Arquivo

Mensagens de texto: o fim do telefone para falar?

Avanço das mensagens de texto gera verdadeira fobia ao telefone No ano de 1876, quando Graham Bell patenteou o telefone, teve início um hábito que cresceu exponencialmente entre os terráqueos. Durante muitos anos, falar ao telefone se tornou uma mania mundial, além de ser a forma mais prática, útil e rápida de se comunicar. Mas, com a popularização das mensagens de texto via celular (SMS), e-mails convencionais, Direct Messages no Twitter, correio eletrônico pelo Facebook, mensagens instantâneas (via Gtalk, MSN, AIM, ICQ e outros), o comportamento está mudando, o que pode levar à morte das conversas telefônicas, sejam elas por aparelhos fixos ou móveis. De acordo com a consultoria Nielsen Media, mesmo no universo dos celulares, os gastos dos usuários com chamadas por voz têm despencado, ao passo que o dispêndio com mensagens de texto vem subindo. Nos Estados Unidos, por exemplo, espera-se que o valor dessas formas de contato não vocais ultrapasse o das ligações de voz nos próximos três anos. Este comportamento não surpreende, se considerarmos apenas a faixa etária das crianças e, sobretudo, a dos adolescentes. No entanto, segundo artigo de Pamela Paul no “New York Times” (vide <nyti.ms/telefone_morreu>), nos últimos cinco anos, uma amostragem considerável de adultos aparentemente desistiu de falar ao telefone. Muitos chegam a odiar. ‘Tenho problemas até para pedir pizza’ Vários são os casos de pessoas que adoravam telefonar, mas que mudaram para o oposto, chegando até a reações extremas. Fabiana Carvalho, de 30 anos, contadora, residente em Varginha (MG), é um exemplo.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Hoje tenho problemas até para pedir pizza. Faço a ligação e passo o telefone para quem estiver por perto para falar por mim – Fabiana Carvalho – Quando mais jovem, eu exagerava no telefone. Meus pais tinham que me controlar. Mas depois da internet, por algum motivo, peguei quase um pavor de telefone fixo – conta. – Hoje tenho problemas até para pedir pizza. Faço a ligação e passo o telefone para quem estiver por perto para falar por mim. E fico ditando meu pedido. Minha família me diz que estou com “telefonofobia”. Até concordo. Já me escondi ao ouvir o toque do fixo, deixando que outra pessoa atendesse o chamado e me procurasse pela casa. E quando ouvi o “ela não está”, senti o maior prazer e fiquei aliviada. Outros, que também já falaram muito ao telefone, hoje não mais o fazem. – Não converso mais por telefone. Apenas rapidamente para marcar algum encontro presencial com minha equipe de trabalho, a maioria pelo Skype, mesmo que meu interlocutor esteja no mesmo bairro que eu – diz Antônio Kleber Araujo, 59 anos, gestor de conhecimento que vive entre o Rio e seu “tecnoparaíso rural” em Glicério, na serra de Friburgo. – E quando sou obrigado a falar ao celular, utilizo sempre um fone de ouvido. AKA, como é conhecido, não hesita quando recebe chamadas de voz provenientes de números ocultos, aqueles de empresas ou aparelhos que não identificam a chamada: – Atendo e identifico. Se não interessar, desligo no ato. A recíproca de tratamento é sempre verdadeira. Fernanda Costalonga, 37 anos, jornalista carioca, também se sente incomodada, com sua privacidade invadida, por telefonemas em celular. – Nessa coisa de celular, o que mais me incomoda é que virou obrigação estar 24 horas por dia conectada ao mundo. Outro dia, alguém ligou para meu celular insistentemente por cerca de duas horas. Não me encontrou e me mandou um e-mail. Como não obteve resposta imediata, não hesitou em enviar uma segunda mensagem me acusando de estar me recusando a atendê-la, entre outros impropérios. Duas horas! E eu estava no meu trabalho, onde nem sempre o celular tem sinal e, portanto, não posso checar caixa de e-mail ou voz. Essa necessidade imediata de contato me irrita. Tenho saudades do mundo em que a gente mandava carta e deixava recado com o vizinho para as pessoas que não tinham telefone fixo em casa. Quanto à velha regra de etiqueta de jamais ligar para alguém depois das 22h, os avessos a telefonemas têm verdadeiros chiliques quando recebem chamados tarde da noite. – Fico louca da vida. Altas horas, eu deitada vendo meu filme na TV e o telefone toca? Não atendo e ainda xingo a mãe do infeliz que perdeu a noção. Bem, a não ser que seja uma ligação que eu esteja esperando – desabafa Gisele Petry, 39 anos, assessora de condomínios, de Porto Alegre. Notícias dos amigos pelas rede sociais Gustavo Guimarães, gerente de operações morando no Rio, é daqueles que acham ligação via voz bastante inconveniente. – A gente tem que parar para atender quando a pessoa do outro lado acha mais adequado – justifica-se. – Minha conta de telefone indica que eu uso muito mais SMS do que voz. Afinal, mensagem de texto, a gente recebe na hora, lê na hora, mas responde quando dá. Se é urgente eu respondo de imediato. Alguns antitelefônicos estendem sua aversão aos encontros pessoais, mas os motivos de Gustavo para a raridade dessas ocasiões é outro: A verdade é que as redes sociais já trazem para o nosso conhecimento bastante da vida dos amigos – Gustavo Guimarães – Encontro pouco sim, mas não exatamente por aversão. A verdade é que as redes sociais já trazem para o nosso conhecimento bastante da vida dos amigos. Gustavo cita um encontro cara-a-cara com um amigo num barzinho para ele contar uma viagem que fez: – Quando ele começa o relato, eu digo que já vi as fotos. Ele vai contar alguma coisa do filho, e eu completo a história. Comenta que não está mais com aquela namorada, e eu digo que já vi até o perfil da nova com quem ele está saindo. Ou seja, se não fosse o chope e as batatinhas, a gente nem estaria ali. Unanimidade no quesito ódio telefônico são as ligações de telemarketing. Não há quem as aguente. Uns as ignoram, desligando na cara. Outros, porém, elaboram um pouco mais na retaliação. É o caso do fotógrafo Jorge

Leia mais »