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Bin Laden, Kadafi e a civilização cristã ocidental

Continuo comungando com a opinião daqueles que não admitem o funcionamento dos Estados Nacionais fora do Estado de Direito. É inacreditável que as ditas nações ocidentais civilizadas se regojizem com a barbárie. Sem dúvida alguma regredimos. Os judeus tinham, e ainda têm , trilhões de motivos para fazer com os nazistas essa chacina e esse linchamento que se fez contra Kadafi e seu filho. No entanto, capturaram todos os que puderam capturar, vivos, e os levaram a julgamento vivos e preservados. O mundo todo pôde ver os julgamentos que serviram de lição para a humanidade. Embora tudo tenha sido muito terrível o que os nazistas fizeram, a reação dos judeus foi civilizada, pedagógica e didática. O que aprendemos com os linchamentos na Líbia?  O Editor Sem essa de misturar as coisas! O assassinato de Bin Laden nada tem a ver com a execução extrajudicial de Kadafi e seu filho, sob o patrocínio da ONU. [ad#Retangulo – Anuncios – Esquerda]Já escrevi aqui algumas vezes que defendo a eliminação de comprovados líderes terroristas, como Osama Bin Laden e outros de sua laia. É triste? É, sim! Mas não há alternativa. Essas pessoas se organizam para, de modo deliberado, tirar a vida de inocentes. Não declaram uma guerra ao establishment, à ordem ou sei lá a quê. Buscam fragilidades no sistema de segurança para fazer o maior número possível de vítimas. Não há como combatê-los por métodos convencionais. Alguns leitores tentaram ver contradição entre essa opinião e tudo o que tenho escrito sobre a morte de Muamar Kadafi e Mutassin, um de seus filhos. Presos com vida, foram executados pelos ditos rebeldes sem julgamento. Kadafi pai foi humilhado em vida e teve o corpo vilipendiado depois. Num dos vídeos que estão no Youtube, não vou publicá-lo aqui porque há limites para expor mesmo a abjeção alheia, uma daquelas flores da “Primavera Líbia” que enchem de alegria a vida de Arnaldo Abaixo-Bush Jabor, aparece introduzindo um instrumento qualquer no traseiro do ex-ditador, provavelmente uma arma. Vocês sabem como são os “oprimidos” quando se libertam, não é mesmo? E a democracia sodomizando a ditadura… Tenham paciência! Qual a diferença? O comboio em que viajavam Kadafi e seu filho foi alvejado por forças da Otan — no caso, soldados franceses. Eles estão lá com um mandado e um mandato da ONU e deveriam obedecer ao texto da Resolução 1973 do Conselho de Segurança, que já é ambíguo o bastante para permitir abusos. Mas algumas coisas são claras: não podiam atacar a não ser para defender civis — descumpriram esse requisito desde o primeiro dia — e não tinham autorização para matar Kadafi. A ação final da organização cumpriu o rito das outras: seus aviões fizeram o estrago inicial para que os rebeldes avançassem. Um correspondente da Globo nos EUA chamou isso de “não-guerra”… Ora, na prática, quem executou extrajudicialmente Muamar e Mutassin Kadafi foi a Otan — e, dada a cadeia de responsabilidades, foi, pois, a ONU. Os terroristas eliminados costumam ser colhidos de surpresa, e o objetivo é evitar que reajam. O ex-ditador e seu filho já tinham sido feito prisioneiros, estavam desarmados, não tinham como reagir. Qual é? Não havia mais informação a colher da dupla, estavam derrotados, acabados, vencidos. Que sentido faz a tortura e o contínuo vilipêndio do cadáver? O mundo faz seus votos em favor da democracia líbia, e os dois cadáveres continuam expostos na câmara fria de um açougue, tornados atração turística. A Otan, reitero, ainda está lá. E isso significa que a Líbia continua sob os auspícios da Resolução 1973 da ONU, que segue, então, patrocinando aquele espetáculo tétrico. Não há paralelo possível com o assassinato de Bin Laden ou de líderes de outros grupos terroristas. EUA, França, Reino Unido e ONU escolheram um dos lados de uma guerra civil. Tornam-se, assim, responsáveis por seus métodos. Dona Hillary Clinton, secretária de Estado dos EUA, já havia sido inconveniente o bastante ao ter feito votos, dois dias antes, pela morte de Kadafi, o que não estava na