prêmio Camões da Língua Portuguesa em 2001 [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »

Eugenio de Andrade – Versos na tarde – 21/05/2013

As palavras Eugenio de Andrade ¹ São como um cristal, as palavras. Algumas, um punhal, um incêndio. Outras, orvalho apenas. Secretas vêm, cheias de memória. Inseguras navegam; barcos ou beijos, as águas estremecem. Desamparadas, inocentes, leves. Tecidas são de luz e são a noite. E mesmo pálidas verdes paraísos lembram ainda. Quem as escuta? Quem as recolhe, assim, cruéis, desfeitas, nas suas conchas puras? De Coração do Dia (1958) ¹ José Frotinhas Rato * Fundão, Portugal – 19 de Janeiro de 1923 d.C + Porto, Portugal – 13 de Junho de 2005 d.C ganhou o Prêmio Camões da Língua Portuguesa em 2001 [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »