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Mídia, mentira e desinformação

Os meios de comunicação, a mentira pela omissão e o papel da desinformação. Nada do que é importante no mundo é hoje refletido pela comunicação dita “social”, os meios de comunicação empresariais que arrogantemente se auto-intitulam como padrão de “referência”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Para quem pretende uma transformação do mundo num sentido progressista isto é um problema, e problema grave. Significa um brutal atraso na tomada de consciência dos povos, cuja atenção é desviada para balelas, entretenimentos idiotas, falsos problemas e outros diversionismos. Omissão não é a mesma coisa que desinformação. Vejamos exemplos de uma e outra, a começar pela primeira. A mais atual é a ameaça da instalação de mísseis Iskander junto às fronteiras ocidentais da Europa. Isso é praticamente ignorado pela mídia ocidental, assim como é ignorada a razão porque eles estão a ser agora instalados: o cerco da Rússia pela OTAN, que instalou novos sistemas de mísseis numa série de países junto às suas fronteiras. É indispensável reiterar que tanto os da OTAN como o da Rússia são dotados de ogivas nucleares. Outro exemplo de omissão é o apagamento total de informação quanto ao terrível acidente nuclear de Fukushima, que tem consequências pavorosas e a longuíssimo prazo para toda a humanidade. Continua o despejo diário de 400 toneladas de água com componentes radioativos no Oceano Pacífico, o equivalente a uma disseminação igual à de todos os mais de 2500 ensaios de bombas nucleares já efetuados pela espécie humana. Caminha-se assim para o extermínio de uma gama imensa de espécies vivas – da humana inclusive – pois tal poluição entra no ecossistema que lhes dá suporte. Outro exemplo ainda é o silenciamento deliberado quanto às consequências do desastre com a plataforma de pesquisa da British Petroleum (BP) no Golfo do México. Tudo indica que a gigantesca fuga de petróleo ali verificada ao longo de meses (100 mil barris/dia?) não está totalmente sanada, pois este continua a vazar embora em quantidades menores. A política ativa de silenciamento conta com o apoio não só da BP como do próprio governo americano. Este, aliás, já autorizou o reinício da exploração de petróleo em águas profundas ao longo das costas norte-americanas. Este silenciamento verifica-se com o pano de fundo do Pico Petrolífero (Peak Oil), que também é deliberadamente escondido da opinião pública pelos meios de comunicação corporativos. Pouquíssima gente hoje no mundo sabe que a humanidade já atingiu o pico máximo da produção possível de petróleo convencional, que esta está estagnada há vários anos. Trata-se do fim de uma era, com consequências irreversíveis, cumulativas, definitivas e a longo prazo. Mas este fato é ocultado da opinião pública. A maioria dos governos de hoje abandonou há muito a pretensão de ser o gestor do bem comum: passou descaradamente a promover os interesses de curto prazo do capital – em detrimento das condições de sobrevivência a longo prazo da espécie humana. Trata-se, pode-se dizer, de uma política tendente ao extermínio. Veja-se o caso, por exemplo, do fracking, ou exploração do petróleo e metano de xisto (shale) através de explosões subterrâneas e injeção de produtos químicos no subsolo – o que tem graves consequências sísmicas e polui lençóis freáticos de água potável. O governo Obama estimula ativamente o fracking, na esperança – vã – de dotar os EUA de autonomia energética. Mas há assuntos que para os meios de comunicação corporativos dominantes são não apenas omitidos como rigorosamente proibidos – são tabu. É o caso da disseminação do urânio empobrecido (depleted uranium, DU) que o imperialismo faz por todo o mundo com as suas guerras de agressão. Países como o Iraque, a antiga Jugoslávia, o Afeganistão e outros estão pesadamente contaminados pelas munições de urânio empobrecido. Trata-se do envenenamento de populações inteiras por um agente que atua no plano químico, físico e radiológico, com consequências genéticas teratológicas e sobre todo o ecossistema. A Organização Mundial de Saúde é conivente com este crime contra a humanidade pois esconde deliberadamente relatórios de cientistas que examinaram as consequências da invasão estado-unidense do Iraque. Absolutamente nada disto é refletido nos meios de comunicação empresariais. Um caso mais complicado é aquela categoria especial de mentiras em que é difícil separar a omissão da desinformação. Omitir pura e simplesmente a crise capitalista – como os meios de comunicação corporativos faziam até um passado recente – já não é possível: hoje ela é gritante. Portanto entram em acção as armas da desinformação, as quais vão desde o diagnóstico até as terapias recomendadas. Os economistas vulgares têm aqui um papel importante: cabe-lhes dar algum verniz teórico, uma aparência de cientificidade, às medidas regressivas que estão a ser tomadas pela nova classe dominante – o capital financeiro parasitário. As opções de classe subjacentes a tais medidas são assim disfarçadas com o carimbo do “não há alternativa”. E a depressão económica que agora se inicia é apresentada como coisa passageira, meramente conjuntural. Os meios de comunicação passaram assim da omissão para a desinformação. Desde o iluminismo, a partir do século XVIII, a difusão da imprensa foi considerada um fator de progresso, de ascensão progressiva das massas ao conhecimento e entendimento do mundo. Hoje, em termos de saldo, isso é discutível. A enxurrada de lixo que atualmente se difunde no mundo superou há muito as publicações sérias. Basta olhar a quantidade de revistecas exibidas numa banca de jornais ou a sub-literatura exposta nos super-mercados. Tal como na Lei de Greshan, a proliferação do mau expulsa o bom da circulação. E esta proliferação quantitativa não pode deixar de ter consequências qualitativas. Ela faz parte integrante da política de desinformação. A grande mídia corporativa esmera-se neste trabalho de desinformação. Além de omitir os assuntos realmente cruciais para os destinos humanos ainda promove ativamente campanhas de desinformação. Um caso exemplar foi a maneira como apresentavam e apresentam a agressão à Síria. Assim, bandos sinistros de terroristas e mercenários pagos pelo imperialismo — alguns até praticaram o canibalismo como se viu num vídeo famoso difundido no YouTube — são sistematicamente tratados como “Exército de Libertação”. E daí passaram à mentira pura e simples, afirmando que o governo legítimo da Síria teria utilizado armas químicas contra o seu próprio povo. Denúncias públicas de que os crimes