resolução. A eliminação de terroristas ajuda a pôr ordem no mundo; o que se fez na Líbia concorre para a desordem. Doravante, nas intervenções autorizadas pela ONU, já se sabe que o limite é não haver limites. Digam-me cá: o que se praticou com os Kadafis é diferente dos horrores da prisão de Abu Ghraib, que, com razão, chocaram o mundo? Os responsáveis por aquela cenas bárbaras forma punidos. Mundo afora, o que vi, li e ouvi, depois que já estava claro que pai e filho haviam sido executados, foram palavras de regozijo, de felicidade, de louvor. Barack Obama até chegou a advertir os demais ditadores do mundo que aquele pode ser o seu destino. Não, eu não estou entre aqueles que têm grandes esperanças na dita “Primavera Árabe”. Acho que se trata de um sonho que se sonha nas democracias ocidentais. Mas essa minha descrença não interfere no meu juízo objetivo: três das potências ocidentais, usando a ONU como escudo e a Otan como braço armado, patrocinaram a selvageria. Isso não melhora em nada a biografia de Kadafi: era um facínora, um asqueroso, um homicida compulsivo, um ladrão. Mas eu não tenho, por enquanto, um só motivo para apostar que seus algozes sejam melhores do que ele. Eu não reconheço o estatuto do algoz do bem. Uma das coisas que me afastaram da esquerda ainda na primeira juventude (estou na segunda, hehe…) foi o relativismo moral. Todos nós sabemos o que as tropas morais do politicamente correto estariam dizendo se tal espetáculo tivesse se dado sob os auspícios de George W. Bush. Como o arquiteto da ação foi Barack Obama, então se trata, naturalmente, de algo benigno. Não! Obama levou o baguncismo para ONU. “Ah, o Chávez e o PCdoB também criticaram a ação”. E daí? Eles não são meus interlocutores. Se eu me obrigasse a criticar tudo o que eles elogiam, e também o contrário, seria refém deles. Mas não sou refém de ninguém. O Beiçola de Caracas e os

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Kadafi, Fujimori, Lula e FHC

Couro espesso blog do Alon ¹ Sempre haverá explicações para a necessidade de relacionar-se com ditaduras e ditadores, mas uma diplomacia de viés presidencial aumenta muito o risco de queimar capital político É hora de revanche. Tucanos ouviram incomodados, durante anos, chacotas petistas sobre as boas relações entre Fernando Henrique Cardoso e Alberto Fujimori. Agora, tripudiam sobre o histórico de boas relações entre Luiz Inácio Lula da Silva e Muamar Gadafi. É do jogo. Uma rápida troca de mensagens ontem no twitter trouxe elementos a esta coluna. O presidente do PT, José Eduardo Dutra (um político que entendeu as tais redes sociais) argumentou que Fujimori foi condecorado por FHC, o que não Lula não fez com Gadafi e outros líderes árabes agora em desgraça. É verdade, mas o apoio político e o carinho pessoal de Lula na época valiam mais que condecorações formais. Eram medalhas bem mais ambicionadas. George W. Bush, por exemplo, tudo fez para ser olhado aqui e lá fora como amigo de Lula, um “companheiro”. Não tenho razões objetivas para enxergar em Lula motivação pessoal, ou ideológico-pessoal, na condução de sua diplomacia, de claro viés presidencial.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] A questão está nos riscos e ônus de uma diplomacia desse tipo. Em 1939 Josef Stalin confraternizou com o chanceler alemão, Joachim von Ribbentrop, quando a União Soviética assinou o pacto de não-agressão com a Alemanha Nazista. Aqui, Stálin foi duplamente ajudado pela sorte. Ou pelo destino. O encontro não foi com Adolf Hitler, mas com um assessor. Não existe a foto dos dois líderes brindando o acordo. E no fim, o que é muito mais importante, a URSS ganhou a guerra. O debate sobre as razões dos soviéticos para o pacto -e se as razões se justificavam ou não- vai percorrer a historiografia e a política pelo tempo necessário, mas a foto que permanecerá daquela guerra será Stálin com Winston Churchill e Franklin Roosevelt em Ialta, na Crimeia. Em benefício de FHC, pode-se dizer que condecorar Fujimori foi um gesto de Estado, voltado para estreitar as relações com um vizinho. O Brasil é a potência regional e