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Estamos comendo veneno da Bayer

Estamos, os brasileiros, comendo veneno da Bayer. Em uma ação inédita na semana passada, quatro organizações de países da América Latina e uma da Alemanha uniram forças nesta semana para denunciar a empresa de bioquímica Bayer à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) pelos impactos do agrotóxico glifosato na saúde humana e no meio ambiente. Mais de 70 anos após a invenção do agrotóxico mais perigoso do mundo, ele também se tornou o mais vendido pela indústria farmacêutica.Empresa alemã foi denunciada por organizações do exterior e da América Latina, incluindo o Brasil, pelo uso da substância. Em uma ação inédita na semana passada, quatro organizações de países da América Latina e uma da Alemanha uniram forças nesta semana para denunciar a empresa de bioquímica Bayer à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) pelos impactos do agrotóxico glifosato na saúde humana e no meio ambiente. Mais de 70 anos após a invenção do agrotóxico mais perigoso do mundo, ele também se tornou o mais vendido pela indústria farmacêutica. Organizações como o Centro de Estudios Legales y Sociales (Argentina), Terra de Direitos (Brasil), BASE-IS (Paraguai), Fundación TIERRA (Bolívia), Misereor e ECCHR, assinaram a denúncia exigindo que a Bayer AG implemente mudanças sustentáveis em suas práticas empresariais e agricultoras. Elas apontam que a empresa violou os direitos humanos à saúde, à alimentação, à água, ao meio ambiente, à habitação, à terra e ao território. No Brasil, por exemplo, o glifosato vem contaminando as aldeias indígenas Avá-Guarani, e há a suspeita de que as águas também estejam contaminadas com o agrotóxico. Glifosato: Água no Brasil pode concentrar 5 mil vezes mais que Europa agrotóxico cancerígeno da Bayer. A Monsanto intimidou pesquisadores sobre câncer por glifosato, agrotóxico liberado por Bolsonaro Para traçar uma linha do tempo sobre o uso desse composto, leiam dez informações cruciais sobre o glifosato, levando em conta os efeitos adversos ao meio ambiente e à vida causados pelo uso de produtos geneticamente alterados, como sementes e agroquímicos modificados com o composto. Década de 1950: a molécula do glifosato é descoberta pelo químico suíço Henri Martin, da farmacêutica Cilag. Década de 1970: duas décadas depois, em 1974, o químico John E. Franz, da Monsanto, desenvolve herbicidas à base de glifosato. A empresa inicia a produção em escala industrial, inicialmente para uso na produção de borracha na Malásia e trigo no Reino Unido. Década de 1990: as sementes transgênicas Roundup Ready da Monsanto, resistentes ao glifosato, chegam ao Brasil em 1995. As vendas disparam a partir de 2005, com a liberação da soja transgênica, tornando o glifosato o herbicida mais utilizado nas lavouras brasileiras. 2000: a patente da Monsanto expira, abrindo caminho para que o glifosato se torne o princípio ativo de mais de 2 mil produtos de diversas empresas. No Brasil, essa proliferação resulta em mais de 100 agrotóxicos contendo a substância. 2015: um estudo da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), lança um alerta: o glifosato é classificado como “provável causador de câncer”. 2016: um parecer de um painel com representantes da OMS e da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) ameniza a classificação, afirmando que o risco de câncer é baixo quando a exposição se dá de forma limitada e através do consumo de alimentos. 2018: a Bayer conclui a compra da Monsanto por US$ 63 bilhões, criando a maior companhia de pesticidas e sementes do mundo. No mesmo ano, a empresa é condenada a pagar US$ 289 milhões ao ex-jardineiro Dewayne Johnson, que desenvolveu câncer após exposição prolongada ao glifosato. Em março de 2019, nova condenação: US$ 80 milhões para Edwin Hardeman, por falta de alerta sobre os riscos do produto. 2019: apesar da reavaliação do glifosato, iniciada em 2008, a substância é autorizada para uso no Brasil pela Anvisa, sob o governo de Jair Bolsonaro. A decisão, criticada por especialistas, ignora evidências científicas que associam o glifosato à morte de 214 brasileiros na última década. Na contramão, a Áustria se torna o primeiro país da região a banir o produto. 2024: a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos pela Vida e diversas organizações de direitos humanos denunciam a Bayer por mais de 18 mil ações relacionadas aos efeitos do glifosato apenas nos Estados Unidos e na OCDE. A luta contra o uso do herbicida e seus impactos negativos à saúde humana e ao meio ambiente prossegue.