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Democracia a e era digital

‘Despreparada para a era digital, a democracia está sendo destruída’, afirma guru do ‘big data’ Martin Hilbert, assessor de tecnologia da Biblioteca do Congresso dos EUA, investigou a disponibilidade de informação no mundo de hoje Quando Martin Hilbert calcula o volume de informação que há no mundo, causa espanto. Quando explica as mudanças no conceito de privacidade, abala. E quando reflete sobre o impacto disso tudo sobre os regimes democráticos, preocupa.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] “Isso vai muito mal”, adverte Hilbert, alemão de 39 anos, doutor em Comunicação, Economia e Ciências Sociais, e que investiga a disponibilidade de informação no mundo contemporâneo. Segundo o professor da Universidade da Califórnia e assessor de tecnologia da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, o fluxo de dados entre cidadãos e governantes pode nos levar a uma “ditadura da informação”, algo imaginado pelo escritor George Orwell no livro 1984. Vivemos em um mundo onde políticos podem usar a tecnología para mudar mentes, operadoras de telefonia celular podem prever nossa localização e algoritmos das redes sociais conseguem decifrar nossa personalidade melhor do que nossos parceiros, afirma. Com 250 ‘likes’; o algoritmo do Facebook pode prever sua personalidade melhor que seu parceiro. Hilbert conversou com a BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, sobre a eliminação de proteções à privacidade online nos EUA, onde uma decisão recente do Congresso, aprovada pelo presidente Donald Trump, facilitará a venda de informação de clientes por empresas provedoras de internet. Confira os principais trechos da entrevista: Trump usou redes sociais para alcan;ar o poder e suas decisões estão fortalecendo empresas que coletam dados dos cidadãos – Direito de imagemGETTY IMAGES BBC: Qual é sua opinião sobre a decisão do Congresso dos EUA de derrubar regras de privacidade na internet? Martin Hilbert: Os provedores de internet buscam permissão para coletar dados privados dos clientes há muito tempo – incluindo o histórico de navegação na web – e compartilhar com terceiros, como anunciantes e empresas de marketing. Um provedor de internet pode ver suas buscas na internet – se, por exemplo, você assiste Netflix ou Hulu. Essa informação é valiosa, porque poderiam orientar sua publicidade a residências que usam seus serviços. Enquanto isso parece ser um ato grave, liberado pelo novo governo dos EUA, há que reconhecer que nos últimos 30 anos os órgãos reguladores das telecomunicações nos EUA se afastaram de uma de suas metas originais: o benefício da sociedade. E se moveram no sentido de favorecer as empresas. BBC: Os provedores de internet diziam que as regras não se aplicaram a grandes coletores de dados como Facebook ou Google. Como vê esse argumento? Hilbert: Tem certa razão. Mas há uma diferença: para o Facebook, seu negócio são os dados que tem, trata-se de uma empresa de dados. A questão é se classificamos ou não os provedores de internet como provedores de dados. Cada “like” no Facebook diz muito sobre você – Direito de imagemGETTY IMAGES Muitos provedores de telecomunicações inclusive estão começando a vender dados. Por exemplo: uma operadora de telefonia celular sabe onde você está em cada segundo. Então também podem vender essa informação? É preciso redefinir esses diferentes âmbitos. O órgão regulador precisa estar preparado e encontrar um equilíbrio em cada país. BBC: Isso mostra a dificuldade de proteger a privacidade hoje? Hilbert: A pergunta certa é que privacidade as pessoas querem. E a verdade é que as pessoas não estão tão preocupadas. O que ocorreu depois de todas as revelações de Edward Snowden? Nada. Disseram: “Não é bom que vejam minhas fotos íntimas”. E no dia seguinte continuaram. Ninguém foi protestar. BBC: Consideremos uma pessoa adulta que hoje usa um celular, um computador. Quanta informação pode ser coletada sobre essa pessoa? Hilbert: No passado, a referência de maior coleção de informação era a biblioteca do Congresso americano. E hoje em dia a informação disponível no mundo chegou a tal nível que equivale à coleção dessa biblioteca por cada 15 pessoas. Há um monte de informação por aí, e ela cresce rapidamente: se duplica a cada dois anos e meio. A última fez que fiz essa estimativa foi em 2014. Agora deve haver uma biblioteca do Congresso dos EUA por cada sete pessoas. E em cinco anos haverá uma por cada indivíduo. Há uma nova avaliação sobre como interpretar a privacidade. E as gerações jovens têm um conceito totalmente diferente do que é privacidade ou não. Se colocássemos toda essa informação em formato de livros e os empilhássemos, teríamos 4,5 mil pilhas de livros que chegariam até o Sol. Novamente, isso era há dois anos e meio. Agora seriam 8 ou 9 mil pilhas chegando ao Sol. E a informação que você produz cresce basicamente no mesmo ritmo: estima-se que haja 5 mil pontos de dados disponíveis para análise por morador dos EUA. São coisas que deixamos no Facebook, por exemplo. O volume de dados que deixamos de verdade é difícil de estimar, porque é quase um contínuo: você tem o celular consigo a cada segundo e deixa uma pegada digital. Então cada segundo está registrado por diversas empresas. BBC: Pode dar exemplos? Hilbert: Sua operadora de celular sabe onde você está graças a seu celular. O Google também sabe, porque você tem Google Maps e Gmail no seu telefone. E cada transação que faz com seu cartão de crédito é um ponto de dados, cada curtida no Facebook. Inclusive pode haver registros de como você movimenta o mouse ao usar a internet. Google tambiém sabe de você, porque, entre outros motivos, possui Google Maps e Gmail em seu telefone – Direito de imagemREUTERS BBC: Mas essa informação não está reunida em apenas um lugar ou por uma empresa. Até que ponto podemos ser previsíveis para uma empresa que coleta dados sobre nós? Hilbert: Vou dar vários exemplos. Seu telefone te mostra quantas chamadas fez. A operadora deve coletar essas informações para processar sua conta. Eles não se preocupam com quem e o que falou. É apenas a frequência e duração de suas chamadas, algo conhecido como metadados.