precisa administrar o clima na vizinhança. E não vai ficar selecionando, conforme a política interna de cada um, com quem vai se relacionar -ou não. Ou como vai relacionar-se. Nesse aspecto, os primeiros sinais são de que Dilma Roussef vai operar numa frequência bem próxima da linha adotada um dia por FHC. Em benefício de Lula, pode-se dizer que o mercado islâmico, nas esferas do consumo e do capital, é estratégico para o Brasil diversificar as relações da nossa economia. O tamanho e a situação do Brasil exigem uma agressiva presença no comércio e na atração de investimento externo. Como se vê, tudo tem uma explicação. O que define o resultado final, como saber se o sujeito deu-se bem ou mal ao associar a imagem ao ditador fulano ou ao golpista sicrano? O próprio resultado final. Como a condecoração a Fujimori não teve qualquer efeito tonificador para ele na política peruana, e como o Peru é hoje uma democracia bem consolidada, FHC estará mais confortável para justificar -como Stálin sobre o pacto de 1939- que o gesto se deveu a razões de Estado. Aliás, FHC não carregou da passagem pela Presidência qualquer mancha de pendor antidemocrático. E se a agressiva diplomacia presidencial de Lula mostrar-se, mesmo depois da nova onda revolucionária árabe, um ativo permanente na região, se as recentes relações comerciais do Brasil resistirem bem à tempestade, o PT poderá argumentar que Lula investiu suas reservas de imagem e prestígio em benefício do desenvolvimento nacional. Não deixa de ser um argumento. Já se der errado terão que ouvir. E terão que ouvir também até lá, até a conclusão se deu certo ou errado. Ou talvez para sempre. Como no caso do Stálin de 1939. Paciência, a política exige couro grosso. Quem tem pele fina deve buscar outra atividade. E Dilma Rousseff? Por enquanto está entocada. Mas daqui a pouco vai ter que sair da toca. Afinal, Barack Obama vem aí. Sem falar que o mundo de Dilma promete ser bem mais complicado do que foi o de Lula. Referendo As propostas até agora colocadas na mesa para a reforma política têm pelo menos uma característica comum: todas são piores que o sistema vigente. Porque todas partem da necessidade de tirar direitos do eleitor. Numa, o eleitor perde a prerrogativa de escolher o candidato eleito. Noutra, deixa de escolher quantas cadeiras cada partido ou coligação ocupará no parlamento. E em quase todas deixa de ter o direito de ajudar financeiramente quem ele acha que merece seu voto. Um bom caminho para a reforma política seria dar meia volta e passar a imaginar que o sistema melhorará se o eleitor tiver mais direitos, em vez de menos. E uma boa ideia será submeter a referendo popular o que for decidido por suas excelências. ¹ Coluna (Nas entrelinhas) publicada no Correio Braziliense. twitter.com/AlonFe youtube.com/blogdoalon

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Bush, o Lula deles60000000.551520,3

O apedeuta dos Tupiniquins não é páreo para o grande irmão do norte. Confiram! Bush ficou célebre pelas gafes e bobagens que falou. Todos os políticos cometem gafes e falam coisas sem pensar. Mas o presidente americano, George W. Bush, conseguiu tornar-se notório por isso. Os americanos até cunharam o termo “Bushismo” para classificar os lapsos verbais que se tornaram comuns nos últimos oito anos. Confira abaixo alguns dos “Bushismos” que se tornaram célebres. Sobre si mesmo “Eles me mal-subestimaram.” (Bush inventou a palavra ‘misunderestimated’) Bentonville, Arkansas, 6 de novembro de 2000 “Não há dúvida de que no minuto em que eu fui eleito, as nuvens de tempestade no horizonte estavam chegando quase diretamente sobre nós.” Washington, 11 de maio de 2001 “Eu quero agradecer ao meu amigo, o senador Bill Frist, por se juntar a nós hoje. Ele se casou com uma menina do Texas, eu quero que vocês saibam. Karyn está conosco. Uma menina do Oeste do Texas, exatamente como eu.” Nashville, Tennessee, 27 de maio de 2004 Sobre política externa “Há um século e meio, os Estados Unidos e o Japão formam uma das maiores e mais duradouras alianças dos tempos modernos.” (Bush se esquecendo da Segunda Guerra