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Guerra às drogas na Corte Internacional de Haia

O Plano Colômbia foi concebido no governo do democrata Bill Clinton, pelo general Barry Mc-Caffrey, herói de guerra no Vietnã e escolhido como czar antidrogas da Casa Branca, apesar de republicano. O milionário e militarizado “Plano Colômbia” foi enfiado goela-abaixo do presidente Andrés Pastrana. Para o general Mc-Caffrey, a solução seria a erradicação das folhas de coca, usadas como matéria prima na elaboração do cloridrato de cocaína. Tudo muito simples, na visão do supracitado czar: sem coca, fim da cocaína. Então, aviões da norte-americana Dyn Corp foram contratados para derramar herbicida nas áreas de cultivo da coca. O herbicida escolhido e derramado por avião foi o “glifosato“, vendido pela Monsanto. É encontrado em supermercados brasileiros. Para derramar o herbicida, a privada Dyn Corp embolsou US$ 170 milhões, em cinco anos de Plano Colômbia. Não se sabe quanto lucrou a Monsanto, pelas toneladas de glifosato despejadas. Dispensável dizer que o Plano Colômbia foi um fracasso. As áreas de plantio de coca migram, inclusive para o Peru e Bolívia. Até para as reservas e parques ecológicos colombianos, onde era proibida a fumigação. Clareiras foram abertas na floresta amazônica (lado colombiano) para o plantio de coca, ou seja, em áreas onde os derrames eram proibidos. Segundos fotografias tiradas por satélite, o plantio migrou e, nos cinco anos de Plano Colômbia, as áreas continuaram do mesmo tamanho. Ou seja, nem um pé de coca a menos, embora em outras áreas. Nada afetou a produção do cloridrato de cocaína. E em nenhum momento se verificaram “narinas ” consumidoras agitadas, pelo risco de abstinência. A indústria das drogas não foi abalada e os bolsos dos “barões” do tráfico não perderam nenhum centavo. Os danos ecológicos foram enormes na Colômbia. Também no Equador, na região de fronteira. Os ventos carregaram os herbicidas para o território equatoriano. E as águas dos rios penetrantes, como o San Miguel, ficaram contaminadas pelo glifosato. A população ribeirinha perdeu plantações e animais que bebiam nos rios contaminados pelo glifossato. Índios adoeceram. Muitos foram internados em hospitais, pela intoxicação. Para se ter idéia, em 2004, quando o Equador tornou-se sede do concurso de miss Universo, os jardins da embaixada dos EUA foram invadidos por ativistas de direitos humanos. Referidos ativistas regaram os jardins com glifosato e todas as plantas secaram e morreram. Com Rafael Correa na presidência, cuidou o Equador de tentar junto à Colômbia e aos EUA um ressarcimento amigável. Uma indenização pecuniária a ser distribuída à população afetada e, também, necessária para a recuperação ambiental. Os entendimentos foram suspensos quando aviões colombianos, em 2008, invadiram o território do Equador e mataram Raul Reyes, segundo homem das Farcs (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Ele estava acampado em território do Equador, próximo à divisa com a Colômbia. Agora, com relações diplomáticas interrompidas (as comerciais não estão suspensas), o presidente do Equador acaba de propor uma ação indenizatória contra a Colômbia, com pedido cumulativo de suspensão das fumigações em área próximo à fronteira. Pede-se à Corte de Haia estabelecer distâncias, de modo a se criar uma faixa de proteção. As autoridades colombianas, a respeito da ação do Equador, já falam em estado de necessidade, ou seja, as Farc tinham colocado, na região de fronteira e debaixo dos arbustos de coca, minas explosivas. Tal situação impedia, segundo os colombianos, a erradicação manual. Ontem, a Colômbia, pela embaixada na Holanda, foi citada para se defender. O prazo para contestar termina, pasmem, em março de 2010. Pelo jeito, vai demorar mais do que o chamado “processo do mensalão”, que tramita no nosso Supremo Tribunal Federal. Pano Rápido. O governo do Equador foi à Corte Internacional de Justiça (conhecida por Corte de Haia), criada em 1945 e tem função arbitral, com relação aos conflitos nas fronteiras. Quando se pretende dar solução militarizada para enfrentar o fenômeno das drogas, paga-se caro, em todos os sentidos. Até, indenizações são devidas e estas, por exemplo, independem do sucesso ou do fracasso de um Plano Colômbia da vida. blog Wálter Maierovitch

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