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CIA libera 13 milhões de documentos secretos que incluem relatos sobre óvnis e experiências psíquicas

O arquivo da CIA agora pode ser analisado por qualquer um, e a qualquer hora Direito de imagemGETTY IMAGES A CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, liberou para o acesso público cerca de 13 milhões de documentos secretos. Os documentos foram liberados na internet nesta quarta-feira depois de muita pressão de defensores das leis de liberdade de informação e de um processo contra a agência.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Entre os documentos estão comunicados internos, pesquisas, relatos de avistamentos de óvnis e até mesmo experiências psíquicas. Trata-se de quase 800 mil arquivos, que totalizam 13 milhões de páginas – eles podem ser acessados aqui. Entre os documentos estão registros de Henry Kissinger, secretário de Estado americano durante os mandatos dos presidentes Richard Nixon e Gerald Ford, além de centenas de milhares de páginas de análises de informações secretas e pesquisas científicas. Stargate Entre os registros considerados mais “exóticos” estão os documentos do chamado programa Stargate, que analisava poderes psíquicos e percepções extrassensoriais. Nesses documentos estão incluídos os testes feitos para analisar as habilidades psíquicas de Uri Geller em 1973, quando ele já era famoso por apresentações demonstrando seus “poderes”. Nos documentos disponibilizados pela CIA estão detalhes dos resultados de testes realizados em Uri Geller, nos quais ele tentou copiar desenhos feitos por pesquisadores em outra sala Os memorandos detalham como Geller conseguiu reproduzir em parte figuras que foram desenhadas por outras pessoas em uma sala separada de onde ele estava. Ele reproduziu os desenhos com graus variáveis de precisão – em algumas vezes, replicando o que estava sendo criado por outras pessoas. Isso levou os pesquisadores a escrever que Geller “demonstrou sua habilidade perceptiva paranormal de uma forma convincente e sem ambiguidade”. Os documentos também incluem uma série de relatos de avistamento de discos voadores e os recibos de compra de tinta invisível. Acesso difícil Boa parte das informações liberadas já podia ser acessada pelo público desde o meio da década de 1990, mas de uma forma muito difícil. Os documentos só estavam disponíveis a partir de computadores localizados nos fundos de uma biblioteca nos Arquivos Nacionais, em Maryland. E a consulta só podia entre as 9h e as 16h30. Relatos de óvnis também estão inclusos nos documentos divulgados Direito de imagemSCIENCE PHOTO LIBRARY O grupo sem fins lucrativos MuckRock, defensor da liberdade de informação, processou a CIA para obrigar o serviço secreto a disponibilizar a coleção de documentos online, um procedimento que demorou mais de dois anos. Ao mesmo tempo, o jornalista Mike Best usou outra estratégia para pressionar a agência. Por meio de crowdfunding (“vaquinha virtual”), Best conseguiu US$ 15 mil (mais de R$ 48 mil) para visitar o local, imprimir esses arquivos e então divulgá-los para o público, um por um. Em sua página de crowdfunding, Best explica que o orçamento para o projeto foi relativamente pequeno porque a “CIA está reembolsando os Arquivos Nacionais pelo custo do papel e da tinta – a impressão dos documentos é de graça”. “Ao escanear e imprimir os arquivos às custas da CIA, consegui começar a torná-los disponíveis para o público e dar à agência um incentivo financeiro para simplesmente colocar o banco de dados online”, escreveu o jornalista em um blog.