Mundial) Tóquio, 18 de fevereiro de 2002 “A guerra contra o terror envolve Saddam Hussein por causa da natureza de Saddam Hussein, da história de Saddam Hussein, e a sua determinação de aterrorizar a si mesmo.” Grand Rapids, Michigan, 29 de janeiro de 2003 “O embaixador e o general estavam me relatando sobre a – a grande maioria dos iraquianos querem viver em um mundo pacífico e livre. E nós vamos achar essas pessoas e levá-las à Justiça.” Washington, 27 de outubro de 2003 “Sociedades livres são sociedades cheias de esperança. E sociedades livres serão aliadas contra os poucos odiosos que não têm consciência, que matam ao gosto de um chapéu.” Washington, 17 de setembro de 2004 “Você sabe, uma das partes mais difíceis do meu trabalho é conectar o Iraque à guerra ao terrorismo.” Washington, 6 de setembro de 2006 Sobre educação “Ler é básico para todo o aprendizado.” Reston, Virginia, 28 de março de 2000 “Você ensina uma criança a ler, e ele ou ela (‘he or her’ em inglês, em vez do correto: ‘he or she’) vai conseguir passar em um teste de escrita.” Townsend, Tennessee, 21 de fevereiro de 2001 Sobre economia “Eu entendo o crescimento dos negócios pequenos. Eu fui um.” Entrevista ao New York Daily News, 19 de fevereiro de 2000 “É claramente um orçamento. Tem muitos números nele.” Entrevista à agência de notícias Reuters, 5 de maio de 2000 “Primeiro, deixe-me esclarecer bem, pessoas pobres não são necessariamente assassinos. Só porque você não é rico, não significa que você está disposta a matar.” Washington, 19 de maio de 2003 Sobre saúde “Eu não acho que nós devamos ser sublimináveis sobre a diferença entre nossos pontos de vista sobre remédios que exigem prescrição.” (Bush inventou a palavra ‘subliminable’) Orlando, Flórida, 12 de setembro de 2000 “Doutores demais estão deixando o negócio. Muitos obstetras e ginecologistas não estão podendo praticar o seu amor às mulheres pelo país.” Poplar Bluff, Missouri, 6 de setembro de 2004 Sobre governar “Eu tenho uma visão diferente de liderança. Uma liderança é alguém que consegue unir as pessoas.” Bartlett, Tennessee, 18 de agosto de 2000 “Eu sou o decisor, e eu decido o que é melhor.” Washington, 18 de abril de 2006 “E a verdade é que muitos relatórios de Washington nunca são lidos por ninguém. Para mostrar como este é importante, eu o li e Tony Blair o leu.” Sobre o relatório Baker-Hamilton, em Washington, 7 de dezembro de 2006 “A única coisa que posso dizer é que quando o governador liga, eu atendo o telefone.” San Diego, Califórnia, 25 de outubro de 2007 “Eu já terei morrido há anos antes que alguma pessoa esperta descubra o que aconteceu dentro do Salão Oval.” Washington, 12 de maio de 2008 Sobre outros assuntos “Eu sei que os seres humanos e os peixes podem coexistir pacificamente.” Saginaw, Michigan, 29 de setembro de 2000 “Famílias são onde a nossa nação encontra esperança, onde as asas viram sonhos.” LaCrosse, Wisconsin, 18 de outubro de 2000 “Aqueles que entram no país ilegalmente violam a lei.” Tucson, Arizona, 28 de novembro de 2005 “Isso é George Washington, o primeiro presidente, é claro. O que é interessante sobre ele é que eu li três – três ou quatro livros sobre ele no último ano. Isso não é interessante?” Washington, 5 de maio de 2006 da BBC Brasil

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Guerras, governantes e órgãos de inteligência

Fica patente que, apesar da história ser escrita pelos vencedores, o avanço da tecnologia na divulgação mais ampla e imparcial dos fatos, vai proporcionado à humanidade a possibilidade de, mais acuradamente, formar opinião mais isenta sobre a história contemporânea. A internet proporciona o acesso a informação não necessariamente escrita nos gabinetes da ditas agências de “inteligência”. Diabólicos Nesses tempos de crise e de guerras, sugiro uma parada estratégica para ler “Curveball” (Editora Novo Conceito, 270 páginas), do jornalista norte-americano Bob Drogin, já traduzido para o português. Você vai encontrar ali, detalhe por detalhe, a novela completa e chocante de como os órgãos de inteligência dos Estados Unidos conduziram George W. Bush e