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Manipulação e redes sociais: Cuidado com os “bots”

As pessoas interessadas em distorcer informações para favorecer objetivos pessoais ou institucionais estão usando recursos cada vez mais sofisticadas, o que obriga os jornalistas a serem também mais sofisticados na identificação da manipulação de notícias. Por Tom Trewinnard em 15/03/2016 na edição 894 Publicado originalmente no site First Draft News, 12/2/2016 sob o título “Source Verification: Beware of the Bots“. Tradução de Jo Amado. Checar suas fontes é fundamental para qualquer investigação online. Quando você encontra vídeos ou imagens irresistíveis, chegar ao “quem” as fez ou de “onde” vieram é essencial. E os Guias de Checagem Visual do First Draft News fornecem uma excelente visão de conjunto dos itens que devem ser levados em consideração quando se pretende checar uma fonte. Há guias especiais para checagem de fotos e para vídeos.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O cenário ideal, evidentemente, é poder falar diretamente com uma fonte, se possível, pelo telefone ou pessoalmente. Mesmo assim, podem ocorrer erros, principalmente quando a fonte está fingindo ser alguma coisa ou alguém que não é. Muitas vezes, essas pessoas são apenas farsantes, mas há uma tendência crescente de casos de pessoas que usam identidade falsa para fins fraudulentos [sockpuppets]: identidades falsas online criadas para atrapalhar determinadas pautas políticas ou sociais. No entanto, as fontes podem não responder quando você tenta falar com elas. Talvez estejam ocupadas, ou talvez não queiram falar com jornalistas. Outro motivo poderia ser que a sua fonte que a sua fonte não seja uma pessoa coisa nenhuma: muitos casos que acontecem em redes sociais são bots [softwares concebidos para simular ações humanas repetidas vezes de maneira padrão, da mesma forma que o faria um robô]. Sockpuppets e bots colocam alguns desafios interessantes para checagem, principalmente em regiões do mundo onde governos os usam para manipular redes sociais (e isso significa uma parte do mundo maior do que você poderia imaginar) e sabendo como localizá-los pode poupar tempo e esforços. Localizando um bot Expor um caso de um bot pode ser de uma facilidade trivial ou ilusoriamente difícil. Veja, por exemplo, estas duas contas do Twitter: No caso do primeiro usuário, inúmeras bandeiras vermelhas aparecem instantaneamente. O nome incompreensível do usuário, a foto do perfil do Twitter com um ovo, o único e breve tweet – este usuário rapidamente se choca com as principais dicas para localizar contas falsas do First Draft. No entanto, a segunda conta, cujo último tweet fala de um preso paquistanês que fugiu de uma prisão em Gidá, na Arábia Saudita, é um desafio mais importante. Um número razoavel de seguidores (embora poucos) , uma boa amostragem de tweets, uma foto da pessoa real no perfil, nomes de usuário e de visualização aparentemente corretos e um conjunto de conteúdos (incluindo foto e vídeo) numa linguagem que poderíamos esperar. Precisamos trabalhar um pouco mais. Primeiramente, vamos checar a foto do perfil. Trata-se de uma imagem original? Tentemos fazer uma busca reversa das imagens : Uma bandeira vermelha que surge imediatamente sugere que a foto do perfil seja, na verdade, de um homem chamado Khalaf Al-Ali, um diplomata saudita assassinado em Bangladesh em 2012. Portanto, talvez este usuário tenha postado sua imagem como uma recordação do diplomata. Continuemos investigando. O segundo passo é ver se conseguimos encontrar uma pessoa chamada Rahi Al-Msalkhe procurando no Google pelo seu nome no idioma árabe. Qual o objetivo dos bots? Não há qualquer retorno senão a conta do Twitter que estamos investigando e outra bandeira vermelha. Talvez esta pessoa tenha posto um nome falso na conta? Não é tão incomum. Como terceiro passo, examinemos com mais cuidado os tweets da conta. Parecem ser, em sua maioria, compartilhamento de links no idioma árabe com dois ou três tweets em inglês. Nada de extraordinário. Após uma breve busca, este tweet parece o mais pessoal e possivelmente dá uma localização: Tradução: “Qual é a melhor loja de chocolate em Gidá?????” É uma boa pergunta, mas parece que ninguém respondeu. Vejamos se alguém mais fez a mesma pergunta no Twitter. Puxa vida! Parece que às 22:15 (horário da Costa Oeste dos Estados Unidos) do dia 14 de janeiro, cerca de 100 contas fizeram exatamente o mesmo tweet. É difícil imaginar uma situação em que isso acontecesse na vida real e, se repetirmos a busca em dois outros tweets de @almsalker881, descobriremos que se trata de um padrão repetido. A esta altura, podemos dizer com segurança que, na melhor das hipóteses, esta conta está comprometida e que muito provavelmente se trata de um bot. Ao clicar em qualquer das contas que tenha feito tweets do conteúdo duplicado, obtemos resultados semelhantes. Qual será o objetivo deste exército de bots? Desconhecendo quem está por trás dele, é difícil dizer. Mas algumas das maneiras que já vimos contas serem usadas por bots e sockpuppetsforam para mandar mensagens não desejadas pela internet e para caluniar ativistas, para apagarhashtags e criticar autoridades e para disseminar desinformação. Consciência das possibilidades Esses esforços por parte de Estados podem ser mais elaborados do que você imagina. Em 2015, o repórter Adrian Chen, do New York Times, publicou uma matéria fascinante com uma visão aprofundada de uma “fábrica de trolls” russa [um departamento aparentemente voltado para disseminar notícias e opiniões pró-Putin nas redes sociais]. Chen rastreia algumas campanhas de desinformação extremamente complexas que o levam de volta à fábrica de trolls. Num exemplo, autoridades e moradores de uma cidade no estado de Louisiana receberam mensagens com advertências sobre uma explosão numa fábrica química e a disseminação de vapores tóxicos. Pelo Twitter, dúzias de contas começaram a enviar mensagens sobre a explosão, citando jornalistas importantes com screengrabs [captura de tela] da CNN.com mostrando as notícias “em cima da hora”. Surgiram vídeos mostrando imagens semelhantes às do Estado Islâmico em que era reivindicada a responsabilidade pela explosão. Rapidamente, apareceu uma página na Wikipedia descrevendo a explosão e fazendo o link entre os vídeos. Tudo isto era falso, inclusive clones que funcionavam como websites do noticiário local e divulgavam a matéria. Esse ataque de desinformação fez-se seguir por