Colin Powell ao desastre da guerra do Iraque. Porque queriam ser conduzidos… Com Israel jogando bombas sobre escolas da ONU e sobre cabeças de mulheres e crianças, ameaçando transformar a faixa de Gaza no “maior cemitério do mundo”, como se tem dito, um foco do livro se torna cruelmente atual: os órgãos de inteligência – ou melhor, de espionagem – dos EUA, da Alemanha, da Inglaterra e de Israel trocam informações o tempo inteiro. Trabalham unidos. E erram unidos . Azar dos adversários comuns. No caso norte-americano, é assustador, petrificante, saber como eles produziram uma teia imensa de órgãos de espionagem que, em vez de se completarem, disputam entre si e fazem ouvidos moucos a tudo o que contraria o que eles próprios querem ver, ler, ouvir. Há a Cia, civil, a Dia, militar, o serviço Humint (que cuida de agentes desertores) da Dia, a NSA (Agência de Segurança Nacional). Sem contar que a própria ONU é infestada de agentes. Cada um desses órgãos corre para um lado, como linhas paralelas. O BND, da Alemanha, “descobriu” um desertor iraquiano (apelidaram-no de “Curveball”) que era engenheiro e se dizia importantíssimo, um peixe n’água nos escalões que projetavam e executavam umas tais “fábricas móveis” de produção de diabólicos agentes biológicos para disseminar antraz, toxina botulínica, cólera e sabe-se mais o que contra exércitos e populações inimigas. Desde o início havia indícios mais do que suficientes de que o tal cara era um amalucado, mentiroso contumaz, que adaptava suas histórias mirabolantes ao gosto do freguês, ou seja, dos agentes alemães. Ele era viciado em internet, colhia dados sobre agentes biológicos em documentos da própria ONU e falava o que eles, na verdade, queriam ouvir. Construía uma versão. Eles compraram alegremente. Os depoimentos eram em árabes e traduzidos para o alemão, o que já é uma ginástica. Depois, eram traduzidos novamente, desta vez para o inglês. No fim, viravam resumos aproveitando só o “sumo” do que ele dissera. Sem, portanto, todas as ressalvas, as dúvidas, as incongruências. E eram assim que desembarcavam nos altos escalões políticos de Washington. Os alemães nunca abriram o verdadeiro nome da “fonte” para os americanos nem permitiram que eles os entrevistassem diretamente antes da guerra. Pasme! Colin Powell foi ao Conselho de Segurança da ONU com um discurso que varou o mundo e entupiu as telas de TV justificando a invasão do Iraque com base numa única fonte, ao qual os EUA nunca tiveram acesso e da qual nem sequer sabiam o nome. É possível? Foi. O governo Bush invadiu o país alheio, gastou bilhões de dólares, matou milhares de iraquianos e de americanos com base no disse-que-disse. Depois, se viu que o Iraque, coitado, não tinha armas atômicas, nem armas químicas, muito menos armas biológicas. Era tudo pura estória da carochinha. Crianças acreditam em Papai Noel. O governo Bush quis acreditar em “Curveball” (bola com efeito), o iraquiano biruta e oportunista que estava louco para ganhar uma Mercedes dos alemães. O único (e grande) pecado iraquiano era Saddam Hussein, o ditador sanguinário que acabou humilhado e enforcado. Mas este não era um problema da Casa Branca. Muito menos lhe dava o direito de invadir a casa alheia. Bem, mas leia o livro. É imperdível, principalmente agora que as grandes potências assistem de braços cruzados Israel reagir “desproporcionalmente”, como todos admitem, aos “terroristas” do Hamas e a seus foguetes de fabricação praticamente caseira. A guerra do Oriente Médio é daquelas em que os dois lados têm razão, e nenhum dos dois lados tem razão nenhuma. Falta dialogar. Mas quem está por trás deles é infinitamente culpado. Força é poder. E força inebria, embriaga e pode gerar tragédias que marcam a história de pessoas, de famílias, de países e do próprio mundo para sempre. O pior disso é que a força, nesses nossos tempos, vem de informações de órgãos e pessoas completamente irresponsáveis e fora de si. A guerra do Iraque é um escândalo. Mas será que alguém aprendeu alguma coisa com ela? por Eliane Catanhede – Folha Online

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