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Informação, Poder e Política: Novas Mediações Tecnológicas e Institucionais

O Livro do Dr. Richard Barbrook – Futuros Imaginários, publicado no Brasil pela Editora Peirópolis (abril de 2009) está disponível para download, sem qualquer custo. O autor é conferencista da Universidade de Westminster e lança seu último trabalho literário no Brasil. Futuros Imaginários demonstra como a política influenciou a forma pela qual a Internet é controlada atualmente e faz um chamado a todos que estão ciberconectados a usar a rede para apropriarem-se de políticas revolucionárias e criar um futuro mais positivo. O Dr. Richard Barbrook participou de recente Seminário no Rio de Janeiro sobre Informação, Poder e Política: Novas Mediações Tecnológicas e Institucionais na CPRM – Urca, onde falou sobre o campo de forças informacional e as novas relações de poder: atores,espaços e governança. O Seminário foi organizado pelo Ibict no Rio, Fiocruz e UFRJ. O livro disponível e livre de qualquer custo na Internet, no endereço acima, tem 440 páginas está em PDF e tem o sumário abaixo: O FUTURO É O QUE SEMPRE FOI 31 O SÉCULO ESTADUNIDENSE 43 A COMPUTAÇÃO DA GUERRA FRIA 65 A MÁQUINA HUMANA 79 SUPREMACIA CIBERNÉTICA 91 A ALDEIA GLOBAL 107 A ESQUERDA DA GUERRA FRIA 121 OS POUCOS ESCOLHIDOS 135 TRABALHADORES LIVRES NA SOCIEDADE AFLUENTE 157 OS PROFETAS DO PÓS-INDUSTRIALISMO 193 A ESTRADA ESTADUNIDENSE PARA A ALDEIA GLOBAL 227 O LÍDER DO MUNDO LIVRE 255 O GRANDE JOGO 271 A INVASÃO ESTADUNIDENSE NO VIETNÃ 299 AQUELES QUE ESQUECEM O FUTURO ESTÃO CONDENADOS A REPETI-LO 339 TRADUÇÃO EM IMAGENS 391 Fonte: recebido por email

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Tecnologia – Bibliotecas e o Google

A pergunta é: British Library, “Nós vamos estar aqui em 100 anos”. Será que o Google estará? A British Library está empenhada em criar uma coleção de sites britânicos a fim de preservá-los para a posteridade. A coleção intitulada UK Web Archive está aberta ao público e compreende cerca de seis mil sites. Há de tudo: sites pessoais, sites de turismo, comerciais e institucionais, classificados por categorias. Seis mil pode parecer um número muito pequeno, em se considerando que existem mais de oito milhões em domínio britânico. O problema é que a construção da coleção é muito lenta. Por razões de copyright, a British Library tem que solicitar permissão aos responsáveis pelos sites antes de copiá-los. É claro que se pode perguntar se isso vale a pena, em se considerando que existem iniciativas como a “Wayback Machine” gerenciada pela organização sem fins lucrativos Internet Archive organisation, para não se falar do próprio cache do Google.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A resposta da British Library, através de um porta-voz, é : “As grandes empresas aparecem e desaparecem. Nós estaremos aqui em 100 anos. Será que o Google estará?” Via BBC News/blog do Dodô/Marcos Palacios [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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O caso Paula Oliveira mostra os desafios do caos informativo

O caso da brasileira, supostamente atacada por neonazistas na Suíça, pode ser considerado um paradigma dos problemas enfrentados pelo consumidor de informações na era da avalancha informativa. Até agora é quase impossível saber o que aconteceu realmente e muito menos emitir julgamentos. Há várias versões, inúmeras suposições e um conjunto de interesses em jogo, que levam o leitor de um jornal ou telespectador a ficar no mínimo confuso diante do noticiário. A imprensa também não colabora com o leitor e acaba engrossando o caldo por conta da irresponsabilidade informativa de repórteres e editores. Não se trata de culpar ninguém porque conhecemos o ritmo frenético imposto aos jornalistas pela concorrência entre as emissoras e jornais. Mas que houve uma despreocupação generalizada com as conseqüências de uma informação mal investigada, isto é claríssimo. Estamos começando a ver as primeiras conseqüências da era da avalancha informativa. O surgimento da Web como canal de comunicação permitiu que um mesmo fato passasse a ter cada vez mais versões, por conta das diferentes percepções e interesses de protagonistas diretos e indiretos, que hoje podem ter facilmente acesso à opinião pública. O consumidor de informações passou a ser bombardeado por versões contraditórias geradas a partir de percepções distintas e já não consegue mais sentir-se seguro na hora de formar uma opinião. Esta insegurança aumentou depois que o leitor, ouvinte, telespectador ou internauta percebeu que não poderia mais confiar na imprensa porque descobriu que ela tem seus próprios interesses. São cada vez mais freqüentes as notícias em que as primeiras versões acabam sendo desfeitas por novas percepções, gerando um fluxo informativo cuja principal característica é a falta de conclusões definitivas. Para uma sociedade que foi educada para fazer julgamentos absolutos, do tipo certo ou errado, culpado ou inocente, verdadeiro ou falso, ter que conviver com a possibilidades intermediárias é no mínimo desconfortável. Mas é justamente isto que episódios como o da advogada pernambucana Paula Oliveira indicam. A imprensa brasileira se apressou em fazer julgamentos definitivos, decretando um ataque racista e xenófobo contra uma compatriota residente na Suíça, baseado na percepção de parentes da suposta vítima que por sua vez se apoiaram em informações dadas por Paula por telefone. A reação da polícia suíça e novos fatos divulgados posteriormente colocaram em dúvida a versão inicial da advogada, deixando os consumidores de informações diante das seguintes alternativas:

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